🔥Utopias Eróticas do Criador🔥 - Livro
Agradecimentos:
A concretização deste livro, só foi possível graças à força inspiradora que as Estrelas Brilhantes (leitoras) transmitem à minha imaginação. Elas, são a verdadeira razão da existência deste Planeta Azul e têm a força de transformar todos os meus dias em pura felicidade.
Muito obrigado.
Utopias Eróticas do Criador
Assustador
Silêncio nas ruas vazias, cidades desertas, veículos estacionados e por incrível, os aviões em terra. Desolador este ar mórbido pela falta da agitação quotidiana, um autêntico cemitério sem campas. Sente-se apenas a presença das almas invisíveis, que invadiram a solidão dos vivos, como um filme de terror rodado no deserto.
Pág. 1
Atualmente vivemos uma situação preocupante e bem diferente nos últimos meses.
Pág. 2
Há oito espécies diferentes de pangolins: pangolim chinês, pangolim malaio, pangolim do cabo, pangolim filipino, pangolim-da-barriga-branca, pangolim indiano, pangolim-gigante-terrestre e o pangolim da barriga preta. Este animal tem o corpo coberto de escamas. Adota uma forma enrolada, semelhante à do ouriço-cacheiro, quando ameaçado. Não possui dentes e alimenta-se, sobretudo de formigas. É caçado como especialidade gastronómica pelas populações das zonas onde habita. As suas escamas são traficadas para serem utilizadas como afrodisíaco.
Existe o mito que todos os morcegos se alimentam de sangue, mas cerca de setenta porcento são insetívoros, alimentam-se de insetos, sendo praticamente todos os restantes frugívoros, ou seja, alimentam-se de frutas. Somente três espécies se alimentam exclusivamente de sangue, os chamados morcegos hematófagos ou vampiros e encontram-se apenas na América Latina.
Pág. 3
Enfim, nada são certezas nesta globalização da desinformação e batizada de Covid-19.
Pág. 4
Eu, creio que até a própria natureza tem horror a este vazio.
Pág. 5
avião, com alterações do sono e dos ritmos cardíacos. As tensões, deixei de as medir, eram sempre sinais de alarme para o bem-estar.
Cumpridor escrupuloso da azáfama dos loucos horários, dia após dia, ano após ano, fez de mim um viciado nos relógios e um moribundo esgotado. Passados estes meses desde o primeiro infetado e os confinamentos sem prazo, já tirei os relógios do pulso e lancei-os ao mar.
Pág. 6
O arquivo fotográfico é o espelho da minha organização, tudo secionado por datas, muitas fotos ainda a preto e branco que refletem bem a evolução dos tempos. A primeira, a mais antiga, teria um anito, um gorduchinho de carinha laroca, sapatinhos brancos, calças tipo macacão de risquinhas suaves e uma camisola branca. Um bonequinho, cabelo preto e uns olhos castanhos cheios de vida. Folheio o arquivo, a meninice, a adolescência, os amigos, os familiares, até à vida quotidiana, tenho de tudo para fazer uma longa-metragem. Olhar algumas, dá aquela nostalgia, mas nunca fui homem de saudades, amo viver o presente e sempre pronto para explorar o futuro.
Conversas surdas da treta, sinais de desconsolo, com as mãos mortas pelas carências afetuosas. A verdade é que estou sozinho, longe de todos, apenas ligado pela tecnologia das redes sociais, na esperança de não apodrecer o esqueleto nesta viagem dos sentidos carregados de reticências.
Pág. 7
A imaginação era cortada por uma guilhotina fictícia, queimava os sonhos e castrava os desejos.
Pág. 8
Construída no século XVIII, esculpida toda em pedra, sobre uma base, onde estão quatro bustos, ergue-se um pedestal em que a mulher, coroada por um castelo, carrega na mão esquerda uma caravela, como símbolo da vocação marítima da cidade.
Pág. 9
Para o alheado, são apenas figuras de embelezamento, pedaços de metal ou pedras esculpidas colocadas nos pedestais. Para mim, são heróis com história, guerreiros, ilustres nobres ou reis que honraram com glórias este digno povo lusitano.
Sou admirador da história de Portugal, sinto um orgulho arrepiante quando canto ou ouço o hino nacional, um ufanista convicto.
Pág. 10
Já nem televisão consigo ver, com as contagens de infetados, dos lares chacinados pelas mortes dos idosos, das camas cheias dos cuidados intensivos com pessoas ligadas aos ventiladores. Os avisos de alerta da Direção Geral de Saúde, são constantes e esbatem-se nos comportamentos opostos da falta de civismo de alguns broncos.
Pág. 11
A noite tombou há algum tempo e começam a cair pingos de chuva puxados a vento, mais uma tormenta que alimenta a monotonia da linguagem mental.
Pág. 13
Possuia uma forte vertente de erotismo, de libertinagem, de lascívia dos prazeres do sexo carnal. Andava reiteradamente no cio e convivia com a boémia tatuada na pele. O corpo demonstrava o lado impúdico do Criador, a excitação depravada da sexualidade e amava arder nos pecados do inferno.
Pág. 14
Tudo era motivo para sonhar e tudo era sonho.
Misterioso
Pág. 16
Tempos em que fazer filhos era sinal de grandeza, de poder e de pessoas másculas.
E, era, mas...
Pág. 17
A sua vida passou a ser uma hélice de constantes devaneios, as pessoas ficaram com receios dele e por isso, ainda hoje poucos se arriscam a falar das suas aventuras.
Pág. 18
A demência era tanta que chegou a um ponto que já nem media a idade das mulheres. Nem as velhas escapavam, pois julgavam que o mundo ia acabar e pretendiam mais prazeres.
Pág. 19
Infindáveis são as narrativas, nem todas verdadeiras e a vida a cada dia desenvolvia uma nova lenda, um novo conto.
Pág. 20
Era uma pessoa enigmática e para os machos, classificado como um felizardo.
Pág. 21
Ainda no início da leitura e confesso que no fundo, sinto inveja da forma como viveu este figurão.
Pág. 22
Criou tantas metas, tantos desafios ao seu ego, que se transformou num perverso, um sacana tóxico, um rebelde com uma vida de vadio. Com o corpo cada vez mais endiabrado, a mente, ficava constantemente numa ânsia compulsiva e abriu as portas a desejos obsessivos e compulsivos.
Pág. 23
Pasmado, mesmo com as pestanas a fazerem uma força enorme para fecharem, faço esforços suplementares para continuar a ler este livro assombroso.
Pág. 24
Numa vida cada vez mais decadente, os esquadrões da morte começaram a rondar os sentimentos desregulados.
Pág. 25
Afinal, dentro dele existia o equilíbrio, um pêndulo, uma balança que podia contrabalançar os pensamentos e abraçar a forma de viver para além das coisas corpóreas.
Pág. 26
Motivado pelas sublimes aventuras, é impossível resistir a cada explanação descrita e fico agudamente curioso em saber o final.
Criado utopicamente como refúgio, este universo mágico, ainda existe. O Criador, permaneceu aqui numa viagem de incríveis desafios, em que tudo são fantasias por explorar. Na vivência diária absorvia com intensidade cada detalhe como se fossem únicos, brutais e inigualáveis. Os festivais das relações humanas eram sensações de cortar a respiração ao comum dos mortais.
Tudo cheira a vida.
Inspirado, tentou conceber quase tudo à imagem do Paraíso, do Adão e Eva, até parece que andou a estudar os grandes livros sagrados, como a Bíblia, o Avesta, os Vedas ou outros, tendo em conta as inúmeras semelhanças.
Um Criador versus a Mulher.
Dizem que a vida neste paraíso é a recompensa antes da morte das almas que o seguiam. Não são os espíritos que vivem depois da morte, apenas os justos vivos no seu estado de glória e de todas as crenças. Este planeta, não é só dele. Quando desfraldou todas as bandeiras rasgaram-se as fronteiras e tem simplesmente, a “cor azul”, simbolizando a harmonia multirracial. Deu-lhe o nome de Planeta Azul e quem lá entra, encarna numa estrela brilhante. Ficam a sentir eternamente a vivência das tradições milenares, onde ouvirão incessantemente as lendas de encantar dos sabedores adamastores, conseguirão meditar na nobreza da transcendência e retirarão para sempre as memórias negras do passado.
Criou este mundo como refúgio a uma sociedade que viveu, podre, corrupta, despida de valores de humanidade entre os povos,
que ele próprio alimentou.
Pág. 28
É como um delinquente refugiar-se num templo budista, convertido ao budismo.
Neste lugar, todo o ser humano sente e vive o seu próprio latíbulo, sem atropelos da desigualdade.
Respirava o inesgotável perfecionismo desta fábrica de sonhos e era um vagabundo na arte de amar o semelhante. Traficava beijos e sarcasmos de paixões românticas, dava banhos nas águas cristalinas e não nos lodos da vergonha. A energia deste mundo são vitualhas que viciam o ego e tornam cada dia no combustível para a metamorfose de dias rememoráveis.
Só tem o céu e o inferno, não existe o purgatório, porque não há perdidos à procura da redenção.
Um lugar onde impera a paz.
Despoluído, sem problemas ambientais, com montanhas verdejantes, florestas guardadas por duendes que transportam o espírito das travessuras com alegria. Os rios, fluidos límpidos inundados de cardumes de múltiplas espécies que cantam serenatas de versos ao vento. Os mares, revoltos em ondas que abraçam o salgado na pele de quem se banha na cristalinidade da água. As ruas entapetadas por pétalas de flores coloridas e iluminadas por velas aromatizadas. Não existem viaturas, nem meios de transporte motorizados, quem se desloca, galopa em cavalos brancos ou voa nos dragões guardiões do templo. Os espaços exteriores são de perder de vista, sobrevoados por pombas brancas mensageiras da santidade e pelos diabinhos tentadores de heresias. Os jardins deslumbram como poemas de amor, com instrumentos construídos pelos artesãos das ilusões, em que os sons despertam os cinco sentidos. Nas árvores da vida, germinam com abundância, frutos afrodisíacos, onde
a maçã é o ex-libris.
Pág. 29
As rosas não têm espinhos e os aromas são fundidos pelo bálsamo do bater das asas das borboletas. O ar que se respira é perfume criado em laboratório com as líbidos das excelsas mulheres. Existem lagos com cisnes brancos e à noite ficam todos iluminados por pirilampos. Na envolvência dos jardins, os monumentos são capitólios que servem de aposentos às deusas do Olimpo. Cada divisão é desenhada à mão pelos anjos da perfeição, em função do íntimo personificado de cada recém-chegada. E, sobre as portas um letreiro com o nome de cada deusa.
A magnificência da génese do Criador é o templo sagrado, construído em pedra, onde a riqueza da minudência transcende tudo para além da dimensão criativa do pensamento. Alberga a Sala Magna, o Altar Sagrado, a Capela das Rezas, o Tronco dos Castigos, a Lagoa dos Prazeres, o Jardim de Éden e inúmeros labirintos envoltos em secretismo.
A Sala Magna é de uma grandiosidade que deixa qualquer poeta sem palavras. De enorme amplitude desde os portões dourados, o chão em mármore com passadeiras vermelhas em direção ao Altar Sagrado e uma escadaria que eleva os olhares ao céu. Os portentosos vitrais coloridos, com imagens de santos, deixam trespassar a luz solar. Os trompetes onde os anjos tocam as melodias de boas-vindas, as espaçosas varandas com vista para o Jardim de Éden e os colossais candeeiros de cristal que iluminam as extraordinárias pinturas de arte penduradas nas extensas paredes.
O Altar Sagrado é simplesmente magnifico. Elevado em relação à sala magna, todo em ouro, com esculturas bíblicas esculpidas. Coberto por três camadas de toalhas benzidas em linho branco, com gravuras tricotadas em finas folhas de ouro e candelabros
com velas.
Pág. 30
Ao fundo o sacrário todo embelezado, ladeado por flores abençoadas, uma bíblia com a capa envelhecida e uma porta em ouro maciço, onde guarda religiosamente o âmbula com as hóstias e o cálice do vinho divino. Os figurinos são querubins a tocar trompetes, arpas e santos idolatrados pelo redentor.
Na imensidão das divisões do templo sagrado, existe a Capela das Rezas. Era onde o Criador comungava o culto à mulher, com os mais profundos sentimentos do amor. Os afetos, os carinhos, a adoração e a veneração beijam o âmago das almas. Nela, a paixão convive de mão dada com a pureza da autêntica comoção.
Uma capela sem alusões religiosas, com a simplicidade dos objetos necessários para amar. O teto, pintado com as cores do arco-íris, ressalta à vista os anjos voadores com setas do cupido e que ostentam sorrisos de felicidade. Candeeiros suspensos que fumegam fraternidade em osmose com a musicalidade das melodias. Uma cama que toca o empíreo, com colchas de pura seda, rodeada por rosas vermelhas e tapetes de pêlo macio. Ao fundo da capela um enorme espelho que cobre toda a parede e em frente um sofá vermelho que ostenta glamour. Caprichado no luxo, os aposentos de asseio pessoal, são dignos das mil maravilhas arábicas. Louças sanitárias e torneiras em platina, um jacúzi de dimensões generosas e as paredes todas espelhadas.
A Lagoa dos Prazeres é uma coisa inexplicável na lei da gravidade da natureza. Suspenso como um trapézio na atmosfera, com cascatas de água quente e doce, que nascem nos glaciares do oásis. Nesses glaciares viveram os antepassados da fertilidade.
Pág. 31
Um genuíno paraíso, onde as vozes do além soletram poesias eróticas, encenadores que recriam posições de coito, lobas que uivam gemidos do cio e nenúfares voadores, donde saltitam serpentes tentadoras. Nos céus voam cegonhas, não tem siringe, portanto não emitem sons vocais, mas batem constantemente os bicos para encantar e aliciar as mulheres a acasalarem e serem futuramente mães.
É um local comunitário, onde as mulheres convivem em conjunto e vêm para banhar as ardências clitorianas originadas pelas fantasias sexuais. Aqui os banhos intensificam a baba da saliva na língua, fazem transpirar os poros pela avidez da sexualidade e alimentam as hormonas do prazer. Quando saem da lagoa deixam um rasto de virtuosismo dos fortes odores do desejo sexual e é pela emanação deles que o Criador escolhia a submissa para o tronco dos castigos.
Bem mais distante e delimitado pelos infindáveis corredores subterrâneos, uma porta com as palavras cravadas a ferro quente: Tronco dos Castigos.
Uma divisão totalmente insonorizada, onde os gemidos da dor e do prazer não trespassam as paredes. A sala de formato oval, impera a disciplina da dominação, da submissão da deusa que se oferece aos castigos máximos da obscenidade do sexo. É portentosa na ornamentação burlesca e tudo que a envolve respira sadomasoquismo.
Espelhos, móveis tipo calabouços, camas redondas com cabeceiras estranhas, armários com óleos balsâmicos e onde estão guardados variadíssimos objetos sexuais. O local mais simbólico de todo o Planeta Azul para as mulheres mais excêntricas.
Pág. 32
Embora tenha o desígnio de “tronco dos castigos”, nada era imposto pelo Criador, a liberdade dele terminava sempre nas vontades e limites delas.
Ela é a rainha soberana e dona de si mesmo.
Toda esta envolvência desenvolve em cada cérebro uma química e recria idílicos momentos na purificação da paz de espírito. A simetria deste inaudito lugar, faz que em cada esquina existam incubadoras de metáforas que fazem transcender os imortais.
No dia a dia, a comunhão da felicidade é vivamente transcrita no brilho de cada olhar feminino, da beleza da sua excentricidade e da lisura dos valores íntegros como seres puros.
Não é só nos outros globos que existem tentações e provocações, aqui também existem, mas construídas em ninhos e casulos das vibrações da mais bela e perfeita criatura.
Para o Criador, a mulher era a figura sublime, divina e deixou escritos, verdadeiras bíblias sobre os seus sentimentos por ela.
Pág. 33
Mulher
Criada da costela do homem pela inspiração de Deus. Simboliza deusas, musas e divas da universalidade. Por onde passa deixa um rasto imaculado e possui o dom sagrado do embrião da vida para um dia ser mãe de novas gerações.
Abençoada, semente da fertilização, afetuosa, sensivelmente ínfima, é representada na mitologia pela deusa Vénus, ligada ao amor e à beleza. Um verdadeiro símbolo abstrato desenhado com a bênção e sabedoria de Deus.
Possui atributos divinos intransmissíveis a qualquer outro ser com vida. A honra, a enorme dimensão espiritual, o indefinível no mais complexo da sua universalidade, desperta sentimentos, encanta corações, faz transcender a capacidade de sonhar e desejar. Alma límpida, cristalina, doce, ilumina com o sorriso toda a metagaláxia. O corpo dela é um tesouro de tentações, revitaliza ímpetos da erudita serpente e cria cegueira no intelecto dos homens.
É poderosa, impregnada de essência perfumada, de alma autêntica e corpo divino. Um ser magnifico, cujo íntimo transcende a própria realidade, um sonho imaculado e apaixonante. Parece desenhada à mão, de olhos vivos, lábios doces, seios impetuosos, pernas atraentes e silhueta que fascina fantasias. Deu origem à criação de novos anjinhos, como o cupido com as setas, prontas a serem disparadas em todas as direções e rasgar de cima a baixo os cinco sentidos masculinos. Os homens quando pensam ou sentem a sua presença, a alma sente, o coração pula e o corpo vibra. Ela, também é a conceção de novos pecados, de desejos escondidos e excitações nas mentes. Tem o dom da sedução, de cativar e fazer descarrilhar corações. Na falta de entendimento, de harmonia, nos momentos de inexistência de paz é ela a clarividência para o equilibro da razão humana.
Pág. 34
É insígnia da sensualidade, da beleza, carrega nos olhos, nos lábios a bandeira do erotismo, nos seios e no traseiro a fonte dos desejos masculinos. Mas, é a alma, a simplicidade, a delicadeza, a divindade sensível que a torna apaixonante e inexprimível.
Há quem confunda o seu rastro de virtuosismo, com adjetivos impróprios, simplesmente pelos excelsos encantos que possui. Eles, são os trampolins que realçam a beleza física, que fascina, mas é com o coração que devemos senti-la.
Desperta sentimentos, deixa os homens tocados numa anestesia para transplantes de emoções que brotam imaginações e eloquências comoventes.
Não interessa rigorosamente nada a sua raça, a etnia, a cor, a crença, tudo é superlativo do vazio, da substância do nada, quando comparado com a magnânima simbologia que representa.
De sentimentos refinados, fazem da sua alma cristalina, emotiva e sem nunca perder o equilíbrio da lucidez.
Inspiradora das melhores obras de arte, dos pensadores mais ilustres, a pauta onde os poetas escrevem as canções de amor e originou a criação de palavras que na sua ambiguidade nunca chegam a ter adjetivos.
Por ela, a veneração é sem limites e todo o homem devia ser purificado com o seu perfume.
O Jardim de Éden foi criado, na sua genesis, devido ao que somos como seres vivos e através da comunhão com a mulher, temos o dom de imaginar, desejar e sonhar.
Seguimos as suas pegadas com impulsos, a sua magia arrepia e o infinito não se define nem se quantifica.
Pág. 35
É a peça chave abstrata deste admirável mundo, sem sombras, sem demónios e encarna em perfis de anjos.
Nem os filosóficos ousaram consagrar a sua excentricidade, nem os oradores deixaram queimar as suas palavras quando falam dela. Corta respirações, escava egos com mapas da ilusão, pinta aguarelas com orgasmos, funde labaredas em notas musicais e trafica paixões nos corações masculinos. A beleza corporal é aleatória, remexe, ilumina, arrebata homilias aos deuses e satiriza os monstros dos prazeres.
A sua essência inicia-se no horizonte, onde o céu toca o mar e finaliza-se no firmamento.
Pode não estar fisicamente presente, mas tem sempre as suas raízes entranhadas em cada poro do relógio pulsante dos nossos raciocínios.
A luz que começa no céu e acaba no infinito é o reflexo do seu sorriso. A sua feminilidade é abstrata, mas encanta pela excelsitude da beleza. Respiramos o ar purificado pela malícia hipnotizante, mas sempre com elevada personalidade e respeito.
Afinal ela, é indefinível no vocabulário material e imaterial.
Um verdadeiro anjo, com asas para imaginações sem limites. Variadíssimos artistas, há séculos que a tentam pincelar nas telas, fotógrafos que ambicionam fotografar os encantos e até os poetas sonham soletrar poesias para as conquistar.
É a bênção deste Planeta azul.
Pág. 36
O Criador, define a mulher de uma forma quântica, metafisica e em vários lugares, colocou frases inspiradoras à sua elevação como deusa e uma delas é na entrada da Capela das Rezas:
“Apenas sou um servo a teus pés, um vagabundo criador que transporta na alma palavras que tentam glorificar o teu nome, mas cujo vocabulário é uma insignificante parte daquilo que verdadeiramente és e representas”.
Pág. 37
Cogitação
Fogo, este indivíduo viciado em sexo, tresloucou, conseguiu recuperar a lucidez e criou um mundo novo, um subterfúgio de fantasia, onde glorificava a diva. Era mesmo um adorador das mulheres e viveu sempre obcecado de uma forma ou de outra por ela, ou por elas, heheheh.
Até eu sou um apaixonado por elas, quem, não é?
Apesar que, infelizmente existem pessoas, ou melhor verdadeiros animais que não fazem jus a esse ser imaculado. Sem escrúpulos, tratam-nos de forma vil, cruel e muitas das vezes não só fisicamente, mas psicologicamente, levando-as à morte.
Confesso que sou um impulsivo pelo amor livre, um alucinado pelas paixões que se cruzam nos caminhos do destino. Reconheço que os pensamentos remexem a imoralidade das tentações, os suspiros são efusivos por beijos e a louca atração pelo interior feminino, mas sempre com dignidade.
Até na abrangência femínea este livro é surpreendente.
Talvez por isso, quase seis da manhã e ainda aqui estou, imbuído no espírito do próprio Criador. Que criatura devia ser, a sua misticidade, a ilusão da vida, a imaginação que transportava dentro de si, é estranha, mas com uma vida arrebatadora.
Deixo-me a idealizar todas as suas aventuras, com ciumeira e alguma cobiça.
Se o que está transcrito neste livro for verdade, é na realidade uma biografia que vislumbra qualquer pessoa pela sua incrível vivência.
Pág. 38
Será que ainda estará vivo?
Estou ansioso por saber tudo até ao final, mas não posso saltar capítulos, embora a vontade fosse dar uma espreitadela nas últimas páginas.
Sempre gostei de ler, embora nos últimos anos nem dei pela minha existência, quanto mais de um livro. Agora o tempo sobra e vejo-me aqui a estas horas tardias colado em cada letra, parágrafo a parágrafo.
Sinto-me hipnotizado pelo Criador, pelas suas histórias mirabolantes e luto contra os carneirinhos do adormecimento.
Os olhos semicerrados, esbatem-se de novo sobre a leitura e entro num novo tema, rituais.
Pág. 39
Rituais
Consta que o Criador não negava a entrada no Planeta Azul a nenhuma mulher.
Todas que entravam pelos portões dourados, nunca mais saiam e permaneciam eviterno no seu coração.
Criou as próprias leis e regras para coexistir simetria numa simbiose perfeita dos padrões grandiosos do amor. Estão todas gravadas à mão na tábua inviolável da Sala Magna.
Há chegada, eram batizadas no grande livro sagrado com o nome de uma deusa conforme a humildade do ego e eram purificadas no Altar Sagrado.
Nem todas eram iguais, umas chegavam requintadamente vestidas, outras de uma simplicidade indumentária quase a roçar a pobreza. O íntimo de muitas escondia a sobriedade da personalidade, surgiam com ar santificado, mas eras umas verdadeiras putéfias. O ar angelical muitas das vezes era apenas uma sobrecapa para esconder as tatuagens safadas cravadas na alma.
O Criador tinha o dom de sentir mesmo sem ver, amava escutar, primeiro no silêncio o bater de cada coração e a cadência de cada pegada feminina.
Tudo girava e fluía no sentimento mais puro do amor e na nobreza da simplicidade.
Bem diferente do mundo que vivia no passado, carregado de fúrias doentias e dos excessos da mente perversa. A vadiagem era coisa quase pré-histórica e passou a viver imbuído pela nostalgia de afetos.
Cada mulher que chegava aos portões dourados, era recebida pelos querubins e entrava na Sala Magna ao som dos trompetes que tocavam melodias de boas-vindas.
Pág. 40
A magnificência da sala, era de tal ordem que mulher se sentia um ser digno, um ser acarinhado. As próprias pinturas de arte nas paredes da sala eram simbolismo de glorificação da mulher.
O chão em mármore, cruzado pela passadeira vermelha, onde cada uma caminhava descalça até ao Altar Sagrado. A luz que penetrava pelos vitrais era um acrescento ao brilho que cada uma trazia no rosto, pronta a ser batizada.
Ele, esperava no Altar Sagrado, sem pestanejar, ficava impávido, sereno, apenas observava cada detalhe ao mais ínfimo pormenor. Ladeada pelos anjos desfilava sobre a passadeira vermelha como um verdadeiro andor imaculado. Já na escadaria, de frente ao altar, era despida pelos anjos e ficava prostrada à espera das primeiras palavras.
Benzida pela água benta feita pelos perfumes das outras deusas, ouvia em bom som o nome de batismo atribuído pelo Criador, que de seguida era registado no grande livro pelo espírito santo.
Os trompetes soavam de novo, coadjuvados pelo rufar dos tambores, a deusa subia as escadas, deitava-se completamente nua no altar e recebia o primeiro beijo nos lábios.
Com as mãos, os beiços e a língua dele, era pincelada, poro por poro, com o bálsamo concebido pelos suores e orgasmos das antecedentes. De seguida deslocava-se ao sacrário, onde continha as hóstias e o vinho e era dada a comunhão.
Benzida, batizada e purificada dava-se início ao ritual do amor físico entre o homem e a mulher.
O silêncio imperava por uns minutos e podia-se ouvir apenas os sons do paraíso que viajavam no exterior.
Pág. 41
Quando o Criador avançava, os tambores iniciavam o rufar numa cadência que seria progressiva conforme o ímpeto do ato sexual.
Perplexo com a leitura, o coração palpita, a respiração fica por instantes suspensa e dentro das calças, um tesão crescente a despertar. Só de ler e pensar os próximos rituais, o membro rabia, parece que tem ouvidos. A este ritmo vou ficar um cão no cio, confinado, com asas na mão para esganar o bicho.
Converso com as sombras das labaredas que dançam nas paredes da sala, como se fossem minhas confidentes e estivessem disponíveis para aturar-me.
Fogo, este individuo refugiou-se num Planeta Azul, para fugir às loucuras sexuais que vivia e afinal continua um verdeiro fodilhão. Quer dizer, cada uma que entrasse, ele pimba! Mais uma história rocambolesca, que inventou para continuar a foder, só que agora com requinte.
Quem não queria ser assim? Perpetuar num pinante requintado, heheheh.
Depois de uma noite inteira, aos poucos, o dia surge pela vidraça das portas da varanda e ainda aqui estou de livro na mão, abraçado a mais uma garrafa de uísque. A sonolência é pesada, o cansaço, aliado ao álcool e pela forma viciante como deixei a fantasia galopar.
Mas também não vai ser agora que vou fechar o livro, quero ler como esta figurinha acoplava a fêmea no altar.
Pág. 42
O rufar rompia pela grandiosidade da magnífica sala, numa cadência de suspense e a um ritmo baixo e lento. O Criador beijava a deusa nos lábios e chamava pelo seu nome. Era nesse instante que ela saia do estado de hipnose, quase um despertar da bela adormecida. Beijada, acariciada acabava por entregar o corpo e alma.
Era beijada no pescoço, nas orelhas, nos seios e pelas coxas até os arrepios tomarem conta da epiderme. Os primeiros gemidos libertados eram de uma menina virgem e efetivamente eram, pois, cada mulher após a cerimónia do batismo, ficava novamente com o íman da virgindade intacto. A língua dele era de uma serpente, deslizava suavemente e de forma fugaz envolvia o corpo numa ardência envenenada pelo desejo.
Os tambores crispavam o som, batiam mais forte e a boca engolia os bicos mamários, entregues à saliva. Os suspiros, os uivos iniciavam uma espécie de simbiose, que viciava cada vez mais as hormonas do prazer de ambos.
Nenhuma resistia, simplesmente deixava fluir, um transe comum a todas que passavam por este cerimonial.
O olhar da deusa é de súplica, de veemência, uma ânsia que consome o corpo a ser desflorado. Não era um ato de desonra da mulher, bem pelo contrário era um ato sublime, imaculado e de regeneração para uma vida de felicidade eterna.
A sofreguidão da boca na vagina, o pulsar do clitóris na ponta da língua era o rastilho para abrir o dique da humidade. Os dedos invasores, eram a prova viva, da gosma demonstrada a cada investida. Os gritos, os gemidos ecoavam em redor dos enormes candeeiros de cristal que iluminavam os corpos suados.
Pág. 43
O rufar entrava num trilho sem freios, com os sons enfáticos, enquanto os anjos tapavam os olhos.
Seguia-se o momento alto da cerimónia, a penetração.
Nunca era imposta por ele, só era consumada depois de amplamente implorada por ela. Muitas chegavam a pedir por favor para serem penetradas e ele gravava na memória a particularidade de cada uma.
Quando ouvia as implorações, os olhos dele reviravam em branco e as estocadas eram como marradas dum touro enraivecido. Um animal sexual, para enorme regozijo de cada uma das divas.
Todos os batismos eram assim, parecia que existia um protocolo pré-definido, com todas as regras e movimentos transcritos num livro sagrado.
Os tocadores dos tambores, como robôs, autómatos, sem parar enquanto ela não cedesse ao cansaço e à satisfação total.
Em muitas ocasiões, os orgasmos eram tão superabundantes que inundavam o Jardim de Éden e fertilizava as terras para nascerem novas flores perfumadas.
Muitas depois do ritual ficavam desfalecidas, e estavam semanas em repouso a retemperar a parte física e emocional.
Nunca nenhuma conseguiu que fosse ele a desistir.
Uma palavra que também nunca usei e agora até na forma plasmada como estou a consumir cada frase, também não vou desistir de continuar a ler. Estou excitadíssimo, o pénis grita por uma fêmea, mas esta minha sala não é magna nem tem altares.
Pág. 44
Estou empolgado, de tal forma que num impulso, não resisto e acaricio o sexo.
Quente, um calor abrangente em mim, com o cérebro a pedir calma à adrenalina, mas esta, a ser mais forte e prepotente e a dominar a cinesia da mão. Abro o fecho das calças antes que estoure, dou chicotadas numa masturbação e faço vomitar a fera.
Transpirado, com sintomas estranhos, um calor de calafrios e sensações de tontura tomam conta de mim. Trémulo, a cambalear caminho para o quarto e olho-me ao espelho. Os olhos avermelhados, a cara, literalmente a escorrer suor, com a face branca como a cal e vontade de regurgitar.
A lucidez é coisa que não está presente, nem consigo raciocinar, se é do confinamento ou da alucinação compulsória deste lunático, apelidado de Criador.
Salas de castigo, lagoas de prazeres, rituais de endeusamento, virgindades transformadas em orgasmos, cruzes canhoto.
Cada vez mais esquisito, indisposto, o comportamento físico e mental, entra numa espiral de pânico e a sensação de desfalecimento é iminente.
Vejo um enorme clarão dentro da minha cabeça, uma explosão cósmica, um raio de luz e encarno no Criador.
Pág. 45
Encarnação
Aspirado por um redemoinho, caio num vazio de memórias reais e acordo completamente nu no Planeta Azul.
É neste paralelismo de infusões, de reflexões que trespasso as portas da fantasia e recordo os momentos deste mundo em que o Criador caminhou e que paradoxalmente estou aqui, para viver.
Nunca aqui estive, mas em redor tudo é familiar.
Rapidamente sou recebido pelos olhares de estupefação dos anjos, incrédulos pela minha presença. Os sinos tocam a rebate e ao longe ouve-se uma estrondosa gritaria de excitação. São as deusas efusivas que correm nesta direção.
Agarrado, abraçado como um regressado herói de guerra, percebo que se passa algo de extraordinário. Deixam-me todo arranhado e impregnado de líbidos.
Julgavam que o Criador tinha morrido ou desaparecido e ficam eufóricas pelo regresso.
Num ápice, quase por instinto coletivo e com gritos histéricos e com sofreguidão correm em direção à Lagoa dos Prazeres.
Sabem que é lá que banham as ardências do clitóris, que recriam posições sexuais e transpiram os odores da sexualidade. Quando saem da lagoa, é pelo rastro que deixam que será decidida a escolha para o Tronco dos Castigos. As exibições, as encenações corporais de cada uma, são odes à poesia erótica e os gemidos, são miares de gatas no cio.
Sem pingos de vergonha preparam-se para loucas fantasias.
Finalmente sentado, como um Deus no Jardim de Éden, escuto a acalmaria, sem zombarias, apenas os sons da natureza e as aves que sobrevoam no céu.
Pág. 46
As flores sorriem para mim, parecem agradecer a presença e o perfume libertado é uma fonte de inspiração para aventuras. Os anjos jubilosos tocam arpa pendurados nas árvores e entoam prosas de amor, como prova de felicidade pelo regresso do Criador.
Deixo-me embalar por tudo, pelos aromas que invadem as narinas e tocam a pele por dentro. Fico perfumado e ao desafio troco poemas de encantar com os anjos.
Relaxado, penso em cada momento de prazer que posso usufruir, é como entrar num cubo mágico, onde o sonho abraça a realidade.
Com a imaginação concentrada nas gritarias ao longe das deusas, que se espalham no jardim, divago, no intuito de sentir tudo o que este paraíso tem para oferecer.
Parece que as figuras míticas deste planeta têm o dom de escutar os raciocínios. Os anjos retiram-se e são substituídos pelos diabinhos que chegam a disparar setas arder, embebidas em heresias, deixando tudo iluminado. Os gritos são cada vez mais audíveis, verdadeiros uivos de lobas no cio e os balsamos carregados de odores intensos, trespassam o nariz.
À volta de mim, forma-se uma fila de mulheres todas purificadas, com olhares famintos e perfumes nauseabundos do apetite sexual. Chegam da Lagoa dos Prazeres de forma histérica, ávidas por serem a elegida e de seguida cair no Tronco dos Castigos.
Um frenesim, num desfile de empurrões entre elas, na tentativa de recair a escolha.
Pág. 47
Um harém para a vista, remexe ereções impulsivas, apenas pelos olhares. Atraído, sedento em possuir uma a uma, como se fossem submissas à depravação, dou corda ao desejo.
Sei que existem regras estabelecidas, mas a cegueira sexual não deixa enxergar leis, apenas satisfação sexual.
Irrequieto no banco, com os diabinhos a sobrevoarem a cabeça, sou tentado para episódios arrojados. Inflamado, com o pénis esganiçado, carregado de desejo por chafurdar nas conas cheirosas e molhadas, ergo o dedo indicador da mão direita. E, aleatoriamente aponto, não para uma, mas para duas.
Por breves momentos os diabretes, ficam abismados, coram, mas rapidamente soltam labaredas de júbilo. Para eles os pecados são o código de conduta.
Elas, ficam boquiabertas e incrédulas.
As indigitadas trocam olhares de ciúmes e as outras de pura estupefação.
Nunca o Criador levou duas mulheres com ele em simultâneo, cheguei e rompi formalidades.
Não estou minimamente preocupado com regras, fervilho por dentro, sem acanhamento para loucas fantasias e a carne com vontade de matar cachorros aos gritos.
Encaminhadas à minha frente, para o Tronco dos Castigos, vou dando palmadas nos traseiros encobertos pelas camisas de dormir rendadas. A vontade é esgaçar já as duas, de as possuir de forma exorbitante contra a parede e fazê-las gemer.
Pág. 48
Descalças, nas pegadas, sinto impressões no ar de uma certa desconfiança. Estão sem certezas se realmente vão entrar as duas na sala oval, ou se estou apenas a fazer um teste.
Atrás de nós a porta fecha-se e nem imaginam que nas próximas horas, vou usar e abusar dos pensamentos proibidos.
Ficam atónitas com a faceta, depravada do Criador.
Num brusco movimento, agarro as duas e com os dentes rasgo de cima a baixo as vestes, deixando-as totalmente nuas, enquanto solto um grito grotesco:
- De joelhos, já!
Prostradas aos pés, estupefactas num silêncio aterrador, solto novas palavras de exaltação.
- Sois as elegidas, portanto sereis submissas às minhas ordens e fodidas sem compaixão.
De olhar doentio, a mente perversa, esfaimado por sexo, tiro as roupas de forma animalesca. Junto as duas, com as cabeças encostadas uma na outra e esfrego o pénis pelas bocas, como se estivessem a tocar realejo. Bato com ele, nos lábios, nas línguas e na cara.
Desvairado, agarro uma pelos cabelos e enfio o tesudo na boca e ordeno à outra para lamber os sacos genitais e o olho do rabo. Os sons das línguas a esfregarem, resvalam pelas paredes, os espelhos debitam reflexos das silhuetas a representar escárnio, para um início empolgante. Sinto a boca a devassar os colhões, o beijo grego a salivar o esfíncter e a verga a trespassar goelas.
