Almas gémeas...
05 de Novembro, 2020
Não nos vemos, nem precisamos, porque sentimos através da comunhão do que nos une: as almas.
Temos essa química pela cristalinidade da essência, pela cumplicidade que se abraçou no passado e nunca mais se desuniu. Ainda guardamos na memória os ecos dos orgasmos, sem medos da esperança e apagamos muitas tristezas nos sabores da privacidade. Uma confiança que nos une e cega nas viagens da inspiração.
A pressão da vida, as rotinas confusas criaram bolsas sofredoras, nos pensamentos do nada e os nossos relógios pararam justamente no mesmo instante. As sinergias da pureza dos nossos sentimentos ouviram com estrondo de ambos os lados. Bem se diz que quando um gémeo não está bem o outro sente tudo como se fosse na sua carne.
Ouvimos e paramos…
Penhoramos as roupas, compramos um barco de papel, navegamos com soluços para esmagar tristezas do ego e engarrafamos sorrisos que levamos no porão. Viajamos na inspiração sem destino e desaguamos num cenário idílico. Lançamos a âncora, corremos descalços de mão dada pela praia, enquanto ouvimos músicas no ar cantados pelas sereias das marés vivas.
A areia encarna num tapete voador, onde fazemos uma fogueira com as bolhas loucas do amor, dos suores que rasgam, das lavas viscosas que escorrem, enquanto espetamos nas costas as asas do diabo e sem misericórdia do inimigo voamos até ao paraíso do inferno.
A ilha em chamas é abalada por um sismo, ouvem-se arrepios na eternidade e caiem acendalhas acesas por todo o lado, que iluminam a noite.
O vigor da felicidade conflagra a fonte luminosa do desejo, sangramos as lágrimas com os risos do coração e o céu fica encoberto de espelhos onde refletem as nossas cumplicidades.
Uns santinhos na terra, viramos poemas pecadores e estremecemos a pedalada da excitação com os corpos em brasa.
Entrelaçamos as peles, os beijos com íman nos lábios, os mimos molhados, os suspiros alegres e com ardor malicioso esfolamos o vírus.
Dá-se uma explosão de estrelas, a chuva começa a cair com sabor a champanhe e encharcados partimos os copos cheios de dopamina.
Embriagados pelo tripúdio do assanhamento, rebolamos faíscas com as bocas coladas nas fontes do prazer, a lamberem com fome de canídeos a intimidade.
Ouvimos as sirenes dos músculos retorcidos, ainda tentamos regressar da ilha fantasiosa, mas os barcos de papel afundaram nas salivas pelas drenagens bocais.
Precisávamos de arejar a mona, de alinhar os ponteiros dos relógios biológicos e ficamos abraçados corporalmente a sentir a anestesia que toca as almas gémeas...
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