Dialetos de outono...
08 de December, 2025
Apetece-me dizer um olá tímido ao outono, usar a suavidade das palavras, fazer delas a comunhão da partilha e agitar fétiches no trapézio da alma.
Preferia navegar num veleiro, abrir a porta da alma, com as luzernas do sol que aquecem e correr contra o vento na tranquilidade veraneante do mar.
Pois o verão, já se foi, agora resta aproveitar o território de luz das sombras e os sussurros da madrugada pincelada com as gotas de orvalho.
Saí cedo, vim em busca do mundo sem ruído, preciso sentir o pulsar dentro de mim, aproveitar os poderes das forças silenciosas para reciclarem algumas cicatrizes do martírio e baralhar a geringonça do ego.
Neste jardim da eternidade, nem tudo que reluz é ouro, podem ser folhas secas douradas, mas trouxe o lápis dos rascunhos para escrever na natureza e semear rosas vermelhas para depois enfeitar as árvores de Natal.
Adoro desatar nós do coração, fazer florescer histórias que ninguém conhece, mesmo sentindo que existem invejas escondidas atrás dos arbustos.
Caminho lento, com os pensamentos a dançarem nas curvas das memórias, respiro profundamente devagar, como se o mundo estivesse em suspense e a omnipresença da mulher atravessa-se o ar que inalo.
Sou como um pião a girar, contigo sempre nos pensamentos, para mim és a verdadeira obra de arte, a poesia sedutora que faz corrupiar o movimento das hormonas da felicidade.
Posso não trazer dinheiro comigo, mas os bolsos estão sempre cheios de palavras melodiosas, de músicas poéticas, com vários sinónimos de amor e com eles soltar magia no ar. Em sintonia com o compasso da vida, caminho devagar a palmilhar novos segredos e com o chão molhado, parece que estou no epicentro do mundo, a transbordar ilusões através da transparência da mente.
Com letras soltas verbalizadas aos rasgos da liberdade, tento enganar a ansiedade da paixão e os pensamentos em brasa nos dialetos de outono.
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