Pág. 49
Ainda nos preliminares, mas já a fermentar novas alienações.
Levo-as pela mão até à cama, larga, macia com lençóis perfumados e abro as gavetas dos armários. Retiro e atiro vários objetos sexuais ao ar. São dezenas, de estimuladores, plug‘s anais, correntes, algemas, chicotes, estendidos pela cama e pelo chão. Sôfrego, coloco uma de quatro, ordeno a outra para abrir as nádegas à parceira, lamber e meter os brinquedos de forma provocante.
Uma delícia, as duas a brincar, a espevitar na rival, excitações nunca vivenciadas desta forma.
Relaxado, deitado a ver as estimulações delas, dou o tesão a ser chupado. A boca a deslizar, suavemente, a envolvência dos lábios, a língua, fazem maravilhas no ego.
Quero provar cada uma, sentir o sabor salgado.
Ordeno para se colocarem lado a lado, de quatro e enquanto se beijam na boca, alterno lambidelas nas conas. Cada vez mais suculentas, os gemidos vão aumentando a temperatura ambiente.
A gustação é diferenciada, uma bem mais intensa, com o pingar da humidade a demonstrar que se encontra mais excitada que a outra.
Agarro pelos cabelos a menos desperta e enfio dois dedos na rata e esfrego rispidamente até o clitóris ficar a arder.
Com palmadas desencontradas, dessincronizadas em cada rabo, marco as nádegas num amplo vermelhão.
Pág. 50
As gritarias desequilibradas, os movimentos alienados, os calores tornam-se hinos para novos patriotismos sexuais.
De forma propositada, lanço a questão.
- Qual quer ser penetrada primeiro?
As respostas surgem em uníssono.
- Eu!
Sabia que iam responder prontamente, mas vão ter de se esmerarem por merecer e lanço o repto.
- A primeira, será a que conseguir ser sensacionalista, mais puta atrevida, na forma como se expõem e manipula os objetos estendidos e à disposição. Força safadas!
Sentado, refastelado no cadeirão vermelho, como se estivesse pronto assistir a um show de cabaré, com os espelhos a espelharem o espetáculo, em vários ângulos.
A cama como palco, as duas como personagens putéfias num casting para um filme pornográfico, iniciam travessuras que nem a mente está preparada.
Massagens com óleos perfumados, as peles a reluzirem, as mãos a apertar e amassar os seios. Os açoites de empolgamento infringidos entre elas, a tentativa de fascinar é algo surreal. Batem-se pelo prazer da dor e da estimulação.
Os dedos, na boca, chupados de forma cruel, as salivas a escorrerem pelos lábios, a babar o leito, gladiam estrondos sonoros.
Pág. 51
Vários são os brinquedos a deslizarem e a invadirem os buracos do prazer em movimentos eróticos, numa sintonia dançante entre elas, em que cada uma desafia a outra com algo sempre mais ousado.
Não se poupam em esforços, querem atingir a glória pela sedução, pelo assédio imoral e os objetos são o regozijo. Cada vez mais inflamado pela visão, o desejo abraça o tesão e o bicho sexual vai desejando arrebentar correntes. Tento aguentar o ímpeto de saltar do cadeirão e foder, mas ainda estou indeciso na escolha da cadela.
A diversão dos instrumentos, a romper ânus, a penetrar as conichas ensopadas e a trespassarem as fauces.
Dispostas a tudo, para atingirem o triunfo, serem a selecionada e fodida pelo Criador. É a loucura final, com o arrancar de cabelos, que emaranhados esvoaçam pelo chão.
Expetante, com a adrenalina presa por arames, pronta a explodir e o coração a bater descontrolado dou mais uns minutos ao desempate nesta luta renhida.
De repente, uma delas pega num chicote, começa a correr como uma doida em frente dos espelhos e pura e simplesmente mutila-se pelas chibatadas.
Fico incrédulo com o que vejo, o corpo a ser traçado pelos golpes impostos na pele e rapidamente corro em sua direção. Agarro a mão destemida que segura o penalizador chicote e tento segurar os tresloucados impulsos.
Está possuída, de olhos revirados, a espumar pela boca e a gritar loucamente.
Pág. 52
- Por favor, Criador fode-me, fode-me!
Sem conseguir raciocinar, com a alma comovida pelo seu estoicismo, pelo querer, pela brutal pretensão em ser a priorizada, deito-a na cama e ordeno à outra para lamber as feridas das chicotadas.
Vou buscar as algemas, prendo-lhe as mãos à cabeceira, os pés à traseira da cama e estendida com os membros abertos é mimada pela língua da parceira.
De joelhos entre as suas pernas, debruço a cabeça sobre o umbigo, beijo e desço a boca até à vagina. Os suspiros, da dor, dimanam para clamores de um misto de emoções de prazer.
Pego na verga, bato, esfrego no grelo e penetro.
Dos olhos dela, saltam lágrimas de felicidade, que espelham a euforia da glória.
Com o corpo desgovernado, um bisonte solto nas pradarias selvagens, infrinjo estocadas dilacerantes. Revira os olhos em branco, espuma pela boca, enquanto beijo os seios e fodo sem parar. A outra, apenas lambe e beija cada poro martirizado pelo chicote. As brocadas são impiedosas e sempre incentivadas pelas suas palavras encorajadoras.
Os gritos de prazer abraçam fortemente a minha veemência galopante e os orgasmos tocam-se entre os sexos. Sinto-os seguidos a inundar o caralho pulsante e liberto milhões de espermatozoides num bum, estrondoso.
Rapidamente retiro as algemas e sou abraçado de uma forma extremamente entusiasta, enquanto a outra, mendiga com a boca os últimos pingos de sémen.
Pág. 53
Completamente esgotada, pego nela ao colo e deito-a na banheira de hidromassagem, na água quentinha e espuma cheirosa.
A outra, deitada na cama molhada, conspurcada, com olhinhos de carneirinho meio morto, com fome de comer, são o testemunho que também aspira ser possuída.
Ainda aos saltos, esbaforido, abre-se novamente a cortina ao palco da blasfémia.
Pego nas algemas, de pé, algemo os seus tornozelos às pernas da cama. Amarrada pelos cabelos, dou uns açoites no rabo e passo a língua pela espinha abaixo. Abre as nádegas, lambo entre elas, salivo e meto dois dedos na vagina. É a devassa da intimidade pelos dedos e solta uivos a suplicar a devassidão pela verga.
Com os dedos humedecidos na rata, retiro um e meto no cú e espevito os dois orifícios em simultâneo. A dedicação dos dedos, viram-se na totalidade para o mesmo orifício, num entra e sai, até entrarem três em simultâneo.
É a preparação para desflorar o esfíncter.
Com as mãos agarrarem as nádegas, cuspo na glande do pénis, encosto e faço deslizar bruscamente pelo canal anal.
Dá origem a um grunhido e a palavrões de incentivo.
- Fode Criador, castiga-me o cú, quero ser fodida!
Nem precisavas suplicar, a vontade implícita está tatuada em mim e sem piedade, fodo continuamente.
Agarrada pelos braços, a cada estocada puxo o corpo contra mim e cada penetração torna-se mais inclemente que a anterior.
Pág. 54
A foder como um boi, numa cinesia descontrolada, castigadora, o contraste resvala na calmaria relaxante da outra na banheira e a desta a ser dilacerada em pecados.
Os pensamentos badalam, esta deusa é grandiosa, corajosa pela arte de acicatar, com um vocabulário badalhoco e provocador.
Quase a explodir, pego no viril membro, retiro e meto no esfíncter, agora todo arrombado.
O teto ressuado, goteja, os espelhos escorrem, o ar que se respira é carregado de odores da satiríase dos corpos e nos pés sinto os pingos da sua líbido.
Enterro fundo e venho-me desmedidamente, num clímax vulcânico.
Exaustos, mergulhados na banheira, retemperamos forças do momento arrebatador.
O sono tomou conta de nós, nem dei por isso e acordo com um lindo dia de sol, a iluminar o sorriso de satisfação das duas divas. Os olhares são doces, abrangentes em toda a candidez.
Não era para menos, passaram anos sem prazeres e agora que apareci, foi uma exorbitante desforra.
Estavam ávidas do Criador de desejos.
Ladeado, de mãos dadas, regressamos ao Jardim de Éden e sob os olhares de esguelha das outras deusas. Escuto pequenos borburinhos entre elas, sintomas da estranheza de ter levado duas em simultâneo. Não se atrevem a questionar, mas sentem que algo está diferente, que as leis foram quebradas e ficam suspensas na imaginação para futuras atitudes.
Pág. 55
Continuamente bajulado, recebo frutas na boca, enquanto passam as mãos famintas pelo meu corpo. Os olhares sedutores delas, a forma como mexem nos cabelos, as blusas abertas, tudo indícios demonstrativos que querem arriscar castigos.
Deixo ferver as carências na panela de pressão, até criarem mais desejo, para depois lançar novos reptos.
O dia está a ser fabuloso, caminhar neste jardim rodeado das beldades do Planeta Azul. Mulheres, bonitas, diferenciadas umas das outras, nos olhares, na aparência física. Encantado, pela forma como gesticulam, fascinado como falam, o remexer dos lábios, tudo são pormenores que agitam. Os anjos sobrevoam as nossas cabeças, cantam poemas de amor, lançam setas da paixão para os canteiros das flores e fico enamorado pelas musas.
Neste harém de divas, cheguei como um príncipe, fodi duas como um rei e continuo a ser o verdadeiro Criador.
Os poemas de amor, cantados pelos anjos são magia para os corações doces, são energias que alimentam sentimentos e os nossos sorrisos são a prova viva. Um maravilhoso momento de comunhão entre o Criador e as suas musas inspiradoras.
Ao longe, começam a ser audíveis novos sons musicais, tambores, num rufar cadenciado e que fazem estremecer o peito. Os anjinhos, sabedores dos rituais, aos poucos voam para outras paranças e dão lugar aos diabinhos para uma entrada triunfal no jardim. As deusas regozijam de alegria, parecem foliãos nos festins dos reis e saltam de forma empolgada. Sabem bem o que representa quando surgem os filhos do diabo, embora o jardim não seja lugar de promiscuidades.
Não vim para seguir regras, isso são coisas de outras vidas, aqui sou o Criador, portanto mando, desmando, uso e abuso.
Pág. 56
Chamo um diabinho, sussurro ao ouvido para acender as chamas do inferno e tocar os sinos arrebate. Num átimo, tudo se transforma e converte o Jardim de Éden num redemoinho descontrolado, como nunca se viu. Um rebuliço que apenas está no inicio.
Subo para um pedestal e começo a pregar.
- Vamos despertar as hormonas da felicidade, que o planeta tem andado calmo e esmorecido. Agora, que regressei vamos transformar tudo em blasfémias.
As divas, com os olhares a debitarem chamas, concentradas sobre mim, coçam de forma espontânea os rubores das peles e gritam em uníssono.
- Queremos ir para o Tronco dos Castigos!
Nenhuma delas disse “quero”, mas sim “queremos”, sinal de que ficaram a perceber que o Criador veio diferente. E, nada escrupuloso com regras ou leis, portanto não será no Tronco dos Castigos, mas aqui, no Jardim de Éden.
- Sereis todas a Deusa Freia, a deusa da sexualidade, da paixão, do desejo e da sedução!
- Simmmmmm…
Gritam num histerismo desenfreado.
- Ainda não consta no livro de registo dos batismos o nome dela, portanto serão vocês todas. É a deusa associada ao amor, fertilidade, beleza, riqueza, magia e as vossas lágrimas de felicidade serão tantas que irão transformar o sol em ouro.
Pág. 57
De pé, com os diabos, a cada instante atiçarem, prossigo nas homilias de heresia.
- Quero todas conforme subiram ao Altar Sagrado, ou seja, completamente despidas.
A satisfação apodera-se de cada rosto, as íris brilham como estrelas, os lábios mordiscam-se pelos dentes acirrados e a gritaria esbarra no rufar dos tambores.
A beleza no estado mais puro, todas nuas, imaculadas por fora, mas picantes por dentro. Os próprios diabinhos ficam atônitos, nunca presenciaram tanta blasfémia no jardim.
Num raiar de bem-estar, as flores sorriem, as borboletas esvoaçam perfume e as cegonhas sobrevoam, prontas a acasalarem e tomam conta do azul do céu.
Um paraíso dentro do próprio paraíso.
Dá-se início a uma correria apressada pelo jardim, sente-se no ar a vontade de libertar tensões, de efetivar fantasias sexuais. A solidão, o vazio deixado pelo Criador durante anos, deixou as deusas a viver numa sobrevivência de sonhos. Mendigas de prazer, a linguagem mental apodera-se dos raciocínios inconscientes, tudo fenómenos emocionais.
Vim para ser vândalo, sacanear carências perdidas e nada como infringir fodas fustigantes nestas viciadas.
Desvairadas, num frenesim, com gritarias e cheias de comichões, são os sinais evidentes das ardências, que nem precisam de ir à Lagoa dos Prazeres.
Pág. 58
Vamos para a zona verde, um espaço amplo, todo relvado e ladeado por inúmeras rosas vermelhas. Parece um local desenhado à mão pelos deuses do amor.
Ordeno para fazerem um círculo, fico no meio e vou dando indicações.
- Quero todas deitadas e cada uma vai lamber e tatuar com beijos a deusa que se encontra à sua direita.
Formam um digno círculo erótico.
Os beijos, os chupões, as sucções nos lábios vaginais, fogueiam delírios nas peles e banham as conichas com salivas. Os suores palpitantes, o formigueiro assassino toma conta de mim e os pensamentos começam a expor os lados ocultos.
Parecem teias de arranha, todas entrelaçadas, numa quimera de devaneios impensáveis, mas reais.
Acho que até as árvores estão escandalizadas.
Os diabinhos não param de tocar os tambores, bem lá no alto, as cegonhas voam satisfeitas, iluminadas pelos candeeiros do contentamento.
Com os corpos escancarados, dão-se invasões pelos dedos sem permissão, as línguas encardidas pelos clitóris esfuziantes e os esfíncteres cuspidos de incuráveis insatisfações. Aprecio cada detalhe, cada olhar, cada toque, que momento sublime e cada ninfomaníaca quer exercer o seu domínio na outra. Um círculo de mulheres entregues em luxúrias, num cocktail de sabores e cujas imagens são espelhadas no horizonte, parecendo práticas tribais.
Pág. 59
Muito antes de tudo começar, só com a imaginação a voar dentro da cabeça, o tesão já consumia e pôs a piça aos saltos de alegria.
O júbilo louco entre elas, com gritos a chamarem os machos másculos que não existem neste mundo, mas caso existissem, elas seriam as presas, um verdadeiro menu. O caralho ferve, louquinho por macular sémen nas peles.
A relva como cama sagrada, deixa o jardim trasvestido de quinta dos prazeres e será palco de algo que ficará perenalmente gravado nos anais da história.
Não aguento mais, tenho de entrar em ação, quero ebulição e sentir o pulsar de tesões efervescentes.
- Vá, agora todas em fila e cada uma desempenhará habilidades de mestria com a boca.
Sôfregas, na vontade de chegar em primeiro, correm de forma trôpega, em empurrões e sou derrubado de forma pouco ortodoxa.
Deitado como um príncipe, encurralado por princesas do reino, com as bocas dedicadas em beijos cremosos, hidratam o pénis. Com espasmos até à ponta dos pés, as cefaleias da alma, gladiam-se com os prazeres do corpo, sempre empolgados por gemidos satânicos.
Não tenho dedos que cheguem para desflorar tantos buracos, mas sinto neles o rasgar dos entrefolhos de alguns cús e a pontas a serem bafejadas pelos tsunamis de orgasmos. Com a carne a ser cravada pelas unhas das lobas, a pele fustigada pelas línguas imoladas em fogo, a boca trucidada pelos beijos e a piça engolida, tento por ordem no bacanal.
Pág. 60
Sinto-me entrelaçado por um polvo com mil tentáculos, que asfixia os músculos de um touro enraivecido.
- Calma, chego para todas e nenhuma sairá daqui sem ser adentrada nas profundezas e carimbada com leitinho espermático.
Com a ordem restabelecida, surge no cenário o belzebu, carrega ao alto o lábaro com todos os pecados escritos e que fazem parte dos desígnios do inferno. O ar dele é de pura satisfação, é a primeira vez que os mitos deste chão sagrado são tomados pelo sacrilégio.
Sei que estou a bagunçar tudo de malícias proibidas, mas o jogo é de emoções fortes e o puzzle de pecados são pura tentação para o ego famélico.
Colocadas novamente em forma de anel, de joelhos na posição de quatro, umas de costas para o interior e outras para o exterior do círculo.
Olho em redor, com os delírios a bater palmas de regozijo e vejo cada buraco como um escadório da profanação a ser consumido. As bocas, as conas, os cús, submissos ao monstro sexual, prontos a serem castigados pelas labaredas das ereções.
Um palco pornográfico para a diversão das hormonas insaciáveis do cio. Uma febre incontrolável apodera-se do desejo da infância perdida e que agora posso realizar com vícios infames.
Num cortejo obsceno, envolto numa batalha clonada de famintas, fodo alternadamente cada orifício, numa loucura de excessos. A foder ininterruptamente, o sangue fervilha, como uma corrida de cães sem lei, com fome e o piçalho escraviza os pensamentos eróticos a entrarem no purgatório.
Pág. 61
Com hedonismo, numa obsessão por naufrágios na podridão incontrolada e numa órbita de alucinações conspurco sem despudor cada brecha, num carrossel sexual.
Sou consumido por palavrões em chamas.
- Fode Criador! Quero mais! Fode!
Cada espetadela é mais impetuosa que a anterior, deixando as bocas babadas, as parrecas a pingar e os ânus estroncados. Embriagados pelos excessos, as loucuras insolentes transformam-se em distúrbios numa espiral de sexualidade, que faz correr rios de lágrimas da felicidade.
No jardim, forma-se um pântano de orgasmos, uma pocilga de esperma e ficamos enterrados na lama até ao pescoço.
Eufórico, o diabo, em pé sobre as pedras em brasa, assiste a tudo e aplaude com enorme exaltação, deixando-me envaidecido.
As mulheres parecem cordeirinhos felizes na terra do nunca, de sorrisos abertos, saltitam respingando pingos de suor e espalham o perfume da essência feminina, enquanto as cegonhas abrem asas e voam com esplendor.
De íntimo ufanado, como um guerreiro saído vencedor de uma batalha, dou urras à minha glória.
- Até posso ser o Criador, mas o Criador do deboche no Planeta Azul.
Com o diabo à escuta e não se fazendo de rogado, lança uma inocente, mas perigosa pergunta.
- O espelho da glória era vandalizar o Altar Sagrado e tu, como Criador do deboche, serias capaz?
Pág. 62
Impulsivo, cego pela sobranceria, respondo:
- Sou!
A tentação do diabo é algo que está implícito na sua génese, para ele o pecado é o combustível que alimenta o inferno e devolve a afronta.
- Quero ver essa petulância não em palavras, mas traduzida em atos.
Instigado pelo ímpeto do vocabulário do satanás, agarro de forma abrutalhada duas deusas ainda nuas e encaminhamo-nos diretamente para a Sala Magna.
Rompemos pela sala, acordamos o silêncio e espalhamos pegadas das líbidos. Com uma de cada lado, de joelhos, agarradas pelos cabelos, levo-as arrasto pela passadeira vermelha até ao Altar Sagrado.
Derrubo tudo que está sobre o altar e ordeno às duas que subam.
O diabo incita com diretrizes cheias de faíscas incendiárias e os diabinhos em redor lançam pólvora em fogachos.
Obstinado, com expressões doentias, salto para o altar e de forma animalesca, começo a foder.
É quebrada a essência, a pureza imaculada, a translúcida conceção do Planeta Azul.
Sinto no altar um forte impacto e a bíblia pousada junto ao sacrário começa a arder. As pedras em mármore do chão detonam, começam a abrir uma cratera e as escadas do altar descambam. Um sismo e com enorme estrondo, abala tudo.
Pág. 63
Nesse instante, ouve-se uma voz potente, que arrebenta os tímpanos.
- Estás a fazer da minha casa, uma incubadora de calúnias e a manchar o sagrado, com sangue imoral, pelas próprias mãos!
Com os ecos da voz, os candeeiros de cristal caiem com estrondo, os vitrais estilhaçam num vento de estrelas, as grandes telas da parede tombam e formam-se cortinas de fumo por toda a sala.
Num rompante, ao som dos trompetes da morte, os anjos são assassinados pelos diabinhos e as esculturas bíblicas choram sem parar. Lá fora, o mar revolto em tormentas, provoca um tsunami, nos montes os vulcões entram em erupção, soltando lava pela encosta e o Jardim de Éden é devorado pelo fogo.
Os santos implodem, os candelabros soltam labaredas pelos pavios das velas, as flores estorricam, as hóstias derretem e o vinho no cálice transforma-se em sangue.
Acendem-se as lâmpadas da escuridão, o Planeta Azul explode e transfigura-se em triliões de destroços nas trevas do universo.
A quebra de regras, o ignorar das leis, desfazem sonhos de vidas felizes e tornam-se em sintomas de degradação da humanidade.
Bem diz o ditado: Quem tudo quer, tudo perde.
Encarnei no Criador e não soube ser digno da sua profunda grandeza, nem da castidade e santidade.
Possuía tudo que qualquer comum mortal deseja e caí na tentação dos sete pecados capitais.
Pág. 64
Da Soberba, quando devia ser humilde.
Da Avareza, quando era muito melhor ser generoso.
Da Luxúria, quando podia imperar a castidade
Da Ira, quando devia abraçar a paciência.
Da Gula, quando podia viver com temperança.
Da Inveja, quando devia praticar a caridade.
Da Preguiça, quando devia ser diligente.
Pág. 65
Realidade
O espírito do silêncio inunda o juízo da razão.
Depois da hecatombe, regressado à vida normal, ao quotidiano fastidioso, à varanda do décimo andar do apartamento e com as folhas do livro todas estorricadas entre as mãos.
Conspurquei o Planeta Azul, não fui digno da encarnação, perdi tudo, inclusive o livro.
A solidão invade de novo os cinco sentidos, a pandemia continua a fustigar as vidas e a consumir os tímpanos de dúvidas de morte silenciosas.
Nesta viagem alucinante, um episódio de vida inarrável ao mais perfeito dos juízos, tento refazer os comportamentos e seguir em frente. Embora sejam várias as confusões dentro da cabeça, os neurónios são os testemunhos vivos dos impulsos do desassossego em querer vestir novamente as roupas das insónias dos vícios.
As noites são duras, com vigílias a escutar os murmurinhos das lembranças escondidos no cérebro. Passo mais tempo a pé durante a noite, a deambular da sala para a varanda, do que a dormir.
A varanda é como uma capela das confissões, onde medito com todos os meus egos envergonhados.
São imensos os redemoinhos ferozes, que sopram as velas da alma e muitos estimulam arrepios na impaciência por novas páginas da vida.
Os dias passam, mas os distúrbios e os pesadelos fustigam.
Pág. 66
Confinado em casa, abro e fecho constantemente as janelas. Espreito e equaciono sempre em transladar novamente, é o acordar alienado da adolescência.
No espelho está espelhado as pálpebras com as asas abertas do diabo. Na cabeça existem silêncios do passado, ecos que estilhaçam os ouvidos e contrastam com os aplausos dos excessos que correm nas veias.
São aos milhões as interrogações que varrem a mente.
Porque não soube ser merecedor do livro? Encarnei no Criador e sôfrego deitei tudo a perder. Será o fim da minha felicidade? Porque não destruir saudades e reinventar prazeres? Porque não libertar a vida desta morte amputada?
As interrogações e as questões de incertezas, surgem como térmitas invasoras dos armários selados, como batalhas de impulsos desgovernados. Escadas sem fim num trilho de ideias, um cardume de sonhos que sopram ao corpo palavras tentadoras.
É nestes momentos que as lutas são mais dolorosas entre o corpo e alma.
O fervor dos raciocínios faz analogias da verdade no livro da aprovação e tento enganar a mente.
Decido procurar um destino diferente do passado, como se fosse um passeio, umas férias. O corpo está obcecado por mapear novas memórias, disfrutar doutras aventuras e certamente nem todos os locais do mundo estão interditos.
Sei que estamos em época de grandes restrições, mas ainda existem locais em que o surto pouco ou nada afetou, principalmente os países recônditos.
Pág. 67
Entusiasmado com a ideia, sem hesitar dirijo-me à agência de viagens.
Nas ruas não se vê nenhuma alma, estão todas resguardadas em casa, em layoff ‘s ou simplesmente em teletrabalho. Será que estará alguém na agência de viagens?
Atualmente, nem sei bem como estão as regras do estado de calamidade. Nem os governos sabem como reagir à situação, para eles também tudo é novidade, com alterações e avisos constantes da OMS.
A agência está com a porta encostada, vários avisos colocados nos vidros. Atendimento limitado a um cliente de cada vez e abertos apenas no período da manhã. Encosto a cabeça ao vidro, espreito e está uma senhora sentada em frente à secretária de trabalho, bato e entro.
Uma funcionária simpática, de cabelos loiros, olhos verdes, bem maquilhada, lábios, unhas de vermelho, estende o sorriso como se fosse uma passadeira. Analiso de cima a baixo a silhueta, feminina, calças brancas justas e um top branco decotado, deixam transparecer a sensualidade corporal.
Entre o olhar na beleza, a necessária atenção dos possíveis destinos das férias, fico iludido pela fértil imaginação e questiono:
- Desculpe menina, existem locais onde nesta fase pandémica se possa passar férias?
Com um sorriso aberto, responde.
- Claro que sim! Embora para locais, diria mais longínquos, virgens, de população reduzida e para pessoas de carteira recheada, que devido às grandes distâncias tornam sempre as férias mais caras.
Pág. 68
- Nesta fase não posso olhar à parte financeira, preciso mesmo de clarificar a alma e descansar o corpo.
São poucas as regiões para onde realmente posso viajar e os valores também não são nada meigos, mas há locais que fascinam pelas imagens das praias de areia branca.
De olhar sedutor, refletido na íris dela, como se estivesse a ver nela umas férias maravilhosas. Questiono vários pontos, muitos deles quase balofos, apenas com intenção de arranjar pretexto para conversas extratrabalho.
Ela, facilmente percebe as minhas intenções, mas também não se faz de rogada, continua com o sorriso simpático e estritamente profissional.
A voz doce, são melodias para os ouvidos e vincam-se num local extremamente aprazível para quem quer descansar e desfrutar.
Sem pestanejar, fico vidrado a ouvir.
- Ilhas Fiji, um arquipélago composto por mais de 300 ilhas, com praias, algumas delas desabitadas, com temperaturas quentes e sol constante. A gastronomia é ótima, muito variada, principalmente com pratos à base de peixes e frutas. Aqui o senhor pode ter a certeza que depois das férias virá completamente revigorado e satisfeito com o dinheiro que gastou. Aconselho pensão completa, porque os restaurantes na região praticamente não existem.
- Pelo que vejo e ouço gosto, só a cor do mar, um azul-turquesa, dá vontade de partir já amanhã!
- Amanhã não dá, nas quartas não existem voos, mas na quinta-feira é possível que dê, nesta fase pandémica, as viagens têm poucos passageiros. Posso ver no computador se o senhor estiver interessado.
Pág. 69
- Interessado e muito, embora ainda não tenhamos falado de preços.
- Deixe ver, se for uma semana, com tudo incluído, voos, transferes, hotel em quarto com vista mar, refeições e bebidas à discrição, são cerca de três mil setecentos e cinquenta euros.
- Ufa, de barato tem pouco, mas uma coisa sei, é precisamente o que necessito para descansar.
Enquanto a menina vê no computador as possíveis vagas de voos, dou uma olhadela sobre o catálogo.
- Senhor, desculpe, qual o seu nome?
- Juan, Juan Carlos.
- Senhor Juan Carlos confirmo que ainda existem lugares para depois de amanhã, quinta-feira pode fazer a viagem se desejar.
- Claro que sim!
Inebriado pelo eflúvio e pela forma meiga como explica os detalhes, nem hesito e reservo a viagem.
Trago o catálogo da agência, a doçura do atendimento e os pensamentos embrenhados nos preparativos das malas.
Até dá gosto olhar para as paredes de casa, devem estranhar este ar feliz de orelha a orelha e, portanto, é quase obrigação dizer-lhes que vou de férias.
- Queridas amigas, paredes, vocês têm sido nestas semanas terríveis, as minhas amigas fiéis, mas lamento informar que vou de férias e vocês ficam a olhar umas para as outras.
As paredes vão ficar a olhar para as paredes, heheheh.
Pág. 70
Viagem
Acordo bem cedo, com ligeira ansiedade na cabeça, pelas próximas horas que levarão ao repouso merecido.
Aeroporto Francisco Sá Carneiro, foi rápido chegar, o taxista ajudou com a conversa animada e ainda estivemos parados no controlo da polícia.
Antigamente, chamado de Pedras Rubras, ou simplesmente aeroporto do Porto, foi inaugurado em 1945 e em 2007 foi galardoado como o melhor da europa na categoria de aeroportos até cinco milhões e passageiros.
A azáfama do check-in é bem menor devido às restrições nas viagens, a pandemia é global. Do controlo dos passageiros, da zona de segurança, até à hora de embarcar está quase, embora o pareça que o tempo passa vagarosamente.
Ainda bem que vim perto da hora do voo, pouco espero e a porta de embarque D15 já está aberta. O avião é um Embraer 190, de curto alcance, fabricado por uma empresa brasileira.
Sentado no lugar D4, com a tripulação de bordo a dar as últimas indicações, aprecio pela pequena janela a deslocação do avião para a pista principal. De cinto apertado, com a autorização da torre de controle, o comandante faz o avião avançar pela pista, numa cadência desenfreada. Enquanto levanta voo, passam em segundos muitas coisas pelos pensamentos, principalmente o local escolhido e a decisão impulsiva em sair de casa.
A viagem Porto-Lisboa é rápida e tranquila, apenas cinquenta minutos.
Lisboa, Aeroporto Humberto Delgado, antigamente chamado de Portela, alteraram o nome em homenagem ao homem que corporizou o principal movimento na tentativa de derrube do regime Salazarista através de eleições em Portugal.
Pág. 71
Ficou popularmente conhecido como o General Sem Medo e que acabaria por ser assassinado por um dos chefes da PIDE, em Almerines, Espanha, perto de Olivença em 13 de fevereiro de 1965 com um tiro na cabeça por uma pistola com silenciador.
Factos da história do nosso país e que gosto de saber.
Aproveito para almoçar qualquer coisa, a próxima viagem será longa e cansativa.
Sentado, com os fones a debitar música nos ouvidos, observo os transeuntes que circulam pelo aeroporto.
São em número reduzido em relação ao normal dum passado recente e ainda assim parecem baratas tontas. Vagueiam de um lado para o outro, deixam atrás deles o intenso barulho das malas a rolar no piso cerâmico. Caminham aceleradamente, com os olhos fixos nos telemóveis, que nem veem onde pisam e alguns chegam mesmo a tropeçar ou a embater nos outros. Que mundo agitado este, em que esquecemos os pormenores e absorvemos tudo de uma forma sôfrega.
Ouço nas colunas de som, a voz feminina anunciar constantemente os voos e as respetivas portas de embarque, não dou grande atenção, pois mesmo em frente está um enormíssimo ecrã com todas as informações detalhadas.
Enquanto não é definida a porta de embarque, fico num espirito de espião a observar tudo. Os rostos bonitos que passam, a elegância dos corpos femininos e faço imaginações, como se estivessem a desfilar numa passadeira de moda. Mulheres, lindas, elegantes, umas vestidas de forma informal e outras mais chique.
Pág. 72
Surge no monitor o voo TP-2345, com destino a Viti Levu, porta A42 e aproveito para comprar revistas e guloseimas.
Porta A42, com o sistema nervoso miudinho a morder os calcanhares e as meninas a fiscalizarem os documentos de embarque dos passageiros. Ainda bem que fiz online o check-in, assim consegui com antecedência escolher o lugar no avião. Já estou habituado a estas andanças, às viagens aéreas e sei que junto às saídas de emergência há mais espaço para esticar as pernas.
Airbus A330-200, um avião de longo curso, mas que terá de fazer escala para reabastecer em Riade, capital da Arábia Saudita.
Arrumo a pequena mala de mão no compartimento por cima do lugar, D20. De pernas esticadas, com um sorriso alargado, sonho com as próximas aventuras. Tomo um comprimido para ajudar a adormecer, a viagem é longa, mais de vinte e uma horas, no ar.
Rapidamente caio no sono.
Entre umas sonecas, vejo uns filmes, ouço música, interrompido pelos roucos dos dorminhocos.
Acabamos de aterrar em Riade para reabastecer, cerca de sete mil quilómetros já estão e é melhor nem pensar nos cerca de dez mil que ainda faltam.
Cansado, pelas largas horas de voo, tomo outra pastilha milagrosa e caio novamente num sono profundo. Os sonhos, vestidos de cordeiros mansinhos invadem o cérebro, até ao instante que sou acordado abruptamente pela voz do comandante.
Pág. 73
- Boa tarde, senhores, passageiros estamos neste momento a sobrevoar as ilhas Fiji, mais propriamente Viti Levu, onde aterraremos nos próximos minutos, a temperatura exterior é de vinte e oito graus, são dezoito horas e trinta minutos, mais doze horas que em Portugal continental.
Um fuso horário de doze horas, nem tinha pensado nisso.
Repentinamente, os olhos fogem para a janela, com o resplendecer do sol a espreitar e vejo a ilha. Do espaço aéreo, com um angulo de visão alargado, reparo nas zonas verdejantes, nas extensas praias de areia e na cristalinidade da água.
Viti Levu, a maior ilha da República das Ilhas Fiji.
O frenético burburinho dos passageiros, percorre todo o avião, é a folia por aterrar para as merecidas férias. Alguns começam a mudar de roupa no avião, trocam por peças mais frescas, como calções e t-shirts.
Aeroporto Pacific Harbour, na fila para as burocracias dos vistos dos passaportes, um calor transpirante, poem a roupa rapidamente húmida.
Reparo que sou o único viajante sozinho, a maioria são casais jovens, talvez em luas de mel e pequenos grupos. Só, mas espero ter boas aventuras acompanhado, quem sabe se engato uma indígena local.
Com todos os formalismos terminados, dirigido para uma carrinha apinhada, parecemos salsichas enlatadas num amontoado de malas e pessoas, só faltam as galinhas para ser o filme do Indiana Jones. Que percurso, podemos chamar tudo, menos estradas. Em terra batida, rodeada de densa vegetação, várias casinhas em madeira, colmo e os putos da região todos a correrem atrás de nós, a comerem a poeirada.
Pág. 74
As paragens são sucessivas, com a distribuição de alguns turistas pelos respetivos hotéis, o que ajuda na libertação de espaço nesta carripana velha e alivia também o imenso cheiro a suor.
Quanto não vale o conforto dos nossos carros e das nossas estradas. A aqui em apenas meia hora, aos saltos nas suspensões duras, estou a ficar todo partido e de certeza que ficarei cheio de dores lombares.
Ansioso por chegar ao destino e refrescar-me num banho.
Finalmente, ouço o nome soletrado pelo guia:
- Hakaiwa Resort Luxury & Spa.
Sou o único que sai, nem tenho tempo de perceber o local onde estou, que acabo abordado pela simpatia de um jovem que rapidamente carrega as malas e com o dedo indicador aponta um pequeno barco atracado.
Táxi, avião, carrinha, barco, que mais terei para chegar ao hotel. O percurso de barco é curto, até uma pequena ilha e já consigo ver daqui o hotel.
Encaminhado, entro num minibus, tipicamente dos anos sessenta, conduzido pelo motorista de poucas palavras e finalmente chego ao paraíso.
Uma ilha reservada, apenas para o hotel, com diversos bungalows construídos em madeira, junto ao mar, bem enquadrados com a natureza e que irrompem sob as águas límpidas.
Pág. 75
Só pelo que vejo, já estou a gostar.
O hall da receção, simplório, decorado com objetos tipicamente locais, uns cadeirões em bambu, candeeiros feitos de cana-de-açúcar e ressalta à vista os sorrisos dos rececionistas.
Finalmente, tudo formalizado.
Atrás do garçom, faço o percurso por um passadiço em madeira, que range à medida que caminhamos pelo mar adentro, até ao bungalow suspenso sobre as águas do oceano pacifico.
O interior, de decoração simples, mas agradável, com velas acesas de diversos tamanhos, conchas, búzios e corais espalhados pelos cerca de cinquenta metros quadrados. O que mais sobressai é o azul-turquesa do mar que parece insinuar-se pela janela. Aproximo-me dela, espreito a magnífica paisagem, com a imensidão do mar a invadir a alma e o silêncio a ser interrompido apenas, pelo som das aves que sobrevoam as águas calmas.
Solto um grito de satisfação.
- Uauuuuuuuuuuuuu…
O grito, ecoa às cavalitas da brisa que corre e voa inundando o cheiro doce da ilha. O pôr-do-sol no horizonte transpira mistérios para novos romances.
Foram muitas horas de voo, com o corpo dorido, desfaço as malas e tomo um duche refrescante. Caio cansadíssimo na cama, os lençóis brancos massajam o corpo e em poucos minutos mergulho no sono.
