Telefonia de fetiches obscenos (II)...
31 de Outubro, 2018
Sentado no sofá das realidades sinto-me um velejador de caravelas em águas relaxadas, com o corpo encaixado na sintonia das ondas calmas e de alma perdida na leveza das meditações dos oceanos.
Adoro sentir a brisa da música suave a pingar das colunas da sala, beber os aromas das velas aromatizadas, em que a chama dos pavios com a luz ténue provoca sombras de pura arte erótica.
Tudo passa pela cabeça, o passado do mundo corrupto e imundo de falsidades, o presente deste novo Planeta azul em que os segredos são de dignidade e do futuro no encantamento da sensibilidade.
Fecho os olhos neste viajar no tempo, nos imaturos momentos de criança, na rebeldia da juventude adolescente, até aos dias de hoje.
Tudo para mim mudou e tudo em mim se transformou.
Um corpo que o espelho desenha e uma alma onde a minha intimidade poética escreve.
As labaredas do fogo se elevam no recuperador, faz frio nesta noite com pingos de neve líquida gelada.
O toque do telefone interrompe toda a química atmosférica entre os pensamentos e os silêncios da sala. Atendo, no pressentimento do desconhecido, até ouvir o teu timbre de voz.
Apenas tenho tempo de raciocínios das tuas últimas palavras, quando ligaste da última vez:
“até breve meu escravo condenado desta tua puta vestida de santinha”.
Tento remexer os teus mistérios e ilusões, mas vens como sempre na tua autoridade punitiva em que apenas tenho direito a ouvir, nesta tua habitual praxe de vícios.
“Sou a viúva negra afamada da boémia, a deusa das fontes de desejos selvagens, a princesa de jogos armadilhados dos sinistros do sexo, a donzela faminta e contaminada pela obsessão de teu corpo”.
Tuas palavras entram em mim como um abutre que faz corar a alma, meu corpo sente a prisão das algemas punitivas e os arrepios no estomago por navalhas cortantes.
Mas tua voz não pára.
“Sou o vampiro de rosto nas sombras que se alimenta dos teus bichinhos do degredo, o armazém de tochas que incendeia as tuas emoções mais confusas, a fêmea jogadora da glorificação feminina”.
A camisa de forças aperta ainda mais o meu corpo, sinto tua imagem enigmática apenas na voz esfuziante, como se fossem sinos a rebate dentro de mim.
E, continuas.
“Tenho os poderes de alteza e uma mente expositora de luxurias, por isso não tentes oprimir a minha energia, nem estancar estas hemorragias rebeldes, pois todas as regras serão quebradas. Invadirei teu planeta da forma que tu gostas nessa tua mente carbonizada de chamas, com as botas de tacão e cano alto e de lingerie vermelha. Sentirás as cobiças atrevidas, as ousadias profundas das mamadas de engasgar que relatarei em teu corpo.”
Sinto o calor dos rubores na pele, mas não contenho as ereções focadas no desejo que até deixas de ser a matraca fantasmagórica virtual e meu corpo descai no sofá enquanto continuo a escutar.
“Sentiras todos os gemidos satânicos, os orgasmos escancarados em tua boca, espalharei por todo meu corpo o teu sémen arrancado das tuas insónias de vícios, que excitado até no olfato te tornará um indomável criador de desejos”.
Tudo que dizes, muda o tabuleiro do jogo da solidão do vazio, para uma overdose de fantasias sexuais de masturbações incessantes. Palpitações e formigueiros tomam conta de mim e consegues aquilo que tanto desejas. Ouvir meus gemidos de suplicas, a minha linguagem mental de palavrões carentes.
Desligas o telefone, mas antes deixas mais umas palavras.
“Até breve criador de tudo que semeias nesta ninfomaníaca voraz”.
respeite os direitos de autor