Halloween com travessuras...

Halloween com travessuras...

Recentemente mudou a hora, entramos no fuso horário de inverno, o sol some-se mais rapidamente e a escuridão invade bruscamente os espíritos.
Hoje, desejo levar-me pelo trasgo do Dia das Bruxas e abraçar momentos assustadores. Visto um fato de tons cinzas, onde sobressai a camisa de cor forte, numa desgarrada briga com o azul do chapéu e da gravata.
Já ouço nas ruas as gritarias da miudagem, trajados a preceito com as vestes alegóricas da assombração. Correm de porta em porta na folia de encherem os sacos de rebuçados e os egos de diabruras.
Numa acalmia descontraída, aqui estou a aguardar, como um pescador à espera da mordida do peixe no anzol.
Percebo um mórbido “tic-tac” na porta e ainda sem a abrir, sinto um cheiro nauseabundo a chulé, talvez seja uma incógnita surpresa que chegou mais cedo.
Abro, é um, pústula, insano, de capuz na cabeça, com um manto comprido, negro, com um bafo fedorento e um olhar sem alma a invadir o mundo a cores.
Sinto um empurrão no peito, uma invasão do espaço e como se falasse do fundo dum poço, com a voz nasalada, grita vociferando labaredas: sou a morte e venho buscar-te!
Confesso que sinto um profundo arrepio no âmago, parece que piso pregos descalço, mas com um olhar poderoso, sem mostrar receio, nem falinhas mansas, respondo: eu sou o Satanás da morte!
Empenhado em sobreviver, seguem-se vários bate bocas, não dou parte de fraco, não olho a morte de soslaio, mas de frente e com a língua destravada, solto vernáculos muito próprios dos nortenhos.
Ela, pensava que ia encontrar um tipo engomadinho ou mais um laparoto que facilmente iria levar para o jardim das tabuletas.
Sem medo dos pestilentos gritos animalescos e com vontade de quebrar os protocolos dos defuntos, sirvo um uísque sem gelo para cada um de nós e desafio a morte para um jogo de póquer.
Vou buscar um baralho viciado, acendo um charuto, encaro a besta, lanço-lhe a fumaça na cara sem rosto e aposto todas as fichas na vida.
Os nossos diálogos são indecorosos, quem ouvir pensará que estamos a matar cachorros com gritos. O tom das ordens para me levar deste mundo, é obsceno, não vacilo e desafio-o sempre com uma gigantesca valentia.
Escolheu mal a pessoa para levar para o mundo dos mortos, tenho o ás de trunfo e, portanto, vai ser derrotada.
Lanço um berro: doçuras ou travessuras?
Sem esperar pela resposta, grito, a palavra travessuras e nesse preciso instante, atiro-lhe a saca das guloseimas que tinha reservada para a miudagem. Foi como jogar um crucifixo para o colo do diabo, uma bomba que numa explosão a reduziu simplesmente a pó, evaporando-se.
Com o coração aos pulos, disfarçado de esqueleto, com cara de caveira, mas vivo de corpo e alma e com a canalha eufórica quase a bater à porta, preparo outros caramelos, nesta noite de Halloween com travessuras.

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