Fantasias abstratas...

Fantasias abstratas...

Não é soninho de criança, muito menos castigo das bruxas, podem ser apenas loucuras românticas incuráveis, quiçá magias poéticas dum boémio.
O corpo levita, mergulho num purgatório de devaneios, sinto a camisola suada, a corrente de ar na espinha e escuto o esqueleto a falar.
Tremelicam as pernas, engulo em seco, os espasmos batem na gaguez das goelas deste cigano, as visões ficam turvas e as sombras intensificam algumas cores.
Nesta vida misteriosa, esmiúço o íntimo com gritos que ouço nas vozes roucas, fico alumiado pelos sorrisos que descem nas escadas rolantes e jogo desafios tentadores.
Não sei se são realidades ou quimeras que baloiçam vitalidade, talvez discussões sem nexo entre o corpo e a alma, ou moralidades que ardem no inferno.
A obsessão do Criador pela deusa Mulher, recria, delírios no espelho transformado em lavadouro de línguas, onde desfilam seios ao léu, corpos desnudados vestidos de beleza e lábios famintos pintados de vermelho vivo.
Aplaudo encantado, até encomendo as flores mais belas, acendo explosões com o fósforo da paixão e deixo rabiar ereções na “pila”.  
As luzes iluminam este cenário idílico, um santuário de culto. Em redor da cama estão sepultadas as euforias dos segredos da intimidade, nos lençóis navegam caravelas dos descobrimentos eróticos, no colchão coabitam manchas secas dos clímax’s e nas paredes retumbam gemidos através das rachadelas das vibrações apaixonantes.
Mesmo de mãos dadas a ti, sinto-me só e com vontade de libertar fantasias ao universo.
A gaiola é pequena, uma arca de Noé para mim, estão lá todos os seres vivos que respiram sentimentos, mas tu és diferente, especial, transpiras perfeição.
Pinto telas imaginárias com as tintas da memória seletiva, esculpo estátuas do teu corpo a gritar sexo e escrevo poemas com sabor a privacidades safadas. 
Perdido como um amante convicto, é com estes silêncios barulhentos, que vivo agarrado às sensações que dão o friozinho na barriga e voo num elefante sem asas.
O teu perfume ainda está entranhado na minha pele, o coração não pára de bater com estrondo, a alma tatua as marcas do tempo e o corpo reformula inspirações para novos desafios.
Deixas-me assim, e deambulas incessantemente no brilho dos olhinhos deste carneirinho meio morto, não é sonho são realidades das fantasias abstratas.

Respeita os direitos de autor.
Ousadias poéticas....
03 de Outubro, 2022
Devoradora de desejos...
02 de Novembro, 2019
Gratidão...
09 de Janeiro, 2019