Pág. 76
Pum! Pum! Pum!
Acordo bruscamente pelo som estridente, é alguém que bate à porta.
Ainda remeloso, abro a porta, é a guia turística.
- Bom dia, bem-vindo, são seis e trinta da manhã, às oito em ponto sai o catamaran para o passeio e deixo aqui o pequeno-almoço.
Ainda é cedo, cheio de fome, com o carrinho do pequeno-almoço, serviço à porta, carregado de sumos, com frutas e uns docinhos com bom aspeto. O sol apoderar-se do interior do aposento, devoro tudo, está na hora de iniciar os preparativos para o cruzeiro e fazer o percurso turístico em redor das ilhas.
Como um menino, visto um calção azulado, uma t-shirt branca, um boné catita, nos pés umas havaianas e a máquina fotográfica ao pescoço. Todo boneco, pareço um teenager pronto para peripécias aventureiras.
A marina é pequena, o ambiente que a rodeia carrega o espírito primitivo da civilização local. Parecem formiguinhas numa azáfama de bem servir os turistas que vão chegando. Ainda nem são oito da manhã e o sol já queima a pele. Aqui o protetor solar é como pão para a boca, por isso vou usar e abusar.
Encaminhado para a fila, em direção ao barco de aspeto envelhecido, com bancos em madeira, a céu aberto, facilita a visão para apreciar as belas paisagens e sentir o aroma da pureza atmosférica.
Pág. 77
Enquanto espero para embarcar, tiro umas fotos e pressinto no ar um cheirinho intenso. Tento inalar a origem e sinto que está impregnado de emoções e paixões.
Pela forma como empinei o nariz a farejar, quem estiver a apreciar-me, até pensa que sou um urso. Sempre fui um farejador nato e por isso facilmente localizo a origem do aroma.
É o perfume de uma esbelta mulher que está no início da linha e com o olhar de uma águia pesqueira, analiso as medidas dela de cima a baixo. Túnica larga, decotada, em tecido branco, fino. Na cabeça um chapéu branco, de abas largas, nos pés umas sandálias rasas e na face uns grandes óculos de sol Louis Vuitton.
Só de olhar, a sua luminosidade, acende o carrossel da imaginação e dou comigo numa viagem criativa.
É das primeiras a embarcar, desfila pelo tabuado improvisado que serve de passadeira e fico a observar o esplendor com enorme atenção. A túnica fina deixa transparecer o biquíni e a perfeita silhueta do traseiro de ancas bem delineadas.
Entro no barco, ela já ocupa um lugar sentado e tento ficar o mais perto possível. Trôpego pela distração, tropeço numa corda, quase caio e a muito custo, consigo aguentar-me em pé. Bem, se caísse, seria uma maneira pouco ortodoxa de chamar atenção.
Consigo um lugar, não muito perto, mas ideal, mesmo em frente. Os grandes óculos de sol e o chapéu escondem um belo rosto com certeza. Apenas consigo apreciar os lábios, redondinhos como uma cereja, pintados de vermelho forte.
Pág. 78
Peitos volumosos, sumptuosos, que levam os pensamentos a cada traço imaginário dos mamilos. Nenhum homem fica indiferente à exuberância física desta mulher.
Sentado, alheado de tudo, não descolo as pupilas dela e reparo na rosa-negra tatuada no tornozelo esquerdo.
O percurso decorre, fixado apenas em cada gesto dela, como um cão obcecado por comida. Uma mulher extremamente requintada, tem pinta de gente fina, mas sozinha, cria alguma estranheza. A cabeça fervilha em mil pensamentos, faço filmes românticos, enquanto ela descontraída aprecia o circuito das ilhas. As ideias dentro da cabeça, viajam a grande velocidade e debitam interrogações.
Será que veio à caça de tubarões ou veio apenas apanhar sol? Quem sabe se não serei o tubarão que a vai escaldar.
Os minutos passam de forma vertiginosa e só agora se apercebeu dos olhares que recaem compenetrados sobre ela.
Gosto de apreciar, a forma como finge que não sabe o quanto estou vidrado nela e as expressões a modificarem-se, com o rosto corado.
Corada, talvez seja sinal de timidez.
Atrevido, como sempre, levanto o braço no ar, dou um aceno de mão, o que a deixa trêmula, mas disfarça na tentativa de ignorar que é para ela.
As mulheres, são todas iguais, gostam de atrair atenções e depois disfarçam como se nada fosse com elas.
Pág. 79
Entretanto, toca o telemóvel, atende e solta palavras “comme si’s comme ça’s”, tudo soletrado em francês.
Hipnotizado, os pensamentos batem freneticamente e num instinto incontrolado remexo os lábios de forma audível.
- Com que então uma madame, temos aqui a finesse francesa!
A senhora ao lado, uma idosa, talvez inglesa, pensa que falo para ela e interroga-me.
- What´s?
Respondo, meio atrapalhado.
- Sorry, nothing.
Porra, a madame descontrolou-me, até falo sozinho, tenho de fechar a boca, senão digo tudo o que o cérebro pensa.
O barco segue o rumo e com o balanço do navegar as ideias acompanham novas sensações.
Deve ser extasiante estar com esta tipa na cama, beijar aqueles lábios e comer cada pedacinho daqueles peitos. O corpo, esse deve ser um verdadeiro vulcão.
Chegamos ao final da viagem, nada vi e tudo senti. Destas ilhas, as paisagens não vão ficar na memória, nem uma única fotografia, apenas gravei tentações em cada ínfimo pormenor da madame.
Com o barco atracar e na confusão dos apertos do desembarque tento chegar o mais perto possível, quem sabe até ficar colado. Com alguns repelões dos turistas, empurro um jovem loiro de mão dada à namorada e de forma impetuosa no aperto da confusão consigo ficar mesmo a seu lado. Cruzamos os olhares, como se fossem relâmpagos a iluminar a escuridão da noite.
Pág. 80
Com a mente maléfica a fervilhar, de forma altamente atrevida, faço outra investida, consigo ajeitar o corpo e fico encostado no rabo dela. Quando a cabeça do sexo sente as nádegas quentes, pula imediatamente, parece que raciocina, percebo que fica perturbada com o membro recostado, a crescer rapidamente.
Como o passadiço é estreito, talvez com medo de cair, acalma e vai cedendo à irreverência do encosto. Quem sabe não esteja a sentir um calorzinho interior, de certeza que também provoco calores. Assim gosto, encaixados nesta compressão corporal, calminha, submissa, ao pénis tenso, encostado e latejante. Com o sangue a bombear, o ego bate recordes de felicidade, sinto-me um adolescente rebelde, com sensações dum libertino aventureiro. Deixo-me voar como um passarinho e totalmente desprevenido pelo próximo passo da presa.
Mal tem os pés em terra firme, com a mão direita num ato repentino, dá-me um grande apertão nos colhões, sem largar por uns segundos. Solto um grito espontâneo que chama atenção de todo o mundo sobre mim. Sem jeito, com o rosto pigmentado de vermelho pela vergonha e combalido pela dor na zona genital, fico desnorteado.
Neste, entretanto, acelera rapidamente o passo, deixa-me, para trás distanciado e confuso, ainda tento chamar.
- Madame, madame, madame…
Mas, desaparece da visão.
Alvo dos vários olhares presentes, sem perceberem o que se passou, sinto-me desorientado e encabulado. Os calores de tesão são substituídos pelas dores, como se fossem uma pedrada no baixo-ventre.
Pág. 81
Perdido pelo prazer do momento, não tive o discernimento necessário e nem racionei no que estava a fazer. Homens, só pensam com a cabeça de baixo e achei que ela estava a gostar. Esta gaja fodeu-me bem e pior que isso esfumou-se no horizonte.
Triste, caminho quilómetros pela areia fina da praia à procura da madame.
Já analisei minuciosamente toda a ilha e nada.
Quando penso na sua imagem ainda solto pequenas ereções pulsantes e doridas dentro dos calções. Será que está hospedada noutro hotel, ou estaria aqui apenas para a excursão turística às ilhas. Uma mulher daquelas não se encontra todos os dias, é realmente possuidora de uma beleza invulgar e tem um brilho intenso no sorriso. E, ainda por cima sozinha.
Sem fome, a precisar de arejar a mona, substituiu o almoço pelos primeiros mergulhos nas águas quentes e límpidas.
Surpreendente o encanto dos peixes tropicais, em cada mergulho, novas espécies super coloridas. Faz lembrar o enorme aquário que tive na sala, onde ficava horas sentado admirar os peixes e os corais. Era uma maneira de pausar o stress diário, infelizmente até dele tive de desfazer-me, nem tempo tinha para o tratar. Que raio de sociedade que galopa numa ligeireza desenfreada.
Neste instante, também não quero pensar em merdices, na cabeça só gira aquela mulher e numa velocidade descontrolada.
Um vagabundo, a deambular de um lado para o outro, na busca incessante daquele perfume inesquecível.
Pág. 82
Nenhum sinal da formosa perfumada.
O dia está a voar, batalhei duro a nadar e chegou a hora de jantar. Sentado no restaurante, vinte horas e trinta minutos nos ponteiros do relógio pendurado na parede e a noite cai.
Com o sol a pousar no mar sereno, aproveito, tiro umas fotos dignas desta paisagem.
Não faltam iguarias de aspeto saboroso, pelos vários balcões, mas o apetite não existe, no estômago apenas ronca tristeza e desilusão. A vontade de a encontrar escraviza a fome, que até custa engolir o pouco que levo à boca, neste jantar com sabor a ansiedade.
Parece os tempos da universidade perdido pelos rabos de saias. Andava sempre atrás das colegas, apalpar-lhes o traseiro, algumas gostavam, outras ficavam fulas comigo.
O forte luar toma conta da noite, as estrelas brilham e a lua deslumbra na imensidão.
Descalço, com as havaianas na mão, caminho junto ao mar com os pés pela borda da água. As ondas vão e vem de forma serena, num silêncio infinito sem respostas.
Desanimado, sentado na esplanada da praia, tomo um café para reacender insónias.
Reparo nos outros, grupos de jovens, onde os sorrisos, as gargalhadas imperam com alegria e alguns beijos românticos trocados entre os casais.
Pág. 83
Vim em busca de aventura, logo no primeiro dia, quase esbarro nela e aqui estou sozinho como um calimero lamechas.
Do nada, surge um miúdo descalço a correr na minha direção e penso, mais um que vive a pedir moedas aos turistas. De forma expedita e sem dizer uma única palavra, pousa na mesa um pequeno rascunho de papel enrodilhado e desaparece.
Atónito, pelo inesperado momento e sem entender o que se passa, pressinto no papel um perfume, diria familiar. Desembrulho o manuscrito e é surpreendente.
“24,00 horas -Bungalow 79”.
Perplexo e pensativo, interrogo o vazio se estas letrinhas redondinhas serão da madame, o perfume tenho a certeza.
Bungalow 79, estará no mesmo hotel?
Pergunto ao barman as horas, ainda faltam cerca de duas horas para a hora mencionada no papelito e os filmes começam a fumegar na cabeça.
Puxa, será dela? Quererá mesmo estar comigo, à meia-noite?
Isto é algo de surreal, mas como sou um jogador na vida, gosto de desafios.
Vou aos aposentos, coloco um perfume atraente e preparo o ar matador para o encontro furtivo.
O espelho reflete, um sedutor prontinho para uma aventura num filme do James Bond. Vinte e três horas, falta uma hora, o melhor é tentar saber na recepção onde fica o dito, bungalow 79.
Pág. 84
O tempo é uma eternidade, não passa, as ideias, essas surgem como avalanches de neve a gelar a ânsia vulcânica que consome o íntimo.
- Desculpe, boa noite, pode dizer-me onde fica o Bungalow 79?
- É nesta ilha, privada, mas na zona Vip, que fica do outro lado do complexo.
Uma zona luxuosa, com certeza para carteiras recheadas que não é o caso da minha.
Com as pernas trémulas, de rodopios em rodopios, caminho a olhar as estrelas como se elas estivessem a guiar-me. Com o preciosismo habitual da máxima pontualidade, meia-noite e aqui estou em frente ao sinalizado 79.
A porta está encostada e antes de bater espreito pela pequena fresta, onde impera uma calmaria total, apenas escuto o coração a saltitar encostado à boca.
O bilhete era simples, preciso e conciso, mas continuo sem ter a certeza se é verdadeiramente dela.
Será alguma brincadeira? Ou, será que ela quer punir-me pela ousadia pública da manhã?
Estranho, não sei a que vim e bato ligeiramente.
Nem sinal, ninguém responde.
Bato novamente, agora com mais força.
Pág. 85
O silêncio amedronta e irrompe arrepios no estômago. Com o ritmo cardíaco a aumentar, a respiração cada vez mais ofegante, enquanto falo sozinho, tomo a coragem irresistível e entro.
- Alô, está aqui alguém?
Nada, apenas a presença do ar ronceiro que respiro.
Os raciocínios não param, fazem latejar os neurónios, parece que tenho uma escavadora de areia no cérebro.
O Bungalow é bem diferente daquele que estou instalado, muito mais imperial e exuberante.
Mesmo correndo o risco de ser visto por alguém e julgarem que estou numa tentativa de roubar algo, a tentação é muito forte, não resisto e entro definitivamente.
O coração pula num trampolim carregado de adrenalinas, o sangue agarrado a um carrossel e os pés quase adormecidos, grito novamente, mais alto.
- Alô, está aqui alguém?
Perdido no subconsciente, as sensações corporais são estranhas, fervilham em incessantes vibrações de incerteza. Rapidamente analiso tudo nos trezentos e sessenta graus em redor, e só tomo a consciência que realmente estou no seu aposento quando espreito o quarto. Estendida na cama, uma túnica branca, aproximo-me dela, envolvo-a nos braços como um abraço sentido nela e voo no cheirinho perfumado do seu corpo. Por minutos viajo em pecados maliciosos, saboreio em cada inspiração nasal,
Pág. 86
impressões como se fossem na sua pele. Num silêncio duvidoso, instigado pelo sonho imaginário do irreal, sou interrompido da anestesia, por uma voz ao longe, com ligeiro sotaque e desperta o lado consciente. Um chamamento, um alô, alô, bem audível, vindo do exterior.
Apressadamente, dou uns passos em frente, espreito pela janela e é como se esbarrasse numa bela obra de arte no museu do Louvre, iluminada pela lua.
É ela, num aparatoso barco, a chamar.
- Vien! Vien! Mon aventurier hardi!
Pela forma solta e eufórica da voz, sinto-a diferente e reconheço imediatamente a tatuagem, a rosa-negra.
Os cabelos loiros soltos, blusa comprida branca, transparente pelo luar, encobre o biquíni branco e num português esclarecido e audível, diz para subir ao barco.
Surpreendido, a mudez invade o corpo, a alma e as dúvidas multiplicam-se na cabeça, originando a pergunta.
- Então a madame é francesa ou portuguesa?
- Filha de mãe portuguesa, pai italiano e algarvia de nascença, mas vivi durante muitos anos em África, mais propriamente no Senegal por isso, “je parle très bien le Français”.
Para as minhas intenções que são universais, a língua tem pouca relevância, o mais importante é o momento, o reencontro.
- Vem, aventureiro!
Pág. 87
Quase nem tenho tempo para entrar no barco e muito menos para segurar-me. Dá à chave e com as mãos no leme, arranca a grande velocidade. O roncar dos motores ecoam pelo mar fora, deixando para trás a ilha toda iluminada com um rasto borbulhante e a sensação que para a frente pode estar uma grande aventura.
Com ela a conduzir o barco, sentado aprecio as pernas torneadas, de pele lisa, morena, os cabelos a esvoaçar, as curvas das ancas e um traseiro que faz descongelar intenções.
Que mulher de sonho.
A uns três ou quatro quilómetros da costa, onde apenas reinam os sussurros do mar, desliga os motores, larga a âncora ao fundo e convida a descer ao convés.
Enquanto desço os degraus, a temperatura do ego sobe e deparo-me com uma sala surpreendente. Uma mesa, redonda, em seu redor um sofá e uma decoração que espelha exuberância e excentricidade.
Diz-me para sentar, mas ansioso e desligado por tudo nem a ouço.
- Senta-te homem!
Diz numa voz mais forte.
Com um simples toque num comando, liga o som ambiente, faz abrir um móvel frigorífico e tira uma garrafa de Champanhe Moet Chandon. A música com ritmos africanos, invade a sala de pura magia, enquanto enche as taças, ergue e soletra o nome.
Pág. 88
- Loren Monique e toi?
- Juan Carlos, pode tratar-me apenas por Juan.
- E que tal tratar-me sem essas cortesias do “você” e simplesmente por tu?
- Combinado, você e eu!
- Acho que fui explicita em português correto, tu e eu, homem!
- Ah, ok, sem formalismos, tu e eu.
Gosto da forma direta como estou a ser abordado, com intimidade, talvez seja o gatilho para boas cumplicidades.
Enquanto batemos os flûtes num tim-tim, fazes um brinde ao misterioso infinito, (não entendo muito bem esse “misterioso infinito”) e bebemos trocando uns olhares corados.
Sentados, partilhamos as primeiras palavras, algumas histórias mais ou menos ousadas e soltamos largos sorrisos.
Vais servindo mais champanhe e ajudados pelo teor alcoólico, as gargalhadas aumentam de ritmo.
- Estás solta, bem diferente do primeiro encontro, hoje de manhã.
- Achas que aquilo foi um encontro?
- Não sei, mas sei uma coisa, fiquei com as bolas bem apertadas.
- Heheheh, os colhões queres tu dizer, heheheh.
Pág. 89
- Ups, pensei que a linguagem calona fosse apenas um predicado meu, até porque sou um homem do norte, carago.
- Como estás enganado “mon aventurier hardi” posso ser algarvia de nascença, mas muito à frente e mais louca do que possas imaginar.
Estendes a perna por baixo da mesa e sinto o pé descalço pousar entre as pernas, nos tomates doridos. Impávida, de olhar sereno, nem pestanejas, enquanto fico perturbado pelo inesperado gesto e com um rubor a tomar conta do rosto.
- Então, um homem do norte corado?
- De manhã também coraste e apenas com um simples olhar charmoso.
A resposta é fulminante.
- Em público sou recatada, mas em privado super desinibida, sedutora e extremamente atrevida. Porque achas que brindei ao misterioso infinito?
- Não sei, aliás na hora do brinde fiquei sem perceber o que querias dizer.
- Sou imprevisível, surpreendente e bastante misteriosa em tudo. Amo a vida de uma forma diferente da maioria das mulheres, que julgam que a existência está confinada a um convento de freiras. Lá chegarás, quem sabe.
Fico pensativo e tento questionar o queres dizer com o “lá chegarás, quem sabe…”, mas sou rapidamente interrompido com o dedo indicador pousado sobre os lábios.
Pág. 90
- Não fumegues querido Juan, deixa as questões para futuras surpresas.
Vais buscar aperitivos, chocolates negros e salgadinhos
As bocas saciam-se nas guloseimas e as goelas na segunda garrafa de champanhe. O efeito do álcool, vai fazendo das suas, a cabeça zonza e pela forma como falas e gesticulas também deves estar a sentir os efeitos. E, mais uma vez sou surpreendido pelo petulante gesto.
Clicas no comando, o ritmo da música altera-se para baladas românticas e ao fundo da sala, num movimento deslizante, abre-se uma porta de correr.
Fico estarrecido.
- Uau!
Um lindíssimo quarto espelhado, uma cama redonda, coberta por uma colcha em seda vermelha, ladeada por uns tapetes brancos e um pequeno sofá. A iluminação ténue, num clic remexe o interior e acende o desejo para uma longa e intensa noite.
Agarrado pela mão, encaminhado até a cama, num impulso formigam ereções a implodir nos calções. É tudo muito rápido, avanças sobre mim e os lábios colam-se num beijo vigoroso. Atónico, sem pensar, num frenesim descontrolado solto a língua que se entrelaça na dela.
Quentinhos pelo álcool, apimentados pelos chocolates e atiçados pelo beijo exorbitante, tiras a blusa, deixando sobressair a pele morena e o biquíni branco.
Pág. 91
Reparo, que afinal não tens só uma rosa-negra na perna, tens outra tatuagem no corpo, no fundo das costas, um diamante. Sei o que representa esse tipo de tatuagem, valor, poder, resistência, transparência, beleza divina. Embora este tenha duas gotas de sangue a pingar, talvez algo com um sentido mais pessoal.
Faço soltar a parte de cima do biquíni, deixando os sumptuosos seios completamente desnudados. Os abraços apertados, quentes e os calores das peles coladas fazem os poros libertar os primeiros suores. Beijo o pescoço, os lábios, as orelhas e em lentas carícias toco o contorno dos peitos, fazendo os bicos medrar. Com as mãos soltas, entre as pontas dos dedos faço deslizar os mamilos, um a um até soltares os primeiros gemidos.
O desejo flui, os olhares seduzem, as bocas molham-se em beijos espumados. As mãos vagueiam sobre mim, pelas costas, o peito e não resistes em descer os calções até tocares a verga. Tateias tudo, apertas como se estivesses a comprovar a dureza e tamanho. Com delicadeza acaricias os sacos genitais e a forma como massajas as bolas, faz sentir-me um príncipe bajulado, num momento especial.
Com ele todo agarrado entre as mãos, desces a cabeça e sem hesitação abocanhas. A boca redondinha é pequena, mas profunda e alberga a verga em toda a sua amplitude.
Numa cortesia cega dos lábios macios, aveludados, chupas, delicias-te com lambidelas no envolvimento da piroca. A língua a babar o tronco de baixo acima, a rodopiar pela cabeça pulsante, alternando com sugações. Enquanto engoles, um enorme
Pág. 92
brilho toma conta dos olhos. Com ar feliz estampado no rosto, não paras e em vai e vens ajudo a foder-te a boca até à epiglote. Não desistes, a envolvência física torna-se cada vez mais intensa, incontrolável e deixas-me sem fôlego.
As músicas embalam o apetite sexual, o clima perfumado, as luzes, tudo parece um bailado no cenário do lago dos cisnes. A empatia dos corpos, imolados pela avidez do desejo, aguça o calor, os odores da transpiração misturam-se e libertamos adrenalinas suadas pelo ambiente.
Com a perícia da boca, elevas-me a uma dimensão que ainda não quero chegar e faço-te parar. Um pouco mais de tempo na dedicação e acabavas por fazer-me chegar ao ponto de explodir, quando prefiro retardar o momento.
Tomo a rédea nas investidas, palmilho tudo de novo com a língua suculenta, serpenteio pelos seios e desço até às coxas. Que pele delicada, macia, na ponta da língua, sinto o quanto é bem cuidada e tratada. Com a boca a cruzar perto da vagina, inalo o cheiro libertado dela. Tiro a calcinha com os dentes, beijo os pés, subo lambendo perna por perna, em blandícias nas coxas até tocar os lábios vaginais. Ardente, ficas ofegante e absorvo a destreza vibrante do clitóris, na ponta da língua e ficas a gemer como uma menina carente. Remexes o esqueleto na cama e tentas retribuir os carinhos da vitalidade da língua nos pontos latejantes. Viras o corpo e ficamos na posição febril dum sessenta e nove, com a entrega das línguas ensopadas aos genitais. A simetria das bocas, o serpentear linguístico nos sexos do parceiro, acrescem mais fervor e entramos numa espiral infrene. A vulva a cada pulsar escorre humidade em abundância na minha boca, deixando os lábios cheios de gosma.
Pág. 93
Emocionada, ambicionas ser possuída e sem hesitares pedes.
- Penetra-me, vai, penetra-me aventureiro, sou tua!
Reviro-me sobre ti, encosto a cabeça do vergalho aos lábios húmidos, bato com ele no clitóris e faço-o deslizar na intimidade. À medida que penetro, a rosácea do teu rosto espelha a exuberância de felicidade, enquanto alivias clamores.
Deslizante pelo canal vaginal como se fosse um carrossel numa descida vertiginosa pelos trilhos, os incentivos funcionam como palavras de ordem. Entre as suplicas e suspiros, debitas palavrões aos soluços.
- Fode-me, vai fode-me!
As estocadas sem rédea, como marradas de um boi de cobrição, dilaceram a genitália cada vez mais escorregadia.
Fico uma bomba, as pulsações aceleradíssimas, a pressão sanguínea na cabeça, as veias a esticarem, sou chicoteado pelo vocabulário cada vez mais pornográfico.
- Vai cabrão fode-me, dá-me esse caralho com “brutalité”, fode cabrão “vilain”.
Como um animal feroz acabado de sair da jaula esfomeado, a devorar tudo que aparece pela frente, nem tenho a perceção das frases que dizes, entre o português e um francês manhoso.
Os ecos dos gritos histéricos provocam ondas no mar até então tranquilo e a pele das costas a rasgar, pelo cravar das unhas.
Pág. 94
Queima e pelo ardor, deves ter rasgado bem, parece que estou a ser atacado por um urso siberiano. Com gritos brutescos, diria bárbaros a atacar sem dó na calada da noite, atinges o clímax. Soltas um orgasmo exorbitante, que rega o pénis com o líquido divino e deixas-me prestes arrebentar. Pedes para soltar a erupção no peito e com urros alienados obedeço com esguichos quentes, enquanto levas a mão ao sémen e espalhas na pele suada. Com a outra mão, amarras a verga ainda acesa, levas aos lábios e lambes as últimas gotas. Sinto-me um bêbado, não do álcool, mas da tua essência.
Exaustos pela intensidade, pela impetuosidade imposta por nós, com as respirações extenuadas, sou surpreendido por outra excentricidade.
Ligas o monitor do sistema de vídeo vigilância, existente no barco e toda a nossa privacidade na cama é transmitida no ecrã.
Está tudo gravado e revemos, na cama de mão dadas, com palavras ternurentas, num verdadeiro ninho de amor.
Mais relaxados, vais buscar algo, enquanto fico sozinho a ver o restante da gravação.
Rendido, pensativo na forma angelical, no espirito de fogo, no fulgor, na eloquência de uma mulher surpreendente. Que façanha, que dia entusiasmante, embora a manhã tenha começado de forma dolorosa, ainda sinto os tomates doridos. Nem por sombras, diria que esta é a mesma madame, um anjo que se transfigura do dia para a noite. Amorosa, palpitante, romântica, mas parece esconder muitos mistérios e depravações. Para primeiro episódio das minhas férias, está bem emotivo e a continuar assim, neste mar imenso, vou acabar por afogar-me em excitações.
Pág. 95
Surges com dois cocos com uma palhinha enfiada e interrompes as minhas meditações.
Já tinha saudades de água de coco, um suco natural, contigo no interior do coco, o fruto do coqueiro. Rico em potássio, com poucas calorias, sem gordura, com alto teor reidratante e a ultima vez que bebi, foi no Brasil.
Refrescamos as almas escaldantes e quando parecia que tudo estava mais calmo para dormir em conchinha, a presença do meu corpo encostado a ti, atiça novos entusiasmos.
De forma subtil, quase ao som musical, com os pés irrequietos a tocarem e a massajarem os testículos, tentas despontar provocações. Aproximas-te para beijar-me e entrego a boca à voracidade da dança ardentemente dos lábios, com o sabor da água de coco. Com eles colados, de pedaço em pedaço, entre palavras espontâneas de carinho, sinto-me invadido no íntimo por uma poderosa tempestade de sentimentos.
Este beijo tem o dom de demonstrar que ainda temos a noite toda pela frente para descobrir e desfrutar o bom da vida, a dois.
De forma dócil passas-me no corpo um óleo exótico e enquanto massajas suavemente, soltas pequenos gemidinhos sussurrados no ouvido a provocar-me. Exímia, com gestos obscenos de erotismo, tentas enlouquecer-me novamente para outras maluqueiras, és uma mulher extremamente desafiadora. Pressinto que és determinada, em cada gesto tomas a iniciativa e o olhar parece demonstrar que ambicionas sempre algo mais transcendente.
O membro não é imune, parece que ouve a chamar e encrespa arrepios de inquietação. A massagem, as mãos suaves, os olhares, as bocas, vestem o desejo com os trajes da imoralidade.
Pág. 96
Vens para cima de mim e colocas-te de maneira a encaixar de uma só vez em cima da ereção, provocando um ganido de dor versus prazer.
Retomamos a navegação da fantasia, numa sincronização perfeita, com os espíritos fundidos um no outro, concebidos num único. Cavalgas de forma fogosa, desenfreada, numa cinesia descontrolada, a testar a minha resistência. Pelo olhar revirado, pelo ímpeto esgazeado, tenho a sensação de que estás diferente, não da manhã, mas da nossa primeira foda há momentos atrás. Existe algo em ti, um feitiço, um gatilho que despoleta enigmas no intimo e que faz disparar disfunções, para emoções mais loucas.
És um vulcão efervescente prestes a soltar lava.
Debruças o peito sobre o mim, com a língua a mimar o pescoço, o tronco, o rosto e junto às orelhas, dizes suavemente que adoras praticar sodomia.
Por desconhecer tal termo, finjo que não ouço, e deixo-me fluir possuído contigo em cima de mim.
Desenvolta, dás pequenas trincas nos lábios, em redor do pescoço, nas orelhas e sem parar, atrevida, voltas a dizer-me.
- Gosto e quero ser sodomizada por ti, agora!
Fico um pouco intimidado pela forma brusca que impões as palavras e encabulado, confesso que desconheço tal termo.
Pág. 97
Sem parares de galopar sobre mim, soltas gargalhadas estridentes, que entendo como gozo à ingenuidade do desconhecimento.
Efusiva, não paras de pular no sexo, nem de dar gargalhadas.
Com o juízo a tremer, fico encavacado com a situação, sem saber o que dizer, percebes a minha timidez e mais calma das risadas, exclamas.
- Os homens são todos iguais, uns incultos na forma como falam no vocabulário verbal sem calão, sobre sexo. Machistas, sabem e querem fazer tudo, mas não têm o conhecimento dos termos técnicos.
As gargalhadas voltam à ribalta, que contrastam com meu rosto avermelhado.
- Se em vez de sodomizada, dissesse, fazer sexo anal, não coravas nem ficavas com essa cara de estupefacto, tipo um burro olhar para um palácio. Sim sodomia é a palavra de origem bíblica usada para designar atos praticados pelos moradores da cidade de Sodoma e de acordo com as definições dos dicionários é a pratica de sexo anal entre o homem e a mulher, ou entre dois homens. E, isso creio que não deves gostar.
- Hahahahah! Pois, desconhecia o termo dessa forma, mas mais que as palavras gosto de realizar essa prática. Se gosto, mas com mulheres! Aliás, costumo dizer que cuzinho de senhora é para ser castigado.
- Meu querido, ainda não conheces esta senhora, umas vezes anjinho outras diabinho e posso garantir-te que adoro castigos.
Pág. 98
Num ápice, sais de cima de mim e debruçada, numa posição de quatro, esfregas-me as nádegas na cara. Com elas à mercê, dou umas sapatadas em cada uma delas, como se fossem um batuque e beijo cada vermelhão dos dedos marcados.
A visão das costas, a tatuagem do diamante, as nádegas, totalmente oferecidas, contagia a imaginação. Pego num lenço preto, peço para confiares em mim e vendo-te os olhos.
Sem qualquer hesitação como reação, acedes ao improviso e dizes:
- Exerce domínio, sê mágico na criação de ilusões insanas, vagabundeia a minha intimidade feminina, escraviza-me, quero ser sodomizada.
As tuas palavras são de uma intensidade, que remexem toda a minha indecência na cama, até a pouca-vergonha com as mulheres mais vagabundas do passado. As incertezas invadem o ego, se o termo “madame” é nobre demais para o teu espirito petulante e selvagem.
Vendada, de joelhos, preparada para sensações do toque e audição, beijo-te o pescoço e deslizo vagarosamente a língua pela coluna vertebral, tocando vértebra por vértebra.
Soltas gemidinhos e arrepios visíveis na pele.
Enquanto lambo, inspeciono com atenção a tatuagem, um diamante a pingar gotas de sangue.
Pág. 99
Mil reflexões percorrem num segundo os pensamentos e contagiam o ego de uma forma excessivamente positiva. Esta madame, de sonho, de manhã corada, tímida e agora a suplicar que lhe foda o rabo. Ainda agora iniciaram as férias e já sou um rei felizardo, neste carrossel de sexo ou serei uma cobaia nas mãos de uma mulher extravagante?
Totalmente entregue, alterno carícias, com beijos no traseiro e lambidelas na zona genital. A cada beijo e investida da taramela, soltas chiadeiras, que funcionam como estímulos e peço para abrires o rego. Olho o esfíncter, um harém para um louco em sexo anal, um oásis para a piça, um orifício digno para ser castigado. Que portão dourado do paraíso pronto a ser sodomizado.
Encosto a língua no epicentro, lambo, rodopio incessantemente e cravo no piscar do olhinho. Lamber o olho do cú, é um ato altamente íntimo, mas que provoca uma excitação que transcende as reflexões dos mais puros. É gostoso, sensual, uma badalhoquice altamente provocante. Todo salivado, molho o dedo indicador na boca e dou-lhe o privilégio de ser o primeiro membro, na exploração do tesouro. O dedo invasor, o intruso, que não desgruda do esfíncter, que cada vez mais irrequieto, precisa de ser brindado com mais um dedo. Levo os dedos à tua boca, chupas, salivas e com gestos cuidadosos devolvo ao prazer do canal anal.
Quando sentes o esforço na tentativa de entrarem dois dedos, não te fazes rogada e exortas com impropérios.
- Mete a piça cabrão, não sou mulher de dedinhos de menino, quero esse piçalho duro e grosso. Vai fode-me caralho!
Pág. 100
- Foda-se tu és do caraças! Estás com uma enorme moral isso é tudo valentia?
- Sou insaciável e ninguém até hoje, soube satisfazer-me completamente na cama. Fala menos e fode mais cabrão tesudo!
Foda-se esta gaja é de uma coragem, sem papas na língua e pela conversa, gosta de ser consumida sem fronteiras.
Vendada, veneras o vergalho com a boca, numa dedicação salivada, deixas-lho espumado e escancararas o rabo. Com ele empinado, relaxado, preparado para prestar vassalagem ao majestoso, encosto o cabeçalho ao olho do furacão. Em pequenas “pichotadas” tento invadir a fortaleza apertada. Não está fácil, contorces o rabo ao bastão grosso, com as veias dilatadas.
Estabilizados, insisto, vai cedendo e suavemente a cabeça força e acaba por entrar. Com ela enfiada, o cú dilata e abre-se de uma só vez às previsíveis estocadas.
O silêncio desse instante é interrompido por um ruidoso uivo sonoro, originado pelo misto da dor e prazer. Profundo, sinto o pénis a navegar na maionese, em crescentes, vai e vens, cada vez mais cadentes. O teu rabo é uma estrada desimpedida, à velocidade furiosa, do membro carregado de fluidos sanguíneos. Castigador das profundezas, vai demonstrar-te que afinal existe um homem que vai satisfazer a tua putaria insaciável, por mais louca que seja. As palmas das mãos fustigam, avermelhando as nádegas e deixam impressões digitais. Os movimentos, a simbiose dos gritos em delírio, resvalam, com os sacos genitais a serem esmagados entre os corpos. Existe a dor, mas a exorbitância do prazer é indeterminável.
Pág. 101
É o êxtase para ambos, é a purificação da paz espiritual que trespassa tudo que podia imaginar. Ainda bem que estamos algures a navegar no mar, longe da costa, porque o tumulto bate nos limites do desequilíbrio da gritaria.
Como um touro irado, sem dó nas marradas, agarrado às ancas com firmeza, em batidas fortes e descontroladas, solto uma explosão de esperma que submerge dentro da tripa.
A gritaria estridente é animalesca, selvagem e perde-se em estilhaços longínquos.
Ficas com as pernas a tremer, o corpo a vibrar fortemente, pareces possuída e exorcizada pelos demónios. Só quando vejo o lençol encharcado, percebo a grandeza da tempestade incontrolada, na libertação um enérgico orgasmo.
É o clímax dos clímax.
Os corpos rendidos, arrebatados pela subtileza da entrega, esta noite é um cenário que perdurará para futuras memórias. Embriagados pela doce loucura, lado a lado, em conchinha, caímos inanimados num sono profundo.
Conforme tínhamos adormecido, conforme acordamos, nuzinhos, aconchegados um no outro, despertamos pequenos gestos de ternura.
Pegas na minha mão, puxas-me para fora da cama e levas-me até à proa do barco. Nus, de braços abertos, abraço-te por trás, imitando a cena do filme Titanic, com a brisa a fazer esvoaçar os cabelos.
Estás irrequieta, sorridente, brincalhona e de forma súbita, empurras-me para a água. De seguida dás um mergulho até mim e dás-me um beijo quente como as águas cristalinas.
Pág. 102
Dentro da minha cabeça, tudo parecesse irreal, um sonho acordado, belisco-me e sinto o sabor salgado dos lábios novamente colados. Reconfortado pelos beijos molhados, percebo que estou acordado e num sonho real.
Isolados do mundo, algures no oceano pacifico, nadamos abraçados em beijocas, carícias e olhares ternurentos. Regressados ao barco, cheios de fome, tomamos um revigorante pequeno-almoço, acompanhados de uns sucos de fruta.
