Somos formados do nada e constituídos de tudo, de belezas na aparência física, de sentimentos diversificados, de pensamentos por vezes vazios mas de sonhos enriquecidos, sempre dependentes dos nossos estados de espírito.
Podemos ter tudo mas sentir a insatisfação na falta do nada, como podemos não ter coisa nenhuma mas sentir a felicidade total, tudo implícito nos mistérios da complexidade do princípio da vida, do pensamento não cerebral mas dos sentimentos da alma.
O nosso interior é um baú cheio de indefinições, por isso nem sempre temos a capacidade de nos interpretar a nós próprios ou explicar a nossa sensibilidade, a loucura da sanidade ou o sonho do realismo.
Interpretamos sorrisos onde existem tristezas, derramamos lágrimas de alegria, gritamos ou gememos não de dor mas de prazeres incontroláveis, somos capazes de sentir e ver de olhos fechados.
Tu mulher ser sensível, que carregas a gestação das gerações futuras, que transportas no teu interior a liberdade púrpura dos sentimentos puros e os imparciais da paixão, vive a embriaguez saudável dos momentos, mesmo que tenhas de quebrar fronteiras imaginárias.
Não consigo ser indiferente à tua beleza corporal, aos contornos delineados do teu corpo, ao rosto desenhado à mão pelo pintor da perfeição, aos teus seios de volumetria simétrica, da cintura esbelta e da simbiose das ancas com teu traseiro e pernas viçosas, mas hoje não trajo essa roupa, pois vesti o fato da sedução.
Prefiro e quero ver todo o teu interior e tu inocentemente deixas-me mergulhar no sabor dos teus olhos, fico perplexo, mas sinto que estás decidida e disposta a não fugir aos mistérios que carregas em ti.
Sinto o pecado nas pálpebras encoberto pelas pestanas como se fossem cortinas opacas e fechadas, mas ainda não sabes que consigo ver a luz da escuridão, devastar e desvendar os teus segredos mesmo no teu silêncio e é pelos teus olhos que vou penetrar em teu jardim secreto.
Mulher de alma ferida com brechas sangrentas de sofrimento, estás como um pássaro magoado nas asas e destroçado na dor de não poder voar, mas transportas no teu olhar mais profundo os castelos de sonhos e fantasias de um mar adormecido pelas tormentas que quero e vou conseguir despertar.
Agarrada pela cintura, com meu olhar profundo e refletido na tua iris, abres a mordaça fechada da tua mente e lentamente fechas teus lindos olhos como se estivesses no momento da paz encontrada.
Aprecio teus lábios e não resisto em os aconchegar com os meus, sentir neles a doçura a mel, sentir a incrédula vivacidade que eles possuem e transmitir para ti neste beijo intenso as ondas da minha excitação.
Desligados do mundo num abraço mútuo apertado, nossos lábios abrem as asas a um beijo molhado, sinto teu corpo afogar-se no meu, o fervilhar do sangue a correr em tuas veias, o bater forte dos corações na órbita da entrega da paixão.
De relógios parados, prisioneiros pelos lábios e coração um do outro, acabamos por nos apoderar dos sonhos dos desejos da vida a dois e sentir o respirar ilimitado e profundo neste mergulho sem fim.

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