Derreter ardências...

Derreter ardências...

Sempre foste uma mulher de extremos, dos oito aos oitenta. A tua linha de vida nas relações sempre foi de uma provocadora venenosa entre o divino silencioso da sedução à fervorosa avidez pela sede carnal.
Já viajei contigo no altar solene, mas também na poltrona regada a gasolina.
Ora trespassas corações como cilindras almas, uma esfoladora de machos bravos e sacanas.
A última vez que estivemos juntos, construímos cabanas de amor com as cumplicidades, ainda guardadas pelo cupido no paraíso.
Hoje não sei, mas o teu convite pelo telemóvel foi feito com a voz que alimenta a raiva dos cães assustados e senti os tambores do desejo a estourar com lágrimas do pecado.
Acedo sempre aos teus chamamentos, sei que gostas da companhia deste poeta com alma, embora nos momentos dos teus impuros exageros, sinta a necessidade de acorrentar o animal que vive dentro de mim.
Chego no teu apartamento que cheira a suspiros e súplicas de submissa. O teu olhar de Lúcifer acende cabeças de fósforos e a tua gritaria mórbida espeta excitações neuronais.
Elevas bem alto o cálice da aliança dos contratos selados com o Satanás, brindas aos anseios de arder em sarcasmos venéreos e bebemos em comunhão.
O teu corpo evapora-se em lava e o meu explode em erupções do cio pela tua vagina.
As paredes fervem, os espelhos suam, as luzes faiscam, as bocas mastigam saliva, as cabeças batem hipnotizadas pelo perfume dos suores escorregadios e o quarteirão fica inundado pelos gritos efusivos de gladiadores revoltados pelas grades das masmorras.
Retalho a língua no ensopado clitóris até pingar baba, enquanto a tua atrevida boca engole e arranca o duro prego pela raiz. Tresloucada cavalgas o teu corpo penetrado na vulva até às profundas das trevas e arrebentamos as molas do colchão como gorilas enraivecidos.
As palmadas são efusivas sem rédea nas nádegas, numa velocidade furiosa, umas feras desgovernadas a trincar ossos nas festas loucas.
Rogas sem decoro para seres tangida numa minuciosa devassa em todas as palpitações e comichões desse teu guloso ânus e sentes os tufões lacerantes profundos, até soltares os esbaforidos ganidos ruidosos.
Estás nos píncaros da tua rebeldia acesa, chegas a ser cruel na impetuosa pertinácia insaciável na forma como devoras a pichota, um dinossauro carnívoro.
Já tinha no passado sido absolvido pelos pecados de boémio sem lei, mas tomo um duche nos teus orgasmos.
Comidos e consumidos pelas labaredas do prazer imoral, abres brechas no tesão até seres uma engolidora irascível de sémen.
Corpos estendidos, transpirações nauseabundas, os cortinados em chamas, os novelos de cabelos arrancados emaranhados no chão, os sinos a repicar, alfinetadas fininhas nas emoções da epiderme, engolimos em seco neste derreter das ardências.

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