Silêncios amordaçados…
11 de Outubro, 2021
És um cofre carregado de desejos, uma pauta escrita com canções românticas, uma luz que nunca será apagada.
Tu sabes disso, mas o destino foi cruel e traçou lágrimas penosas no rosto.
O Satanás feito homem tolheu o teu ser, a tua essência feminina. Ele, foi constantemente uma guilhotina a cortar os teus sonhos e regava a tua beleza com o combustível das frustrações.
Estavas apaixonada, o amor é cego, turbou a tua lucidez e ajudou a apunhalar a tua felicidade.
Os teus sonhos, eram dançarinos com asas nos pés a dançar num campo aberto de girassóis, mas tudo mudou num instante e transformou-se num purgatório dos sonhos.
Deixas-te desrespeitar o íntimo, ficaste subjugada à voz do cão a rosnar e a liberdade passou a ser apenas fantasia.
Eras um anjo em cera, bela, pura, perfeita, mas que gradualmente derreteu com os maltratos infringidos pelo bandido sem escrúpulos. Bandido, uma palavra pequena e vã para um monstro enorme.
Aprisionou-te desde o dia que julgavas ser o mais feliz da tua vida, o casamento. Hoje, nem o queres recordar, traz à memória transtornos cruéis, situações subsequentes que foram fatídicas e que acabaram por tornar-te numa estátua de medo decorada com situações de pânico.
Ele, não era apenas um homem insensível, era um animal e tinha tudo escrito na testa.
Quando eras escravizada no colchão, como se fosses somente carne recetiva, pensavas ser tudo paixão e o amor cegou-te.
Os gemidos, não eram prazeres! Eram ecos ensurdecedores da dor que irias sofrer no íntimo durante muitos anos pelo domínio imposto.
Passaram décadas, até perceberes, que precisavas de desinfetar o ego, de gritar com as goelas bem abertas que és mulher e mereces ser feliz.
Os dias foram clarões da noite e as escuridões dias de tormenta.
Está tudo escondido nas memórias e ainda sentes o cérebro a ranger, quando queres soltar um sorriso. Sorri, que ele é encantador, brilha e tem o dom de gelar o inferno que passaste.
A tua alma nunca mais fechará as brechas das lembranças horríveis e ainda segreda as vozes que estilhaçaram desgraças. Faminta de viver, ganhaste coragem, soubeste superar o sofrimento, foste decidida e deste um passo de gigante em frente. Finalmente és livre como uma borboleta a voar com as tuas próprias asas.
Agora, cada dia não é um novo buraco sem fundo, mas uma cratera de esperança, de entusiasmos e nunca mais vais deixar os silêncios amordaçados.
E, tu vais?
Respeita os direitos de autor.