Bailado perfumado...
05 de Abril, 2022
Não quero ficar prisioneiro do passado e muito menos, ficar a olhar eternamente para os reflexos embaciados no espelho. Sempre vivi com fome do futuro, com o corpo em constantes rebuliços, em redemoinhos de sensações que fazem as hormonas viverem tresloucadas. Sinto o saracotear enérgico do sangue nas veias, o pulsar intenso, vibrante do coração, e, portanto, nunca deixo adormecer o íntimo. Diariamente alimento o ego, com novas prosas, criadas na paixão pela divindade feminina e nunca fico com saudades das memórias.
Aqui estou, a dar corda à ilusão, de forma abstrata, contigo na imensidão dos pensamentos e que fazem a reciclagem da minha alma.
Chego a ter pensamentos proibidos, que por timidez não transcrevo em poesias, mas carrego na imaginação todos os enredos de amor.
É como do vazio, criar uma tela onde surges como um anjo divino, cristalino, vestida de dançarina e encarnada numa refinada boneca de porcelana.
Quero dançar contigo, como um dançarino malicioso, com as mãos irrequietas, mas não tenho pés de veludo.
Apareces, solenemente bela, iluminada, com os braços abertos, como se fossem asas desconcertantes, em bicos de pés, num bailado de cisnes, encenados num palco de nenúfares pousados nas ondas gigantescas do mar.
Num horizonte, pintado a cinzento infinito, sobre ti, sobrevoam gaivotas, como se venerassem a tua brancura glaciar.
Ainda espero que abra uma fresta entre as nuvens para entrar os raios de sol, mas mesmo sem ele, sou iluminado pelo brilho intenso dos teus olhos. São lindos, neles espelha um mundo misterioso e poético para descobrirmos juntos, de mãos dadas.
O rio corre suavemente debaixo da ponte e o mar revolto ajoelha-se a teus pés de forma submissa, a bajular-te a beleza corporal.
Olho-te, com desejo de deslizar as mãos pela epiderme, de tocar os lábios de mel, perfumados e deixar-me enlouquecer nas fantasias mais impuras.
Talvez sintas a minha hipotética presença, nem que seja enquanto escutas os sopros das minhas carências e se as aprofundares, sentirás ventanias descontroláveis.
Numa simbiose hipnotizante, deixas-me fascinado pela química da resplandecência, enquanto encho os pulmões com a maresia da tua sensualidade feminina e deixo o coração aplaudir de pé o teu bailado perfumado.
Respeita os direitos de autor
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