Enquanto tomas o leme entre as mãos e inicias a viagem de regresso até ao complexo turístico, entro num trilho de ideias. É como ter uma caneta mágica e poder desenhar tudo que o purgatório dos sonhos escreve.
“Nos céus tocam os sinos, voam ases de copas, os dados rolam e soltam trevos da sorte e o apostador ganha uma fortuna num casino”.
Despedimo-nos, com um abraço apertado e um aceno de até já.
Regresso ao bungalow para trocar o vestuário, perfumar o corpo e preparar-me para almoçarmos juntos.
As ideias são avalanches, caiem seguidas nos pensamentos, numas férias desvirtuadas pela realidade sentimental e altamente erotizantes entre dois seres desconhecidos. Serão inesquecíveis, neste local idílico, na companhia de uma mulher misteriosa, diria intrigante, mas que se entregou a mim da mesma maneira que me entreguei.
De corpo e alma, pensava eu, porque as horas seguintes irão proporcionar uma desilusão estranha.
Não apareces e penso que poderás vir mais tarde e com uma fome desmedida, com necessidade de carregar baterias, almoço sozinho. Fico à espera até às dezasseis horas e com o restaurante quase a fechar, nem um sinal da Loren Monique.
Pág. 103
Vou até ao bungalow 79, mas apenas encontro a faxineira a fazer a limpeza geral. Não vislumbro, o barco e na recepção informam que a madame fez o check-out, antes do almoço e partiu. Ainda tento saber quem era ela, de onde era, mas nem a troco de umas notas o rececionista dá qualquer tipo de informações.
Da mesma maneira imprevisível que surgiu, da mesma maneira se esfumou.
Fico incrédulo e a falar só.
Fogo, como é possível? Entreguei-me, numa paixão ardente e sem dizer nada pura e simplesmente vai embora? Porra esta gaja é mesmo enigmática. Dormi uma noite acompanhado e aqui estou de regresso à triste solidão.
Desolado, regresso à praia, pego num galho caído de uma árvore e faço um coração na areia. Dentro dele, escrevo: Madame.
Dificilmente a encontrarei mais alguma vez na vida, a companhia dela, será inesquecível. Fascinou até a própria razão, a alma e conseguiu tocar o lado amoroso.
Os restantes dias de férias, são pregos espetados no peito, o ego destroçado e deixo de sentir qualquer tipo de prazer em estar aqui. Apenas dormi a primeira noite no aposento, o segundo dia no barco e os restantes todos aqui na areia ao luar.
Areia é a minha confidente, troco com ela palavras e lágrimas de agonia, mas ao mesmo tempo de regozijo por ter conhecido uma mulher memorável. Meia dúzia de fotos, apenas ficam para futuras memórias, das sensações intensamente vividas. Também levo as cicatrizes provocadas pelas unhas nas costas, o perfume guardado nas narinas e um saquinho de areia como recordação.
Último dia, com o tempo um pouco cinzento, algum vento, olho o céu e faço uma analogia da partida dela com as nuvens passageiras que voam.
Onde a realidade termina, só o sonho fica acariciando o infinito e nada acontece por acaso.
Pág. 104
Desilusão
A viagem de regresso ao apartamento, é de profunda tristeza, muitas horas de voo em que a cabeça está centrada apenas na Monique.
Chego, encontro tudo na mesma e as paredes quando vêm que cheguei soltam um sorriso sarcástico. Claro tudo inventividade fictícia para espalhar ideias.
Preciso renovar o vigor, os pensamentos positivos, intrínsecos, para dias melhores. Impossível não estar possuído por ela, com o desejo de um dia a encontrar novamente, mas infelizmente não consigo imaginar onde e como.
Apenas o nome, Loren Monique, que bem pode ser irrealista, um pseudónimo, ou outra forma de se apresentar.
De volta à primavera, aqui a chuvinha ainda é o quotidiano, sempre a bater com o ventinho norte, quanto não valia o calor e o sol das Ilhas Fiji, aqui nem o verão é assim.
Este tempo melancólico é o combustível das tristezas, das depressões muitas vezes incompreensíveis.
Sou daquelas pessoas de difícil adaptação à mudança do verão para o outono e com o inverno fico com as euforias congeladas. O espírito alegre e bem-disposto, geralmente transforma-se em fraquezas, tornando-me débil nas forças para enfrentar o dia a dia.
A noite cai mais cedo, as mudanças da hora, o acordar torna-se o oposto da boa disposição e da energia do verão.
O tempo não pára, as sensações de desencanto são ambíguas e hoje, não fogem à regra. Já passaram cinco semanas desde
Pág. 105
que regressei das merecidas férias e mais um dia difícil de suportar neste espírito pouco humorado.
Acordo vagarosamente, corpo duro e pesado com as articulações meio enferrujadas que nem mesmo um duche consegue despertar os sentidos. O café da manhã estimula um pouco a vontade de entrar na rotina normal.
O verão aproxima-se a passos largos, estou esperançoso que os limites de circulação possam ser aliviados pelo governo, mas as notícias não são nada animadoras.
O confinamento está mais aligeirado, embora o vírus não tenha dado tréguas na europa, aliás pelas notícias, ainda está pior do que quando sai para viajar.
Mais mortes diárias, com infetados aos milhares e as unidades de cuidados intensivos a abarrotar de pessoas ligadas aos ventiladores. Felizmente, vai-se ouvindo informações de confiança, a possibilidade de no início do próximo ano surgirem vacinas com eficácias que acalentam a esperança. A pandemia já matou em todo o mundo quase dois milhões de pessoas, sendo na larga maioria idosos, uma verdadeira catástrofe humana.
Temos de ser duros, lutar e encontrar novas fórmulas para resolver este flagelo. Sermos valentes, gloriosos como os nossos antepassados, os navegadores quando dobraram o Cabo da Boa Esperança, guardado pelo gigante Adamastor e bem narrado nos Lusíadas pelo poeta Luís Vaz de Camões.
Como diz o povo, o que tem de ser tem muita força, portanto vamos dar corda aos sapatos e tratar de vida.
Pág. 106
O relógio neste período parece embriagado na velocidade mínima, o tempo não se move e lá fora o céu veste-se de cinzento e o vento a soprar do lado norte.
Esta sociedade é agressiva na forma como nos transforma em autênticos autômatos, uns robôs controlados pelos horários para tudo, uns seguidores do relógio, agora entre a cama e o sofá. Nestas rotinas diárias pareço um crente duma seita religiosa “do não fazer nada” a seguir as pisadas do seu pastor. E pior que isso, é ter a toda a hora, dentro da cabeça a madame, aquela diva que excita até as pontas dos cabelos. O coração ainda bate forte, a seta ainda está lá espetada e este “menino” quando falo sozinho ouve-me sempre e coloca-se sempre em pé.
O que tem valido, para distrair é a música e ver jogos de futebol. Dantes ia muitas vezes aos estádios, gostava de entrar cedo, ver a moldura humana a compor-se nas bancadas, o borburinho dos adeptos, os cânticos de apoio às equipas por parte das claques. Agora nem espetadores podem assistir nos recintos desportivos, uma desilusão, para os atletas, para os amantes de desportos.
Resta-me a televisão, com este tempo livre, mudo frequentemente de canais e acompanho todos os jogos.
Falo para as paredes e elas devolvem o eco dos meus pensamentos, que vagueiam à solta, em longínquos horizontes, sem fronteiras para o espírito, até se perderem em distâncias de memórias vividas.
Complexo, duro, de grande confusão, percursos sinuosos, com cruzamentos menos ou mais intensos.
Pág. 107
É nas boas lembranças, que tento sempre refugiar-me, fazer delas as pujanças para mais um dia, um álibi para estes espinhosos e íngremes degraus da vida agitada.
Repousado no sofá da sala, a música de fundo ligada e de olhos fechados luto no secretismo da madame. A imagem dela, o olhar doce, o toque suave, os beijos, as carícias a envolvência física, a linguagem pornográfica, tudo nela é instigante. Fogo que horas extraordinárias com esta mulher desconcertante, de sonho, misteriosa e surpreendente.
Ela é arrebatadora!
Recordo cada milésimo de segundo, ainda sinto o cheirinho perfumado daquele corpo imoral. Estou ciente que os prazeres foram mútuos, mais uns dias com ela e ficava apaixonado, aliás é como estou, apaixonado.
Posso durar mil anos, que essa noite ficará para sempre inesquecível.
Ela ainda pensará em mim? O que estará agora a fazer? Onde viverá? Loren Monique, será o nome verdadeiro?
Neste vagabundear de recordações apenas, o nome, seria real ou apenas uma simples sobrecapa da vida luxuosa que demonstrava e parecia ostentar. A forma culta como falava, as roupas, as indumentárias a rigor, o magnificente barco. Puxa, seria dela ou alugado?
Partilho todos os minutos num turbilhão de interrogações, entre o coração e a razão, mas nunca resignado ao destino.
Para desviar ideias melancólicas, ligo a televisão e faço zapping de canal em canal. Tantos canais, todos a pagar e a maioria não
Pág. 108
dá nada que preste, só chachas e programas da treta. Canais de tudo, desporto, filmes, músicas, notícias e poucos absorvem o olhar com atenção.
Nesta odisseia, em busca de ver algo cativante, os olhos e ouvidos ficam por momentos na CNews, um canal noticioso francês, que está a transmitir algo em França.
Fico expectante, ainda não percebi ao certo o que se passou, talvez mais um atentado grave. Com os minutos a decorrerem, as notícias vão-se clarificando e percebo que afinal o acontecimento é bem diferente daquele que julgava inicialmente.
Stephanie, uma jornalista francesa, está a informar a captura de um traficante de diamantes senegalês. Entre o olhar na carinha gira de olhos claros da jornalista e o que ela diz, fico atento. Um traficante há muito procurado pela Interpol e agora apanhado pelas autoridades de investigação francesas.
Interessado, atento, pouso o comando e relaxo no sofá para perceber os contornos da importância da notícia. Pela forma efusiva da pivô e dos convidados de painel, parece tratar-se de um ato classificado de heroico para a França.
Um traficante de diamantes do Senegal, uma antiga colónia francesa em África e que se tornou independente a 4 de abril de 1960. Várias foram as colónias africanas que se tornaram independentes dos países ricos europeus, no século passado. Alias à semelhança do que aconteceu com Portugal, nomeadamente com Angola, Moçambique, Cabo verde, São Tomé e outros.
No desenrolar das notícias, tentam passar a emissão para um repórter que se encontra no local da captura, no famoso Hotel Crittoin.
Pág. 109
Segundo as palavras deles, é um dos hotéis mais caros de Paris e frequentado por vip’s da política, do cinema e do meio financeiro.
Atento às palavras, agora diretamente do local.
“Boa noite, estamos em direto do Hotel Crittoin em Paris, onde há poucas horas foi capturado um traficante de diamantes senegalês e há muito procurado internacionalmente. Trata-se de Abbdul Comanét um homem altamente perigoso, sendo-lhe atribuído alegadamente a morte de três policias durante a captura. Ocorreram vários disparos entre os seus seguranças, todos aniquilados pela polícia especial francesa. Recordo os telespectadores que este hotel é habitualmente frequentado por pessoas importantes de todo o mundo e tanto quanto sabemos não houve feridos graves entre os seus hóspedes. Posso, entretanto, adiantar que alguns tiveram de ser assistidos no local, devido ao pânico instalado e a pequenos cortes provocados pelos estilhaços dos inúmeros vidros partidos. Entre os feridos encontra-se a sempre exuberante e excêntrica influencer, Loren Monique. Havendo mais algum motivo de reportagem entraremos novamente no ar e, entretanto, passo a emissão para os estúdios”.
Loren Monique? Foi o que este tipo acabou e dizer? Foda-se, será a madame?
Estupefacto, rebobino as imagens atrás para tentar ver se percebi bem o nome. A repetição, confirma as palavras do jornalista.
Com carago, a exuberante e excêntrica influencer Loren Monique!
Pág. 110
Nem acredito no que estou a ouvir, só pode ser pura coincidência de nomes. Ando a sonhar acordado ou se calhar tornei-me num viciado tresloucado.
Sem discernimento, o coração dispara o gatilho da ansiedade e fico turvado no racionío. Com as mãos adormecidas pego no iPad e os dedos aos tremeliques fazem buscas no google. Coloco o nome dela, dou “enter”, fico estarrecido e boquiaberto a falar sozinho.
A mulher exuberante e excêntrica, é ela! Foda-se, como não tinha pensado na internet e no Google? A madame é uma famosa influencer das redes sociais, do Instagram. Porra, tem milhões de seguidores e no perfil centenas, ou milhares de fotos deslumbrantes que comprovam a sua beleza. Eu posso afiançar que é linda, pois vi e estive na intimidade, sem filtros.
No perfil, mando uma SMS, com o número de telemóvel, e o nome, Juan Carlos e fico colado no ecrã do iPad horas a fio. Os olhos fecham de cansaço e adormeço no sofá inundado num turbilhão de sensações.
Acordo, perdido no tempo, sarapantado, com a sensação de atrasado para algum compromisso. Ensonado, hipnotizado entre o sonho ou verdade, ligo o iPad, mas nem uma única resposta.
Preparado para o duche, totalmente nu, pronto abrir a torneira, ouço o telemóvel a tocar e penso, mais um vendedor chato a ligar. Ainda hesito entre o banho e atender, mas estico a cabeça e espreito no visor a chamada. Um número com vários dígitos, um número estrangeiro, o indicativo +33. O coração pula até à boca, as pernas descambam, com as mãos trêmulas pego o telemóvel e atendo. Do outro lado da linha sai aquele: Alô! Alô! Tão característico com o sotaque francês.
Pág. 111
És tu.
Totalmente gélido, fico sem palavras e sem reação, apenas consigo ouvir-te a falar.
- Olá, Juan, querido romântico, o homem com a sensibilidade mais apurada, que alguma vez tive nos lençóis, um sentimental.
- Obrigado, querida Monique, vi as notícias na CNews e foi assim que cheguei até ti. Estavas ou estás, num hotel em Paris onde ocorreu vários tiroteios. Estás bem?
- Horrrrrível! Estou destroçada com tudo que aconteceu! Felizmente não fui ferida, mas várias balas passaram perto de mim.
- E, agora estás bem?
- Não! Estou péssima, um momento muito difícil e marcante, sinto-me perdida e amargurada. Tiros, várias mortes de pessoas que, bem, esquece, preciso de recuperar de tudo psicologicamente.
As palavras não podiam espelhar melhor os sentimentos, são idênticos aos meus.
- Também não tenho andado bem, desapareceste como o fumo, pareces o D. Sebastião.
- Quem? Quem é esse D. Sebastião.
- Querida, devias saber, foi um rei de Portugal e dos teus Algarves, cuja Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, levou ao seu desaparecimento e ao nascimento da lenda de que numa manhã de nevoeiro voltaria à pátria, ficou conhecido pelo desejado. Mas esquece, não é dele que quero falar é de ti, aliás de nós!
Pág. 112
- Olha, D. Juan estou a precisar de arejar, de animar o ego e nada melhor que estar contigo. Lembro-me frequentemente das horas boas que passei contigo, recordas-te?
- Se recordo? Tu estás e vives dentro de mim!
- Sei que fui indelicada, ir embora sem dizer nada, mas tu nem sonhas a minha vida real, sou muito mais louca e desvairada, que aquela madame que conheceste.
- Agora já sei quem és, famosa influencer, uma diva das fotos nas redes sociais, nem consigo dormir a pensar em ti. Anda passar um fim de semana comigo, que dizes?
- Até vou. Preciso de espernear, de sentir o coração pular por causas intensas, de queimar energias, de sexo, muito sexo. Mas tem uma condição, desta vez serei a dominadora.
- Dominadora? Como assim?
- Juan, Juan, depois sentes.
- Ok! Pode ser este fim de semana? Assim, preparo já tudo para surpreender, a dominadora, heheheh.
- Trata, tens agora o número de telemóvel e vamos falando, beijinhos Juan.
- Beijinhos, Monique.
Pág. 113
Desta vez tem de ser a dominadora? Que queria dizer com isso? Fui dominador no nosso encontro? E, depois nem sonho a vida real dela? É mesmo misteriosa.
Por mensagens, combinamos tudo, fiquei de ir buscá-la à estação dos caminhos de ferro. Achei estranho dizer-me que vinha de comboio, a realeza, da finesse francesa, nos transportes públicos.
Também já é quarta-feira e, portanto, pouco falta para o reencontro. Tratarei de a surpreender, vou alugar uma casa de montanha, num sítio fabuloso, num lugar afrodisíaco.
Ontem passei a noite toda a ver fotos dela no Instagram, nem consegui pregar olho e hoje ainda está a ser pior, amanhã quando a for buscar levo umas olheiras, que vai pensar que andei às gatas.
As ideias, as fantasias, as sensações são em catadupa e o cérebro nem conhece a palavra, dormir.
Pág. 114
Reencontro
Seis da manhã em ponto, na Estação de Vila Nova de Cerveira. Ela, situa-se junto ao Bairro do Alto das Veigas, nesta vila magnifica, conhecida pela arte bienal. Esta interface encontra-se no lanço da Linha do Minho, entre Caminha e São Pedro da Torre, que abriu à exploração no dia 15 de janeiro de 1879. Mais de cem anos e no XIII Concurso das Estações Floridas, organizado em 1954 pela Companhia de Ferro Portugueses e pelo Secretariado Nacional de Informação, a estação de Cerveira foi premiada com uma menção honrosa especial.
E, aqui estou, à espera que chegue o comboio do amor, preparado para amar, para aliviar este vazio que consume por dentro.
Ao longe, sobre os trilhos, surge o comboio e à medida que se aproxima, o coração bate de ansiedade. Parece que é a primeira vez que vou estar contigo.
Com o comboio parado, saem apenas três passageiros, um casal com um miúdo todo traquinas, eufórico, aos pulos de alegria. De ti nem sinal, sinto um baque no peito e fico expectante. O coração dispara a mil à hora, quando surges da carruagem da frente, sais da primeira classe.
Deslumbrante, maleta a rolar, pela mão, sapatos altos vermelhos, a condizer com o lenço ao pescoço da mesma cor, casaco comprido, saia, blusa, chapéu grande, tudo em branco e uns óculos Gucci.
La finesse française, bonita, corpo sensual, a sobressair as pernas, o gingar do caminhar é de uma modelo, uma grande dama. Os grandes óculos encobrem aquele lindo rosto doce e fixo-me nos lábios redondinhos que tive o prazer em saborear.
Pág. 116
Discretos, com um simples beijo nas faces, solto um sussurro.
- Estás belíssima, encantadora.
Ao qual respondes:
- E tu, um gato Juan.
Gentleman, pego na mala e transporto até ao carro, contigo sempre ao lado, em pequenos passos.
Desde que entramos na viatura, parecemos estranhos, impera o silêncio, mas por pouco tempo. Entre as conversas, libertamos umas risadas e tomas a iniciativa de palavras audazes perto dos ouvidos. Atento à estrada olho para ti, de forma passiva, a condução exige, atenção, apenas aprecio as belas pernas cruzadas e a rosa-negra tatuada no tornozelo esquerdo.
A viagem é curta, gradualmente mais aprazível, com as tuas caricias, no rosto e nas pernas, o que desperta ereções.
Prestes a iniciar a subida para o Monte Senhora da Encarnação, lanço o repto de vendares os olhos com o lenço vermelho que trazes ao pescoço. Rapidamente, dizes que ficou combinado seres a dominadora e não dominada.
Peço novamente, digo que é para ser surpresa, o sítio para onde vamos. Cedes, vendas os olhos com estilo sedutor, provocador e iniciamos a viagem montanha acima.
Fazemos talvez, uns seis quilómetros sempre a subir, de olhos vendados, abres o vidro para sentires a brisa no rosto, os cabelos loiros esvoaçam ao som do vento e o cheiro virgem do monte penetra na viatura. O ressoar das conversas transformam-se agora em silêncio, interrompido apenas pelos sons da natureza.
Pág. 117
Chegamos a um sítio especial, desligo o motor, abro-te a porta e peço para não retirares o lenço dos olhos. Com delicadeza, amarrada a mim, faço-te sentar num banco de madeira e sussurro ao ouvido, segura-te e confia em mim. Nem sonhas que estás sentada no enorme Baloiço do Cervo, com uma vista deslumbrante sobre o Rio Minho e a Ilha da Boega em forma de coração.
Sentada, agarrada, empurro e entras num vazio no ar, enquanto soltas um grito que esvoaça pela atmosfera. Nesta viagem, de forma invisual, apenas com sensações de liberdade, perguntas.
- Onde estou?
- Tira o lenço, vê e sente!
Sem deixar de baloiçar, retiras o lenço e ficas sem ar, tudo em redor faz cortar a respiração.
- Uau, paradisíaco, que surpresa maravilhosa, querido Juan, és um romântico! Que lindo, as montanhas, o contraste do verde com o rio, a ilha, que linda, parece um coração.
- É a ilha da Boega, situada no Rio Minho, entre as freguesias de Loivo e Gondarém, tem cerca de mil e quatrocentos metros, por quatrocentos e resulta dos sedimentos arrastados do rio e claro com a posterior cobertura pela vegetação. É orlada por árvores, amieiros, salgueiros e acácias e no interior gramíneas.
- Agora não vou sair daqui, empurra o baloiço, Juan.
Pág. 118
Estás maravilhada, os olhos brilham, o sorriso ilumina ainda mais o azul do céu, comigo a embalar o glamour.
Não vês o meu ego, mas ele está a bater palmas de satisfação, sinto um calor, um ardor de pura felicidade. Cada vez empurro com mais força, o baloiço leva-te a elevados metros de altura e bem no alto soltas gritos de histeria.
- Ficava aqui eternamente, a baloiçar, a sentir este vazio da imensidão, esta brisa a bater, mas de certeza que ainda reservas mais supressas, certo?
- Vamos, agora com os olhos destapados, para disfrutares de toda a magnificência deste lugar encantador.
Vou levar-te ao Miradouro do Cervo.
O percurso é ligeiramente sinuoso, com várias curvas apertadas e ingremes, mas conduzo devagar para admirar e sentir o prazer da viagem.
Estás radiante, soltas sorrisos e sinto nas tuas mãos que me percorrem as pernas um calor de excitação.
Desligo o carro e aviso que o calçado de tacão fino e alto não é o ideal para este sítio e rapidamente tiras os sapatos.
- Vais descalça?
- Não, vou à mala buscar uns ténis para calçar.
- Anda, vais gostar imenso, do Miradouro do Cervo. Foi construído sobre as ruínas arqueológicas da primeira fortificação das terras da vila, um castelo roqueiro erigido no início da idade média, que os antepassados aproveitaram a localização geográfica do Monte da Senhora da Encarnação. Daqui controlavam toda a entrada do Rio Minho.
Pág. 119
- Juan, a vista é verdadeira deslumbrante, é de cortar a respiração, parece que estamos a olhar para o infinito, estou toda arrepiada, olha para a minha pele.
- Heheheh, esses arrepios são de estares comigo!
- Tu és terrível, sempre um malicioso nas palavras, és pior que o piorio. Não esqueças que a dominadora sou eu!
- Então, vamos que estou ansioso por ser dominado, heheheh.
Realmente a vista é algo que transmite uma calma, uma paz de espírito, também estava a precisar de sentir a alma a bater asas, mas desejo muito mais sentir o cegonho a voar de tesão.
Seguimos viagem, começamos a descer, agora em sentido inverso do percurso inicial e entro numa estrada em terra batida, cheia de altos e baixos e lama.
Poucos quilómetros e chegamos.
Na encosta, uma bela casa, construída em madeira com vistas fascinantes, tendo como pano de fundo o Rio Minho, que divide o lado português do espanhol.
- É aqui, gostas?
-Belíssimo sítio! Que cheirinho à natureza, realmente surpreendes, tens bons gostos!
Os elogios, são medalhas para o ego, que fica em pulgas pelas próximas horas.
- Ainda não viste nada, vou proporcionar-te um fim de semana de sonho, repleto de sensações indescritíveis.
Pág. 120
- Não esqueças quem é a dominadora, portanto talvez sejas mais surpreendido que eu, heheheheh.
O interior da casa, transpira aromas fortes e selvagens, talvez seja a minha imaginação a voar antes do tempo. A sala é grande, lindíssima, decorada ao “estilo caçador” com cabeças de animais nas paredes, os sofás em pele e no chão uma grande carpete, pele de vaca. A lareira, bem acolhedora e enquanto aprecias a sala, aproveito para meter umas achas para a acender, que a casa está fria.
- Que tal?
- Estás a falar de quê querido? Da sala? Quem ainda não viu nada foste tu!
Distraído pela lareira, nem dou conta da resposta e continuo a ultimar as labaredas. Com elas, fortes e enquanto falas vais despindo o longo casaco e de repente deixas cair para trás.
- E isto, gostas?
Olho para trás, acabas de tirar o casaco, estás vistosa. A blusa, a saia branca, os sapatos vermelhos, as pernas bronzeadas, os seios com o decote a querer espreitar entre os botões. Abraço-te pela cintura, enquanto fitamos os olhares, puxo-te para mim e iniciamos um beijo nos lábios.
Que vontade de sentir o mel destes lábios, a humidade da língua, o calor do corpo.
Pág. 121
Desaperto botão a botão da blusa, fazendo os peitos ficarem à mercê de beijos calorosos e empolgado, folgo o soutien branco, com os seios a saltarem como uma mola contra a minha cara.
- Como desejava este momento, Monique!
- Tem calma, guloso, não vieste para ser dominado?
- Vim, mas…
- Comigo não há, “mas”, somente loucuras e nós fizemos um acordo, a dominadora serei eu! Anda vamos ver o quarto.
Levo as malas até ao quarto, engraçado, aconchegante, uma cama enorme e um grande espelho na cabeceira, coisa que adoro. Faço sempre imensos filmes com os reflexos dos corpos, nas horas ardentes, gosto de fazer sexo com espelhos, tenho esse fascínio desde miúdo. A casa de banho, espaçosa, com as louças em branco, uma base de chuveiro e um jacúzi, com vista para o Rio Minho. Fogo, deve ser relaxante estar dentro dele, com água quente, borbulhante e abraçado à madame. Quem sabe logo.
- Juan, vai para a sala tratar da lenha, poem uma música, trata dos pormenores, no teu elevado gosto refinado. Vou desfazer a mala e já lá vou ter contigo.
Olho para o relógio, quase dez da manhã, na cozinha preparo uns aperitivos e uma garrafa de champanhe, precisamos de animar.
Pág. 122
Procuro uns CDs, Michel Bolton, este é fixe, músicas românticas dos anos oitenta e que fazem suspirar corações.
Sentado no sofá, surges na sala com olhar matador, pareces um gavião, com as asas abertas para voar pecados.
Olho-te de cima a baixo, fico boquiaberto e sem palavras. Calças justas de cabedal vermelhas, sapatos da mesma cor, tacões finos e blusa branca. À minha frente, fixo os olhos na transbordante beleza, as calças fazem-te as pernas parecer mais longas e formosas. Vens em passerelle, com expressões sedutoras e não resisto e tento abraçar-te.
- Calma dominado!
Desapertas botão a botão e retiras a minha camisa. tento agarrar-te, mas seguras as minhas mãos e beijas o peito de cima a baixo. Do nada, tens um movimento mais brusco e empurras-me para o sofá.
Retiras das costas umas algemas, que trazias escondida e prendes-me os pulsos.
Fico impotente, sentado e algemado.
- Querido, avisei que sou a dominadora, logo és o dominado.
Confesso que as palavras, soam forte, por instantes dentro da cabeça passam muitas coisas, até um certo arrepio de desconfiança nos próximos passos, mas confiante, respondo.
- Serei todo teu Monique, usa e abusa.
Vais ao tocador de CDs, e elevas o volume para um nível mais alto e as batidas fazem estremecer por dentro.
Pág. 123
Com estilo provocador, dás umas voltinhas pela carpete e deixas-me os neurónios da excitação assediados pelo diabo. Metes dois dedos na boca, deslizas pelo pescoço abaixo de forma sensual, voltas a humedecer na boca e passas pelos meus lábios. Os olhares cruzam-se, as vontades empolgam-se, lambes o pescoço e deixas as orelhas mordiscadas.
Promete, esta dominadora.
- Vou deixar-te sem ar, bebé!
Respondo:
- Sem ar, está a verga, apertada dentro das calças.
- Eu sei querido, estou a ver o volume dele a crescer e vou continuar a fazer com que fique mais sufocado.
Sentado, algemado, sinto-me um cão acorrentado a babar pela ração.
Estás desinibida, passas as mãos pelo pescoço, pelos seios, pelas calças a acariciar entre pernas. Aos poucos desbotoas a blusa e deixas os peitos suspensos pelo soutien vermelho. Parece que conheces os meus gostos, costumo dizer preto para fazer amor e vermelho para sexo.
Com o rabo irrequieto no sofá, o membro apertado dentro dos boxers, os olhos esbugalhados, a mente dá corda à excitação.
Ao som estridente nas colunas, viras as costas para mim, soltas o soutien, gingas as ancas e baixas o corpo ficando o traseiro todo empinado. E, solto um piropo.
- Uiiiiiiiiiii, gosto do diamante tatuado nas costas!
- Gostas, mas é do angulo de visão do traseiro, safado!
Pág. 124
De forma provocadora, dás umas palmadas na bunda e viras os seios para mim. Que mamas, que delicia, volumosas e com os bicos hirtos, sei bem o sabor deles, a delicadeza, já os mamei e beijei. Quando estiver solto, vou deliciar-me nelas, lamber cada pedacinho e fazer uma espanhola, como se não houvesse amanhã.
Levas de novo os dedos à boca, deslizas pincelando o peito, agarras os seios e chupas os mamilos, que salivados, reluzem. Custa-me conter nesta prova de casting, de resistência ao desejo masculino.
- Aí, Monique, estás a provocar este bicho, mas quando soltar as amarras, vais ser devorada sem condoimento.
- Quero ser fodida “comme une putain”, dominadora!
Desapertas o cinto, o botão e fazes deslizar o zip das calças. Viras-te de costas, balanças o corpo e deixas cair as calças. De forma apimentada baixas-te, deixando o rabo todo escancarado com a lingerie enfiada no rego. As ancas, o contorno de cada nádega, as pernas delineadas, as costas desnudadas são combustíveis para a fogueira.
Tento pôr-me a pé, mas sei que não foi o combinado, queres atormentar o tesão, fazer enlouquecer a fera sem tocar. E, estás a conseguir, o pulsar é intenso, as veias dilatam, o sangue bombeia como uma metralhadora e o coração bate a mil. Escravizas a imaginação, satirizas a masculinidade do animal aprisionado e sinto-me imolado por tochas arder.
Apenas com os sapatos e a cuequinha, esbracejas numa dança sensual, uma miúda de cabaré no barão, assanhar o macho. Metes os dedos novamente na boca, metes na crica e devolves de novo à boca. Tiras a cueca, passas com ela entre pernas,
Pág. 125
deslizas sobre a coninha, de forma a impregnar a renda com odores e esfregas na minha cara. Fazes-me inalar o perfume do sexo, lambo a renda como se beijasse o clitóris e, grito.
- Foda-se Monique, estás a deixar-me em transe.
A música alta, abafa os gritos esganiçados, fico rouco, suado como um cavalo cansado e sem conseguir sair do sofá. Pegas na “string”, vendas-me e abres as algemas. Nunca tinha sido vendado por um fio dental.
Fico esbaforido e com uma sede desmedida por sexo.
Abres o fecho, retiras-me as calcas e sinto os dentes a morder o pau que lateja dentro das boxers. Agarro-te pelos cabelos e aperto a cabeça contra mim. Estou possesso, parece que estão bombas arrebentar dentro do peito. Retiras o apertado tesão para fora e abocanhas com destreza, enquanto dou um urro que se esvai pela montanha.
O membro, asfixiado pela boca, os lábios a massajar, o raspar dele no palato, estás imparável.
Dominado, vendado, num eclipse solar, uma escuridão que transpira energia intensa de sensualidade.
Ouço os splash’s do broche, o engasgar da boca profunda, a saliva a abeberar o pénis e num segundo, dás um salto para cima de mim.
Sentado no sofá, de pernas arqueadas encaixas os sexos, agarras-me pelo pescoço, apertas-me a cara contra os seios e inicias movimentos a galope. Tudo escuro para mim, mas fantasio rodeos, corridas de cavalos, carrosséis mágicos sem travões.
Pág. 126
É isso que sinto, uma espiral interminável de pura adrenalina.
As mãos percorrem a beleza através do tato, os peitos divinais esfregados na cara, os bicos mordiscados, transmitem deliciosos feixes de prazeres aos neurónios. Enquanto cavalgas, delicio a boca na sumptuosidade dos pomos e agarro forte as nádegas. Um zorro perdido na escuridão, mas um boi feliz na cobrição.
Cada vez mais fortes as batidas, pulas com ternura no sexo, que se envolvem em lutas animalescas, com os lábios vaginais a engolirem o vigoroso membro. A cinesia é cega, estimulante e toca as almas românticas.
Os gemidos quase chegam a abafar o som musical, no máximo e os suores respingam pelo sofá.
Estás endemoninhada, com olhar esgazeado e imparável.
- Estou quase a vir-me cabrão safado!
- Vai Monique dá o que tens!
Como se o sofá fosse uma montanha-russa, viajamos a uma velocidade alucinante e libertamos estrondosos orgasmos. Sinto o líquido a escorrer no pénis e solto a “nhanha” dentro de ti.
Possessa, cravas as unhas nas costas, sinto o traçar de cima abaixo e as tremuras das pernas sobre mim. Estás de olhar vidrado e completamente fora de ti.
Retiro a cueca que ainda venda os olhos e abraço-te forte. O coração bombardeia, palpita sangue desenfreadamente e as mãos tremem descontroladamente.
Pág. 127
Abraçados, energicamente agarrados pelos lábios ficamos assim até acalmar as pulsações esbaforidas. Trôpegos, a respirar aos soluços e com as mentes felizes.
Que momento arrebatador, os calores fogueiam pelo corpo todo e o suor escorre em bica.
A precisarmos de um banho revitalizante e atordoados de tanto devaneio, vamos para o quarto.
Mal entramos, atiras-te para a cama, dás uns pequenos pulos, realças o quanto é macia e adormeces.
Aproveito, tomo um duche e refresco a pele sebosa.
Tranquilamente relaxado, com a água a bater no corpo, a revigorar energias, faço fetiches para as horas seguintes. Evito fazer barulho, caíste no sono, estás de certeza cansada da viagem e do desgaste triunfal na sala.
Nuzinho, coloco apenas um avental sobre o corpo e na cozinha preparo algo apetitoso. O almoço esse só deve chegar às treze horas, conforme encomendei e o champanhe continua no balde do gelo, à espera do sushi.
Encarnado num cozinheiro, faço uns petiscos com presunto, umas saladinhas, queijo mozzarella, tomates cherry e uns docinhos de coco.
Distraído, atento às tarefas, sem dar conta, entras na cozinha e só apercebo a presença quando encostas o corpo bem cheiroso nas minhas costas, num abraço. O bater calmo do coração, os adoráveis seios, amassados entre nós, fazem soltar um sorriso maroto.
Pág. 128
Enquanto mordes as orelhas e dás lambidelas no pescoço, dizes estar admirada com o estilo “hardi” do cozinheiro e perguntas:
- Que vais cozinhar?
- Preparo apenas umas pequenas entradas, já encomendei Sushi e deve estar prestes a chegar.
- Gosto, é afrodisíaco, precisamos de retemperar energias, o fim semana ainda agora começou.
- Estás linda Monique, essa lingerie preta, promete.
- Sei que gostas, vou abrir o champanhe e fazemos um brinde.
Enquanto tratas da bebida, dou mais uns pequenos retoques na decoração da mesa.
Champanhe fresquinho, erguemos as taças ao alto e fazes o brinde.
- Ao dominado e à dominadora!
As tuas palavras são retorquidas, pelas minhas.
- Ao amor e ao sexo!
Fazemos tim-tim, bebemos e trocamos uns beijos entre uns olhares de contemplação mútua.
Nisto, ouço uma viatura a chegar, batem à porta, deve ser o almoço.
Abro, a porta é um individuo de boné, todo equipado a rigor e com as embalagens plásticas nas mãos.
Enquanto preparo o pagamento, vejo que o olhar dele se fixou na sala, ou melhor na Monique, está colado descaradamente nela, em lingerie.
Pág. 129
Um ligeiro ciúme se apodera de mim, mas ao mesmo tempo sei que é impossível um macho ficar indiferente a uma mulher tão vistosa. Ele, vai daqui a babar e a pensar que sou um sortudo, e sou mesmo.
Vais ao quarto e finalizo os preparativos na mesa, colocando umas velas acesas.
Com o cheirinho a abrir o apetite e a espalhar-se pela casa, surges na sala com esplendor, perfumada, com um robe de rendado transparente, preto na cor da lingerie e descalça.
A imaginação bate asas, realmente uma mulher de ínfimos pormenores, a forma segura como caminha, uma dominadora imponente.
- Meu doce escravo, garanhão nortenho, estou pronta a ser servida!
As conversas, a ingestão, o álcool, as risadas contagiantes, tudo são ingredientes picantes.
Felizes, descontraídos fazemos do almoço o combustível para alicerçar a cumplicidade.
