Virgindade perdida...

Virgindade perdida...

Em cada o nosso olhar um sorriso de crianças felizes, nas correrias e gritarias entusiasmados pelas brincadeiras. No parque infantil os empurrões do baloiço, as voltas nos cavalinhos que nos deixavam atordoados até ao deslizar nas loucuras do escorregão. Ainda recordo os tempos de nudez de meninos na praia em redor dos nossos pais, a brincar nas pocinhas da água fria e nas interrogações sobre as nossas diferenças na “pilinha” e a “pombinha”, tudo inocências.
Crescemos de mãos dadas como almas gémeas, com olhares que foram falando palavras de emoções, cânticos de afetos nas melodias orquestradas nos nossos impulsos incondicionais.
Não tínhamos ainda a perceção do que estava a nascer entre nós, mas fomos mergulhando nas nuvens como dois anjos, fomos sentindo nas mãos o crescer das malícias em cada toque do corpo.
A quimera foi formigando a relação, deixamos de ser aquelas crianças amedrontadas, a cada dia sentíamos as pontadas no peito, as muralhas do amor a serem construídas e fomos dizendo entre nós poemas com sílabas para amar.
Inseguros, surgiu o nosso primeiro beijo, que se iniciou no pequeno toque labial, que se aprofundou no gesticular mais intenso dos lábios em beijos divinos, regados pela ansiedade nervosa. Ficamos com carinhas felizes, dois românticos num jogo de puzzles novos com formigueiros nos pés e distúrbios intestinais, coisas de adolescentes.
Passaste a ser uma fonte divina onde a toda a hora queria beber o teu perfume e tornei-me para ti o menino que te fazia dançar em bicos de pés com sonhos e desejos cândidos, mas que fervilhavam em redor da tua alma.
Ouvíamos músicas românticas, víamos vezes sem fim o filme do Titanic de mão dada e sentíamos aumentar os arrepios em cada carícia que falavam na pele.
O amor abriu alas, rasgou estradas, ligou as sirenes da puberdade, semeou pétalas perfumadas e a nossa relação acabou por ser espetada pelas setas do cupido.
Os dias, as horas, os minutos, os segundos eram consumidos pela ânsia da partilha, pelo desejo da entrega nos beijos que nos secava a boca e pelas palavras que amávamos.
O carrossel aumentou a velocidade do galope dos corações, as respirações começaram a fumegar palpitações até então nunca sentidas e caímos numa espiral de alucinações no quarto como se fosse um teatro aberto, um cenário de tremores de jovens no desejo da descoberta.
Caímos em voos livres no bater das asas da cama, nadamos no lago aonde navegam corações entrelaçados, beijamos a intimidade mais profunda, ouvimos as músicas dos monstros sagrados dos batimentos cardíacos, salivamos os poros da pele com pinceladas veneradoras e tateamos o estremecer das veias.
Uma deusa nua, um príncipe perdido sem cavalo, mas a galopar na entrega mútua aos sentimentos que tocavam guitarra mágica na leitura das pautas com arte de amar.
Voaram aromas de suores, ecoaram gemidos ofegantes, abanaram vibrações de fascínios e soltamos orgasmos pelos altifalantes do medo.
Na brancura dos lençóis deixamos o testemunho pelas manchas da virgindade perdida…    

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