Leitura ardente...

Leitura ardente...

Incrível como num ápice tudo se transformou num mundo das trevas, de incertezas, de pânicos que nos fazem mergulhar no epicentro do medo.
O tempo é de recolha e estás em casa há dias sem sair, sozinha, numa quarentena com espasmos de ansiedade, uma inquietude desnecessária, mas que mesmo assim, atormenta os pensamentos da tua sensibilidade.
Já fizeste de tudo para ocupar as horas durante o dia, embora as noites sejam mal dormidas, com mais frio da solidão que o habitual. Tudo stress emocional da mente que deturpa a pureza dos raciocínios. Divagas entre as várias divisões da casa, um zombie comido pela morbimortalidade psicológica, um corpo sonâmbulo, e vagabundo.
Fazes “zapping” pelos canais todos, mas as notícias são mundiais, tudo centralizado e infetado pelo coronavírus, um monstro sem rosto, sem corpo visível, mas que pode ser letal ao humano.
Ginástica, bolos, publicações nas redes sociais, arrumar e fazer decorações alternativas tudo rotinas que desgastam e com tantos dias pela frente, precisas sentir estímulos de novas sensações.
Vais até à sala, os olhos vagueiam pelas inúmeras obras nas prateleiras, mas é pelos dedos em transe que sentes o pulsar na escolha do livro, o Criador de desej❤️s.
Compraste, mas ainda não tinhas tido tempo para caíres na magia das palavras escritas pela tinta da alma do autor.
Sabes que são vários capítulos, com histórias diferenciadas da sua sensibilidade, um romântico e erótico perdido na arte de sonhar de corpo e alma.
Como se fosse um jogo de xadrez, jogas um peão aleatoriamente numa página, que pela tua psicose alucinada se imola pelo fogo e entras em tremuras desgovernadas, em moralidades imorais. Hipnotizada entras na história, como submissa viciada, encarnas o espírito da escrava dos prazeres e do devaneio. Tens licença para amar uma vida louca, com malícia, respirar soluços bíblicos do diabo, rezar homilias pecadoras, ouvires zumbidos ofegantes. Coras e deixas a efervescência do corpo iluminar sarcasmos aos santos com tochas feitas de dinamite.
Com a leitura, cada sílaba entranha nas veias, sentes os ossos a estalar, a pele a fumegar, num calor ardente que corrói a sanidade do irreal e entras na viagem da intensidade com o corpo a despertar safaris selvagens.
Chupas os dedos, acaricias os lábios, lambes os seios, tocas o pescoço, as orelhas, apertas, bates nas nádegas, arranhas a pele e ouves as vozes suadas pelas blandícias dos poros.
É frio, mecânico, mas desejas que ele dê arrepios vulcânicos, com promiscuidades safadas, metes na boca como se fosse uma lavandaria de prepúcios, fazes deslizar suavemente na humidade dos lábios vaginais, no latejar do clitóris como se tratasse de línguas fervilhantes em beijos de lagarto. Impulsiva, corroída pela loucura das hormonas difamas o ânus, com o plug anal, enquanto movido a pilhas penetras o vibrador até atingires múltiplos orgasmos. Sentes o corpo saqueado por mil esquadrões de bandidos, os silêncios vazios são agora preenchidos com gemidos profanos do uivar das lobas.
A mente vence a matéria, tudo libertações espontâneas do íntimo impregnado no vício da autenticidade do autor, que cria em ti a sofreguidão da submissão corporal e a desinfeção da alma.

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