O Sushi está realmente delicioso, a bebida divinal e almoçamos demoradamente.
Os ponteiros do relógio não param, os olhares cruzam-se, os gestos labiais formigam desejos e a música romântica embala.
Quase quinze horas, estamos há cerca de duas horas na mesa e nem demos pelo tempo a passar e preparo uns cafezinhos para tomar lá fora, no alpendre da casa.
A vista é sem fim, daqui do alto da montanha, quase abraçamos o Rio Minho e toda extensidade do lado espanhol. Daqui a vila é pequena, conseguimos ver as muralhas, a Igreja Matriz, o largo da feira e as casinhas circundantes.
Pág. 130
- Muito bonito este lugar querido Juan.
- Sem dúvida, gosto imenso de vir aqui, passear no verão, pela marginal, à beira rio e à noite beber umas cervejas nos bares.
A osmose das palavras trocadas continua, mas os pensamentos fantasiam, no jacúzi e num impulso, levanto-me e pego-te pela mão.
- Anda dominadora fodilhona, que o tempo voa, vamos aproveitar a estupenda paisagem, mas num local muito mais apelativo.
- Ui, já estás a pegar fogo outra vez?
- O fogo que atiça e consome tesões, és tu.
Levo comigo o champanhe, vamos até ao quarto, abro a torneira e enquanto enche o jacúzi, damos um pezinho de dança, romanticamente. O calor das mãos, o encostar do corpo, o feixe dos olhos cintilantes, os beijos acirrados, despertam excitações aos dois.
Totalmente despidos, sentados no jacúzi, aconchego a corpulência da diva, encostada no meu tronco. Ficamos imóveis uns largos minutos, a ver a paisagem ao longe pela enorme zona vidrada, embalados pela nossa respiração e do borbulhar da água. De costas, encostada a mim, com beijinhos no pescoço, com os dedos molhados a bajular, apertar delicadamente os seios, enquanto tu, com as mãos bem tratadas, acaricias-me as pernas. A excitação, um formigueiro na verga, encostada a ti, deitas a mão e agarras de forma afirmativa.
Pág. 131
- Pensei que ias apertar os colhões como fizeste nas Ilhas Fiji, heheheh.
- Pois, mas dessa vez mereceste, foste um atrevido.
- Atrevido? Não gastes os adjetivos, deixa alguns para quando estiver a comer-te o cuzinho, ou como dizes a sodomizar, heheheheh.
- Safado! Estás a pensar em foder-me o rabo.
- Vou fodê-lo!
As palavras queimam, num ambiente que ajuda, o champanhe acompanha as fantasias e os beijos ardem. Deitados, envoltos pela ebulição da água, fazemos os vidros embaciarem. As velas acesas em redor a aromatizar, as melodias harmoniosas nas colunas de som, o chapinhar da água a cada movimento mais apertado, recriam um verdadeiro cenário para amar. Alternamos o sexo oral, ora és a devota ao cacete, ora sou o devoto à vulva.
Amaço as nádegas, aperto-as fortemente, espevito desejos com umas palmadas e lambo devagar o esfíncter. Cobro-o de beijos, lambidelas, chego a cravar a língua, introduzo dois dedos e ele generosamente vai abrindo preparado às investidas do vergalho.
A simbiose é perfeita.
Empolgados, pronto a castigar a recetividade do olho anal, toca um telemóvel. É o teu.
Ainda hesitas em atender, mas a insistência, faz-te decidir e atendes saindo da casa de banho.
Pág. 132
Consigo perceber que é uma voz masculina e discretamente, apenas falas em francês e tenho a sensação que não queres que perceba o teor da chamada.
Atento, ainda consigo entender alguma coisa do francês, embora não pratique desde os tempos de estudante.
Falas baixo, de forma rápida, pareces-me cada vez mais preocupada, impulsiva na voz e subentendo algumas palavras:
- “Ça ne peut pas être, ni une voiture amenée, j’ai fait attention, je n’ai parlé à personne et j’ai voyagé en train. Ce n’est pas possible”.
Percebo nas entrelinhas algumas palavras soltas: Não trouxe carro, só de comboio, não falei a ninguém, não é possível…
Desligas a chamada, rompes pela casa de banho e no rosto carregas muita preocupação.
- Que se passa querida?
- Tenho de ir, Juan!
- Ir, a onde?
- Não faças perguntas, sobre coisas que não controlas, nem sonhas serem reais, na minha vida.
- Tua vida? Mas algum problema sério? Ouvi-te falar em carro, comboio, não é possível, o que se passa Monique?
- Desculpa, querido, mas tenho mesmo de ir e já! Aliás temos de ir os dois, já!
- Mas…
- Depois falamos, allons-y!
Pág. 133
Nem dás tempo a secar o corpo, pegas nas malas a grande velocidade e com algumas coisas ainda no colo, agarras-me o braço. Ainda semi-nú, sem estar preparado para ir embora, puxas-me apressadamente. Fico sem palavras, sem entender o que se passa, parece que estamos a fugir de algo inexplicável. Na realidade transmites muita preocupação, a face é de alguém que está numa situação de pânico e isso causa mais estranheza. Logo agora que ia comer aquele rabinho, espetar até ao osso, fazer-te gemer como uma tarada.
Mas pelo ar aterrorizado que espelhas, isso agora não é importante, temos de ir e depois tentar perceber o que se passa e ajudar a resolver.
A descida é vertiginosa na velocidade, sempre incentivado por ti, parece que estamos a fugir num filme de ação do 007. Continuo sem perceber nada, do que se passa, mas também não dás hipótese a qualquer tipo de questão que faço. Estava a correr tudo tão bem, um fim semana tranquilo e num instante tudo de precipitou num diluvio de medos, só por causa da chamada telefónica. Que estará a passar-se na realidade? Que problema será assim tão grave que temos de abandonar tudo e ir a esta velocidade? Será que alguém chegado dela ficou gravemente ferido? Ou será que vem aí a terceira guerra mundial? Um cataclismo de interrogações viaja pelos neurónios e para o qual não tenho uma única resposta.
- Vai direto para a estação dos comboios, deixas-me ficar e vais embora para casa. Não ligues para mim, depois entro em contato contigo.
- Mas...
- Vá Juan, faz o que peço, beijinhos.
Pág. 134
Frustração
Desapareces novamente da minha vida como o fumo e desta vez deixas-me extremamente preocupado, com o teor do assunto da chamada telefónica. O que se passou ou passa tem de ser seriamente grave, pois pediu para não ligar.
Olho o relógio, dezassete e vinte, tarde de sexta-feira, quando sonhava com um fim semana fantástico, aqui estou em delírios de medo.
Num vazio desconsolável, coração despedaçado, regresso pela A28, confiante que tudo terá explicações, resolução e melhores dias virão. O percurso é rápido, uma auto estrada com algumas curvas e inclinações que obriga atenção redobrada.
Triste, estaciono a viatura na garagem, subo o elevador com vontade de arejar na varanda. Ela, é o miradouro, onde posso olhar o alaranjado do sol a esconder-se no mar e enlaçar a brisa.
Chego ao apartamento, a porta de entrada, está entreaberta e a fechadura estourada. Surpreso, um arrepio estranho abata-se, e empurro a porta lentamente, enquanto pergunto se está alguém.
Um silêncio assustador.
Entro, e a palavra perplexidade é curta para exprimir o que sinto, quando deparo o panorama geral do apartamento. Tudo espalhado pelo chão, roupas, papeis, caixas, louça estilhaçada, armários estroncados, gavetas, tudo remexido.
- Foda-se que se passou aqui? Algum tufão?
Que grande confusão, tudo a monte, no chão, em todas as divisões e ninguém. Nem vou mexer em nada, tenho de ligar imediatamente à polícia.
Pág. 135
- Boa tarde, fui assaltado.
- Boa tarde, senhor, de onde fala?
- Foda-se, décimo andar, puta que pariu, fui assaltado, Prédio do Coutinho.
- Tenha calma, vou de imediato ligar ao carro-patrulha mais próximo, daqui a cinco minutos no máximo chegará algum colega, mantenha-se calmo.
A conversa deste caralho, mantenha-se calmo, diz isso porque não é na casa dele, foda-se. Nesta desarrumação toda, deixa ver o que roubaram.
Tudo remexido, nem uma gaveta intacta, só pedaços de peças partidas e roupas dispersas. Que dia azarado, aliás que merda de fim de semana.
- Boa tarde, senhor podemos entrar? É a polícia.
- Podem sim, vieram rápido!
- Sabe, a cidade é relativamente pequena e andamos pelas redondezas. Então que se passa?
- Saí de manhã cedo, cheguei agora e encontrei este aparato no apartamento, como o senhor pode observar.
- O senhor, desculpe, o seu nome?
- Juan Carlos, como lhe disse saí de manhazinha e cheguei agora e está tudo revirado e pelo que vejo não roubaram nada.
Pág. 136
- Não? Fizeram isto tudo e não roubaram nada? Tem a certeza disso?
- Pelo que já analisei, está tudo, fui o cofre e nem arrombado foi, não consigo perceber porque fizerem este serviço, muito estranho.
- Desculpe, a pergunta, mas o que faz o senhor Juan Carlos, na vida?
- Nada de especial, sou auditor financeiro, em empresas, mas nesta fase até estou em layoff.
- Hummmm, muito estranho! Muito estranho mesmo! Vou tomar nota da ocorrência e alguma coisa entraremos em contacto. Deixo aqui o cartão, alguma coisa pode ligar e tenha um bom fim semana.
- Obrigado, senhor agente.
Este cromo, tenha um bom fim semana, se imaginasse o que estava programado e o que está a ocorrer, ficava estupefacto. Com o apartamento uma lástima, para arrumar tudo vai demorar, já não posso queixar-me de tempo a mais, agora terei muito onde ocupar as minhas próximas horas, ou dias. É preciso ter azar, de um fim de semana de sonho, passo para um pesadelo inopinado.
Lá estou outra vez, na fase de mudar as agulhas do pensamento, para coisas positivas, ultimamente tudo corre mal. Se, bem que também a maior preocupação é com o que se passou, ou aliás, com aquilo que não sei que se passou.
Pág. 137
A conversa dela, vai direto para casa, não ligues, eu ligo, coisas que não controlas nem percebes da minha vida real. Que coisa estranha, esta mulher é surpreendente e muito misteriosa. Conforme entra na vida de uma pessoa, sai a uma velocidade furiosa.
Por isso que a vida em cada esquina tem uma nova surpresa, nada é linear, dizem que é o destino, embora não acredite nele.
O fim de semana foi miserável, quase três dias para arrumar tudo e de maneira ainda pouco ortodoxa, mas remedeia. Da Monique nem um sinal, se calhar nem pensou mais em mim e estou aqui feito palerma a pensar se estará tudo bem com ela. Embora confesse às minhas paredes que não é só isso, ficou-me a dever umas boas fodas e logo no momento que ia comer aquele rabinho, aliás sodomizar, seu inculto. Só de pensar, o pau ouve e ainda manda dar corda à mão direita.
Deixa ver no IPad se publicou mais alguma coisa no Instagram. Estranho, onde está o IPad, pois, arrumei tudo e não o vi, fonix, é através dele que ligo-me às redes sociais, ao Facebook, ao Instagram. Gosto de entrar, ver os perfis das mulheres bonitas, as fotos em bikini, todas sensuais e colocar vários likes.
Porra, afinal fui mesmo roubado, levaram o IPad.
- Boa tarde, senhor, agente Cunha, daqui fala o Juan Carlos, esteve no aqui na sexta-feira, no apartamento que foi assaltado no prédio do Coutinho, recorda-se?
- Boa tarde, claro que sim, nem roubaram nada!
Pág. 138
- Pois, também julguei que não roubaram nada, mas afinal, os filhos da puta, roubaram-me uma coisa, o IPad!
- O IPad? Meu caro amigo, isso é mesmo muito bizarro! A não ser que…
- A não ser o quê, senhor agente Cunha?
- Que você tenha nele informações relevantes para alguém, tipo palavras-passe ou outras coisas importantes, não disse que era auditor financeiro?
- Sim, sou, mas as palavras-passe, dos bancos e não só, tenho tudo dentro da cabeça, tudo memorizado.
- É, uma situação muito insólita, mas vou tomar nota de mais esta situação no processo. Algumas informações adicionais, falaremos, caro amigo.
Realmente, um assalto insólito, remexerem tudo, deixarem tudo destruído, para levarem apenas um IPad. E nele não tenho mesmo nada de precioso, a não ser que tenha havido algum equívoco por parte dos assaltantes, na morada.
Tenho de esquecer esta merda do assalto, aliás já arrumei tudo e para ver o perfil da Monique, tenho o telemóvel.
Nenhuma publicação nova, estranho para quem está sempre a fazer publicações, a invadir a internet com a sua sensualidade e beleza. A vontade de ligar é enorme, preciso de perceber o que se passou ou o que se está a passar, mas não queria ser indelicado. Aliás, pediu para não ligar, portanto tenho de resistir às minhas ansiedades, embora sejam bastantes.
Pág. 139
Hoje, até está um lindo dia de primavera, com sol, uns vinte e dois graus e felizmente as coisas estão a melhorar, pelo menos o primeiro-ministro já está a anunciar medidas aligeiradas, com menos restrições. Como ele diz, não é um regresso à normalidade, mas sim um regresso à normalidade possível. Tem razão em ser cauteloso no discurso, somos um povo de extremos e se dá abébias, vai já tudo para a rua bugiar e regressamos aos contágios.
Coloco os fones, ligo o telemóvel na RFM anos 80 e ouço músicas carregadas de memórias. Tento descansar a moleirinha, que bem precisa, anda a ser molestada com tantas agruras e tristezas e há que pensar otimismos, que amanhã haverá com certeza algo bem melhor.
Sentado, o sol a bater no rosto, a música a embalar os tímpanos, mais tranquilo e relaxado, bato nostalgias.
Quase a cochilar, escuto o sonido a vibrar no telemóvel, é uma mensagem e abro.
- Liga +377 29268573.
Porra, que raio de mensagem é esta? Nem sei de onde é este indicativo, será ela?
Analiso, o indicativo é do Mónaco, Principado do Mónaco. Um microestado situado no sul de França, faz costa com o mediterrâneo, fundado em 1297 pela real Casa de Grimaldi. Um sítio que nunca fui, mas adorava passear, é onde moram as pessoas cheias de dinheiro. Se a mensagem, diz para ligar, nada como fazer a chamada e ver se é a Monique.
Pág. 140
- Olá, querido Juan, estás bem?
- Oi, minha deusa misteriosa, no Mónaco?
- Sim, estou de passagem!
- Resolveste a situação?
- Esquece! Liguei para saber se ainda estás em layoff e disponível para viajar.
- Sim disponível, mas viajar como?
- Sem, mas e sem perguntas. Amanhã, dezoito horas no Aeroporto do Porto, na zona das viagens particulares, voo FHL250, hangar 2. Não precisas de malas, traz apenas os “necessaires”, tenho de desligar, beijos.
Fonix, com catano, esta mulher quer dar comigo em doido, ou isto é para os apanhados? Uma viagem assim, da noite para o dia, sem bilhete, sem malas, sem nada. Voo FHL250 no hangar particular, que coisa, mas tenho de acreditar, até porque ainda deve umas boas fodas.
Pág. 141
Nice - Mónaco
Num período que não é aconselhável viajar, é quando ando a viajar mais e sem ser em trabalho. Este layoff, tem sido uma mistura de emoções descontroladas, com as surpresas a serem constantes.
De novo, no Aeroporto de Pedras Rubras, sem certezas de nada, com uma mala pequena de mão, o cartão de cidadão na carteira e sem bilhete de viagem.
Dirijo-me ao balcão de atendimento e questiono uma das meninas:
- Boa tarde, desculpe, onde fica a zona das viagens particulares? O que é preciso para embarcar no voo FHL250, hangar 2.
- Só um momento, deixe analisar no computador.
Cria-se um silêncio amordaçado, que insiste em roer as ansiedades e as questões em aberto. Olho para a menina, em frente ao ecrã, com o olhar compenetrado e os dedos a clicar no teclado.
- É o senhor Juan Carlos?
- Sim, sou!
- Preciso do seu cartão de identificação para imprimir o cartão de embarque.
Ufa, estava receoso que não houvesse nada de concreto e pudesse ter feito a deslocação em vão até ao Porto.
- Aqui está o ticket, pode encaminhar-se para as zonas de particulares, que o jato já se encontra à sua espera.
- Obrigado.
Pág. 142
A frase, “o jato já se encontra à sua espera”, agarra-se nos neurónios, devem ter ficado a pensar que sou importante. Já viajei de avião centenas de vezes, mas nunca viajei num jato particular, será uma experiência fantástica. Sinto a mesma sensação como quando viajei no maior avião do mundo, o Airbus A380, com dois pisos para passageiros.
Dirigido num pequeno bus, vejo na pista um avião a jato com os motores ligados, um Bombardier Challenger 350, construído no Canadá, um dos jatos mais modernos da atualidade.
Recebo as boas-vindas por parte da hospedeira de bordo, entro, onde está apenas o comandante à minha espera. Um voo só para mim, num jato particular, incrível.
Quem paga isto tudo? Só pode ser a Monique, mas como pode ter tanto dinheiro? E, qual o interesse dela num pobreta como eu? Tantos homens bonitos, charmosos, ricos pelo mundo fora e ela chama por mim? Será pela cor dos meus olhos? Bem talvez seja pelo tamanho e desempenho do menino que levo dentro das boxers, heheheh.
Com as atenções na hospedeira de bordo, na simpatia de um sorriso rasgado, sou servido de uma taça de champanhe. Uma Mulher atraente, diria uma quarentona, ainda bem enxuta, com uma face cuidada, cabelos soltos e um corpo atraente. Faço juízos, de como será o corpo por debaixo da farda, como será a desenvoltura dela na cama, sempre tive fetiches com hospedeiras de bordo. Entre imagens eróticas a rolar dentro da cabeça, uns golinhos na taça de champanhe e umas músicas nos ouvidos, o percurso é curto e relativamente rápido. Nem deu tempo para colocar as ideias em ordem, aliás andam nos últimos tempos, completamente destrambelhadas.
Pág. 143
No sistema de som, a voz do comandante-piloto.
- Caríssimo senhor Juan Carlos, estamos prestes aterrar em Nice, espero que a viagem tenha sido do seu inteiro agrado, desejo-lhe uma boa estadia.
Aeroporto Internacional e Nice-Cote d’Azur, sei que é por aqui que se fazem muitas das ligações dos voos internacionais ao Principado de Mónaco. De carro, pela auto estrada, fica a cerca de vinte e cinco minutos e espero quando aterrar, que esteja alguém à minha espera.
Dezanove e cinquenta minutos, praticamente duas horas de voo, olho o mediterrâneo, a panorâmica da cidade vista de cima e a aproximação à pista.
Em terra, o avião aproxima-se do hangar, imobiliza-se, abre-se a porta e desço os degraus, enquanto nesse instante surge um Mercedes desportivo.
O vidro escuro do lado do condutor, desliza e abre.
- Olá, garanhão, surpreendido? Entra!
- Uau, Monique, fonix um Mercedes AMG GT R, isto é uma bomba!
- Gostas?
- Adoro carros, este tem quinhentos e oitenta e cinco cavalos, certo?
Pág. 144
- Oui, très bien, andas bem informado, Juan. Benvindo ao mundo real da Loren Monique. Preparado?
- Sempre!
- Vamos ver…
Metes a mudança automática e arrancas, com o brutal roncar a ser expelido pelos escapes, deixando para trás as marcas dos pneus no asfalto.
Saímos do perímetro do aeroporto, entramos na auto estrada AB, com o velocímetro sempre acima dos duzentos à hora, saímos na D500 e entramos no Principado pela D6307. Com a conversa sempre abafada pelo rufar da monstruosidade do motor, aproveito para apreciar a tua beleza, onde sobressaem os lábios pintados de negro e as ideias disparam nos miolos.
Em poucos minutos entramos no Mónaco.
- Então o que afinal se passou em Vila Nova de Cerveira?
- Querido, não vamos falar do passado, apenas do futuro que será simplesmente dangereux.
- Ui, será assim tão perigoso?
- Juan, Juan, sempre disse que sou muito mais do que vês. Sou, sou, deixa, vais acabar por sentir e perceber…
- A falares assim, até arrepias a espinha!
Rompemos junto à marina, passamos pelo Stade Louis II, através da Avenue Albert II e imobilizas o veículo numa avenida movimentada.
Pág. 145
- Mon Chèrre, é aqui que vamos jantar, no Restaurant Bleu Prestige.
- Ufa, estou informal demais para restaurantes chiques.
- Não te preocupes, quem manda aqui sou eu e será tudo como desejo. Aliás, continuas como submisso, ou já esqueceste?
Um porteiro, de fraque comprido, preto, sapatos brilhantes, de verniz, uma cartola e umas luvas brancas, dirige-se à viatura. Abre a porta do meu lado, saio, direciona-se abrindo a porta do condutor e entregas a chave, para ele arrumar o carro no parque. Deito os olhos sobre ti, de cima abaixo, estás deveras uma diva. Vestido curto, sapatos salto alto e uma bolsa de mão, tudo na cor prateada, os cabelos loiros a contrastarem com os lábios e as unhas, de negro. O vestido colado ao corpo, aberto nas costas, até ao fim da espinha, com a tatuagem do diamante e as gotas de sangue à vista. O traseiro realçado, apertado e os seios corpulentos.
Metes a mão no braço e avançamos pela entrada sobre a passadeira vermelha. Estás estonteantemente atraente, com o vestido reluzente na noite, pelo efeito dos reflexos das luzes que iluminam a avenida.
O garçon, abre-nos a porta e direciona-nos para a mesa reservada.
Perplexo e sem jeito.
Felizmente na europa já abriram os restaurantes, depois do primeiro confinamento e ao contrário dos países asiáticos, ainda não é obrigatório o uso de máscara.
Pág. 146
Os clientes, a maneira luxuosa como estão vestidos, as joias, os penteados, que embelezam as beldades femininas e os fatos, as gravatas, esmerados, dos cavalheiros, fazem-me sentir estranho. Acanhado, coro, pela sensação de que estão todos a olhar para mim, vim extremamente simplório. Calças de ganga, uma camisa branca e uns ténis da Nike, brancos.
De braço dado, tento olhar só em frente, mas com a vergonha, vou cabisbaixo e fico sem perceção da grandiosidade da sala.
- Tranquilo querido, aqui sou a rainha.
Realmente mais que rainha, a forma como és cumprimentada, as vénias dos presentes e os empregados a derreterem-se enquanto somos acompanhados, és mesmo conhecida de todos.
Sentado, mais relaxado, tomo consciência da magnifica sala do restaurante, num estilo clássico. Os candeeiros de lustre, as paredes com telas, talvez monarcas franceses, pintados, as cadeiras acolchoadas e os tetos talhados em madeira dourada. Parece uma casa senhorial, talvez tenha sido um palácio dum duque, ou algo do género no passado.
Não vim para apreciar salas de restaurante, vim para estar com a Monique e ela está impressionante. Os brincos, grandes, com pequeninos diamantes cravados, as pulseiras a condizer, e na maquilhagem, sobressai a cor negra. Que mulher de sonho e não estou a defini-la desta forma por aparentar ser muito rica.
Nas mesas dispersas, os olhares sobre nós são mitigados com alguns cochichos. Elas devem pensar, que borra-botas está com a Loren Monique, eles a roerem-se de inveja e a pensarem, o que terei mais que eles.
Pág. 147
- Podias ter dito, que vinha preparado e a condizer com a ocasião.
- Querido, não te preocupes com a roupa, esses olhares dos machos, são sinais que queriam estar sentados nessa cadeira e elas nem sonham o que és na cama.
- Pois, isso já pensei, mas sinceramente sinto-me muito pequenino.
- Pequenino? Esse piroco é bem grande e grosso, heheheh.
- És terrível, Monique.
Com a carta na mão, perguntas o que quero jantar. Sei que está tudo escrito em francês, portanto, nem vou olhar para o menu e assim também não vejo os preços, que devem ser de outro mundo.
- Escolhe tu, por mim o que escolheres está bem.
Como gosto de história, sei sempre algo sobre os locais, sobre as regiões, os povos, os monumentos e sobre culinária. Esta zona, Cote d’Azur não é só mar azul-celeste, festivais de cinema, mas um dos melhores polos gastronómicos da europa. Tem uma cozinha marcante, um quadro de iguarias e temperos regionais, alguns vindos das ex-colónias, que conseguem agradar aos mais exigentes. Possui um cardápio variadíssimo e com influências da culinária italiana.
- Querido, aqui a comida é muito diferente da portuguesa, vou fazer o pedido e à medida que colocam na mesa explico os pratos, vais gostar.
Pág. 148
O empregado, todo lambidinho, com mil e umas etiquetas, recebe o pedido e à medida que são colocadas na mesa, explicas cada petisco.
- Isto é um paté de azeitonas, um dos aperitivos típicos da Provença, uma receita preparada com pasta de azeitonas e anchovas. Chama-se Topenade, que deriva de “tapena” e que significa alcaparra no dialeto provençal. É servido com pão torrado, há quem use como recheio de carnes.
O funcionário abre o Don Perignon 2010, um champanhe, das adegas Dom Perignon, um vintage, um dos vinhos espumantes champanhe com os melhores cachos depinot e Chardonnay e o teor alcoólico de 12.5º.
Com as taças cheias, brindamos à felicidade.
Provo o Fougasse ou fougassette, um tipo de pão, macio por dentro e por fora, primo da “focaccia” italiana, típico da região Liguria.
- Muito bom este pão, recheado com cebola, azeitonas pretas, anchovas e bacon em cubinhos.
- Juan, usam este pão muitas vezes como lanche, é barato e vendido em qualquer padaria, aqui servem como se fosse a última bolacha do pacote e cobram caro. Olha pedi uma sopa, Bouillabaisse, é feita com frutos do mar, preparada com vários tipos de peixe, mexilhão e pequenos crustáceos.
A sopa é realmente uma delícia, cheira bem, tem um sabor apimentado, forte, faz suar o corpo e esquenta a alma.
Pág. 149
Trocamos olhares, conversas safadas, tocamos as pernas por debaixo da mesa e as mãos aconchegam-se em afagos.
O champanhe gelado, acaba rapidamente, mandas vir outra e ainda não começamos a degustar o prato principal.
Pousam um pote de terracota na mesa, tipo jarra, levanto a tampa côncava e espreito.
- Querido, é Daube, um estufado de carne, assada com vinho, legumes, o molho de alho Aioli, com paladares ousados, o molho de anchovas Anchoide e ervas de Provence.
Comemos pausadamente, com o vinho a impulsionar, sinto-me cada vez mais desinibido e as conversas tornam-se mais íntimas. Já nem penso na possibilidade das outras pessoas repararem em mim, talvez já nem olhem e também estou aqui de passagem, creio.
Papagueamos, entre coisas mais sérias, outras mais atrevidas, trocamos piropos de caris sexual, mas nunca deixas cair uma palavra sobre a tua vida privada.
Bebemos, bebemos e bebemos, perco a conta às garrafas de champanhe e as palavras tornam-se mais soluçadas.
Entre gargalhadas, dum parolo alegre, a admirar a beleza incomensurável e iludido de amores, o álcool, afeta até a audição. Desconcentrado observo os teus gestos labiais, com uma vontade enorme de acampar na tua cama e escalar os seios.
Ainda mandas vir como sobremesa, uns doces para provar.
Pág. 150
O baba au rhum, um bolinho regado de xarope de rum, coberto com frutas e chantilly e o clafourtis, um doce tipicamente francês, feito de cozimento de cerejas inteiras no forno com creme de farinha, ovos, leite e açúcar.
Empanturrado, com alguma dificuldade em sair da cadeira, com os olhos cintilantes, nem consigo ver a conta. Pagas com um cartão dourado e fico a pensar quantos cifrões teria a fatura.
Encaminhados à porta de saída, ouço ao longe o roncar inconfundível do Mercedes e com estrondo rompe pela avenida.
É o porteiro com a nossa viatura e com mil delicadezas, abre-nos as portas e devolve-te o volante.
Pág. 151
Libertinagem
O jantar, cimentou a simbiose que já existia na nossa cumplicidade, apenas interrompida por circunstâncias ainda inexplicáveis.
- Vais conduzir depois do álcool que ingerimos?
- Cala-te, aperta o cinto que a emoção vai começar.
- Cuidado, tens de ir devagar, porque pode aparecer a polícia.
- Polícia? Essa aparece num minuto. Estás a ver aquele semáforo vermelho?
- Estou, porquê?
- Vamos passar nele, sem parar!
Carregas o acelerador ao fundo, sinto o corpo a recostar-se todo contra o assento e a brutalidade dos cavalos a bufarem. O coração dá um baque e o pânico momentâneo abate-se sobre mim. Enquanto olho para o velocímetro, em poucos segundos passas o vermelho a cento e quarenta quilómetros hora. Passamos rente, entre as viaturas que se cruzam com o sinal aberto, com travagens bruscas e ao som das buzinadelas, encolho as pernas e agarro o banco com todas as forças.
- Foda-se Monique, és doida?
- Juan, eu avisei, bem-vindo ao meu mundo real e só agora está a iniciar.
Num ápice, surge atrás de nós o cintilar forte das luzes azuladas e as sirenes a tocar, é o carro da polícia. Avisei, mas não destes ouvidos e estás a agir de uma forma extremamente eufórica.
Pág. 152
- A polícia, Monique, é a polícia!
Sem dizeres uma única palavra, carregas a fundo novamente no pedal e passas acima dos duzentos à hora. Pelas imagens do exterior que passam ferozmente, reconheço que entramos na zona do famoso circuito de Mónaco, onde se fazem as corridas de fórmula 1.
O circuito de Mónaco é um circuito de rua, na cidade de Monte Carlo, com ruas inclinadas e cuja primeira prova foi em 1929, tendo a marca Bugatti como vencedor. As ruas são estreitas, curvas apertadas, com mudanças de nível no percurso. E à velocidade que vamos, enxergo cada vez mais a estrada afunilar. A polícia em nossa perseguição e na cabeça, toneladas de sentimentos de medo e vontade de vomitar. Os ziguezagues continuam e ao fundo, a famosa zona do circuito, o túnel. Não abrandas, pelo contrário, aceleras perigosamente. Entramos no túnel a duzentos e sessenta à hora, uma barbaridade o ronquejar da máquina e as luzes azuladas do carro-patrulha a serem amplamente refletidas nas paredes. Uma simbiose de ruídos abafados, das sirenes e dos motores, obriga os vários carros a encostarem-se à direita, com travagens súbitas. Não consigo soltar uma única palavra, apavorado, respiro de forma ansiosa, com o sangue bombeado no coração, enquanto vais serena e com enormes gargalhadas.
- Segura-te garanhão, que vamos despistar a bófia!
Pág. 152
Em milésimos de segundo, o Mercedes ultrapassa os trezentos quilómetros hora, saímos da zona do túnel quase a voar e deixamos para trás a polícia. Nunca andei a esta velocidade, o sangue escorre todo para a cabeça, o pavor fogueia o íntimo, os colhões batem palmas e o olho cú aperta. Ao fundo uma curva apertadíssima, metes o pé ao fundo no travão, numa descomunal travagem, o carro entra em ABS, deixa um rastro de cheiro a borracha queimada e saímos da curva a cento e sessenta. Se fosse o meu carrinho, nesta curva fechada, teria de ser a cinquenta e com o pé de fora. Depois da curva, surge ao fundo a marina, toda iluminada e lotada de enormes barcos.
Entras de rompante pela zona portuária, fazes um enorme pião, soltando fumo por baixo do chassi. Aterrorizado, com a boca seca, zonzo, enjoado e a cabeça a andar à roda, abres a porta do carro e gritas.
- Anda, corre, rápido.
Num segundo, somos interpelados por um vulto.
- Bonne nuit, madame.
- Vincent, larga rápido as amarras do barco, o passadiço e pega a chave do carro. Vem aí a polícia, sabes bem o que fazer.
A cambalear, corremos sobre o passadiço, entramos num barco, com o som das sirenes cada vez mais audíveis e perto da marina. Ligas o motor, o Vincent faz o solicitado e arrancamos pelo mediterrâneo. Fugidos como uns meliantes, ainda consigo ver a bófia a chegar à marina e a interpelar o tipo junto ao Mercedes.
Pág. 153
- Puta que pariu, és doida? Não ganhei para o susto, quase cago nas calças e tenho tudo a estourar dentro de mim.
- Calma, relaxa, já passou.
- Assim, fico gago, foda-se!
- Ficas, ficas gago, nem sabes o que vem a seguir.
Pálido, suado, contigo ao leme, prefiro nem ouvir mais nada. Abraço o teu corpo por trás e seguimos a viagem sem fazer a mínima ideia para onde vamos. Talvez queiras ir para longe da costa e rememorar a primeira noite nas Ilhas Fiji.
- Vamos para Saint Jean Cap Ferrat!
- Nunca ouvi falar, é longe?
- Não, de barco é perto daqui. Tenho lá casa, vais gostar, é um local extremamente recatado, com pouco mais de dois mil habitantes, é onde moram muitos milionários internacionais.
- Uau, então és milionária!
- Isso, são outros quinhentos, outras contas do rosário.
Em pouco tempo, chegamos à marina New Port Of Saint Jean Cap Ferrat, iluminada e proeminentes barcos aportados.
Encostamos e somos abordados por um sujeito.
- Bonne nuit, madame.
Pág. 154
- Bonne nuit Olivier, comme d’habitude, à vous de prende le bateau.
Percebo no meu leigo francês que estás a entregar o barco para ser atracado, quando a uns escassos metros uma viatura dá sinal de luzes.
- Vamos, já estão à nossa espera.
- Fogo, tens tudo controlado.
Abre-se a porta de um Bentley Flying Spur preto, sai um tipo de fato, engravatado e de boné.
- Bonne Nuit, madame.
Abre a porta de trás e encaminha-nos para dentro da viatura. Talvez seja o Ambrósio, o tal da publicidade, “tomei liberdade de pensar em si, senhora”.
Pela Avenue Jean Mermoz, sempre a circundar pela encosta do mediterrâneo, uma zona verdejante e mansões imponentes. Entramos numa zona estreita, ladeado por muros, em pedra, a Rue Impasse Fiorentina, o carro abranda e abre-se um enorme portão.
Uma entrada triunfal, de Bentley, parece que estou a chegar ao Teatro Dolby, à sala de espetáculos em Hollywood Boulevard, na cidade de Los Angels, Califórnia. O local onde desde 2001, fazem a entrega dos prémios da Academia, o Óscar do mundo fantástico.
Pág. 155
É noite, não consigo ter a perceção da grandiosidade da casa, dos jardins com enormes árvores, canteiros com flores e apenas vislumbro a piscina toda iluminada, num azul-turquesa.
- Chegamos a casa, querido Juan, mas não julgues que a adrenalina acabou!
- Não me digas que tens aqui uma pista de corridas!
Quem sabe. Detesto o tédio na vida, por isso em cada esquina crio novas adrenalinas e mais não digo.
Aquele final do “mais não digo”, deixa-me apreensivo, mas ao mesmo tempo confiante, até já fugi da polícia como nos filmes de gansters.
Atrás de ti, nas tuas pegadas, passamos por uma sala grandiosa, uma enorme escadaria arredondada e levas-me diretamente para o quarto.
Sem demoras nem rodeios, pedes para tirar a roupa, para ficar nuzinho, enquanto vais ao closet mudar as vestes. Sentado no sofá, ainda com a cabeça azoada da emoção e do álcool, aprecio a decoração esdrúxula do quarto. No teto um enorme espelho sobre a cama, toda ela pomposa, larga e alta. As paredes pintadas a vermelho forte, aos pés da cama, na parede, um espelho em forma de diamante, carpetes e sofás em negro e vários candeeiros de parede, ligados. Custa entrar na cabeça dum comum mortal, este tipo de decoração, esta mulher é de uma excentricidade fora do comum, mas estou a amar.
Pág. 156
Surges, perfumada, em lingerie sexy, reduzida, vermelho vivo e um olhar de matadora. Envolves os braços no meu corpo, sinto o calor quente da pele e mergulhamos as bocas num profundo beijo. As mãos num rodopio corporal, com ideias fixas nos seios, sem demoras faço soltar a mola do soutien. Com elegância os seios são o alvo dos lábios humedecidos e delicio cada contorno, com a língua empapada. Desde o primeiro dia que fantasio mil e uma emoções neles, um Ali Babá a saquear cada traço, onde os quarenta ladrões sou sempre eu.
O pescoço é marcado pelos teus beijos, as línguas serpenteiam numa atração, numa desforra, a ver quem cede aos gemidos. As unhas, a arranhar pelas costas, são contrariadas pelos meus dedos a invadirem a vagina. Soltas rangidos de prazer, rasgo a tua cueca e ao tentar meter o dedo no ânus, esbarro num objeto duro.
- O que tens metido no rabo?
- Um brinquedo, já o tenho metido desde que fui buscar-te ao aeroporto, andei sempre com ele, até agora!
- Uiiiiiii, quero ver!
Debruçada sobre a cama, abres as nádegas e mostras um plug anal banhado a ouro, com um diamante.
- Este é especial, não pelo facto de ser caro, mas pelo significado que tem para mim. Para além dos três centímetros e meio de espessura é para deixar o cú preparado para esse piroco grosso.
