Espírito selvagem…

Espírito selvagem…

Não nasceste nas palhas douradas, muito menos na noite dos mil encantos.
Foste concebida num covil humano, numa saparia de gente sem lei, onde a brutalidade das palavras e das lutas corporais são os decretos da soberania.
Um mundo tirano e agreste que fez de ti um vazio de sentimentos, tudo em ti são sabores amargos de fel. A educação que herdaste pelas várias mãos que te criaram, deixou traumas psicológicos e raivas cravejadas que tornou o teu coração negro de fumo mórbido.
Rebelde, sofisticada de teimosias, és uma mulher ferida, em que o olhar projeta terrorismo.
Mas tudo isso criou também dentro de ti uma força sobrenatural na sobrevivência, uma verdadeira sombra de demónios, com poderes de alteza feroz, com uma voraz raiva assassina nas dores de amar.
Teus olhos sempre foram de vidas queimadas, teu corpo de sumptuosidade magistral que sempre transpareceu espelhos de morte nas ousadias de miríade masculinos.
Os assédios são lanças constantes, os olhares desafiadores como se tivesses teu corpo coberto de rótulos de fome de caricias intensas.
Contaminas obsessões pelo teu corpo, recebes convites para batismos sexuais lamacentos, mas furtada de afetos torturas os sonhos dos homens. Entre ti e eles, não existe relações humanas de ternura, em teu redor apenas encontram cães de fila guardadores do corpo e fantasmas sentinelas da alma.
Em cada pedra da calçada que pisas, sente-se as vibrações no solo, deixas sempre um rastro de fogo na estrada e nos passeios autênticos cemitérios de cadáveres de machos.   
Teu olhar sempre foi venenoso e sempre deixou derreter desejos em lume brando no purgatório.
Mas para este curador de almas sem intenções de incêndios levianos, este criador de desejos nas batalhas mais cruéis de angústias, és a nomeada.
Sopro as nuvens negras alojadas sobre a tua cabeça, lanço as tochas do calor indomável ao teu gélido coração e sangro com meus olhares a corrosão irascível de tua alma.
Sentes os meus sentimentos a rasgar as chagas amaldiçoadas pelas cristalinas poesias empolgadas de entusiasmos e as agitações do passado afogam-se no mar coberto de sonhos.
Eu sei que foste sofrível, mas no meu Planeta azul os mandamentos são da mais pura entrega pelo seu semelhante na partilha do amor pelos que sofrem.
Hoje és uma mulher que irradia luz, que transborda felicidades no desejo de sonhar e viver a vida de forma digna intensamente.
És uma encantadora doçura com espírito selvagem.
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