Emoções na objetiva…

Emoções na objetiva…

Desde a nossa tenra idade que caminhamos lado a lado, nas pegadas e nas sombras um do outro. As razões sempre foram óbvias, pela enorme amizade que os nossos pais partilhavam entre eles. Isso moldou as nossas vidas sempre de mão dada, nas brincadeiras da inocência, nos sorrisos e gritos das histerias de criança.
Cada esquina, cada ruela do bairro tinha o perfume entranhado da nossa cumplicidade.
Nunca fomos um segredo para o outro, partilhamos tudo, até as nossas peles desnudadas sem pudor de candura nas pocinhas da praia sobre os olhares dos progenitores.
Crescemos como irmãos, tu na tua sensibilidade feminina que movia montanhas e eu, neste jeito romântico.
Hoje vivemos tempos diferentes, na puberdade, do conhecimento daquilo que somos no mais profundo do nosso âmago.
Nunca olhei para ti com o estímulo carnal e julgo que tu também nunca o sentiste.
Mas o teu pedido hoje, transformou tudo numa montanha russa sem travões nas emoções nunca expectáveis.
Esse desejo sempre germinou dentro de ti, a vontade enorme de um dia seres modelo, ouvires o bater das máquinas fotográficas a desbravar a pele.
Fiquei sem jeito, mas acedi a ser o fotografo nesta nova experiência.
Já tinhas tudo preparado, mesmo sem saberes se terias a minha anuência como cobaia, basta olhar para a decoração do quarto que improvisaste na certeza de muito rigor e paixão.
As luzes, os aromas perfumados, a decoração a preceito para os berros dos flashes.
Por detrás da câmara com a lente a focar a tua beleza natural, vou fazendo os “clics” a cada gesto mais sensual da tua exposição física. Aos poucos as tuas peças de roupas caiem perdidas no chão, até ficares numa sexy e reduzida lingerie que faz tremelicar a retina.
Cada movimento são ingredientes para os soluços entalados na minha mente excitada, que gradualmente vai fazendo um raio-x da tua limpidez angelical.
Já totalmente despida na tua ousadia corada, sinto dentro de mim os macacos à solta em explosões efusivas até arrepiar as pestanas.
Calas todos os meus pensamentos, com a sensualidade e petulância das posições a mostrar todos os labirintos escondidos do corpo.
Encandeado pela cegueira da estrondosa tesão, fico esbaforido como um louco, chucho até roer os meus próprios dedos e sabugo.
Sentes e pressentes tudo, mas insistes em ouvir os meus aplausos da tentação com o teu corpo de presépio desenhado pelos reis magos na montra das excitações. O perfume doce da tua adrenalina mistura-se com os pingos do suor no meu rosto. Embaciamos a lente e ambos ficamos a derreter o gelo do antártico com uma picareta.
Bate, bate forte coração. Até dói só de olhar, fico um pote de sentimentos, numa enxurrada de arrepios do passado e a precisar de refrescar memórias. Nunca tinha sentido este desejo de pular a cerca como um carneiro no cio.
O teu corpo ginga em posições ostensivas no zoom perdido, fico com formigueiros em brasa nos pés e as silhuetas nas sombras espelham sátiras pecadoras. A cada disparo na máquina são passadeiras para babar os desejos esbugalhados pelo teu corpo.
Desligas as luzes, o quarto escuro emudece os flashes e deixamos as cãibras da luxúria conquistar a intimidade mais profunda da nossa alma, sem testemunhas na objetiva.

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