- Com caralho Monique, és muito à frente!
- Não foi o cuzinho que ficou por foder, no jacúzi em Cerveira?
Pág. 157
Nem consigo responder, sem controlo, voamos para a cama e sem mais demoras ou preliminares, tiro-te o plug e encosto o pénis pulsante. O buraco largo, nem precisa de ser salivado, um túnel aberto e pronto a ser explorado. Com o piçalho em riste, empurro e penetro até os colhões baterem e fazerem de travão. Os gritos, a intensidade aguda rasga os tímpanos a um canino, mas ensimesmado pela excitação não paro de foder. Agarrado às ancas, castigo dilacerantemente, com batidas fundas e tresloucado esbofeteio as nádegas. Não te fazes rogada pelos golpes, pela sagacidade impiedosa das estocadas e incitas, toda maluca dos cornos.
- Fode cabrão tesudo, fode, não sejas benévolo comigo.
As tuas palavras são lambadas no psicológico e reviram o lado machista. De forma esganiçada, revolto numa espiral de desejo, os movimentos são impostos aos limites do inimaginável. Sem dó, sem piedade, sem perdão e mesmo assim não dás como derrotada e inflamas.
- Só isso fodilhão? Vai fode-me, paneleirote!
As gotas de suor escorrem pela cara, pelo peito, todo suado, os músculos a retorcerem-se dentro do corpo tenso e o pénis a ser bombeado com sangue a fluir ferozmente. Os sons das batidas esbatem-se pela parede, a cama range e o espelho no teto fica ressuado.
- Estou, estou quase a vir-me!
- Vem-te dentro de mim, safado.
Pág. 158
Enquanto com a mão toco sem parar a vagina molhada, venho-me desmedidamente.
- Não pares, castiga-me o rabo!
Delirado, como um ogre faminto, não paro e continuo a dar golpes profundos. Os dedos dedilham freneticamente o clitóris, os corpos fustigam-se e o pénis prossegue devoto ao esfíncter. Fazemos da cama uma pista de corridas, uma viagem ao purgatório em lava, bem mais entusiasmante que a experiência do Mercedes a fugir da polícia. Os corpos escorrem esforço e estou quase arrebentar novamente o dique dos espermatozoides.
- Monique, vou vir-me outra vez.
- Quero nos lábios e nos peitos, safadão.
Num movimento rápido, direciono o membro e solto os esguichos lácteos para os lábios e seios, enquanto dou um grunhido dantesco. Deitada, coloco-me entre as tuas pernas e lambo incessantemente a rata até soltares o líquido da felicidade e uivares feita uma loba. Que momento arrebatador, pura adrenalina, que invade a alma por uma amalgama de nostalgias.
Relaxados, caímos no sono profundo.
Pág. 159
Tranquilidade
O sol a trespassar os vidros da porta do quarto, enquanto acordo lentamente. Reviro-me na cama, com o corpo dorido e a cabeça cheia de pensamentos perseguidos pelo demónio. Estendo o braço na busca do teu corpo e encontro a cama vazia. Não estás, dou um salto e chamo veemente por ti. Sem prever, levo um enorme susto, com um grande dobermann sentado na porta de saída do quarto, que riposta num ladrar raivoso. Todo borrado, o coração salta, fica colado a bater na boca e a saltar no trampolim do medo.
- Foda-se que esta merda?
O cão, acalma, deixa de ladrar e fica apenas a soltar uns rosnares hidrófobos.
Agarrado aos lençóis, sem saber o que fazer, fito o bicho com cara de poucos amigos e reparo na coleira, coberta de diamantes. De forma lenta, faço pequenos movimentos na tentativa de ver se reage, mas mantém-se completamente imóvel e silencioso. Nem tento chamar de novo a Monique, tenho a sensação que foi por soletrar o nome, que a besta ladrou e arreganhou os dentes.
Sobressaltado, espreito pela vidraça, lindo dia de sol e na varanda avisto o extenso mediterrâneo. Que paisagem surpreendente, a casa está situada num sítio espetacular, quanto não vale ter dinheiro e ser rico. Dou uns passos e aproveito para ver de cima a beleza exterior que rodeia a casa. Árvores de grande porte, jardins relvados, com belas flores e a piscina. Ninguém à vista, analiso para dentro do quarto e o dobermann continua sentado à porta e de olhar estático.
Pág. 160
Mais relaxado do susto, com o corpo ainda a tresandar a sexo da noite anterior, vou até à casa de banho, preciso de tomar um duche refrescante e ficar perfumado. Reparo no jacúzi, com a vidraça a deixar trespassar o sol e a feeria vista para o mar. Nem hesito, deito uns sais, resvalo o corpo debaixo da água quente e borbulhante. Ao longe, na linha entre o céu e o mar, um combinado de tons azulados e imagino um palco com fantasias eróticas. Os atores são bem familiares para o cérebro, eu e a madame e mesmo cansado, viajo na ficção e caio na amenidade do sono.
Inquieto, acordo, sem noção do tempo e a ação é observar a porta, mas o cão permanece sereno no mesmo local, com os olhos grandes, castanhos, fixos, direcionados sobre mim. Pego no telemóvel para ligar à Monique, está descarregado, deixei o carregador na maleta que trouxe de viagem, porventura ainda está no carro. Olho o despertador na mesinha de cabeceira, catorze e trinta da tarde e nada dela. Sem a maleta, não tenho carregador, nem roupa para vestir e não consigo sair do quarto com o sentinela de dentes afiados.
Ouço o barulho do motor dum carro, corro à varanda, é o Bentley a romper pelos portões. Sai, o motorista, gentilmente abre a porta de trás e surges espampanante. Saia justa, casaco curto, sapatos altos, um enorme chapéu, tudo cor-de-rosa. Os óculos de sol grandes, os lábios vermelhos, parece que vens de uma passagem de modelos. Que mulher envolvente, por isso estou cada vez mais perdido e apaixonado.
Pág. 161
- Monique, querida estava preocupado e sozinho.
- Calma mon cherri!
Pedes para ter calma. Pois, como posso estar sereno, com este bicho a olhar constantemente para mim e a latir.
Ouço umas palavras de fundo e o cão reage, desaparece como o fumo e surges pela porta de olhar sorridente.
- Querido, tive de sair para tratar de uns assuntos imperativos e urgentes.
- Tens sempre coisas urgentes! És mestre da ilusão, apareces e desapareces. Levei um susto e não sabia o que fazer, com o guardião que deixaste à porta a rosnar.
- O Max, não morde, é um bom amigo, aliás sereis cúmplices.
- Amigo, cumplicidade, com o cão?
- Sim, relaxa que em breve vais perceber.
As tuas conversas, são sempre enigmáticas, com muitos mistérios envolvidos, com frases incompletas e envoltas em secretismo e isso deixa-me sempre apreensivo.
- Anda querido, comprei umas roupas para ti, veste este calção e esta camisa branca, vamos almoçar no jardim.
Entre nós dois, um contraste de cores, um todo azul-bebé e o outro cor-de-rosa, parecemos uns figurantes num filme de banda desenhada.
Pág. 162
Com a claridade a invadir a casa, tenho a perceção da grandiosidade, com o luxo e requinte. O hall do quarto expande-se para uma escada com um varandim para a enormíssima sala lá em baixo. Descemos, constato os candeeiros, parecem ser de diamantes, as carpetes vermelhas, as paredes cobertas de grandes telas, reconheço algumas de Miguel Ângelo e Leonardo da Vinci. Para além do sofisticado gosto, para manter este estilo de vida, tens de ter mesmo muito dinheiro. Como tens uma fortuna assim? Uma influencer ganha assim tanto dinheiro? Ou será herdeira de algum magnata? São muitas as questões a esse respeito, que resvalam dentro da cabeça, mas não tenho o atrevimento de questionar.
Chegados ao jardim, de mão dada, diriges-me para uma pequena escadaria em pedra e ao fundo um espaço com uma mesa, com o mediterrâneo como pano de fundo. Sentado, de frente para ti, ladeados pelo sol a bater no mar, parece que estamos num filme de príncipes e princesas, num conto de fadas.
Nisto surge, um sujeito que pergunta algo em francês junto ao ouvido da Monique.
- Saymon, vous pouvez servir.
Em poucos minutos, a azáfama de dois garçons, vestidos de calça negra, camisa branca e papillon é contínua. Chegam à mesa, com bebidas, entradas e para o almoço, um enorme robalo assado. Servidos com champanhe nos flûtes, batemos e brindamos à aventura.
Pág. 163
Porque será que os ricos adoram champanhe? Qualquer copo d’água, jantar, ou cerimónia, este líquido dourado, borbulhante está sempre presente. Também gosto, mas não posso dar ao luxo destes gostos caros.
O cenário é idílico, cheio de raios de luz, a maresia do mediterrâneo e os diálogos de olhos penetrados um no outro.
Nunca, tive destas sensações, até o esqueleto fala, acho que tomei o comprimido da felicidade. Aliás, o comprimido és tu, mas fico a pensar que não serei o pássaro para a tua gaiola. És mulher de altos voos, uma vadia com asas, sexualmente rebelde, com demónios na carne, uma desvairada e rica. De certeza, que muitos homens deliraram ou foram submissos na tua cama, deves ser uma matadora de machos e nas cumplicidades proibidas giram muitas tempestades de masturbações.
- Estás pensativo querido.
- Estou, nunca vivi nada assim, és o céu, o paraíso e o inferno.
- Sou aquilo que ainda não viste, mas irás sentir.
As tuas palavras têm sempre um perfume misterioso, é como uma janela aberta à ilusão no horizonte.
Uma química eufórica, um sismo que abala, uma poesia aveludada, a teu lado o coração pula, o pénis rabeia num ardor malicioso. Estou vergado à sedução, és puro erotismo insano e agora estou em liberdade, sem algemas.
Levantas-te, vens na minha direção, os lábios beijam obscenidades, trincas-me a orelha e sussurras.
- Anda comigo.
Pág. 164
Dás-me a mão, está quente e sinto a sombra da alma a cores.
Chegados ao quarto.
- Vá veste este calção de banho, vamos à piscina.
- Piscina? A água vai estar fria.
- Achas? Comigo nada é frio, está sol e a piscina é aquecida.
Puxa, piscina aquecida, tens sempre tudo à grande.
Surges num curto bikini amarelo e aprecio as tatuagens, a rosa-negra e o diamante nas costas, enquanto penso nos significados que têm para ti.
Descemos as escadas e quando chego à piscina, fico mais uma vez surpreendido. Toda ladeada de velas acesas, parece um palco iluminado para receber os artistas, uma ilha iluminada por tochas com licença para amar.
Cada vez mais atraído e apaixonado, tudo que fazes por mais louco que seja, faz-me absorver vivamente por ti. Tens o dom de surpreender e deixas constantemente alguma coisa no ar e isso mexe comigo. Respiras loucuras, desvarios, sabes como fazer arrepiar e ao mesmo tempo emocionar. És uma droga, viciante, uma erva que se fuma, com vontade de aumentar a dose e variar a substância. Um charro, para de imediato ser cocaína. Fazes-me feliz, uma criança que entrou num carrossel mágico e quando dei por mim estava a corrupiar numa gigantesca montanha-russa.
Pág. 165
Mergulhamos na água tépida e afundamo-nos em abraços e beijos.
Junto às escadas, num tabuleiro, um balde com gelo e champanhe. Os flûtes, são constantemente elevados, esvaziados e soltamos sorrisos estridentes. Em cada mergulho, debaixo da água, aprecio o teu corpo, as pernas longas, morenas e os seios sempre sedutores.
Animado, extremamente feliz, com o sorriso aberto, solto um grito ao infinito.
Colados, em abraços apertados, os lábios tocam as peles ardentes e o ardor de estar na cama contigo invade-me.
- Vamos até ao quarto querida?
- Mon garanhão, estava a tardar o pedido, estás com o pau aceso desde que entramos na piscina e se não fosse a surpresa que tenho para ti, fodíamos aqui mesmo.
- Surpresa?
- Nunca sou pela metade, a vida é única querido Juan, anda.
Pág. 166
Perversão
O silêncio toma conta da intimidade, enquanto subimos os degraus em direção ao quarto. O teu olhar esconde algo, pressinto nele qualquer coisa, premeditada.
- Senta-te no lugar do cão.
- Sento-me na porta?
- Não, o lugar do cão é o sofá, mas tira o calção molhado, que já volto.
O sofá, o lugar do cão? Que quer dizer com isso? Será que vou ser o cão dela? Se for o caso com todo o gosto, vou babar aquela pele morena. Nu, sentado, numa espera demorada, surges surpreendente do closet, com uma roupa estapafúrdia e acendes rapidamente a faísca pelo feno.
Botas altas até ao joelho, calção reduzido, colado ao corpo, um pequeno top, umas luvas até ao cotovelo, tudo em pele preta, nas mãos umas algemas e um chicote. Ligas o som ambiente, mudas a iluminação, ficando apenas ligados os pequenos candeeiros nas paredes, fechas as cortinas e com uma voz erótica, dizes:
- Chegou a deusa Afrodite. Preparado?
- Sempre!
- Heheheh, tens sempre a mesma resposta e depois ficas de queixo caído.
As palavras simples, soam como pedradas no cérebro, fazes-me soltar um arrepio estranho, uma sensação que não consigo explicar.
Pág. 167
Uma serenidade estranha, desfeita pelo bater dos tacões e o chicote a vergastar nas botas, à medida que caminhas lentamente na minha direção. Todo nu, prendes-me os tornozelos aos pés do sofá e algemas as mãos, deixando-me totalmente à mercê. Passas a ponta maleável do chicote pelos meus lábios, desces pelo peito e dás umas suaves chibatadas no pénis.
Fonix, será que vou ser chicoteado? Não sei se foi boa ideia deixar-me algemar, é que nem consigo mover-me. Despertas-me o hipotálamo, entro numa espiral de fantasias sadomasoquistas, apenas visualizado nos filmes, mas estou atraído pela eventualidade da experiência.
Dás umas voltas, a cada passo bates mais forte com o chicote nas botas e movimentas o corpo com gestos insinuantes. Lambes o chicote, deslizas corporalmente as mãos enluvadas com volúpia e atiras uns olhares fulminantes.
De novo preso como um animal enjaulado, esfomeado pela presa, a babar e a ser consumido em lume brando.
Sem tirares os olhos de mim, abres uma gaveta da comoda, tiras uma pequena sineta dourada, de olhar fixo, provocante, elevas o braço e agitas a sineta.
Nem tenho tempo de questionar a mente, do porquê da sineta, que rapidamente obtenho a resposta.
Á porta do quarto surge um negro, cabeça rapada, cara serena, entroncado, musculado, alto, acima de um metro e noventa, com um calção preto, justo de latex, uma coleira ao pescoço e luvas brancas.
- Un esclave à votre comande Madame.
Pág. 168
Um escravo às suas ordens.
- Que é esta merda Monique?
- Chiuuuuu, meu querido, submisso.
A forma como mandas calar, deixa-me desconfortável, mas ao mesmo tempo intrigado e tento embarcar no devaneio. Como digo, a vida é única e, portanto, deve ser vivida.
- Viens esclave!
Soltas a ordem para o negro avançar, o meu corpo remexe, fico em pulgas, sem posição no sofá e aprisionado. Desconfortável, desconfiado, tento abrir a alma a novas vivências e por instantes, coloco a visão centrada no escravo. A imponência do corpo, os peitos musculados, os abdominais dignos de um atleta de alta competição, os braços fortes, e umas pernas longas. Mais perto de ti, mesmo defronte a mim, passas-lhe a ponta do chicote do mesmo jeito que fizeste a mim. Deslizas pelos lábios, pelo peito e dás pequenas chicotadas na zona genital e vejo o volume a crescer dentro do calção justo de latex. A cada toque da ponta do chicote mais ele cresce, fico boquiaberto com as proporções do pau do negro. Foda-se, para quem vangloria os meus dezoito centímetros, sinto-me pequenino. Raivento, a inveja, o ciúme, e outros sentimentos que não consigo explicar tomam conta do espírito. Será que este caralho vai foder a minha Monique? Tento reagir, numa estranha valentia e uma fogueira acesa sussurra os pensamentos: tem calma Juan.
Pág. 169
Bruscamente, esbofeteias o silêncio, bates mais forte com o chicote, no enorme volume do negro, que impávido, sem qualquer gesto de dor é chicoteado como Cristo na Via Sacra.
- Déjà à genoux esclave.
Com a voz ríspida, rude, dás ordens, obedece caindo de joelhos. Ousada, fixa em mim, amarras a coleira do negro e puxas atrás de ti como um cão até à cama. Sentada, com ele ajoelhado, abres as pernas, agarras-lhe a cabeça e encostas contra ti. Com as mãos a massajares sobre as costas entroncadas e as luvas brancas dele a deslizarem sobre as tuas coxas, recrias um digno show erótico.
Com a visão obtusa, tento soltar-me, respiro fundo, o ar bate forte dentro dos pulmões, as palavras gaguejam e com os neurónios a mancar, fico gélido como uma estátua grega. Esta gaja é louca e quer levar-me também à loucura. A envolvência entre os dois acentua-se e um dilúvio de medos esfaqueia-me a alma.
A levar fortes açoites no traseiro, lambe-te as botas, beija-te as coxas, desce-te o calção e retira-te o top. Toda nua na cama, subjugas o negro e a mim sentado no lugar do cão, deixando-me completamente absorto. Invadido por uma raiva misturada com desejo e ódio impregnado no tesão, um mesclado de sentimentos nunca vividos, arrebatam as células até ao tutano. A respiração, o coração, sentados lado a lado, viajam a alta velocidade de mãos dadas, golpeando-se.
Pág. 170
Que patifaria, que maneira bizarra de criar tentação. Mulher diabo, transbordas devaneios selvagens, levas-me para um labirinto cruel e sinto faíscas arranhar a cólera. Raivoso, neste jogo sexual sem regras, com as hormonas chocadas, o apetite pelo teu corpo é voraz. A adrenalina, o sangue quente, inunda o pecado, deixas-me louco, por foder-te, por rasgar cada orifício do prazer, de banhar-te em esperma. Como o cão, a ranger os dentes, com o piçalho pulsante, inebriado e a cada toque que ordenas ao negro, fico mais enlouquecido.
Agarrado pela cabeça, forças a lamber-te as zonas erógenas, ouço o splash’s da língua na humidade do clitóris ao som das chibatadas no rabo. Quase ausente de sentimentos, sou tomado por uma sensação de pena e projeto sussurros para o ego. Puta que pariu, é louca, vai traçar a pele toda do coitado. A raiva, vai sendo consumida pelo desejo brutal em foder-te, que nem ciúmes consigo sentir do negro, apenas compaixão. Os sons das lambidelas, do chicote, da música, as luzes semicerradas, o calor, tudo são ingredientes libidinosos. Os sinos do tesão, tocam cada vez mais arrebate, tomado pela obsessão e com o pénis esganiçado, prestes a arrebentar.
O negro abafado contra a vulva, os gemidos a esvoaçarem, soltas palavras histéricas e descompassadas.
- Vou, vou, vou vir-me toda, foda-se.
Gritas ruidosamente e soltas um orgasmo na boca do escravo.
De cabeça perdida, extasiado, com incêndio no corpo, num ato incondicional tenho uma ejaculação involuntária e o sémen é expelido num jorro enraivecido. Venho-me, sem ser tocado, aprisionado, apenas espicaçado pela visão dos atos.
Pág. 171
Bem se diz que todos somos santos até conhecermos a tentação.
O negro, traçado, abandona o quarto, sem ter efetivado uma penetração, enquanto ficas possessa a espernear na cama.
- Foda-se Monique, tu és mesmo crazy, totalmente doida!
- Achas? Heheheh…a missa ainda vai a meio, querido Juan!
Sempre que ouço essas coisas, sou tomado pelo pavor, mas o desejo da sobrevivência é uma forma de matar o tédio e estou completamente apaixonado.
Soltas as algemas, entrelaçamos as línguas num profundo beijo ardente e um apoderamento em foder-te como um cão rábido. A ânsia de possuir-te está trasvestida num misto de palpitações que não consigo definir numa palavra, nunca imaginei dividir-te, muito menos estar preso e a ver alguém a tocar-te. Foi algo demasiadamente forte e agora a disposição é foder-te e castigar-te.
Pego em ti ao colo, com as pernas enroscadas na minha cintura, com o sexo a sentir o cheiro da libido, levo-te para a cama. Caímos no colchão como corpos pesados, carregados de paixão e prontos a serem consumidos pela chama do prazer.
- Estás masoquista comigo, agora vais pagar e nem o cão vai salvar-te.
- Não? Tens a certeza? Max!
Num segundo o bicho irrompe pelo quarto, com o pelo todo de pé e a arreganhar os dentes.
Pág. 172
Dou um pulo no colchão, agarro-te por trás e faço de ti um escudo humano.
- Max, asseyez-vos, votre place!
À tua ordem o bicho corresponde com um salto para o sofá e senta-se numa pose de majestade.
- Foda-se, assim morro de ataque cardíaco!
- Eu não disse, que irias ter uma enorme cumplicidade com o Max e que ali era o lugar do cão?
- Verdade, mas agora manda o Max, embora.
- Achas? Não disseste que ias foder-me e castigar-me?
- Vou, mas o cão…
- Querido, esquece o cão, com ele a contemplar, vais foder-me com o dobro da adrenalina.
Mirabolante, és dona das fantasias mais absurdas, és mulher para congelar o inferno, comigo assistir.
De botas altas, nua, esticada sobre os lençóis de pernas abertas, deito-me sobre ti e enfio o mangalho duro, enquanto vejo nos olhos verdes, estampada a felicidade.
Em cada estocada, reviro sempre o olhar para o cão, que estático, permanece sentado e com os grandes olhos castanhos sobre nós. Que estará ele a pensar? Que sensações terá a ver-nos a foder? Serão os animais ciumentos? E, se ele se lembra de atacar-me?
Pág. 173
Lentamente, consigo abstrair-me do Max e torno-me impiedoso contigo, que transfigurada, gritas exageradamente. Com o sexo a escavar, os olhos a observarem de esguelha o cão, com receio que os gritos incitem a atacar-me, acabo por esporrar-me. Insatisfeita, abraças-me e fazes ninhos com a língua atrás das orelhas. Soltas gemidinhos, junto ao pescoço, lambes-me os lábios, o peito, rodopias pelo umbigo e abocanhas o membro desfalecido. Viras o corpo sobre mim, colocas os joelhos junto aos meus ombros e de pernas abertas, esfregas-me a vagina na cara. Através da emanação do grelo, com a mão num duelo simbiótico com a minha língua, tentas fazer renascer o marçapo e brindas-me com um orgasmo.
- Então fodilhão, desistes?
A pergunta é selvática, toca-me no orgulho, ecoa na inteligência fanatizada da excentricidade e aviva o troglodita adormecido.
Alienado, sem um pingo de raciocínio, coloco-me de pé, puxo-te rapidamente pelas botas e levo-te arrasto até junto do sofá. Obrigo-te à posição de quatro, agarro-te pelos cabelos, virada de frente para o dobermann e de forma afrontosa, olhos nos olhos com o cão, penetro-te o rabo. Soltas um ganido, mas o olhar do bicho é puro gelo, versus fogo nas minhas desafiadoras expressões. Gemes, como um cordeiro no sacrifício, como uma puta a ser dilacerada por vários clientes em simultâneo.
Enfurecido, sem controlo, entregue numa vitalidade impensável, num misto raiva e paixão, cravamos as paredes com gritos animalescos.
Pág. 174
- Vou vir-me todo!
- Também eu cabrão tesudo!
Com as pernas as bamboar, o coração a bater contra as costelas, a boca seca, o corpo transpirado, deixamos a carpete molhada pelos clímax’s.
Louca de satisfação, dás incessantes gargalhadas, em jeito de teres conquistado um troféu. Criaste um cenário, um ideal supremo, no leito, em que impuseste a criatividade na apetência sexual.
Deliciada com a situação engendrada e processada, continuas reptadora.
- As coisas que consigo provocar em ti, querido.
- Para ser sincero, nunca senti assim uma explosão dentro de mim.
- As emoções são tão violentas, que até afrontaste corajosamente o cão. A foder-me em frente a ele, a desafiá-lo, grande maluco!
Ofegantes, cansados, com os sorrisos de orelha a orelha, puxas-me diretamente para o duche, enquanto dás ordem ao Max para se retirar.
Retemperados, perfumados, pedes para abrir uma caixa grande das compras. Um fato preto, uma camisa branca, uma gravata azul, uns sapatos envernizados e uns botões de punho com diamantes.
Pág. 175
- Veste, vamos a um copo d’água de beneficência.
- Ui, assim, vou demasiadamente bonito querida Monique, olha que desta vez as beldades vão olhar de outra forma para mim.
- A ideia é essa, tenho amigas completamente taradas e vão morrer de ciúmes, heheheh.
No enorme closet, ajudas-me a vestir, peça por peça e ajeitas o laço da gravata.
Olho no espelho, um gentleman.
- Vai indo para baixo, espera na sala que vou vestir-me.
Lentamente, desço degrau a degrau, com a mão a deslizar pelo corrimão e os olhos a baterem cada detalhe da casa. Tudo com gosto, incrível, com ostentação e as perguntas assolam de novo os pensamentos. De que viverá ela? Copo d’água de beneficência? Esta mulher tem tantos mistérios como de milionária. As questões sobrepõem-se sem respostas aparentes, mas sem a ligeireza de alguma vez perguntar.
Vagueio pela sala, aprecio as telas nas paredes ao pormenor, os móveis, a enorme mesa de jantar, com doze cadeiras, tudo num estilo heteróclito. As janelas, o sol a trespassar, as carpetes, os castiçais nas paredes. Nem fico impaciente com a longa demora, deixo-me absorver pelas inúmeras peças de arte decorativas e pela imponência dos candeeiros.
A sala é apossada pelo aroma do perfume e surges no topo da escadaria, como se fosses fazer o filme a “Mulher fatal”.
Pág. 176
Sapato alto, tacão fininho, vestido preto decotado, um lenço preto, transparente sobre os ombros e uma clutch a condizer na cor. Os sapatos, a clutch e as pulseiras cravados de diamantes reluzentes.
Esta mulher é viciada em diamantes, deve ter uma coleção sem fim, até a tatuagem no fundo das costas é simbolizada num diamante.
- Uau, fogo, Monique estás simplesmente magnifica!
Desces as escadas em modo passerelle, com a cabeça erguida, o queixo levantado e um olhar facinoroso, enquanto reparo no diamante do colar ao pescoço.
Saímos de braço dado e cá fora o Bentley preto, de vidros escuros com o motorista à espera.
Sentados no banco de trás, o motorista, leva-nos diretos ao local do copo d’água de beneficência e fazemos a viagem tranquilamente.
Pág. 177
Leilão de beneficência
Chegamos, mas com aos vidros escurecidos do Bentley, apenas tenho pequenas perceções do espaço exterior. A passadeira vermelha, ladeada por mecos e correntes metálicas, direcionados ao enorme portão de entrada, dum palácio de enormíssima grandeza, com inúmeras janelas. Do lado esquerdo do palácio, uma torre a fazer lembrar um castelo medieval e o lado direito ladeado por um extenso jardim com árvores.
Recebidos ao som dos tambores da banda das forças policiais, fardados a rigor, na cabeça um género de capacete com as cores azul, vermelho e uns penachos brancos.
Nem nos sonhos de príncipes e princesas, imaginei estar num conto de fadas real, como este.
O frenesim, emboca diretamente ao majestoso portão de entrada do palácio, com a constante chegada de casais rigorosamente trajados e bombardeados pelos flaches das máquinas fotográficas. Um desfile para os paparazzi, com estilos snobes, peles morenas e as maquilhagens a demonstrar o quanto estão bem tratadas.
As mulheres, verdadeiras divas, desfilam como se tivessem ovos debaixo dos braços, com o nariz empinado e pejadas de vaidade. Eles, sorridentes, com gestos de cumprimentos e simpatia a cada casal que se cruza.
Demoramos até à entrada, paramos constantemente para mais uma foto, mais um flash, incrível.
Se o uso de máscara já estive imposto na europa, não tinha a possibilidade de ver as faces destas mulheres lindíssimas, algumas de idade avançada, ainda com aparência jovem, pelos rostos cirurgicamente retocados.
Pág. 178
Mas, não tardará muito tempo para que seja obrigatório o uso de máscara na europa, aliás em todo o mundo, pelo menos é nesse sentido as últimas recomendações da Organização Mundial de Saúde. E, isto não está nada fácil, cada vez mais mortes assombrar os seres humanos, principalmente em Itália e Espanha. Não vim para pensar em desgraças ou problemas da pandemia, vim para distrair, viver e quem tem medo de morrer não vive.
As pernas tremem, um suor estranho por dentro da camisa engomada, as mãos quentes, os olhos afetados pelos clarões das fotos e as maças do rosto ligeiramente ruborizadas.
- Tranquilo querido, respira fundo.
- Tento, mas…
- Estou curiosa pela reação das amigas invejosas, prepara-te que algumas são atrevidas.
- Pensei que neste paraíso de mulherada chique, fosses a única atrevida.
- Prepara ou tapa os ouvidos aos piropos na surdina.
Como sempre a Monique deixa insinuações no ar, perspetiva o próximo passo, nunca o desvenda. Uma coisa sei, para quem diz que não tem segredos, está carregada de mistérios e vem sempre algo surpreendente.
Parece que trespasso o portão da ilusão, um mundo faustoso, desconhecido para mim, mas muitas pobrezas de espírito devem habitar dentro destas cabeças pensantes dos abastados. Algumas devem ser amantes fantasiosas, ou acompanhantes de ocasião. Os sorrisos são abertos, embora sinta neles muita plasticidade e frieza de afetos, típico das pessoas poderosas.
Pág. 179
Encaminhados para uma sala magistral, com mesas redondas decoradas com várias iguarias, cada um serve-se de mesa em mesa, entre umas taças de vinho e champanhe. Mais uns cumprimentos, uns sorrisos, umas apresentações intercalado com o degustar do caviar e canapés.
Não sou conhecido de ninguém e talvez por isso pressinta os olhares, a recaírem fortemente sobre mim, quer pelos homens, quer pelas mulheres.
- Está ali a minha melhor amiga, vou apresentar-te, mas cuidado com a irreverência dela.
De braço dado, segues em direção a um casal, cuja mulher é de uma silhueta impressionante.
O brilho dos olhos, sobressai na postura corporal, com o sorriso aberto que quase abraça.
Pomposa, toda de vermelho, os cabelos negros, em cachos caídos, uns brincos grandes, pulseiras douradas e uns lábios sublimes.
- Ciao, Alessandra Bella.
- Ciao, cara amica Monique, como stai?
- Va bene, chi è questo bel ragazzo?
Não entendo o italiano, mas percebo que são palavras de cortesia e falou de mim, “ragazzo”.
- Juan, a Alessandra Bella, minha amiga italiana, Alessandra, vi presento Juan.
Pág. 180
Com gestos de cordialidade, trocamos uns olhares sedutores e uns leves beijinhos na face, enquanto soletra.
- Stare com Monique è perche hai sicuramente um buon fanculo. Mi piacerebbe farlo scattare.
- Que disse ela?
- Heheheheh, queres mesmo saber, querido?
- Claro que sim!
- Disse, que para estares comigo, só podes ter um bom caralho e que adorava conhecê-lo.
Corado, olho para ela com olhar malicioso, do tipo, se não estivesse com a Monique, engolias o “fanculo”. Atrevidamente bonita, a boca, a feição dos lábios, um verdadeiro oásis e muitas pilas devem suspirar por serem engolidas. Os lábios, grossos, retocados com botox, nota-se no volume deles, o contorno desenhado pelo bisturi dum cirurgião caro e não resisto à provocação.
- Tem lábios de broche!
Ela, com a boca enorme, solta umas gargalhadas que se ouvem pela sala.
- Broche, heheheh…
- Ups, percebeu o que eu disse?
- Claro querido, é italiana, mas palavras dessas são internacionais. As mulheres sabem bem o significado, somos terríveis, heheheheh.
Pág. 181
Embaraçado, com rubores nas faces, fico sem coragem para fitá-la de frente e tento puxar a Monique.
- Eu avisei querido, aqui as mulheres são serpentes tentadoras.
Quis ser engraçadinho e fiquei todo encaralhado.
Dirigidos para uma sala ampla, um género de anfiteatro, com várias passadeiras vermelhas, cadeiras de costas altas, almofadadas num veludo avermelhado. No topo da sala um palco montado, decorado com rosas brancas e por detrás uma enorme escadaria em pedra.
Empregados, trajados com fatos vermelhos, camisas e luvas brancas, encaminham os presentes para os lugares marcados.
Vinte e uma horas em ponto, ouço os sinos a tocar lá fora, e na sala surge uma banda a tocar trompetes.
- Juan, vai começar.
No patamar do topo da escadaria surge um casal, aparentam idade avançada, talvez os embaixadores deste evento de beneficência e batem-se os primeiros aplausos na sala.
Os trompetes aumentam o ritmo musical, a indicar que o próximo passo é o momento alto da noite. É, a entrada triunfal, com um forte aplauso de pé, à obra de arte, que será leiloada, empurrada num carrinho prateado.
Um corpo de mulher, esculpido em pedra calcária, nua e com asas de anjo. Magnifica peça, uma maravilha obra de arte e será leiloada à melhor oferta, sendo o dinheiro arrecadado para instituições de caridade.
Pág. 182
Este gesto gracioso, deixa-me sensibilizado, mas infelizmente não tenho bolso nem carteira para poder resgatar a peça. Nem faço ideia de quanto valerá e como sou homem de números, tento mentalmente dar um palpite. Talvez meio milhão de euros, será?
Os trompetes cessam e toma conta do vasto auditório um burburinho, que dá arrepios na barriga.
- Bonsoir mesdames et messieurs, bienvenue à la vente aux enchères caritative, nous vous souhaitons un moment unique et époustouflant pour votre générosité.
Percebo, que está a fazer a saudação de boas noites e agradecer a generosidade dos presentes.
Existe um certo nervosismo na sala, com os olhares expectantes a cruzarem-se entre os presentes e surgem novas perguntas dentro da cabeça.
Nem perguntei à Monique se vai licitar a obra, ou se viemos apenas para assistir e num ato irrefletido, levado pela emoção, encosto-me ao ouvido e pergunto.
- Vais licitar?
O silêncio é a tua resposta, apenas o movimento do dedo indicador sobre os lábios pintados a vermelho vivo e o brilho infinito na íris dos olhos verdes.
- Nous commencerons la vente aux enchères, pour un montante initial d’un million d’euros.
Pág. 183
Para início de licitação um milhão de euros? Fogo, o dobro do meu palpite para o valor final da peça, realmente um mundo totalmente diferente daquele que vivo e da maioria dos seres humanos. Que planeta cheio de desigualdades, uns nem para comer têm, outros glorificam-se com leilões de peças imateriais aos milhões. Mas neste caso, existe gente rica e com bom coração, para estar a leiloar verbas exorbitantes em atos de beneficência.
Estou expectante.
As licitações iniciam-se em catadupa, vão subindo em parcelas de duzentos mil de cada vez. Facilmente chega aos dois milhões e os arrepios na barriga são mais fustigantes pela excitação.
Os cavalheiros continuam numa disputa entre eles, agora com intervalos nas votações superiores, dois milhões e duzentos, ali, dois milhões e quatrocentos para aquele senhor ao fundo da sala. Sentado na fila da frente, estico o pescoço e tento ver o individuo que licitou. O ricaço, pela aparência um trintão, com o sorriso orgulhoso estampado no rosto e o cabelo colado pelo gel.
Mais um braço no ar, dois milhões seiscentos para ali, três milhões para acolá.
Os “ais” semicerrados vão surgindo na sala, um bulício entre os presentes, com trocas de olhares entre eles e um frenesim de vaidades. É como um jogo de poder, uma sede de ostentação, que se iniciou e ninguém quer dar por perdido o pundonor próprio.
Pág. 184
A licitação é agora uma batalha acesa entre dois cavalheiros, o “lambidinho de gel” lá do fundo da sala e o cavalheiro de idade avançada na fila atrás de nós. Um ping-pong de euros a esvoaçarem pelo ar, uma disputa dum troféu como se de uma batalha se tratasse. Gladiam-se com votações de milhões, por uma causa digna, mas que resplandece quase uma guerra muito pessoal.
Continuas impávida, serena, sentada a meu lado, com o olhar penetrante no vazio, pareces até distante de tudo que nos rodeia e tento extrair-te um sorriso, com um sinal de beijo pelo gesto labial. Apenas piscas o olho e continuas embebida na atmosfera deste espetáculo leiloeiro.
As licitações batem-se com a fasquia a parar nos quatro milhões. O leiloeiro, dá um tempo de espera e grita forte no micro.
- Cést quatre millions pour le monsier au fond de la salle, quatre millions un, quatre millions deux...
Pelo tom de voz ameaça fechar a licitação em quatro milhões.
Olho para o idoso atrás de nós, sinto nos olhos dele o espírito guerreiro, um homem que não gosta de perder um combate e reage.
- Cinq millions!
A sala reage com uma enorme salva de palmas e com os rostos surpresos a olharem-se mutuamente entre os presentes.
