Telefonia de fétiches obscenos (III)
02 de Maio, 2019
Sinto-me um cão sem dono, mas com dúvidas na alma, por isso mergulho nas palavras como se elas fossem bússolas. Nem tinha noção, mas caminhei todo o dia nas reflexões dos caminhos do destino, que até perdi as horas da claridade, agora iluminadas pelos candeeiros das estrelas.
Bato a porta e abraço o sofá com a música “zen” no ar. Gosto de sentir esta paz e tranquilidade que até os silêncios são estátuas enfadonhas adormecidas.
Ao longe ouço os cães a ladrar e sinto o rastejar das serpentes venenosas.
Sinais de desassossego mesmo para quem gosta de surpresas, mas sinto o fedor do cheiro da viscosidade gordurosa.
Caricato, mas afinal é apenas um toque do telefone que invade a serenidade da sala celestial e que faz proliferar nos ares escárnios.
Atendo e pergunto várias vezes quem é, mas a surdina é total com bafos hipnotizadores e desligo. Nem tenho tempo de sentar novamente, para o toque ser reincidente com aspereza.
Desta vez sou atacado com gritos tribais das solidões mortais.
Mas reconheço o teu odor enquanto soletras que és a viúva negra. Faz tempo que não vestias a pele de puta nesse corpo de santinha, que já tinha esquecido a última vez que atazanaste o meu juízo.
Tens o dom de espalhar as vitórias das suadelas que desejas com os homens mais sacanas no atrevimento. Mas sei que é a mim que queres e isso faz com que nunca desligue e ambicione beber pelos teus entre folhos molhados.
Ávida na sabedoria das palavras, dizes para não ligar os sinos românticos com ramos de flores, mas que solte as fúrias sexuais do lobisomem feroz. Soltas espasmos com labaredas esgazeadas pela vontade de sexo. E continuas as tuas rezas ao Criador.
- Como viúva negra, sou a rainha do prazer, quero sentar-me na poltrona do teu reino e inundar o teu planeta com a minha seiva molhada das hormonas saltitantes. Hei de enlouquecer até as nevrites do teu cérebro, não com relatos de experiências, mas com desejos de ser traçada com histórias perdidas das tuas safadezas de safado.
O meu corpo arrepia de tesão e o coração fica aos saltos no trampolim do galdério.
E, continuas.
- Já estou toda despida, apenas retiro a última peça de roupa, umas meias de licra preta, estou faminta em esfarrapar os joelhos a ser fornicada por ti num palco rodeado de multidões excitadas. Já comi as tuas sementes alucinantes, mesmo sabendo que existem muitos abutres famintos. É contigo que quero rasgar a pele de tanto coçar as comichões das ardências da fornicação.
Acendes o interruptor das ereções e uma teia de pensamentos e castigos com estrondo passam na minha cabeça que quero impor no teu corpo de submissa. Lambo as beiças só de imaginar a garganta funda que terás, nas euforias das celebrações de quereres pagar com o corpo.
Mato o membro em fervores pelas masturbações descontroladas, mas é isso que realiza o teu gozo.
Deixas-me perdido nesta ilha deserta e desta vez nem te despedes, o que castiga ainda mais os meus desejos.
Desligaste no pódio dos gemidos de júbilo que libertei.
Fico com as certezas que tudo é estudado por ti, que sabes ser astuta como uma velha raposa, uma verdadeira criadora de fétiches.
Respeite os direitos de autor.
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