Rosto da alma...

Rosto da alma...

Não gosto deste período do calendário, é sombrio, tristonho, a noite caí rapidamente e já não sou morcego. Já o fui, no passado longínquo, nas loucas noitadas da juventude, onde para mim não existia cama para dormir, mas para fazer amor.
Tudo passa rapidamente, o relógio da vida é como uma escada rolante, onde só desce e nos faz definhar diariamente e a idade não perdoa. Ainda sou uma criatura intensa, amante das amizades, vivo abraçado ao pagode, de sentimentos mais refinados e com a comoção alojada no íntimo.
Há quem procure conhecer-me pelo rosto, mas se olharem para mim, facilmente veem que uso uma máscara translucida, de uma brancura notável, que reflete a limpidez da minha alma e é através dela que devem tentar descodificar-me. Mas desde já aviso que sou como um cubo mágico, difícil de decifrar, mas facilmente compreendido pelos corações mais sensíveis e esmerados.
Aqui estou sentado, a teclar no computador, não apenas para rabiscar letras, aglomerar palavras, ou fazer dos parágrafos os ecos do amanhã, mas difundir sinais pulsantes e fonéticos do ego, para que os possas percecionar.
Nesta solidão, naufrago na cápsula do tempo, quero gritar ao silêncio, não para expiar pecados, mas porque sou livre da minha própria mente e aprendi a não perder tempo com futilidades, porque a vida não é eterna.
Amo ser este poeta, que sente as vivências caladas e transmitidas através dos beijos e abraços. E, quando os silêncios não criam acalmia nos pensamentos, é porque são ruidosos e nesta época, a humanidade atravessa momentos, em que o sábio tem de se calar, para que o estúpido não se ofenda.
Mesmo sozinho, as estrelas brilhantes iluminam-me o caminho e devo-lhes a purificação dos sentidos e por transformarem-me num contador de histórias com humanismo.
Olho nos vidros da janela, tem centenas de moscas a espreitarem, parecem obsessivas por cardápios de amantes, mas agora apenas podem escutar o meu maravilhoso coração a bater melodias de fraternidade.
Não vou dourar a pílula, continuo a ser um búfalo intenso, ligado à corrente, com a gaiola da paixão aberta e com uma vontade louca de amar e ser amado.
Doce e apaixonante mulher, tenta ler-me, escutar-me, sentir como é a essência deste trovador, em vez de viveres obcecada pelo corpo, pois esse com o passar dos anos esvaísse na velhice e há coisas que não envelhecem, mas que aprimoram como o rosto da alma.  

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