Pág. 185
O silêncio regressa e o leiloeiro continua na expectativa de mais uma licitação. Dá algum tempo aos presentes, quase numa homilia, explica novamente que o valor arrecadado é para fins de caridade, para beneficência de pessoas carenciadas. Tenta tocar corações, tocar na honradez dos milionários presentes, mas o silencio mantêm-se. Viro a cabeça e tento olhar o trintão, mas pelo semblante, denoto que se deu por vencido.
O leiloeiro, volta às palavras.
- Cinq millions un, cinq millions deux…
E, antes de conseguir dizer, cinco milhões, três, levantas a mão e proferes:
- Six millions!
Na sala por uns segundos, impera a mudez, que precipitadamente, num ato incondicional em uníssono, os presentes elevam-se das cadeiras e entusiasticamente aplaudem de pé.
Arrebatador, sem reação, sentado, com o rabo colado na cadeira, perplexo com atua atitude, a pele de galinha alastra-se pelo corpo.
Tento reagir, levanto-me e bato palmas como se tratasse de um golo do clube que amo. Os aplausos não param, os sorrisos esvoaçam nos rostos, e a estupefação toma conta da plateia.
- Six millions une, six millions deux, six millions trois. Fermé!
Ouço o sujeito dizer, leilão fechado, a obra de arte licitada é para a madame Loren Monique. Pálido, boquiaberto, olho para ti e continuas tranquila, enquanto o meu coração pula desmedidamente.
Pág. 186
Com as atenções todas a recaírem sobre nós, somos engolidos, com cumprimentos efusivos, sorrisos de afeto e ninguém sai da sala sem fazer-te uma vénia.
Sais à minha frente, abraçada pela Alessandra Bella, trocais umas palavras ao ouvido, uma confissão mútua, talvez uma congratulação mais íntima entre duas amigas.
Regressamos no Bentley, numa viagem inicialmente feita de bocas fechadas e de mãos dadas no banco traseiro.
Os pensamentos esmagam-se e nos circuitos nervosos do cérebro as questões aglomeram-se. Como é possível alguém dar seis milhões desta forma quase leviana para beneficência? Como consegues ter tanto dinheiro? Para dar este balúrdio, tens muitos milhões. Não és milionária és de certeza multimilionária. De que viverás? Qual a origem desta fortuna toda? Tão jovem e com tanto dinheiro, terá sido herdado? Só pode ser herança, deves ter uns pais riquíssimos.
Tantas coisas que nunca perguntei, também nunca falaste nada sobre o assunto, sobre a família, nada. Esquece Juan, tranca os pensamentos dentro de um cofre, vive, sente e sê feliz.
- Que noite arrebatadora, Monique.
- E, não terminou querido, hoje ainda haverá inopinadas e agradáveis surpresas.
Pág. 187
O dia foi demolidor, mas as tuas frases deixam sempre algo por explicar, é como uma queda livre num abismo de olhos vendados. Asfixias sempre a respiração com charadas, com respostas que deixam rastros de sombras do diabo a pairar sobre a mente. Tens dentro de ti, um inferno de loucuras a arder constantemente, o corpo baloiça empurrado pelo belzebu e a alma ama escravizar os santos. Fazes estremecer a paixão, quebras regras, equacionas a cada minuto tempestades de prazeres, alimentas o corpo com heresias. Imoral, selvagem, um lado obsceno, possuído pelo demónio, mas essa libertinagem voraz deixa-me um pato bravo, um apaixonado sem limites.
Olhas para mim, sentes o quanto estou nostálgico, tens noção que me senti um peixe fora d’água neste mundo ilusório para pessoas como eu, simples.
Beijas-me, desapertas a gravata, os botões da camisa, abres o zip das calças e deixas-me atrapalhado com a presença do motorista. Sem pudores, tomas as rédeas, soltas o pénis esmorecido e abocas. Tímido, ainda lanço um olhar para o espelho retrovisor para ver se o motorista está a observar-nos, mas acabo por fechar os olhos, pensativo apenas no prazer momentâneo. A boca afável, a língua apertar o membro em contrações contra o céu da boca, a saliva a escorregar pelo toro, leva-me a uma ejaculação rápida. Engoles, passas os dedos nos pingos dos lábios e sorves a última gota, enquanto deitas um olhar maquiavelista. Solto uns bafos ofegantes, contorço o corpo no assento e deixo-me viajar nos fetiches estratosféricos que reinventas.
Pág. 188
Depravação
Chegamos, o chofer abre-nos a porta e acanhado, nem fito o olhar nele. Puxas-me pelo braço de forma apressada e vamos sem desvios, diretos para o quarto. Levo na imaginação, que porventura terei novos sobressaltos, julgo que o broche no banco traseiro do carro, não seja propriamente as inopinadas e agradáveis surpresas.
Ligas o som, músicas dignas de salões eróticos, acendes as luzes da casa de banho e levas-me para debaixo do chuveiro.
A água a bater, os beijos molhados, as línguas a serpentear dentro das bocas, as mãos meliantes a roubar arrepios, a obsessão doentia na busca do prazer, encarna num palco de preliminares prolongados.
Saímos do chuveiro, nem deixas limpar o corpo molhado, sentas-me na cama encostado à cabeceira, desligas todas as luzes e ligas apenas umas fitas de led que se escondem debaixo da cama.
Um cenário, acolhedor, diferente, onde a cama sobressai pelo jogo de luzes.
Abres uma gaveta, retiras três objetos, duas algemas e uma venda.
Só podes ter fetiches com as algemas, ou então tens um gostinho especial em amarrar-me e escravizar-me às tuas doidices. Tens inscrito no olhar, a depravação do desejo pela dominação, pela perversão sexual e algemas-me as mãos e pernas à cama. Olho o espelho no teto, sobre a cama, vejo o reflexo de cristo crucificado na cruz, só que de pernas abertas e iluminado em redor.
Pág. 189
- Pensativo querido?
- Nem sei o que diga Monique, fazes de mim um submisso, essa mente é um poço de mistérios.
- Relaxa, não vou chamar o cão, mas vou jogar uma bomba no teu colo a ver se consegues desarmá-la, heheheheh.
- Uma bomba? Que vais fazer?
- Heheheheh, apenas vou vendar-te, respira fundo, sente, delicia-te e goza.
O escuro abraça a visão, o corpo aprisionado, o coração arquejante e os lábios a ficarem secos. Os tímpanos são espicaçados pela música alta, as narinas pelo perfume, a escuridão a devassar a lucidez e a incerteza entranhada no espírito.
O tempo martela, à espera de algo inesperado e impera a sensação estranha de valentia.
- Estás aí, Monique?
Nada, somente a musicalidade repleta de erotismo digna das danças de varão.
Amarrado, vendado, subjugado à imaginação maquiavélica, com os minutos a passar, como um desafio, uma prova à minha resistência psicológica.
Os minutos passam, não tenho mais nada para além da musicalidade e o corpo ansioso. Nisto, um baloiçar no colchão, umas mãos tocam-me os pés, acariciam suavemente, deslizam sobre as pernas, em simultâneo com a ponta da língua. Suspiro fundo, de alívio, com a pulsação a voltar à normalidade e os pés a serem beijados.
Pág. 190
Chupas-me os dedos dos pés, numa adoração, não consigo ouvir-te respirar, a música abafa, mas sinto a delicadeza nos membros inferiores. A língua paulatinamente, viaja aleatoriamente pelas pernas, a humidade em cada poro, o bafo quente da respiração até adornares a zona das virilhas. Rodopias na genitália, como se os colhões fossem uma rotunda, arrepio, contorço o corpo sobre os lençóis e solto suaves gemidos. Sem contar, a boca atirara-se aos sacos genitais, a sucção da boca, o engolir bola a bola, até conseguires a proeza em abocar as duas em simultâneo. Uma dor invade o ventre, um grito solta-se no ar, uma dança imaginária num poço de mistérios. Tens licença aberta, lambes os testículos, os dedos dedilham a barriga, o peito, o pescoço, os lábios e enfias-mos na goela. Com a boca seca, tento salivar, esfregas pelos lábios, humedeces e voltas a infiltrá-los. Sem descuidares a mestria ao escroto, pincelas o peito, o pescoço e devolve-os à humidade bocal. Cada vez mais quente, entesuado, com a energia sexual a fervilhar, com fome de dominar, sinto-me um cordeiro no matadouro. Preso, sacrificado aos prazeres alheios, submisso até à exaustão, os dedos cruzam todo o tronco, agora bem juntos da boca na adoração genital e deslocam-se para o rabo. Tocas-me o ânus, aperto as nádegas, mas de pouco vale, o dedo salivado, humedecido, apodera-se do esfíncter apertado. Solto um grito, mas rapidamente é abafado pelos segredos da boca a engolir sem caridade o másculo membro. Cravas outro dedo, uma sensação estranha, o toque na próstata e apossado por um tesão, nunca antes sentido. Brutal sensação, os dedos a tocarem a glândula, o membro vilipendiado pela cavidade bocal e o coração a bater a mil. Sempre ouvi dizer que um broche com o dedo a tocar a próstata era algo alucinogénico e nunca tinha experimentado. Pressionas os dedos, lambuzas o cacete sem perdão, com pouca folga das algemas, tento fazer pequenos movimentos corporais e solto gritos de jubilação.
Pág. 191
- Foda-se Monique, és incrível!
A resposta, é curta e bate com estrondo.
- Achas?
Um nó cego na cabeça, um terramoto que abala da ponta dos pés à cabeça e sem raciocínio, questiono a minha racionalidade.
Como pode estar a chupar-me e ao mesmo tempo falar-me ao ouvido?
O vergalho absorvido e simultaneamente as orelhas a serem devoradas por um ciclone de dentadas, deixa-me assombrado e retiras-me a venda dos olhos.
Incrédulo, temerosamente assustado vejo que estou numa profecia vadia, a coreografar num cenário pornográfico com duas donzelas famintas.
- Alessandra Bella?
As respostas não existem e os atos continuam.
É a italiana devota à piça, com a boca brochista, de lábios carnudos a derreter as ereções, com os dedos enfiados no meu rabo virgem e a Monique a triturar-me as orelhas.
- Que é esta merda Monique? Que significa isto?
Pág. 192
Não sai uma única palavra, as bocas estão ocupadas na envolvência salivar e nos gemidinhos. Tresloucadas, nos olhares, estais transfiguradas em putéfias indecorosas, duas fodilhonas famélicas. Os sensores neuronais faíscam dentro da cabeça, as hormonas do prazer fervilham e deixo-me capturar pela insanidade.
Com os pudores morais derrotados, entro na conspurcada aventura e tento ser o Fénix renascido das cinzas, no antro das perversidades. Afinal de contas, no copo d’água, desejei a boca da italiana, desta puta gulosa.
Hipnotizado, engolido pelo regalo das duas divas, deixo fluir a libidinagem sem tabus e uso um vernáculo emporcalhado.
- Isso puta italiana, chupa, não querias um piçalho grosso? Chupa rameira! Mostra que valeu a pena retocar esses lábios de broche.
A música absorve as palavras, de pouco vale falar, não sabe português e o que interessa agora é a recriação.
Sou levado pelo lado criativo, pelos reflexos no espelho no teto, pelas sensações da destreza, o laborar incansável, na forma árdua na sarda dura. Anestesiado, envolvido numa praxe de prazeres, numa oferenda sacrificada para os deuses do deboche, estou prestes a explodir. Faz uma garganta funda, não consigo conter-me, jorro a lava espermática na boca da Alessandra, enquanto solto grunhidos e estrebucho o corpo aprisionado.
É surreal, a vadiagem, a putaria das duas, alucinadas e a folia como soltam gargalhadas triunfantes.
Pág. 193
Partilham o esperma num exorbitante beijo, os lábios molhados, o sémen a ser devorado, parecem cadelas a beber o sangue da vítima. É isso que por instantes, sinto, uma vítima, um calhorda nas mãos de taradas endiabradas. Com os soluços entalados, ultrapassei a fronteira da tentação e agora nem o diabo conseguirá reprimir-me.
De espírito livre, contaminado pela obsessão, vendido ao demónio, com uma vontade feroz em foder as duas, em castigar cada orifício, quero fazê-las gemer como vacas no açougue.
- Solta-me, Monique! Tira as algemas deste brutamontes bárbaro. Vou foder-vos!
Envolvidas, nem olhais para mim e iniciais cultos sexuais. Esbracejo, esperneio, torço o corpo, mas não consigo soltar-me das amarras. Juntas a mim, deitadas na posição sessenta e nove, dais asas às línguas na perversão mútua dos clitóris. As conas chafurdadas pela sagacidade das taramelas, os seios amassados pelos dedos e enquanto a minha mente entra num vazio ilimitado.
Numa resistência heroica, ignorado, embora saiba que não é esse o objetivo que pretendes, muito menos menosprezar-me, mas simplesmente envolver-me e deixar-me loucamente viciado em ti. É pela tua louca maneira de ser, que queres ver-me enrolado e atraído.
Pág. 194
Os ganidos acentuam-se, uma orquestra de gemidos, numa luta de lobas ciosas, uma batalha campal até que, alcançais a água santa, em múltiplos orgasmos. Com a boca ensopada, beijas-me e a Alessandra esfrega em mim a coninha alagada. Um paralelismo labial, os teus lábios e os lábios vaginais dela, em alternância na boca. Ela, inconformada, indecente, atrita com fulgor dos dedos no clitóris, consolida a vitalidade, da minha língua no epicentro da vagina e brinda-me com um orgasmo cheio de vivacidade. Por fim, vens tu e matas o resto da sede com a gosma salivada.
Transpirados, extenuados, com a pulsação energicamente agitada, originamos um lago de eflúvios na cama.
Abraçadas, triunfantes, comigo ainda algemado, fico perplexo e desiludido com o gesto da mão da Alessandra, acenar num sinal de adeus e a retirada do quarto. Estava convencido que ia fodê-la, que ia mostrar-lhe porque apelidam o português de “piça d’aço”.
- Querias fodê-la, pois, mas nada de penetrações alheias querido Juan. Sou pirada, atrevida, mas nunca aceitaria uma penetração tua em alguém, também não o faço.
- Tu és mais que pirada, és louca, consegues levar-me aos limites do estado de coma.
- Sou insaciável, isso sim. Acalma-te, descansa esse animal aprisionado, que vou abrir as algemas.
Pág. 195
Atordoado pela vassalagem das duas apreciáveis belezas, ainda com vibrações enérgicas no corpo, não tenho adjetivos para explicar o que sinto. Num minuto o encéfalo viaja de forma eletrizante pelo asfalto do pecado e pela louca experiência com a italiana. Aquela boca, a forma persecutória como rodopiava na glande, a reciprocidade da língua no pegajoso clitóris, que romance mágico.
Não posso deixar a ilusão tomar conta de mim, é pela Monique que estou apaixonado, a cumplicidade e os laços de amizade, ficaram ainda mais consolidados e fortalecidos.
Amamos a vida, posso ser o fósforo, mas tu és o rastilho e a pólvora.
- Alô, onde anda essa imaginação querido? Já estás desalgemado e ficas assim com olhinhos de carneirinho meio morto? A pensar na Alessandra Bella?
- Nada disso querida, apenas moribundo pela emoção, pelo ímpeto. Tu recrias cenas alucinantes e esta foi a êxtase total.
- Cuidado, que podem vir outras surpresas.
Nem penso, abraço-te, com os corpos colados, a escorrerem suor, debruço-me sobre ti e fito profundamente os olhos verdes. Neles, está maculada a essência da tua existência, a energia, os sonhos, a perseverança, a excentricidade, o exagero, tudo. Também estás a fitar-me a íris, e na cor castanho-escura, talvez consigas ler no brilho, o quanto estou apaixonado por ti.
Pág. 196
- Por favor, faz amor comigo.
Nunca usaste a palavra amor. Arrepio por dentro, abano num calor húmido que invade a alma e com destreza faço escorregar vagarosamente o barrote teso na cavidade ardente. Com o corpo a vacilar, sinto que é a primeira vez que fazes verdadeiramente amor comigo. A cinesia dos ósculos, as oscilações corporais, as cadências dos sexos grudados, são novas sensações, íntimas e profundas, de afeto.
Os cinco sentidos fundem-se num só sentimento, o amor e passamos a noite num glamour intenso até adormecermos agarrados pelo sonho.
Pág. 197
Memórias
Como um imperador, glorioso pelo patriotismo, no refúgio do berço devassado, sonho, com o espírito palpitante e fantasias graciosas. É a preto e branco, sem cores como a vida real, mas é como um filme de amor cego, um fogo angelical, que fervilha na sensibilidade romântica. Apenas nós dois, num deserto amoroso, rendidos ao fascínio, à cortesia cristalina das nossas almas num silêncio infinito. Parecemos borboletas divinas, com asas imponentes a palmilhar os céus, em voos viçosos de felicidade. Apenas um sonho, na consciência dormente do sono, ilusões da idolatria dos pensamentos a uma mulher que invadiu a minha vida. Vives e convives dentro de mim, a cada segundo, mesmo enquanto durmo. A audácia do subconsciente, mesmo no estado de estagnação noturna, recria as depravações, as penetrações, com imensa afetividade. O pulsar das contrações vaginais, os gemidos desavergonhados, a magnitude das marcas carnais, são sinais deixados no batismo sexual. Bem se diz que até a dormir somos generosos sonhadores, muitas das vezes com cenas cheias de paralelismo com o nosso quotidiano. Parece que sinto cada detalhe, cada toque, cada façanha das investidas, com a diferença que no sonho és um anjo e na realidade uma serpente diabólica. A dormir não tenho consciência dos episódios, da enxurrada de adrenalinas emotivas, dos glutões esganiçados libertos nos orgasmos, nem dos fluxos das salivas incutidas pelos ósculos inflamados.
Iludido pelo coração, com a alma rasgada pelo gume da paixão, contemplo um mundo de agitações, ébrio pelo feitiço do amor. Um anjo no paraíso, enlouquecido pelas flechas disparadas do inferno, onde tu és a encarnação de lúcifer.
Pág. 198
Acordo lentamente, pensativo, sem discernimento na razão, sem distinguir o trigo do joio, a realidade ou irrealidade. Os odores, o calor vulcânico, os suores, estão presentes nos lençóis, sinto tudo na ternura do tato pelas pontas dos dedos na cama. Ela, é a estrada do pecado, onde jogamos jogos sem regras, julgados pelos juízes das confissões e atiçados pelo desnorte total da submissão. O coração está quente, uma lava envolve-o numa carapaça, as emoções viajam continuamente na montanha-russa e os olhos tentam abrir-se para a luz ténue dos candeeiros. Aos poucos, a mente, fica cristalina na lucidez e o corpo gesticula movimentos a recitar o prefácio para mais um dia. Com os sininhos ligados nas mãos, tateio o sudário, em busca do teu corpo, mas apenas encontro falésias da solidão.
Não estás na cama, apenas tenho a companhia do maestro a embalar a sinfonia no rádio, talvez tenhas deixado ligado para baloiçar o pendulo do coração.
Penso chamar-te, mas lembro-me bem do dia anterior, do susto do aparecimento do dobermann, foi como uma catana castradora a deixar-me os pulmões sem ar.
Espreito no wc, na porta do quarto, na varanda, nenhum sinal de ti nem do cão desta vez. Esta mulher evapora-se e deixa-me outra vez sozinho no quarto. Desta vez tenho a bateria do telemóvel carregada, ligo, mas o sinal é de desligado ou sem rede.
Com tranquilidade exterior, um moinho de sentimentos ferozes no íntimo, abro a torneira e descarrego a água quente pela epiderme. Deixo-me estar entregue ao prazer do duche, com os raciocínios acordados numa mescla de reflexões desde o primeiro dia que te vi nas Ilhas Fiji.
Pág. 199
A corada com classe, a silhueta corporal, a beleza fascinante e o sorriso cativante. Tudo em ti parecia pureza, olhar angelical, uma produtora de afetos, uma rainha de sonhos. Depois, abriu-se a boutique dos desejos e tudo que tocavas eram episódios surpreendentes. Aventureira, a artista efusiva de ousadias, que em cada loucura produzida é um prémio à satisfação do egotismo. Os seios, a imponência deles, o fervilhar dos bicos sempre ávidos por carícias atrevidas. O olhar, intenso, provocador, profana o mais gigantesco dos másculos. As pernas, longas, morenas, bem torneadas, deixam pegadas para os sonhos dos masculinos rastejarem. O traseiro, faz perder a cabeça ao homem mais puro, até os santos adorariam acariciá-lo e sentirem o gatinho da excitação disparar. Muitos machos que ousem desejá-la, devem ser obrigados a colocarem os tintins nas águas geladas para acalmarem. Ainda lembro, quando inaugurei aquele corpo selvagem, parecia um artista em frente a uma tela virgem, com os pincéis nas mãos. Cortaste a respiração, com a sensualidade arrasadora, o furor dos delírios nas estocadas, que provocaram o aquecimento global do meu sexo impregnado pelos pegajosos clímax’s. Uma diva, uma embaixadora da cumplicidade, um miradouro dos sonhos, para a minha alma que andava envelhecida. Inspiras magia, ereções esfuziantes, um catálogo de prazeres, que a ilha dos amores abriu ao postigo dos sonhos. Nunca na vida esquecerei os pormenores, as peças de vestuário íntimas, os seus odores, a abrangência da chama pela extravagância da exposição física. Os decotes dos vestidos, a sofisticada e inimitável imaginação fértil, a voz macia, os perfumes que abrem as portas da sedução pelo cheiro.
A água escorre, os vapores embaciam os espelhos da casa de banho e os pensamentos continuam a transladar para o paraíso dos estímulos.
Pág. 200
Talvez tenha sido Deus que disse, esta é a nomeada.
Se o foi, bendito sejas, porque com ela abraço a loucura sem complexos, disfruto dos bónus de gozo nas páginas da vida. Ela, é um choque térmico, uma bomba-relógio prestes a implodir, uma energia sem limites, uma droga sofisticada que alucina. Existem palavras, mas também palavrões, existem sussurros, mas também gritos extasiantes, difícil é ser uma mulher de meios termos. O corpo manteiga que derrete pelos suores da lascívia, um sexo que vocifera orgasmos como as cataratas do Niágara.
Não falo sozinho, porque sinto o piscar de tesão, o sexo, parece que ouve, mas apenas sente, adora canções de embalar e corridas imorais, sempre foi um pecador confesso.
O tempo passa e não surges.
Estranho esta ausência, na segunda manhã seguida, bem sei que ontem foste às compras, presenteaste-me com roupas chiques e caras. Hoje não sei, também não és mulher de dar satisfações, tens o ego abrigado por uma fortaleza. Tentas demonstrar que és forte, segura, mas no fundo tens muita doçura e delicadeza.
No silêncio da meditação, parece que ouço alguém a bater. Não ligo, mantenho o corpo debaixo da água quente, mas agora o batimento é mais forte e audível. Enrolo o toalhão na cintura, espreito na porta da casa de banho e está um empregado à porta do quarto.
Pág. 201
- Excusez-moi monsieur, madame est partie très tôt et a demandè à vous donner cette enveloppe.
Respondo com um merci.
Saiu cedo e deixou um envelope para mim? Mais um festival de surpresas? Ou uma fábrica de novos fétiches?
Abro o envelope, a chave do Mercedes AMG GT R e um bilhete:
“Querido, tens roupas novas no guarda fatos, tive de sair para tratar de assuntos inadiáveis e não sei quanto tempo vou estar ausente. Não precisas ligar-me, estou ótima e aproveita a chave que deixo para sentires o relinchar dos quinhentos e oitenta e cinco cavalos de potência”.
Esta mulher tem sempre assuntos improrrogáveis, sempre mistérios nas conversas. Bem, pelo menos deixou a chave do Mercedes, uma bomba que vou ter o prazer de conduzir.
No armário, as roupas, todas de marca, foram compradas ontem de manhã e pela quantidade, deve pensar que vou ficar aqui toda a vida. Vou vestir algo informal, talvez estas calças de ganga Levi’s, o polo Fred Perry e os ténis Valentino. Deito sobre mim o perfume oferecido por ela, gosto imenso deste cheirinho, Carolina Herrera, Bad Boy, até o design do frasco é atraente. Calças ganga azul-escuro, o polo num azul forte e os ténis brancos, com uma faixa preta e as iniciais LV. Vejo-me ao espelho e dou os últimos retoques.
Pág. 202
Solidão
Dou à chave na ignição, com pequenas calcadelas no pedal do acelerador e ouço a vitalidade do motor a grunhir.
Os portões abrem-se e saio ao volante do Mercedes preto, recostado no banco, com o som a roncar pelos escapes. A rua de acesso é relativamente estreita, com os muros altos a ladear e as árvores dos jardins das casas luxuosas. Fico indeciso se viro à esquerda, para Nice ou se à direita para Mónaco. Tenho uma certa curiosidade em conhecer os dois locais, já lá estive, mas em cada um deles era noite. Gosto de apreciar os locais por onde viajo, ver os monumentos, sentir o pulsar da história e comprar uns souvenires. Em cada lugar que visito compro sempre um porta-chaves, é um objeto pequeno, por norma barato e existem milhões diferenciados.
Chego ao cruzamento da decisão e viro na M225, para Nice. Uma estrada relativamente estreita, podia ir pela auto estrada M6098, mas assim faço a viagem pela marginal e admiro toda a paisagem do mediterrâneo. Quanto não vale o GPS, antigamente era com o mapa em papel na mão e agora mesmo sem conhecer nada chegamos facilmente onde desejamos. Por esta estrada nacional, aproveito para habituar-me à máquina que tenho nas mãos. Nunca conduzi um bicho destes.
Á medida que avanço, leio no GPS, os nomes dos locais por onde passo e os locais de interesse pela zona. Constato, que há algum tempo, vem uma viatura preta, atrás de mim, por instantes, passa-me pela cabeça que estou a ser seguido.
Contorno o Parc du Mont Boron, à minha direita e à esquerda o mediterrâneo a sorrir para mim. O dia está lindo, com o sol a brilhar, embora com uma brisa fresca, propiciada pelo ventinho.
Pág. 203
Já no Port de Nice Lympia, estaciono no Parking du Phare, numa zona extremamente aprazível. Que bonita, a marina com veleiros enormes e muitas casas construídas pela encosta da Coline du Château. Fico a imaginar como será este local nos dias de verão, sem pandemia, de certeza com os passeios da marginal carregados de gente e a ciclovia movimentada pelas bicicletas. Plage Public d’ Opera, pena esta praia ter pouca areia, cheia de calhaus, pedras pequenas, não gosto de praias assim, sou amante das praias com areia fina e com ondas a bater forte. De óculos Ray Ban, tipo aviador, azul forte, observo tudo em redor e de forma discreta vejo a viatura preta a estacionar também no mesmo parque. Um Audi Q7, com vidros escurecidos e de onde saem dois indivíduos, de fato preto e óculos escuros. Talvez esteja a ver filmes de ação, com perseguições, até porque não sou conhecido de ninguém e estou muito longe do habitat natural.
Sento-me numa esplanada para comer algo, ainda estou em jejum e bebo um sumo de maracujá fresco, intercalado com um croissant, coberto de amêndoa e recheado de creme.
Trafico memórias, dos últimos dias, que têm sido apaixonantes e se pudesse escolher esta vida, nem em sonhos. Ela, fascina-me, embora tenha desaparecido novamente, mas sinto-me atraído por tudo que a envolve e sem ela, resta-me esta chave poderosa na mão. Dou mais uns pequenos passeios a pé, para depois voar até Mónaco pela auto estrada e sentir nas mãos ao volante as vibrações enfurecidas do Mercedes.
No telemóvel, acedo ao Google e faço pesquisa dos pontos turísticos de Nice.
Pág. 204
São vários os locais de interesse para visitar, que surgem no ecrã do Samsung: Promenade des Anglais, Cours Saleya, Porto de Nice, Centro Histórico (Vieux Nice), Parc de la Colline du Château, Place Garibaldi, Place Massena, Musée Matisse, Notre-Dame de Nice, Catedral Ortodoxa de Nice, Ruínas Romanas (Thermes de Cimiez), Museu de Arte Moderna, Jardin Albert 1er. Esta cidade é a quinta mais populosa da França e é a capital do departamento dos Alpes Marítimos. Tem cerca de um milhão de habitantes, está localizada nesta linda zona da Côte d’ Azur, costa azul na sua tradução. Pudera, com este azulado todo na imensidão, oferecido pelo mediterrâneo. Depois tem a vantagem da proximidade ao Principado de Mónaco, onde habitam os homens ricos. Tem muitas ruas estreitas, a parte antiga da cidade, a beleza natural e o seu clima chamou a atenção das classes abastadas da Inglaterra na segunda metade do século XVIII. O ar claro e a luz suave também atraíram a esta zona alguns pintores da cultura ocidental, como Marc Chagall, Henri Matisse, Nike de Saint Phalle e Arman. É uma das cidades mais visitadas, recebendo cerca de quatro milhões de turistas todos os anos. Este este ano com a pandemia, devem sentir na pele a falta do turismo, com certeza uma desgraça financeira para a região.
Gosto de saber estas coisas, as tradições, as culturas, os hábitos das pessoas, sempre fui um amante da história. Por vezes dou comigo a pensar se não tirasse o curso de economia e finanças tinha tirado, história.
Pág. 205
Percorro uns bons quilómetros a pé, a cidade é enorme, entro e saio em várias lojas e compro um porta-chaves muito giro, preto, com o feitio de uma chave, com um canivete camuflado e a palavra Nice, gravada. De regresso ao parque, verifico que o Audi Q7, ainda se encontra estacionado no mesmo local, dou uma olhada e não vejo sinal dos dois sujeitos. Mais, umas voltas pelas ruas, com a sensação que todo o mundo olha para mim, também não é para menos, este Mercedes não passa nada despercebido.
Entro na auto estrada M6098, carrego bruscamente no acelerador com o pé direito e sinto o vibrar dentro do peito, até arrepio com a facilidade que chega aos cem quilómetros hora, em três segundos. Ultrapassar os duzentos foi uma questão de mais uns breves segundos e excedo a fronteira dos trezentos. Loucura, diabólica a potência do motor, o roncar, a forma feroz como galga o asfalto é verdadeiramente exuberante. Poderosa a adrenalina a correr nas veias, os pulmões a encherem e a esvaziar o oxigénio aos soluços é brutal. Afrouxo a pressão no pedal, deixo-me ir numa velocidade certa de duzentos à hora e rapidamente entro no Mónaco.
Quase treze horas, procuro um restaurante para almoçar, clico no ecrã tátil do telemóvel e acedo ao GPS em busca dos restaurantes da zona.
Restaurant Sushi Blue, junto à marina, nem penso duas vezes, faz tempo que ando para deliciar o sushi, a última vez foi na casa de montanha em Vila Nova de Cerveira com a Monique. Melhor nem lembrar esse dia que pode dar azar, cruzes canhoto.
Pág. 206
Tudo começou às mil maravilhas e depois acabou bruscamente e de forma pouco ortodoxa.
Estaciono o carro, num parque subterrâneo, e caminho até ao restaurante pela marginal da marina. Que loucura os barcos, parecem prédios, enormes. Existe gente mesmo muito rica, mas morrem e deixam tudo como os outros, embora vivam uma vida de grande ostentação. Estes é que devem ter pena em saberem que um dia vão morrer, se fosse possível, pagavam para ficarem eternos.
A zona exterior do restaurante tem várias mesas, escolho uma à sombra dum grande guarda-sol branco e rapidamente as mesas ficam todas ocupadas. Analiso a carta e os olhos quando vêm os preços, quase saltam fora. Caríssimo, quase dez vezes mais que em Portugal e mesmo assim com a pandemia, está tudo cheio.
Abro os cordões à bolsa, na vida nem tudo são cifrões, trabalho uma vida inteira, portanto, tenho de aproveitar como se fossem umas férias diferenciadas. Acompanho com um espumante francês, degusto demoradamente cada peça, intercalando cada dentada com umas fotos através do telemóvel para a posterioridade.
Foi caro, mas diferenciado, estava divinal.
Como habitualmente, em cada cidade ou local novo que visito, entro numa loja de souvenirs, para comprar mais um porta-chaves para a coleção. A loja tem dezenas deles, até fico confuso tal é a variedade de escolha e acabo por comprar um simples, em forma de coração com a bandeira do Principado de Mónaco.
No Google, pesquiso os locais mais interessantes para visitar e passo em cada um deles, todos magníficos:
O Casino de Monte Carlo, o Museu Oceanográfico, o Palácio do Príncipe, o Jardim Exótico, a Catedral de S. Nicolau e a Ópera de Monte Carlo.
Pág. 207
Pesadelo
Dezanove horas, o sol já se esconde por detrás da linha do mediterrâneo, é melhor ir jantar a casa, até porque a Monique já deve ter chegado.
No parque subterrâneo o silêncio é intranquilo, pressinto rostos nas sombras como demónios, talvez sensações pela falta de equilibro da clarividência de fobias do passado.
Está lotado de viaturas, a maioria verdadeiras máquinas, mas não se vê uma única alma, parece um navio fantasma. Quase a vinte metros da viatura, vejo estacionado ao lado do Mercedes um Audi Q7 preto e sinto um calafrio no estômago.
Os quadros da memória tentam fazer uma gestão de sentimentos, mas as emoções são confusas, ouço os ruídos da mente e dou os passos mais lentamente. Será a viatura que parecia seguir-me quando ia para Nice? Não recordo a matrícula, mas a carro tem as mesmas características, a cor e os vidros escuros.
Não vejo ninguém, talvez o cérebro esteja a provocar insónias desfocadas e preocupações desnecessárias.
Clico na chave, a viatura dá sinal da abertura da porta e apresso-me a entrar nela.
Como num jogo armadilhado, num ápice, saltam duas silhuetas do Audi, parecem sair de portas secretas e sou surpreendido por uma forte energia a oprimir o corpo. Sem controlo, deixo cair a chave do carro dentro do Mercedes e com os sentidos a descambar, entro numa luta de sobrevivência.
Pág. 208
De dentes cerrados, com vitalidade e reflexos apurados, consigo dar um murro e arrebentar os beiços de um deles. Quando tento virar-me, sinto uma patada de elefante na cabeça, o corpo abraçado por detrás, apertado, envolvido numa camisa de forças, com o coração a palpitar fatalidades, reviro os olhos e entro em falência física.
A escuridão toma conta do inconsciente, a alma viaja na sepultura dos malefícios da dor e fico formatado sem sentidos.
Não sei quanto tempo o pêndulo das horas do relógio bateu, até começar a acordar e poder varrer os pensamentos.
A respiração ainda está estonteante, a raiva contida no peito e os pés descalços no chão gelado. Sinto as pernas dormentes, as dores na cabeça como navalhas cortantes e o sabor a sangue na boca.
Enigmático, amarrado por umas cordas, como algemas da punição, uma fita a tapar a boca e nas paredes frias, apenas umas lamparinas como sinais de luz.
Parece que estou na masmorra, com as tochas de fogo.Aos poucos retomo a consciência, deito as recordações no travesseiro dos pensamentos e tento recordar o que se passou.
Fui atacado e raptado no parque automóvel, pelos vultos do Audi, que na realidade estavam a seguir-me. Tinha esse pressentimento, embora julgasse que a era minha razão a enganar-me.
Mas porque estava a ser seguido? Porque que diabo fui raptado? Quem pensam que eu sou? Nem sou conhecido por estas bandas, será que foi para roubarem o Mercedes?
Pág. 209
Que sitio gélido, com as moscas voadoras a pousarem constantemente na cabeça, sinto que não estou num local fixo, a cadeira tem ligeiras oscilações e pelo baloiçar do corpo, parece que estou num barco.
As calças rasgadas, descalço, o polo roto, o corpo todo dormente e dorido. Nem consigo mexer-me, sentado numa cadeira, atado por uma corda e os pés amarrados. Apenas mexo os dedos dos pés congelados e as mãos atadas pelos pulsos.
Ouço vozes, parecem dentro de um funil, falam num sotaque carregado, não são franceses de certeza.
Com as pernas dormentes, as mãos suadas atrás das costas, a boca ligeiramente seca com o sabor a sangue e as dores fortes a fustigar a cabeça.
Que quererão estes caralhos da minha pessoa? Estes cabrões de merda, quem pensam que sou? Será que querem pedir um resgate à Monique? Se calhar viram-me com ela no copo d’água de beneficência ou nas fotografias dos paparazzi.
As conversas, os passos são cada vez mais audíveis, abre-se uma porta, pesada de ferro e tenho agora a certeza de que estou num barco.
Entram três indivíduos, com caras sisudas, de poucos amigos e perfilam-se como um exército. Um de cada lado e o outro na minha frente. Os olhares são aterradores, provocam-me um turbilhão de medos e uma pressão sufocante dentro do peito.
O silêncio é total, apenas os olhares fixos sobre mim, enquanto rodo a cabeça e os olhos entram em pânico só de os observar.
Pág. 210
O da frente, um homem corpulento, de ombros largos, parece um lutador de wrestling, com as orelhas inchadas e um queixo enorme. O do lado direito, entroncado, com umas mãos que pela aparência devem ser de ferro, a barba por desfazer, a cabeça rapada e os braços musculados. O da esquerda, só a cara cheia de cicatrizes já assusta, com o peito desnudado, também carregado de cicatrizes, parece que foi mordido por uma matilha.
