Juras de amor, perdidas...

Juras de amor, perdidas...

Tu és simplesmente mulher, por isso a tua sensibilidade é de um ser divino criado nos céus pelos deuses da perfeição.
Nunca foste diferente das outras e sempre viveste com emoções efervescentes tudo que remexe com a sentimentalidade.
A pureza dos teus pensamentos, a forma de iludires a vida em sonhos, sempre fizeram de ti uma menina repleta de luz interior.
Sempre o desejaste, aliás, pensaste cada segundo ao mais ínfimo pormenor com um perfecionismo exacerbado.
Eis o momento, de cada passo até ao altar, cada olhar no teu redor, cada arrepio do teu corpo emocionado nas palavras trocadas na frente do noivo. Tudo feito com eflúvio dos santos e das santas que benzeram o teu casamento. A boda essa foi de arromba, com explosões de sorrisos, de beijos de parabéns nos brindes dos copos do álcool.
Na noite de núpcias, trocaste palavras que nem tu própria sabias que existiam, os beijos, as carícias, a partilha sexual foi de uma intensidade sísmica dantesca e tântrica.
Cada dia o teu acordar eram sorrisos de sol aberto, eram lagos de cisnes e presentes de beijos acalorados pelos suores noturnos. Recebias do teu marido, palavras que soavam a hinos alucinados de paixão, poesias de cumplicidade, bebias em comunhão o sangue quente e os leites da fertilidade, em momentos de loucuras desassisadas.
Tudo em ti, eram rosas perfumadas espalhadas nos jardins da linha da vida.
Os tempos foram passando, as rosas foram murchando pela queda de pétala a pétala e o teu sorriso mergulha no vazio do sono profundo. A tristeza gerou raízes profundas, o teu coração começou a ser comido pelo bicho da fruta podre, até esmorecer na escuridão.
Ele, já não é o mesmo para ti e transformou-se num matador de felicidades, um vendedor de navalhas espetadas nos sonhos. Os cancros sociais das marés perigosas, dos espelhos quebrados pela maldição antagónica do amor abraçam e empobrecem a vossa relação.
Sentes o odor dos vícios entranhados nele, sabes que foste traída pela beleza enganadora e traiçoeira da outra. Ela foi tomando o teu lugar não na tua cama, mas na cama dele.
Hoje és uma mera figura presente, secundária aos olhares dele, uma personagem apenas para os holofotes das passerelles sociais, mas que escondem todas as tuas comoções do desânimo.
O teu ego voa apenas com asas quebradas e a tua alma carrega a pá do coveiro para abrir a sepultura dos teus sonhos.
Mesmo assim, comungas ainda o mesmo teto, mas onde tudo é diferente, com tantas tormentas da falsidade e lâmpadas fundidas da felicidade.
Os gemidos do prazer passaram a ser cor de carvão, as labaredas dos beijos os gelos da Antártida, a piscina de orgasmos as lágrimas da depressão e os sussurros de amor agora são os berros dos silêncios da indiferença.
Vives, porque ainda respiras, mas afogada nas juras de amor, perdidas…

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