Paralisia cerebral…
09 de Setembro, 2019
Vivemos num admirável mundo, quer pela conceção da sua própria natureza, pela dinâmica dos vários elementos que o integram, quer pelos sentimentos de cada liberdade da inocência.
Contemplamos, estimulamos, suspiramos e muitas das vezes com fanatismos de paixões mais exacerbadas pelo nosso barómetro dos sonhos.
Tanto rezamos como somos anticristo, descobrimos romances nos corações alheios, despoletamos ansiedades, somos exigentes e intemporais no amor.
Arquitetamos excitações metafóricas e num ápice caímos em episódios de depressões.
Nada se cria, mas tudo se transforma numa velocidade por vezes cruel, que por ironias do destino as ilusões se vestem do negro profundo da dor.
A balança tem dois lados, o bom e o mau, e a vida tem paralelismos entre inúmeras realidade e irrealidades.
O mesmo mundo para todos, mas divididos em vários submundos, onde a correlação de forças é desigual, com crateras implacáveis no amor ou ódio, na saúde ou doença, na vida ou na morte.
Neste jogo de pensamentos colidi na paridade das palavras: Paralisia cerebral.
O nosso instinto é felino, como se o cérebro fosse um inconsciente acordado e de imediato somos levados a pensar nas desordens motoras do ser humano, nas perturbações das posturas corporais. Pois, essas são as lesões não progressivas aquando do desenvolvimento do sistema nervoso central.
E as outras paralisias?
Não quero abrir brechas nas minhas palavras, apenas tentar esforços de raciocínios em mundos paralelos.
Daqueles que nos entram pelas ruas, que invadem as feiras, que tem o tempo de antena nos meios de comunicação, que sorriem e pulam como se fossem fantoches ou bobos da corte, num alvoroço em que são eles os reis.
Esses estão na campanha eleitoral, na azáfama das suas gamelas, não da sopa nem do pão, mas da gigantesca sede pelo trono e esquecem ou desconhecem a parte social.
Não quero ser perverso nem pernicioso, mas constato dois géneros de paralisia cerebral, a do infortúnio e o da ganância, a dos sonhos impossíveis e dos desejos da ânsia compulsiva pelo poder.
E foi nessas vidas que espreitei o mundo desconhecido, da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra e apenas num rapidíssimo e curto período, mas bastou para sentir o bater forte e profundo da perturbação daquele instante.
Não vislumbro palavras para exprimir a consternação do meu interior, não existem medidores quânticos das comoções que estremeceram na minha alma, apenas senti os murmúrios do ego trôpegos, perante a extrema falta de benevolência que a vida tem com estas pessoas.
Nem a palavra esperança conhecem e pouco lhes resta de uma vida surripiada à nascença, apenas a enorme bondade, o sorriso e o amor de quem trabalha e se dedica de corpo e alma.
Somos tudo, mas podemos ser nada nas sombras da tristeza espelhada pelo nosso semelhante e temos a obrigação moral de sentir que cada um deles é um pedaço do nosso corpo.
Também não sou nada, mas vale a pena refletir nisso…
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