Espalhar perfume...
06 de Maio, 2025
Não me lembro, mas talvez a noite tenha sido turbulenta, acordei com as cuecas sem elástico e o quarto está frio com sombras no chão.
Dói-me a garganta e os ouvidos, já não estou habituado a dormir sem a coberta, antigamente dormia descalço até ao pescoço e o corpo não se queixava.
Enfim, não me posso lamentar, apenas me levantar e devolver a energia que a alma precisa e fazer do dia um novo capítulo de felicidade.
Ainda pensei em viajar no espaço em busca do amor-próprio, mas prefiro ir em busca do casulo de mel e com ar desafiante, saio ao relento e navego num barco no rio.
Ao longe, no silêncio, com a iluminação desligada pelo apagão, tento escutar com os cinco sentidos apurados até sentir o esqueleto arrepiar.
De peito aberto à aventura, com a lanterna dos sonhos ligada, perceciono luzernas calorosas disparadas pela hélice dum sorriso contagiante.
É uma obra de arte, ou simplesmente uma tela abstrata de uma mulher de branco puro, quiçá seja apenas um sonho fruto das minhas carências.
Como um poeta despenteado, fico ao longe admirar a donzela a desfilar no caminho humorado pela alegria, enquanto faço fotografias imaginárias.
Ela transporta na alma cardume de carinhos, uma vida com sonhos a cores e possuída pela sua ternura, confidencia segredos ao vento, enquanto com os olhos de águia vislumbro a sua nudez transparente.
Entre as nuvens passageiras, surgem borboletas a voar como pássaros loucos, transformando a tela num jardim encantado. Elas, talvez atraídas pela essência do eflúvio feminino, envolvem-se na divindade das suas mãos e escrevem no ar poesias de amor.
Abismado com a delicadeza da mulher e pelo encantamento das borboletas, deixo-me levar pela inspiração romântica e pelo desejo de alimentar a paixão.
Tento remar até junto dela, mas sinto uma ansiedade despropositada, uma barreira invisível que me bloqueia e apenas consigo admirá-la de longe.
Num jogo de sombras românticas, ungido pelo seu perfume, percebo que ainda vivo num sonho de vozes perdidas, enquanto ela na ilusão da virtualidade continua a espalhar perfume.
Respeita os direitos de autor