Gaiola dos sonhos...
10 de Janeiro, 2022
Sonhar não é pecado, mas confesso que amo pecar.
Antes de entrar nesta introspeção, rebusquei o passado para rever algumas lembranças tatuadas, houve momentos de escuridão, mas foram iluminados pelo brilho do sorriso duma mulher.
Não sei se foram amores desencontrados, ou medos de desconfianças, ou se os pensamentos gritaram mais alto e culminaram em silêncios que sufocaram as almas até colapsarem.
Confesso que cheguei a sentir a ilusão do coração, mas nunca passou pela cabeça soltar definitivamente as amarras dessas memórias perfeitas.
Em ti, nunca vi imperfeições no corpo, apenas esplendor em cada curva e a timidez própria da insegurança de amantes.
A simples troca de olhares, parecíamos animais felinos, que na intimidade faiscava silêncios maliciosos e tínhamos o dom de seduzir até o ilusionista dos desejos.
Através das nossas animalescas êxtases de virilidade, comungamos pulsares fortes, batidas cardíacas incontroláveis, beijos tórridos e arrebentados diques de loucuras.
Faz tempo, muito tempo, mas não é passado, porque tens o dom de escarafunchar as gavetas deste poeta vagabundo.
Sinto que na linha da vida, ainda existem rascunhos que ficaram por escrever e quem sabe as nossas provocações esvoacem e reescrevam novos destinos.
Sonhador em busca da felicidade, amo entrar na mente através do mundo das quimeras e viajar sem limites. Ando com desejos de reviver privacidades, de sentir o corpo em chamas e de ser tocado profundamente na alma por alguém.
Nesta viagem, ainda não tenho a perceção se tudo é mera ficção ou simplesmente carências amorosas.
Despido de preconceitos, comigo, trago apenas uma chave dourada na mão, que na consciência da razão ainda não sei ao certo a sua utilidade.
Fecho os olhos, devia ficar tudo escuro, mas vislumbro a metamorfose numa cor violeta, é ténue e produz aromas que invadem as narinas e purificam o íntimo.
Vejo muitas gaiolas, aliás um universo com milhares de gaiolas e dentro de cada uma delas, esvoaça uma borboleta aprisionada.
Sinto-me um jardineiro num cenário paradisíaco e o segredo não é correr atrás das borboletas, é tratar delicadamente do jardim para elas virem até mim.
No horizonte, uma luz, o paraíso abre-se e surge na visão uma gaiola áurea com um corpo feminino dentro. Sinto a respiração asfixiar, o coração a bater junto da boca e vejo que és tu, com o tal olhar que acende o rastilho e fuzila a paixão.
O sorriso, o dom de encantar, o eflúvio refinado, a excelsitude corporal, numa fusão em osmose que abre a caixa de pandora do passado.
A mão trémula sente o poder mágico da chave dourada, o seu significado, abro a gaiola e devolvo-te à liberdade.
És livre, voas pela natureza encarnada na “Mãe borboleta”.
Com o esplendor feminino, dás voltas sem fim no céu e como uma ave de rápida, fazes um voo rasante, pegas em mim ao colo e levas-me para uma cama perfumada, rodeada de mariposas luminosas. Os teus lábios são colmeias que produzem beijos de mel, percorrem cada milímetro da minha epiderme, poro por poro e escreves com a língua, o teu nome nos meus genitais. Devolvo em prosas, carícias de amor e as borboletas jubilam com os nossos exorbitantes orgasmos, na gaiola dos sonhos.
Respeita os direitos de autor.
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