Desenhar com palavras...
Umas vezes sinto-me um pimpolho mimado, outras um milhafre ferido na asa e não quero ser um espantalho ao vento, comido pelos pássaros. Não tenho o estigma da soberba colado nos pensamentos, mas gostava de desgovernar fortunas dos festins dos pobres, mas isso só está ao alcance dos governantes. Prefiro caminhar no destino com elegância e como poeta de ilusões, pintar quadros a cores reinventados na criatividade da casa das máquinas.
Hoje, sinto no cérebro a imaginação com a elasticidade dum contorcionista a viajar com erotismo nos camarins da felicidade. De mangas arregaçadas, com as mãos delicadas, acompanhado pelos ecos dos silêncios, dou asas à sensibilidade na ponta dos dedos.
Pego numa folha A4, branca, um lápis de carvão e com eles tento construir puzzles que enaltecem a magnanimidade da mulher. Os calhordas, em vez de a venerar, configuram-na como a branca de neve em fétiches com os sete matulões, com insinuações indecorosas, como se as suas mentes fossem de inocentes úteis a dar banho aos elefantes.
Com a transparência do desejo, descrevo-a nua, com a virgindade fictícia, de santidade cândida, mas para mim nunca será uma boneca de prazeres. É a rainha da sensualidade, possuidora das chaves do reino imaculado, portanto, todos os poemas que ilustro são concebidos na colmeia dos carinhos, com o sentimento da paixão.
A ponta da lapiseira, desliza pelo papel delineando o infinito do finito das medidas formosas da volúpia feminina. Em cada traço, pisco os olhos como se fossem selfies sem limites e gizo tudo com amor sentido. Rabisco uma flor perfumada na folha, com sorrisos enigmáticos, olhares com chama incandescente, de lábios apaixonantes e seios impetuosos num corpo de menina prendada.
Mesmo encarnado num vate, por muito que tente ilustrar a divindade femínea, nunca conseguirei encher páginas em branco de emoções a desenhar com palavras.