Sanidade pandémica…

Sanidade pandémica…

Entramos num mundo de loucos, ouvimos em cada esquina palavras de ordem e caímos num purgatório sem nexo algemados ao medos do nada.
As paredes são gélidas, as janelas partidas, os ventos tumultuosos, os furacões assustadores e o sol sombrio esbate-se todos os dias no chão poluído.
Lá fora, embora tenha encomendado flores, o entregador não chegou a tempo e o jardim transformou-se num deserto de catos e silvas espinhosas.
Caímos neste cantinho miserável, ficamos uns sofredores maquiavélicos, com horrores abertos na mente e arrepios no estômago.
Os relâmpagos (contágios) ainda persistem, parecem descargas elétricas no quotidiano, desgostos amorosos fatais e nós aqui internados, famintos de travessuras, com os sons dos afetos abafados por detrás das máscaras.
Os relógios parados sem desconto da vida, os olhos perdidos, as roupas rotas, suadas, tresandam e até os juízos das crianças doidas, estão açaimadas como os cães.
Vivemos mentiras nos sorrisos escondidos, sem arejar os espíritos e fechados como aves de rapina.
Maldita pandemia, surgiu como pena capital na vida humana e estarrecemos constantemente  o olhar nos espelhos distorcidos.
Grito, não sou louco, embora talvez para lá caminhe.
A humanidade precisa de libertar-se desta paralisia, das dores fustigantes no íntimo, de matar os fantasmas que tomaram conta dos corpos hipnotizados.
Ressonamos bebedeiras, soltamos gritos animalescos, rebolamos faíscas, como leões moribundos a deixar fugir as gazelas para os macacos à solta.
Espreitamos pelas janelas, ao longe vislumbramos pequenos raios de sol, não sabemos se será outro paraíso cruel, mas sentimos ânsia em festejar a saída definitiva da pandemia.
Ainda despenteados da razão, escravos da loucura, com o friozinho na espinha, bebemos água benta, como se ela fosse a libertação para a felicidade.
Com os lábios rasgados pelo cio, tentamos iluminar os pensamentos do desejo e destemidos em fúria fugiremos a voar num jato impulsionado a adrenalina.
Resta perguntar ao subconsciente se teremos o dom do equilíbrio emocional, depois da sanidade pandémica.
 

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