Escutar o vento...
23 de Setembro, 2020
Saí do cativeiro quotidiano em busca de tesouros misteriosos, apenas levo comigo a universalidade poética e a nobreza sem fronteiras do pensamento.
A alma essa vai vagabunda, iludida em traficar beijos, sem teias de aranha em novos romances viscosos.
Ânsias compulsivas deste vilão de sonhos, que nas cartas abertas instiga de forma abstrata silêncios promíscuos. Um crente sem controlo das emoções, viciado nos pecados da juventude, vividos sem tabus púdicos e encurralado nas promessas de amor.
O cenário é edénico, tão opulente que corta respirações, pelas sensações fortes e é por isso quero que partilhar as emoções.
Tiro as algemas às velas dos moinhos, fantasio a areia com malagueta picante, semeio perfume nos passadiços, dou asas aos velejadores de elite que navegam bem longe nas marés e fico a ouvir os murmúrios dos segredos da natureza.
Sou a única testemunha das confissões do vento aos espíritos da solidão, abro o peito às paixões aprisionadas e fico com o ego purificado contagiado pela paz.
Ouço os estilhaços dos beijos, os gritos primitivos dos amásios, que ardem libertinagem e deixo-me deslumbrar pelos fadistas sentimentais.
A minha inocência é apenas uma nudez insolente, que na cabeça deste mentor de ilusões glamorosas, germinam versos infames às plateias dos bordeis e acabo sempre aplaudido de forma apoteótica pelas mulheres imaculadas.
Os mistérios são os martírios, de quem deseja a minha intimidade poética, tenho essa consciência, mas amo o magnetismo na celebração da vida.
No céu os olhares dos santos são elogiosos, talvez com irreverência anticristo, castigos pelas transgressões na liberdade dos romances no passado e que benzeram com fogo os bacanais do inferno.
Fotografo o coração, absorvo a forte ventania, que carregam energias para futuros atos de coragem. Supero as lutas de pensamento que se esbatem no horizonte e fico a escutar o vento a beijar a minha pobre alma.
Respeita os direitos de autor.
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