Adeus 2021...

Adeus 2021...

Difícil exprimir em palavras o ano 2021 e que finalmente findou. Foi com um misto de sentimentos amargos que carreguei na alma dia após dia, devido a tudo o que rodeou a nossa sociedade e o mundo em geral. Pandemia, infetados, mortos, tristezas, famílias separadas, violências, desumanidades, enfim…
Cada dia que acordava, era sempre um sobressalto, com as notícias a surgirem em catadupa e que na minha fragilidade humana tive sempre dificuldades em gerir emocionalmente as comoções libertadas pelas lágrimas das infelicidades alheias. Resisti, ultrapassei com garra e muita determinação todas as agruras que foram surgindo e hoje olho para o futuro com um sorriso de esperança.
Os festejos do “réveillon” estavam limitados, com regras apertadas pelos governos mundiais e pelas autoridades de saúde, mas mesmo assim, houve uma coisa que não foi limitada, a imaginação.
Dei liberdade à minha fantasia e fui festejar a passagem de ano ao Moulin Rouge, ao cabaré tradicional, construído em 1889 em Paris, com uma grande variedade de espetáculos a evocar um ambiente boémio da “Belle Époque”.
A entrada foi deslumbrante, com as luzes a piscarem, onde predominava a cor da sedução, o vermelho. O moinho com as velas a girar de forma simulada como se fossem ao vento, mas movidas pelo colorido luminoso.
Rompi pelas carpetes vermelhas, ao som da música que transportava a mente para o labirinto dos mistérios. A sala exuberante, com candeeiros a meia luz, pousados nas mesas, um cenário digno dos filmes românticos, carregado de erotismo e prestes a explodirem através das representações.
No palco as luzes acendiam e apagavam, pareciam relâmpagos nos céus africanos e rapidamente fez-se um burburinho na escuridão.
Ao som da música dos Queen, surgiram mulheres deslumbrantes, morenas, loiras, como se fossem bonecas insufláveis, carregadas de lantejoulas com cores do arco-íris, tacões altos e penas na cabeça, que estimulavam sensualidade. Remexeram fantasias, umas verdadeiras Madona’s, eróticas e num ápice ergueram-se, surgidos do nada, vários homens vestidos de marinheiros, de fatos brancos, com t-shirts às ricas azuis e brancas. A dança, os sapatos saltitões, as silhuetas pelas luzes das lanternas vermelhas, transformavam o momento num sonho coreográfico de cinesia sexual, construído como castelos de areia, prontos a desmoronarem os pensamentos masculinos.
Nas mesas, todos assistimos com carinha de otários felizes, com sorrisos frenéticos, pelas sintonias musicais e os movimentos corporais reluzentes a recriavam novas emoções.
As rendas, as meias, as ligas, os trajes sexys das belezas femininas, fulminavam os olhares e onde pisavam, deixavam lugares arder, como se fosse um jogo de xadrez entre coelhinhas no cio. Os aplausos balanceavam o coração, as coreografias arrepiavam e o rebuliço dos traseiros perfeitos das “deusas luz”, faziam latejar os sexos pulsantes, apertados nas calças dos machos presentes.
Arrebatador, um tango de gangsters com tiroteios ilusórios, num espetáculo cósmico, cenários com grafites que falavam à felicidade. Uns verdadeiros ilusionistas a empolgar a minha mente erótica e quem sabe a inspirar a alma para poder afirmar sem nenhuma saudade, adeus 2021…  

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