Nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um, zerooooo…

Enquanto se abriam as portas de um ano novo, batiam com estrondo as zero horas nos relógios.

Os copos cheios de licor da felicidade tilintavam no ar e voavam até se transformarem em centenas de estilhaços de vidro espalhados pelas ruas. Sem perdas de tempo, os beijos rufavam nos lábios entre os foliões, os brilhos dos olhos eram iluminados pelo desmedido e imperdível fogo de artifício no ar. A música, a folia, os gritos histéricos vestidos de adrenalina invadiam os corações e despenteavam prazeres para novos e insanos regozijos. Com as veias alagadas pelo álcool e dores de cabeça, caíam todos em delírios confusos, batendo de frente num pesadelo anunciado pelas vozes aclamadas do inferno:

- Sois mesmo uns idiotas convictos, acabais de entrar em 2020 e festejais eufóricos o que será o vosso carrossel desgovernado para a desilusão. Que fraqueza de espírito, só pensais no mediatismo egocêntrico e passais a vida apregoar palavras em vão, quando nem sabeis o que é a generosidade e o amor. O vosso íntimo é balofo, despido de essência e sem a sensibilidade dos verdadeiros valores humanos. Acordai, pois, vivereis com as artérias geladas, impregnadas pela sobrevivência suada, com a alma a rufar sombras fantasmagóricas e a precisarem de nervos de aço. A lápide da vida será coberta pela triste tristeza dos suspiros de abraços, dos sorrisos de lágrimas a caírem nos rostos escondidos pelas máscaras e as rugas da memória serão eternamente de sofrimento. As rotinas serão dentro de quatro paredes, onde nem os ecos de beijos se ouvem, com os convívios a serem iluminados pela gélida escuridão e vivereis como ratos no esgoto, escondidos de um vírus invisível. Ides implorar por liberdade, pelo toque autêntico de quem amais, mas a lei do Belzebu não terá clemência e ditará a sentença com a extinção da raça humana. Esta é a sina do diabo que facilmente vencerá as convicções podres da humanidade, onde os mandamentos são ditados pelo egoísmo e pela ganância. Resta-vos caminharem para o precipício até caírem no Apocalipse!  

As palavras de Lúcifer carregadas de fel, foram entoadas para todo o mundo e as labaredas do sofrimento inundaram os anjos que coabitam dentro do nosso ego.

Passado um ano, há ainda no mundo quem tenha fraqueza na esperança, ou ache uma mera ilusão, mas enganam-se porque mesmo vergados é a esperança que nos permite sobreviver e nunca quebrar.

Deus não dorme e na posse dos dons da nobreza, acabará por derrubar o Satanás. Ele, através das dádivas divinas, inspira-nos e desperta novamente as nossas capacidades e talentos naturais. Com discernimento e muita fé soubemos ouvir e interpretar as suas palavras sábias. E, nos recônditos laboratórios, longe dos olhares do demónio, seres vestidos de super-homens e mulheres-maravilha, lavam a alma com água benta e profetizam a criação da vacina que será a cura da pandemia.

Esperemos que 2021 seja o interruptor para a humanidade acender a luz e iluminar a razão com o discernimento do que realmente é essencial na vida.

Que as sementes da paz, da compaixão e do amor germinem para o renascer da esperança. 

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