A mudez de todos, é como espetar agulhas nos tímpanos e parece uma eternidade.
O cheiro do suor deles, um odor nauseabundo entra pelas narinas e com a boca tapada, tenho dificuldade em respirar e solto esgares abafados.
Ouço novos passos e surge outro individuo.
Tento testemunhar a sua figura, mas o sujeito da frente, liga uma luz forte diretamente aos meus olhos, embora na sua entrada, tenha conseguido vislumbrar o perfil e vi que era de raça negra.
Tosse constantemente, talvez uma tosse alérgica, uma voz trovão, numa língua esquisita, um dialeto africano. Dialoga com o individuo que segura a lanterna e desloca-se na minha direção.
Desliga o holofote e diz-me num português carregado de sotaque, junto ao ouvido.
- Vou retirar-te a fita da boca, mas nem penses em gritar! Primeiro, ninguém vai ouvir, segundo se gritas levas um tiro nos cornos! Ouviste?
Pág. 211
Com a arma encostada à cabeça, perturbado, abano a cabeça de forma afirmativa e num ápice a fita é descolada abruptamente. Um rubor quente toma conta da pele na zona da boca e soltos umas lágrimas salgadas.
Sem a luz nos olhos, analiso na totalidade o vulto com a voz que causa calafrios.
Negro, de fato preto, pelo aspeto caro, sapatos pretos, camisa branca e com as mãos atrás das costas.
A expressão dele é um granizo de emoções, olhar de monstro, arrogante, impiedoso, um homem frio. Observá-lo dá arrepios de morte, intimidante a forma como sou examinado, por aqueles olhos que devem esconder muitas pás de coveiros.
No dialeto anglo-africano, fala com o que está com o revolver na mão.
- Waa maxay erayga sirta ah ee ipad.
Percebo apenas a última palavra, ipad e rapidamente a sua frase é traduzida.
- Qual a palavra-passe do ipad?
- Ipad? Que ipad? Não estou a perceber.
Uns chavões de palavras esvoaçam entre eles, não consigo perceber nada do que dizem, uma linguagem escaganifobética que deixa os tímpanos dum tisico confusos.
Exaltado, o negro retira as mãos das costas e poem a nu o que escondia. Um Ipad, com uma capa azul, igualzinho ao que foi roubado no apartamento quando fui assaltado.
Pág. 212
É o meu.
Nunca tinha percebido para que caralho assaltaram o apartamento, remexeram tudo e apenas levaram o ipad. E está nas mãos destes gajos? Porquê? Foda-se que importância tem o meu ipad? Só podem estar a confundir-me com alguém.
Com cara de poucos amigos, de um bárbaro descontrolado, dá uns passos em frente, na minha direção e pergunta.
- Password?
Com anormais comichões no ego, olho o monstro exaltado e com as palavras aos soluços, pergunto.
- Para que queres a password?
Nem tempo tenho para sentir os ecos da estrada à minha pergunta. Numa velocidade cruel, só consigo ver num milésimo de segundo, o anel na mão direita, com um diamante cravado a bater-me violentamente na cara, por baixo do olho e a rasgar-me a pele. Um soco potente, um golpe profundo, que deixa o sangue a espirrar pelo rosto e uma dor dilacerante. Sem tempo para respirar, um deles agarra-me pelos cabelos, puxa-me a cabeça para trás, com alguns cabelos arrancados entre os dedos, faz de mim um saco de pancada, enquanto aos berros, pergunta.
- A password do ipad, seu filho da puta!
Confuso, com dores horripilantes, ainda penso se será por causa da minha profissão e entre gemidos e ganidos de agonia, digo.
- amor&paz.
Pág. 213
Uma ironia, a password, principalmente com o momento que estou agora envolvido. O motor do ego começa a trabalhar dentro dos sigilosos pensamentos, quase uma reflexão de muitos comportamentos da humanidade. Como os seres humanos conseguem ser tão cruéis entre eles? Parecem bichos sem sentimentos, vivem numa bolha de egoísmos, de ganância, de falta de escrúpulos. Que fiz de mal? Sempre fui um cidadão exemplar em tudo na vida, cordial com todas as pessoas, sincero, generoso, afável e a toda a hora com a mão estendida para ajudar o próximo.
Amar é o símbolo de vida e alguns insistem em viver no ódio.
Entre mais umas chapadas, uns murros no estômago e risos de hiena destes animais carnívoros, saem a trocar felicitações entre eles como se tivessem descoberto o soro da verdade.
Sozinho, atado no tronco dos castigos, com golpes abertos e o zumbir das moscas que não largam, como abutres famintos no sangue a escorrer.
Um gorila ferido, num rio de lágrimas, com as veias dilatadas, uma entorse no pescoço, pés álgidos, o corpo ensanguentado e o ego cravejado de pregos.
Uma surdina total, com os tremores ligo o interruptor da comoção e tenho alucinações sombrias.
Que homens execráveis, são capazes de espancar Cristo a troco de nada, que criaturas abomináveis, roedores da felicidade alheia.
Pág. 214
Depois destes dias de sonho, de conhecer, de apaixonar-me por uma bela Mulher, estou a comer o pão que o diabo amassou.
Será desta forma trágica o fim da vida? Aquele ipad é realmente o meu, para que o querem? Que valor tem ele? Nunca usei nada de especial, apenas aplicações de jogos, músicas, vídeos e redes sociais. Assaltarem o apartamento em Viana do Castelo, seguirem-me em Nice e raptarem-me no Mónaco só pelo ipad? Que raios de motivos têm eles para isso? Será pelo facto de ser auditor financeiro? Mas, que ligações poderá ter? Quem serão estes bandidos? Pelo aspeto gente poderosa, carros de topo, capangas, barco e pela euforia da password, julgam mesmo que tem algo de muito especial.
O padecimento físico e psíquico é extremo, nunca senti tanta dor na vida, uma ardência nas feridas abertas e nevrites assolar o cérebro como espinhos cortantes.
Tento respirar, deixar o ar entrar e sair dos pulmões mais tranquilamente e com discernimento. É urgente, fazer uma gestão emocional equilibrada da razão, não interessa os porquês, importante é pensar como sair daqui, como fugir. Sei que é uma aventura perigosa e se sou apanhado não terão contemplações comigo, matam-me.
É arriscado e perigoso, mas tenho de fugir, pensa Juan, pensa.
Uma bravura colérica assola o espírito guerreiro e iluminado por uma luz, lembro-me do porta-chaves que comprei em Nice. Um pequeno canivete, que meti no bolso de trás das calças. Será que ainda o tenho, ou será que o retiraram? Com as mãos móveis, atadas pelos pulsos, tento chegar à zona do bolso. Tateio e sinto o pequeno volume, um milagre caído do céu, só tenho que conseguir dar asas aos dedos e sacá-lo do bolso sem o deixar cair.
Pág. 215
Em cada gesto, um gemido de dor, o corpo está miseravelmente maltratado, mas agora será até à morte.
Com o coração a bater perto da boca, de forma persistente, meticulosa, com a ponta dos dedos a fazer de pinça, agarro e retiro do bolso o canivete. Com ele nas mãos, abro lentamente, tentando não o deixar cair, o que seria o fim.
Consigo abri-lo, com a mão direita firme, forço a corda que amarra os punhos e sinto o gume afiado a cortar também a pele. A corda, cada vez mais folgada, cede, corto rapidamente a que envolve as pernas e por último a do tronco.
Bendito canivete!
Com a porta ferrugenta entreaberta, espreito, escuto e apenas vislumbro a minha fuga silenciosa.
Corredores vazios, umas luzernas nas paredes frias a iluminar, várias portas com comportas próprias das embarcações e ao fundo, uma escada. Descalço, subo degrau a degrau, olho para trás e vejo o rastro de sangue, mas fixo todos os sentidos no horizonte. No topo das escadas, mais uns corredores, fico indeciso, mas sem tempo a perder, sigo pela direita.
Ouço vozes e passadas.
A respiração dá um salto e o instinto da sobrevivência faz-me abrir uma porta e esconder-me dentro dum compartimento cheio de sacos. Deitado atrás deles, como um rato escondido, fico silencioso. Na ânsia que as luzes ténues não deixem ver os pingos de sangue pelo chão, caso contrário, serei facilmente descoberto. Imóbil, encostado ao amontoado de sacos, vejo num deles rasgado, muitas coisinhas a reluzir.
Pág. 216
Foda-se, isto são diamantes! Se todos os sacos têm diamantes está aqui uma verdadeira fortuna! Com caralho, estes gajos só podem ser traficantes! Mas, para que querem o ipad? Que tem o ipad de interesse para traficantes de pedras preciosas? As empresas que trabalho, nenhuma delas está ligado a esse ramo de atividade, será por causa das cotações nas bolsas mundiais? Faço algumas auditorias a sociedades ligadas às bolsas mais importantes, como a americana, à inglesa e a companhias que negoceiam câmbios de moeda internacional. Porra, que saiba não tenho nada de sigiloso nele, apenas no computador pessoal e esse não foi roubado.
Lá fora, o silêncio abraça novamente os ouvidos e sorrateiramente espreito pela fresta da porta, ninguém. Avanço, sinto uma aragem fria a entrar pelo corredor, sinal de que a saída é do lado da brisa. Nem mais, já vislumbro no céu o carrossel de estrelas e o luar a iluminar o possível caminho para a retirada.
O barco está atracado na marina do Mónaco, afinal estou perto, só preciso de chegar ao passadiço. A rastejar como um crocodilo na escuridão, esquivo aos caçadores furtivos, consigo saltar do barco e na calada, passo a passo, caminho cerca de vinte metros pelo passadiço em madeira. Algumas tábuas soltas, rangem e criam desassossego na noite, com os cães a ladrarem o hino do inferno. Com esgar de dor no rosto, chego até à vedação que veda o cais de embarque, salto a barreira e miro o nome do barco onde estava sequestrado.
Diamante Negro.
Pág. 217
Ouço o barulho de um camião, são os homens do lixo, mascarados, parecem fantasmas da ópera e abre-se o buraco negro da ansiedade em mim. Fico na dúvida se devo pedir ajuda, com as vestes rasgadas, pareço um vagabundo. Em Portugal seria um sem abrigo, coisa que aqui, no Principado de Mónico não existe. Vão pensar que sou um demente, ou louco perdido, nem sequer sei falar fluentemente o francês para lhes explicar o que se passa. Com sopros no coração, o nervosismo contido, fico escondido, à espera da sepultura aberta de vez para a escapadela.
O camião segue o destino, via aberta até ao parque onde está o Mercedes e na esperança das chaves que caíram ainda lá permaneçam. O trajeto é curto, com os pés enfiados num cubo de gelo, os ossos a estalar, talvez umas costelas partidas, as chagas no corpo, mas a mente a festejar com o júbilo da liberdade. Uma maratona, de martelos no cérebro, faz-me lembrar as provas de campo no serviço militar, com as mochilas carregadas, a G3 pesada na mão e o capacete que era chumbo enfiado na cabeça. Tempos passados, memórias, em que era um boi, uma besta de força que agarrava um touro pelos cornos, um animal indestrutível preparado para a guerra por mais espinhosa que fosse.
Sem noção do tempo, com as gaivotas a olharem para mim, esfomeadas como eu, mas o premente é conseguir fugir definitivamente.
Chego ao Mercedes, levo a mão ao puxador da porta, abre-se e no tapete a chave caída, é o bilhete para o paraíso.
Pág. 218
Terror
Por instantes penso que é o momento de repouso do pensador, quando podia ter sido o dia do juízo final. Aliviado, solto palavrões, cobras e lagartos de desafogo. Uma bravura, uma força Adamastora para lutar e sobreviver ao possível convívio dos mortos. Solto suspiros em poder reviver e descarrego adrenalinas, com os miolos a ferver ódios contidos, com suores na testa e transpirações molhadas. Parece um jogo mortal, com balas a passar rente ao coração e trago medo até nos bolsos. Radiante dou murros de felicidade no volante, mas as dores causam arrepios no fígado. Uma sucata de sentimentos, retratos do silêncio que se esbatem nos ataques de espasmos.
Dou à ignição e com fortes dores de cabeça, respiro sorrisos, em êxtase como se fosse o último orgasmo. Saio do parque, de prego a fundo e o cheiro da borracha queimada fica impregnada no piso.
Momentaneamente feliz, raivoso, a mais de trezentos à hora, sinto-me a passear na estrada da lentidão, assedentado por chegar a casa.
Os olhos lacrimantes, a alma envolta em arame farpado, surgem de novo os porquês do sofrimento.
Nem telemóvel tenho, não consigo ligar à Monique para dar conta do sucedido, cabrões ficaram com ele.
Com a claridade a surgir timidamente no horizonte, chego e encontro a casa completamente vazia. Ainda não chegaste, faz mais de vinte e quatro horas que saíste e ainda não voltaste. É com profunda estranheza que encaro a situação, mas sem telemóvel não posso saber notícias. Tento ser positivo, tratar minimamente de mim, dar banho e desinfetar as feridas abertas.
Pág. 219
Pronto para o duche, surge no quarto o Max, com um olhar de tristeza, os olhos caídos e vem de forma carinhosa lamber-me.
Os animais são incríveis, tem mais sensibilidade que os humanos e na sua inocência percebe que estou combalido. Sem qualquer receio, faço umas festinhas sobre a sua cabeça, como forma de cumplicidade.
Que irá dentro da cabeça do cão, desde o dia do nosso primeiro encontro pouco amistoso e agora?
A água morna queima e causa ardências nos ferimentos, os mais visíveis são no rosto e solto ressonância de vozes na consciência. Maldito, socou-me com aquele anel, com um enorme diamante cravado, grande filho da puta. Quando a Monique chegar vamos diretos à polícia, apresentar queixa, vi o nome do barco, Diamante Negro e serás preso, preto de merda.
Embora não saiba o estado do interior, dos ossos, o corpo está todo dorido, trato as escoriações visíveis, com pensos e desinfetantes. Com certeza terei que deslocar-me ao hospital e fazer alguns raio-x, mas de momento é melhor desviar os pensamentos.
Esticado ao comprido na cama, com os tímpanos afinados para qualquer ruido que possa suscitar a tua chegada, dou corda aos desejos e ressuscito felicidades.
Depois de tudo estar sanado, quero entrar novamente nas muralhas do amor, escrever novas linguagens sexuais, ser contigo, o bombista suicida sem regras nem leis. Ter as químicas tórridas nos olhares, beber o champanhe gelado, derreter castelos de gelo, enquanto ouço bater o pêndulo do amor. Tão bom bafejar memórias é como traficar amores.
Pág. 220
Esta cama, acolhe-me como escravo às submissões, aos pecados da assassina de machos, até ouvir os sexos com as sirenes ligadas, a vociferar cios incomensuráveis. As danças tântricas, as ousadias tresloucadas, as overdoses de sexo, que provocam tremor de terra e fazem da cama um elevador ao inferno. Contigo, a sede, a fome, são macabras e viramos fodilhões a cuspirem salivas como serpentes. A teu lado, os sinos da paixão, estão constantemente a tocar e quando chegares vou dizer-te o quanto te amo e engolirei definitivamente as chaves do coração.
Louca, insana, fantasiosa, assumidamente provocadora, desinibida, tremendamente sexual, és uma obsessão que coabita dentro de mim. Só de pensar, fico com a língua áspera, é como se estivesse embebida no ardor da vagina irreplegível. Contigo, sou um ogre faminto, possesso e quando salivo o primoroso cú, faço dele uma caixa de esmolas com a oferenda do pénis. Um pintor abstrato, com os dedos a fazer pinturas de regozijo com os fluídos dos orgasmos. Um poeta dos mil encantos, que recita poemas aos pássaros do paraíso, que cruzam os céus. Um boémio do amor, que navega ao vento. Um agricultor que planta girassóis em forma de corações. Um bombeiro com o extintor, a impor castigos aos delírios das labaredas corporais. Um pregador de sermões aos deuses, com os lábios cheios de mel. Um cirurgião plástico, onde a língua é o bisturi, na sumptuosidade dos seios. Um tocador de bandolim, com os dedos fervilhantes nos tremores do clitóris. Um escritor, que em cada palavra, em cada frase formiga excitações. Um eletricista, que por onde passa, acende todos os candeeiros do prazer. Um trovador, onde a fonte divina é banhada pelas musas do prazer. Um sonhador, que duma folha, faz pássaros de papel e voa até às estrelas cadentes.
Pág. 221
Um dançarino, que em cada bailado usa sapatos voadores. Um maquinista que leva aos confins do mundo o comboio dos sonhos e se fosse artista de circo, era um dominador de feras. Tu és um trevo de quatro folhas, nascido na selva africana, que nas louquices, faz-me alcançar masturbações como um troglodita.
Sinto-me livre preso a ti e a única forma de livrar-me da tentação é ceder-te.
Olho o relógio, nove e trinta da manhã, o sol já está posto e rompe pelo quarto adentro. A divagar, por instantes, quase ignorei as dores, neste corpo dormente, exortado pela essência do teu perfume invisível. É, como se estivesses aqui a meu lado, respiro o aroma da rebeldia e deixo-me embriagar.
Ouço o portão abrir, o ronquejar diferenciado do motor do Bentley, só podes ser tu e desloco-me diretamente para a sacada.
Olho à direita, o carro está a entrar, com o motorista ao volante e com certeza vens como habitualmente no banco de trás. Eufórico, pelo sentimento da tua presença, o coração abraça a tranquilidade, sôfrego por contar tudo que aconteceu e nem irás acreditar. As mazelas, os hematomas são a prova viva da violência a que fui submetido às mãos daqueles crápulas sem escrúpulos. Calmamente terei tempo para contar tudo o que se passou e uma coisa sei, não irás contar-me nada da tua inesperada ausência.
Inspiro fundo, desvio o olhar feliz num enlace com o mar e sinto um arrepio de terror, um calafrio de morte.
Um barco a encostar, com quatro vultos vestidos de negro, armados e com o nome visível na proa: Diamante Negro.
Pág, 222
Com tremeliques na retina, mal tenho tempo para gritar, saltam para o terreno e começam a subir encosta acima, com as armas em riste.
- Cuidadoooooooo. Fujammmm.
Grito feito um louco, mas é tudo tão inesperado, uma cena de cinema, uma pelicula da missão impossível, com um esquadrão de bandidos prestes a assassinar os personagens principais.
É o que pode acontecer e de forma extramente rápida.
O motorista é o primeiro a sair e prepara-se para abrir a porta de trás e aterrorizado, grito novamente.
- Cuidado, homens armados! Cuidado, fujam!
O motorista, de forma ligeira, num ato repentino, leva a mão direita ao bolso interior do casaco, saca dum revólver e começa a disparar aleatoriamente. Num milésimo de segundo, viro o olhar novamente para os homens e ouço a zoada das rajadas na minha direção. Rapidamente percebo o perigo que estou exposto, a varanda é um campo aberto e atiro-me para o chão, com os vidros da porta a serem estilhaçados pelos disparos. Os fantasmas da tragédia, os frios da morte, criam impacto na minha fragilidade humana.
Pág. 223
A fúria, incessante dos tiros, de um lado e do outro, pulverizam todos os objetos que encontram pela frente. Deitado, com as balas a passarem por cima da cabeça, rastejo e espreito com a intenção de conseguir ver-te. Coberta pelo motorista que se bate estoicamente, somente com um revólver, sais da viatura, abres a mala, retiras uma metralhadora e vários carregadores. São várias as balas que passam perto de ti, mas consegues atirar a metralhadora na direção dele e ele devolve-te o revólver. O nível sonoro do tiroteio é alucinante. Exasperado, não consigo calar os pensamentos doentios e na tentativa de os vizinhos ouvirem, grito por socorro. Os meus gritos fazem-me entrar de novo na mira dos facínoras, que investem novamente sobre mim e fragmentam as paredes e o pouco que resta das portas.
Com os sicários, a dispararem sobre mim e a coberto da chuva de balas da metralhadora, tentas fugir para casa. As armas de fogo não param de vomitar balas e uma delas atinge mortalmente um dos assassinos. Uma luta ainda desigual, um contra três nesta fase, comigo apenas como um observador apavorado e contigo que foges, no esforço de entrares em casa. Um labirinto mortal, com a primeira morte e horrorizado fico sem reação. Imobilizado pelo pavor, deitado como um gato escondido, o coração bate numa velocidade feroz contra o chão, a respiração esbaforida e o suor a pingar como uma torneira aberta. Mastigo a salivo enrolada na boca, engulo em seco e apertado pelo medo, não cabe um único feijão no cú.
O tiroteio é intenso, o Bentley cravejado, os vidros fragmentados pelo chão e as balas a zoarem pelos ares. Nesta troca de disparos, com a cabeça ligeiramente levantada, ouço um bramido. É mais um assaltante que tomba com um tiro certeiro na cabeça.
Pág. 224
- Puta que pariu, esta merda são mortes a sério.
Dois para um, quando já foram quatro para um e penso na Monique, tenho de ir ter com ela.
Com as atenções dos criminosos centradas no motorista, levanto-me rapidamente e corro descalço para dentro do quarto, sem ter a noção da quantidade de vidros espalhados. Singultoso, liberto esgar de dor, com os pés todos cortados, a pingarem abundantemente sangue e com vários vidros fragmentados espetados.
Abro uma gaveta da cómoda, retiro uns lenços de seda, ato em redor dos tornozelos e outos enrolados, a fazer de ligaduras para estancar o sangue, enquanto chamo por ti.
- Monique! Monique! Onde estás?
Com o jardim a ser o jazigo de morticínio, as zoadas dos tiros cessam e escuto apenas vozes de comando e na cabeça surge o desalento, mataram o nosso homem.
- Estamos fodidos!
Desarmado, impotente, com os pés cheios de vidros, chamo novamente por ti, és a única que tem uma arma.
- Monique, Monique!
Procuro algum objeto no quarto que possa servir de defesa, algo que possa incutir ferimentos no adversário e no enorme nervosismo desesperante não vislumbro rigorosamente nada. Nisto, surges, no cima das escadas, no hall dos quartos, a gritar.
Pág. 225
- Juan, estou aqui, vou matar estes cabrões!
Atiraste para o soalho com a pistola em riste e ficas à espera que entrem.
A rastejar, impulsionado pela força dos braços, tento chegar até ti, mas as dores são lancinantes e insuportáveis. Olhas-me com lágrimas nos olhos, percebes que estou muito maltratado fisicamente e fixas novamente os olhos na entrada. O silêncio momentâneo é enganador, rapidamente é destruído pelas rajadas dos projéteis e perfuram tudo que encontram. As peças de arte, os corrimões, os candeeiros, tudo se fragmenta em mil pedaços, pela poderosa força dos disparos. Não consigo fazer mais que ficar encostado, sentado contra a parede a rezar para que consigas liquidar os bandidos ou surja alguém em nosso auxílio. O barulho é intenso e sendo este um sítio sossegado, impossível nas redondezas ninguém ouvir.
Em vantagem numérica e no armamento disponível, os assassinos conseguem entrar e dispersarem-se pelo espaço. Um de cada lado da sala disparam direcionados para a Monique. Tentas resistir a todo o custo com o revolver até à última bala dos carregadores e com um tiro certeiro abates um deles.
Poucas balas restam no último carregador, tentas poupar as balas e dar o tiro certeiro para exterminar o restante sanguinário.
Um jogo de xadrez, entre a dama e o rei, num tabuleiro de morte suspensa. Um puzzle, em que quem conseguir completar primeiro será o sobrevivente glorioso desta desumanidade.
Faz-se um silêncio que trespassa o âmago, uns instantes de uma surdez arrepiante, uma caça entre o gato e o rato e que terminará no falecimento dele ou nosso.
Pág. 226
Minutos que parecem horas, consigo ouvir o respirar esbofado do delinquente, mesmo estando a mais de trinta metros.
Nenhum dispara, cada um resguarda-se na poupança das balas, ficam ambos na expectativa. Sei que o tempo pode jogar a nosso favor, pois poderemos ser socorridos por alguém ou até pela polícia e sussurro numa linguagem gestual à Monique
- Calma, não gastes munições, tens de ganhar tempo e ser certeira no tiro.
Com a atenção desviada em mim, descuidas a segurança e ouço a detonação duma arma. É do assassino sem compaixão e dá-se a fatalidade dolorosa, levas um tiro na cabeça, que num último suspiro, tombas numa poça de sangue.
Um horror, uma agonia mórbida inexprimível, toma conta de mim, como uma facada no coração e somente penso em morrer a teu lado.
Que destino hediondo, que destruidor de sonhos alheios.
Descontrolado, com as últimas forças que restam, rastejo até junto a ti, abraço-te o corpo e beijo os lábios cobertos de sangue e tento perscrutar se ainda respiras.
Pelas escadas, num átimo surge o sujeito, o homem negro, carregado de ódio no olhar, com o braço direito estendido, de pistola na mão, bem erguida e reconheço o anel de diamante.
Pág. 227
É o mesmo que socou a minha cara, o que tinha o ipad, mas pouco tempo resta para dizer algo. Olhar esbulhado, estranhamente não sinto medo, estou pronto para morrer ao lado da mulher que amo e amarei até na eternidade. Com a vida prestes a ser extinta, apenas solto a última palavra como se fosse possível ainda ouvires.
- Amo-te.
Com os olhos sanguinários, o criminoso, estende o punho para premir o dedo no gatilho e solta um gigantesco berro de aflição.
Com os olhos fechados, a sorrir à morte, com o grito inesperado, descolo as pupilas e enxergo a ação. O Max com a boca cerrada e os dentes cravados na zona do pulso do atirador. A pistola cai pelas escadas e o Max infringe dentadas contundentes até o canalha cair no chão. Enrolados, como um duelo nas arenas romanas, entre gritos e rugidos, a luta é violenta. Tenta resistir à pressão das dentadas e com a mão esquerda, de punhos cerrados aplica golpes na cabeça do Max. O cão a espumar pela boca, não cede e arranca a mão direita ao assassino. A mão ensanguentada, desfeita, rebola pelo chão até mim, e fico a olhar o anel de diamante encostado aos meus pés.
O lado selvagem do cão é de uma brutalidade cruel, uma atrocidade grotesca e culmina resumido num gesto fatal. Envolve a face do jagunço dentro da boca e com as mandibulas afiadas dá uma dentada enérgica, arrancando-lhe o rosto.
Neste cenário de terror, despedaçado, desvio o olhar, vomito e perco os sentidos.
Pág. 228
Sinais Vitais
Os olhos agarrados à escuridão, ouço o som de vários sonidos, parecem aparelhos hospitalares, as máquinas que nos ligam muitas vezes à vida.
Corpo entorpecido, atropelado por um comboio, com desordens físicas e psíquicas interiores. Distúrbios intestinais, sinto pedras no estômago e o corpo apertado num colete de forças. A sanidade essa, está descontrolada, com redemoinhos incontroláveis, assemelhado a uma queda na escadaria do inferno. Sensação dos miolos cozidos, fervem, avariado dos cornos, numa montanha de emoções.
Os sons não param, são vários apitar em simultâneo, sinais vitais do corpo humano, mas nesta espiral de alucinações, não consigo enxergar realidades.
A língua adormecida, inchada parece que não cabe dentro da boca, uma sensação de ansiedade nervosa, umas dores torturantes da cabeça aos pés. Mordisco os lábios, tento mexer os membros, estou manietado e com a alma cilindrada por profundas tristezas. As memórias, tentam fazer um zoom, mas não conseguem ser perfeitas, esbatem-se no baú dos sentimentos e apenas perscruto arrepios do passado.
Dentro da cabeça, retumbam gritos de sofrimento, vozes de desespero, tiros e explosões. Está escuro, mas correm rios de sangue, silabas de morte que esvoaçam ao vento e o diabo com gargalhadas sarcásticas. Estou a delirar, vejo muitas imagens a esbater-se, mágoas com marca s profundas e desalento no íntimo.
Pág. 229
Tento apurar os sentidos, sinto o perfume de uma mulher, uma essência muito própria, doce, intensa, talvez esteja num jardim coberto de borboletas.
A visão, aos poucos, distingue sombras, são destorcidas e a claridade esbatida penetra suavemente como numa fresta. São silhuetas, cinzentas, não tem cor, apenas vultos que se movem em redor.
- Allez-y doucement, c´est toujours sous l’effet de l’ anesthésie.
Estarei num sanatório? Tento mover-me, mas os músculos rasgam do esqueleto e estou imobilizado. Acho que alguém fala para mim, não percebo, a fonética parece sair de dentro dum poço.
Não consigo responder, os maxilares estão dormentes, mas com vontade de berrar aos confins do mundo.
- M’entendez-vou, monsieur Juan?
Não consigo percecionar as palavras, ouço-as soluçadas, são soletradas em francês e faço um esforço labial.
- Português…
- Portugal? Senhor Juan, tenha calma, você ainda está sobre o forte efeito da anestesia e será levado de seguida para o quarto. Consegue ouvir-me?
Tento fixar a íris nos vultos, estão de bata branca, serão anjos e estarei no céu?
A conversa arranha os tímpanos, mas depreendo algumas, “calma”, anestesia”, “quarto”.
Pág. 230
A visão lentamente clareia, tetos, luminárias, tubagens, várias portas com sinalizações, estou deitado e a ser levado por vários corredores.
Pela decoração, estou num hospital, preso numa cama com rodas, soro pendurado e as máquinas apitar. Dois maqueiros, deixam-me no quarto e com tudo a clarificar a cores, faço um raio-x de tudo o que rodeia.
Deixam-me, enquanto entra um sujeito fardado, que se senta no sofá e fica de sentinela.
O semblante é de poucos amigos, ar sisudo, o bigode farto, os olhos expectantes e não diz uma única palavra. A farda azul-escura, encobre o corpo entroncado, musculado, na cabeça uma boina, que cobre só parte do couro cabeludo, umas botas militares e uma pequena metralhadora ao colo.
Pensativo, imobilizado, algemado à cama e um polícia a tomar conta de mim. Estarei preso? Mas que se passou? Não consigo recordar de nada.
Tento fazer um esforço da memória, questionar a consciência e entram dois civis que talvez tragam todas as respostas.
- Boa tarde, senhor Juan Carlos, não somos médicos, mas podemos dizer-lhe que esteve em coma induzido quase duas semanas, foi sujeito a várias intervenções cirúrgicas e tendo em conta o sangue que perdeu, é um milagre estar vivo. Também sabemos que infelizmente sofre de amnésia traumática, pelo que nesta fase não se recorda do que se passou e por isso está sobre o efeito de analgésicos opiáceos fortíssimos. A nossa missão não é assistência médica, somos da Interpol.
Pág. 231
- Interpol, então é por isso que estou preso na cama e vigiado por um polícia? Que fiz eu?
- Tenha calma, ouça apenas o que vamos relatar e tente manter-se calmo. Há alguns anos que investigamos as rotas do tráfico de diamantes, conhecida pela operação “diamantes de sangue”. Quando há uns meses, prendemos no Hotel Crittoin, em Paris, o Senegalês Abbdul Comanét, estávamos convictos que tínhamos capturado o cabecilha da mafia.
- Máfia, diamantes, o que tenho a ver com isso? Aí, foda-se, até a falar doí-me o corpo todo. Mas diga-me, o que tenho a ver com isso?
- Mantenha-se calmo, nesta fase, não pode sofrer emoções fortes, mas compete-nos fazer o nosso trabalho e por isso estamos aqui. Escute, como estava a dizer-lhe, mesmo com a captura desse cidadão senegalês, as operações do tráfico de diamantes, continuou ativa e pelas investigações, descobrimos que afinal, o chefe da máfia era uma mulher.
- Desculpe, mas não estou a perceber porque estão a contar-me essas coisas.
- Sabemos que não, mas quando recuperar da amnésia, vai entender tudo. Como disse, era uma mulher que chefiava o tráfico e vivia ostentosamente à custa da criminalidade e de muitas vidas perdidas na escravidão.
- Então se são da Interpol, com certeza já prenderam essa delinquente, certo?
- Houve uma cilada e essa mulher morreu, num tiroteio entre dois grupos de traficantes rivais.
- Deus escreve direito por linhas tortas, por isso essa assassina só teve o que merecia.
Pág. 232
- Está certo senhor Juan Carlos, mas nenhum ser humano, mesmo por mais malfeitor que seja, não merece a morte e nós como policias, preservamos a vida mesmo dos criminosos.
- Ouvi tudo, mas continuo sem perceber e sem ter respostas. Afinal, porque estou preso numa cama de hospital e com a Interpol a meu lado?
- Não percebeu, porque não se lembra do que se passou, mas quando recuperar da amnésia irá lembrar-se de tudo. A mulher que estamos a falar, chamava-se Loren Monique.
- Loren Monique?
- Sim!
- Mas, Monique, a Monique, a Loren Monique, é, nããããooooooo!
Com o choque, da bárbara notícia, recupero da amnésia, mas o organismo, manifesta um fenómeno eletrofisiológico anormal temporário no cérebro. Os olhos reviram em branco, os tremores invadem o corpo, sinto alterações do estado mental e entro em convulsões.
Com os órgãos internos a estremecerem, sem capacidade de raciocínio, apenas o sentido da audição ligeiramente acordado, ouço várias vozes a gritar e os sonidos acelerados dos aparelhos hospitalares. Uma picadela, sinal de que estão a injetar-me algo nas veias e adormeço sobre o efeito de sedativos.
Pág. 233
Desfalecido fisicamente, a parte psíquica faz ecografias do ego, é como uma queda mortal do cérebro sem paraquedas, num abismo. Um pandemónio nos circuitos neuronais, sem controlo, com alucinações nas cavernas dos horrores. É o encéfalo a fazer a expiação dos sentimentos, a mitigar a corrosão da consternação e num desejo de sobrevivência. Cada um de nós tem um lado divino, mesmo quando sente o paraíso destruído. A razão tenta comunicar com o lado carnal, tenta explicar que a raiva e o ódio entre os seres humanos, só geram mais dor e mortificação. Dentro de mim, dá-se o fenómeno mental e o espírito da vida entra numa luta de espasmos com o espírito da morte.
Um aperto no coração, sensações intermináveis de comoção e expressões de dor, desadormecem paulatinamente o corpo. Choro compulsivamente, uma violência de perceções, na cabeça perdida e grito com todos os silêncios do coração enegrecido, os sentimentos tatuados na mente.
Os sons agudos dos aparelhos, não param, são como pancadas nos tímpanos e os vultos de bata branca num rodopio permanente.
Pág. 234
Vida
Finalmente, tudo esclarecido sobre mim, com a Interpol. Nunca fiz parte de nenhuma organização mafiosa e depois de analisarem o Ipad e o telemóvel, também verificaram que não possuía rotas de transação ou contactos a esse nível.
Passaram mais de dois meses que saí do hospital e com a alma encardida, cá estou de regresso ao apartamento e a recuperar das hemorragias do infortúnio, que não saram.
Não sei como será o futuro, mas o presente é inquietante, uma angústia que consome os raciocínios da realidade. Feridas abertas, no âmago e ainda mordido pela indignação.
Esta senhora tem sido incansável, diariamente comigo, na terapia de estimulação, uma psicóloga de stress pós-traumático, mas que para mim tem sido um anjo da vida.
Os calmantes, as pastilhas apelidadas da felicidade, a leitura de poesias e a varanda aberta à serenata das estrelas brilhantes, fazem parte do quotidiano.
Ainda, sinto nos lábios, as sensações de sarna de beijos e que se desmoronaram como castelos de areia. Uns dias melhores, por vezes dialetos de amor, outros em estado de choque. As sequelas, ficarão para sempre, as lágrimas caídas correm até ao mar, mas no palco da vida, abro as cortinas de fumo aos sonhos e continuo devoto à deusa mulher. As noites são difíceis, com suores gelados, as memórias assombram na escuridão e absorvo no silêncio as imagens da utopia.
Felizmente já consigo caminhar, os pés demoraram a recuperar dos estilhaços dos vidros.
Pág. 235
Nunca mais serei o mesmo, depois da aventura fatal, desta terrível fobia, que destroça como um cancro maligno. A cegueira da alma deixou o coração apaixonado e mesmo assim, depois de saber toda a verdade, ainda sinto a minha sombra de mão dada à sua alma. Neste refúgio, ainda abraço com idolatria, a sua excentricidade, a irreverência, a energia sem limites do seu espírito de vida. Personificava prazeres, a extravagância, a excelsitude da beleza feminina e ofuscava o lado oculto da marginalidade.
Que Deus lhe dê o perdão e a bênção, que a misericórdia do inimigo é o paraíso do inferno.
O travesseiro é o único confidente, converso com ele durante as insónias, trocamos palavras que são fogo do inferno, para fazer reflexões na masmorra do diabo. Ainda pensei na eutanásia como solução, mas o silêncio dela não é vazio e está repleto de respostas de vida.
Em cada noite, sou invado por miríades de sonhos, penso na procura de respostas e se penso logo existo.
Cansado, adormeço na cama vazia, sinto o perfume invisível, o calor dum aconchego feminino e acordo sobressaltado.
Ela, estava aqui, a meu lado, tenho essa sensação.
Será que sonhei acordado ou pensei a dormir?
Simplesmente, Utopias Eróticas do Criador.
Pág. 236
🔥 Utopias Eróticas do Criador 🔥
Respeita os direitos de autor.