Elevador em chamas...

Elevador em chamas...

Já faz um mês que vagueias sem travões pelas estradas dos neurónios. À noite até suo nos pensamentos das tonteiras desejadas no teu corpo e adormeço nos lençóis já molhados.
Tudo em ti são terrenos escorregadios para a minha mente perversa. Deixas-me obcecado sempre que cruzas comigo no elevador. Chegaste como nova vizinha e mataste o sossego das hormonas masculinas.
Faço mil piruetas durante o dia para deparar com o teu olhar matador de toureiros, que faz apertar ainda mais o nó da gravata.
O teu perfume até alimenta as flores dos canteiros do hall de entrada e por onde passas deixas um rastro atrás de ti de seguidores otários.
Ontem subimos ao mesmo tempo, e senti vontade de ser uma escavadora de trincheiras no teu corpo, mas fiquei apenas babado sem conseguir dizer um simples, olá.
És uma mulher para fazer corar um convento de freiras, mas também não ficaste indiferente aos olhares atrevidos carregados de piropos imaginários e senti que o remexer do teu corpo libertava cheiro a sexo.
A noite foi longa para mim, fiz sonhos e recriei delírios no espelho do elevador dos prazeres, que fez formigar este corpo de tesão como se fossem aracnídeos nas veias.
Hoje, as olheiras são o testemunho da noite mal dormida, mas tinha que estar aqui à tua espera, pois, sais sempre bem cedo.
Espero até sentir a tua força tenebrosa, como se fossem vibrações sísmicas no prédio para poder descer ao mesmo tempo.  
Surges da porta ao lado, com o corpo de enguia apertada na curta saia preta, onde sobressai o traseiro, uma verdadeira rotunda para prazeres idílicos. A blusa preta deixa transparecer no decote os seios, que parecem poltronas para os queixos masculinos. Os lábios, esses soltam beijos voadores como labaredas em chamas. O rosto um desenho do lápis da perfeição, de cabelos soltos e umas pernas que me fazem babar.
Lanço o olhar do encanto, do fascínio por ti e o calor humano instala-se, que os teus óculos ficam embaciados. Julgava ser um animal louco num circo de feras, mas tu és uma submissa atrevida e páras o elevador com gestos todos desconcertantes pelo desejo.
Afinal, também sonhas e desejas.
Esbaforidos, alimentados pelo fascínio da fonte divina da jubilação, agarras o meu corpo e traças de alto a baixo o fato com as unhas. Levanto o teu vestido, rasgo as tuas cuecas com os dentes e dou palmadas cadenciadas com estrondo nas tuas nádegas.
Ficas possessa e soltas gritos de matadores de hienas, que ecoam nos espelhos como sons dos homens das cavernas. Arrebento o soutien e abrem-se momentos de invasões da língua que lambem os mamilos como tufões. Os dedos mergulham no sexo ensopado que alterno nos teus lábios onde abocanhas o teu próprio sabor.
Dois corpos eufóricos como búfalos à solta na savana, duas almas em delírios tresloucados.
Parecemos monstros esfomeados e devoradores.
Forças o meu sexo a entrar no teu e batalhamos desenfreados nas fúrias assassinas das lacerantes estocadas.
Um único testemunho, o espelho.
É ele que reflete o bafo quente da nossa alienação e onde deixamos a escorrer os conspurcados líquidos orgásmicos da nossa loucura.  
Os rastilhos somos nós, numa mistura explosiva, que fizeram deflagrar o elevador em chamas.

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