Escapadinha romântica...

Escapadinha romântica...

As plateias estão ensonadas pelas cadeiras vazias, as andorinhas com a vida perdida e os pensadores com os raciocínios fechados.
Parece que fui aspirado pelo tempo, sinto-me um cavalo cansado e os pensamentos completamente surdos, têm sede de perfume e fome de vergonhas.
Também tens a alma amargurada pelo brutal tamanho dos ecos, sentes a minha ausência nos braços, precisas de fazer o funeral às mágoas e ficas a beijar as minhas sombras.
Vivemos um período de sossego silencioso, dentro dum convés, algemados por sentimentos estranhos e com uma vontade enorme de sair da toca.
Os pecados virtuais, não conseguem preencher a solidão, não alimentam os poros, não são combustíveis para aquecer corações.
Precisamos de mais, de sentir, de ligar as acendalhas do amor e ficarmos agarradinhos a carburar afetos eróticos.
Numa coragem valente, arquitetamos desejos e marcamos um encontro junto ao mar, bem longe dos olhares que policiam confinamentos.
Cheguei mais cedo, trouxe no bolso o às de copas e a caneta do poeta para escrever poemas no peito. Enquanto espero observo a lua na escuridão, ouço as estrelas a sussurrarem invejas e admiro as nuvens no céu a desenharem sonhos com asas.
Sinto as lamparinas da paixão a chegarem num redemoinho de vento, és tu que surges ao longe iluminada pelo farol.
Atraídos um pelo outro, a soltar bafos quentes, corremos como galgos, até cair numa procissão de carícias feitas pelos andores dos abraços.
A negra imensidão clareia como se o sol estivesse a pôr-se de novo, as sirenes do farol ligam e iluminam os nossos rostos felizes, espelhados no azul forte do mar.
Nos reflexos noturnos, vejo o espelho da coragem no teu rosto corado e sem perder tempo a tua língua invade-me a boca numa ventoinha de beijos e as mãos a deslizarem pelo corpo num cortejo obsceno.
Deixas-me sem ar, a sensação é como saltar de avião sem paraquedas, que até o olfato fica excitado com a tua boca de mel.
Com desabafos das nossas lágrimas, choramos num ressuscitar de felicidades tendo como única testemunha o oceano ignorante. Ele, não sabe, nem imagina que estávamos em casa, selados e que decidimos viver os sonhos na realidade, dentro de um cubo mágico.
Com as peles coladas feitas medusas, os corações ao alto, libertamos as adrenalinas numa diversão invejosa na arte de amar.
As imposições do estado de emergência, a consciência do necessário confinamento foi o machado que cortou esta escapadinha romântica.

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