Cupidinoso fetiche de casada...
Como num jogo da roleta russa, em que dois jogadores fazem despoletar o gatilho do revólver que passa de mão em mão, mas que apenas um será o perdedor e paga com a sua própria morte. Também o fetiche tem os dois gumes, o real ou o irreal.
Como seres pensantes e racionais, temos a capacidade de abrir as portas da fantasia e entrar nos cenários arquitetados e projetados pelas nossas mentes, por vezes em milésimos de segundos, mas outras ficamos perdidos nas simulações do fetichismo, até retornar à vida normal das realidades.
Na tua brancura reluzente, na pureza da tua genuína doçura fraternal como sempre te conheci e conheço, nunca consegui ver em ti desejos magnânimos de profanação, talvez encobertos pela cortina opaca e escura desse casulo que em vives.
Mergulhado nessa ilusão de realismo, nunca imaginei tua misteriosa e mistificação fetichista dentro de teu corpo coberto de beleza e de fragrâncias sanas transpiradas, até ao momento em que ousaste ultrapassar a linha divisória da tua candidez e colocas a máscara implacável da excitação diabolizada.
Abres as portas do teu esconderijo na condição intrínseca do pacto na criação de todos os teus desejos sexuais, por mais insanos e dementes que sejam, mas partilhados em lugares proibidos.
Impões condições que me obrigam ao autocontrole e às transgressões de comportamentos na contemplação sem limites na profanação divina de teu fetiche.
Acedo, colocas a venda em meus olhos e selas com o lacre perfumado da luxuria apimentada como se fosse um véu da castidade nos olhos, descalças todo meu corpo e levas-me pela mão, e quando fechas a porta a sete chaves, pressinto todos os odores da concupiscência de teu quarto a embriagar meu corpo de tesão.
Deitado em tua cama, pela forma dos teus insubordinados movimentos, sinto-te exposta escandalosamente à luxuria e sedenta de desejos corporais imundos, chafurdados nas nossas privações.
Sinto o frio deslizar de tua boca no meu peito, provocado pelo pedaço de gelo que usas, deslizas até abocanhar meu pénis ereto, que dentro de tua boca sente a mistura gélida acalorada da sensação do gelo que teimas em manter, até derreter no calor vulcânico de meu membro deliciado e torturado.
Como possuída pelo anticristo, aninhas teu sexo sufocando minha boca ávida de teu sabor, sinto as labaredas acesas do clitóris a queimar a minha língua perdida nestes versos infames de deleite recíproco.
Inundas todo o ar que respiramos com teus jubilosos gritos de prazer enquanto sinto meu corpo imolado pela tua investida sobre meu órgão sexual, cavalgas numa apoteose desenfreada e nossos sexos se idolatram num fanatismo consumível.
Endeusada pelos desejos e estimulada pela heresia da contemplação, sentas teu esfíncter no meu pénis todo molhado pela bravura de tua vagina e facilmente sinto toda a penetração envolvente em tuas cadências sem rédea, enquanto tua mão sacia teu clitóris até aos suspiros mútuos de orgasmos simultâneos.
Deslizas toda a lubricidade de tua mão por meu corpo até pincelar meus lábios e à provação de teu néctar libidinoso, colas tua boca na minha num beijo intenso.
Aproveitas o momento e amarras minhas mãos às grades da cama, sinto o barómetro da entrega ofegante na respiração e depois da tua certeza da minha imobilidade pelas cordas do Diabo, deitas te a meu lado e sussurras em meu ouvido:
Concretizei o fetiche da intimidade sexual a três!
Atónito com tua palavra inesperada "a três" e surpreendido, pergunto:
A três?
Sim! Respondes energicamente.
Nós dois na minha cama dos desejos e meu marido aqui ao lado amarrado na poltrona dos nossos fetiches a assistir como fantasiamos!
Estarrecido, apavorado perco o autocontrole pactuado entre nós, solto um berro animalesco que liberta meu corpo desta quimera pelo acordar a meio da noite, deste sonho adormecido.
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