Sonhos das crianças...

Sonhos das crianças...

O dia está cinzento, com uma chuva miudinha e acordei com pensamentos infinitos e mesmo estando na minha solidão preciso de falar sozinho. Sinto-me um papagaio falante, um pouco perdido em presságios de uma paz estranha.
Espreito à janela, vejo tudo vazio, um silêncio apenas interrompido pelas gaivotas que sobrevoam o mar ao longe.
Sentado, folheio o álbum de recordações, várias fotos da minha infância e cria-se no íntimo um apego a tempos distantes.
Tão bom quando era criança, soltar as goelas nas gritarias, impregnadas de sorrisos e deslizar feito um louco nas corridas de skate. Parece que ainda ouço as vozes dos amigos, os entusiasmos nos sonhos da inocência e as gargalhadas sonoras ainda coabitam espelhadas no ego.
Tento nas reflexões, cruzar-me com o passado da meninice, é uma forma de sentir as crianças de hoje, de comparar as roupas, os brinquedos, as mazelas e as cicatrizes nos joelhos, fruto das aventuras mais arrojadas.
Fecho os olhos e tento espreitar pela fechadura imaginária, esse mundo acriançado…
Ouço as conversas, os gritos de felicidade, brincam num parque infantil, fazem jogos, em correrias constantes, deixando as camisolas suadas pela diversão. Tem brinquedos, são felizes, vejo nos olhares deles, possuem o colorido das borboletas estampados nas íris.
Pego na caneta mágica e tento escrever os sentimentos, não os meus, mas os deles, construídos na candidez, eu sei, mas quero sentir a felicidade dessas crianças e quiçá conseguirei descodificar em cada uma, os seus sonhos. Desenham corações na areia, é o mundo deles, com certeza ladeados pelos olhares distantes e atentos dos seus progenitores.
O que irá dentro das suas cabeças?
Não sei, mas de certeza muita ingenuidade do mundo que vivem, não tem o discernimento para distinguir o bem do mal dos adultos.
Tão bom ser criança, possuir a pureza da alma e do espírito e tudo que tocam são novas aventuras de felicidade.
E, aqui estou a “viver” o mundo deles, numa ilusória satisfação de poder contribuir para o sorriso de qualquer criança.
Do nada, um arrepio na medula, parece que pressinto uma faca afiada, direta ao coração. É, um silvo hipersónico, que irrompe o céu das crianças e solta um intenso clarão com o som da morte.
Buuuuuummmmmmmmm 💥💥💥💥💥.
Atónito, sinto as lágrimas da comoção a caírem pelo rosto e a pingarem no regaço.
Uma ordem, desumana, vil, cruel, vinda dum déspota assassino para lançar mais um míssil. Destruiu o parque infantil, reduziu a cinzas tudo em redor, matou os anjinhos e manchou de sangue os sonhos das crianças…

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