Riqueza vazia...

Riqueza vazia...

Região pobre, família modesta, pessoas de bem, humildes e de educação assente em valores humanos. Ele, carpinteiro, ela dedicada à casa, aos trabalhos do quintal, os filhos, estudantes, dois meninos e uma menina. Os garotos sempre ligados ao jogo da bola na rua com os amigos, ela com inúmeras amizades femininas. No bairro era coisa que não faltava, juventude, vivia feliz, todos se amavam. A menina cresceu, o corpo desenhou-se de forma diferenciada das outras. Esbelta, formosa, com traços corporais que gradualmente a envaideceu nos espelhos. Com a puberdade dos rapazes, despertava neles muitos assédios à sua beleza, chegava a criar alguns ciúmes das amizades, mas mesmo assim nunca deixou de ser amada e acarinhada por todos.
Cresceu, as qualidades humanas de forma gradativa foram consumidas pela rebeldia, instabilidade emocional, ficando cada vez mais orgulhosa e ciosa por outros estilos de vida.
A sublime formosura, depressa foi observada pelos agentes da moda e num ápice foi catapultada para as luzes da ribalta, nas poses, nos flashes das máquinas constantemente a disparar. Os vícios privados, os bastidores chiques, incontrolável nas extravagantes loucuras, o poder, a ganância, a fama, transformou todo o seu ego, numa boneca “insuflável” e “plástica”.
Alucinada pela riqueza, sem vergonha moralista, as amizades passaram a ser priorizadas pelos holofotes egoístas da exuberância. Os pais, irmãos, familiares, amigos foram riscados do quotidiano e ignorados sem escrúpulos.
O sucesso, as revistas, o mundo louco, sem tempo, as viagens a lugares outrora proibidos, as roupas, malas luxuosas, encarna numa egocêntrica, imperial, cruel e fria.
Num átimo o mundo tombou, mergulha num turbilhão desconhecido, um terramoto, um coronavírus, invisível, que infeta, mata, bloqueia e destrói todas as atividades.
Uma adversidade imprevisível, prisioneira da personalidade, apagou todo o passado de infância, de menina amada por todos e com as espirais de imodéstia, subornou a felicidade, presente e futura.
Os desfiles da moda foram cancelados em todo o mundo. Em casa isolada, na amargura da solidão, ninguém se lembra dela, os choros pedem carinhos, o corpo suspira abraços e a alma depenada entra em depressão.
Momento pungente, mas de reflexão profunda, agora dava tudo para sentir o amor daqueles que desprezou, porque caiu na realidade da riqueza vazia.

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