Na tua sombra...

Na tua sombra...

Não tenho nada de ti,
apenas a sombra agarrada às minhas memórias.
Ela (sombra) ainda brilha e através dela tento tocar-te.
Não consigo,
apenas arrepio, quando espicaçado pela imaginação.
Respiro fundo, fantasio,
o corpo vibra e pulsa.
Lembro o teu olhar, foi nele que sufoquei.
Recordo, os lábios,
foram o elevador da magia.
E, deixaram-me viciado nos beijos.
O piscar das pálpebras,
o cintilar das íris carregadas de reflexos cristalinos.
O toque aveludado,
desgovernado no tatear pelos poros.
As carícias que abafam suores.
O deslizar dos dedos que serpenteiam seduções poéticas.
A tua casta divindade como essência feminina,
o perfume que faz tilintar a mente e desperta orações de amor.
As temperaturas febris nas ressacas de carências,
brotam labaredas dos corpos queimados.
A tua sombra, é o que tenho guardado.
São silêncios de amor e,
fotografo cada instante, como se fossem uma eternidade.
Sentado, nesta sala da tortura,
algemado num relógio voador,
coberto de odores encardidos,
espero por ti,
Os pés estão dormentes e os ossos doridos.
Os tímpanos são dum surdo a falar comigo,
o ego, grita com o credo na boca.
E, as lágrimas estão abafadas pelos soluços dum gago.
Deixei a porta aberta,
à espera de outros silêncios.
Dos emotivos,
Dos indignos poemas escritos em versos satânicos.
E, dos efusivos,
aqueles que matam cios adormecidos.
Alguém entra, sinto os passos,
mas, não és tu.
Talvez seja o vento com ânsia de varrer memórias.
Afinal,
é uma luzerna de sol transformada numa beleza intangível,
uma obra de arte,
esculpida na parede.
Finalmente,
não é sombra.
É um desenho de Deus, criado pela tua sombra…

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