Harmonia do silêncio...

Harmonia do silêncio...

Está prestes a cair mais uma noite de verão, embora o clima esteja um pouco frio e o casaco nunca é demais para agasalhar os ossos. Não vim em busca da solidão, porque ela é uma doença, vim à procura do equilíbrio da razão. Mesmo assim, vou lavar a cara com lágrimas e encher com elas a imensidão do oceano.
Trago apenas memórias vazias dos momentos de felicidade e quero escutar os barulhos da sociedade sem anagogias.
Hoje vivemos num palco sem artistas, com poetas sem poesia, impregnados por perfumes sem aromas e até as borboletas perderam as suas cores. Este maravilhoso planeta azul está carregado de discrepâncias, onde a maioria dos humanos lambe migalhas como se fossem pombos, enquanto outros desbaratam luxos supérfluos e os desperdícios se amontoam.
Ainda carrego muitos sonhos, alguns movidos pela esperança da felicidade dos outros e abraçado à minha fé da positividade, tento iluminar múltiplos corações através das palavras.
Tenho fogueiras arder no ego, paixões doentias, cicatrizes emocionais e esta minha bagagem da experiência da vida, dá-me o dom e poder de ser um curandeiro do amor.
Ao longe escuto as conversas carnais, como se os ecos ruidosos, fossem estafetas a correrem na minha direção, para me transmitirem novas emoções.
Tenho envelhecido, é normal, mas felizmente ainda não me transformei num velho jarreta, muito menos numa marioneta andante e uma coisa tenho a certeza de que nunca serei: amante de honras e riquezas que espremidas são puramente balofas.
Rasga-se o céu, são trovões da época estival, como se fossem alusões a Deus na tentativa de iluminar o diabo escondido. Na água vejo o reflexo das minhas emoções, é como ver o íntimo em vidraças coloridas e escutar os segredos que nunca direi, porque já os enterrei nos buracos da lua.
Neste redemoinho de pensamentos, a preparar a ausência da escrita e das redes sociais por uns tempos, vagueio sobre o cascalho molhado ao som dos gatos vadios. Como habitualmente regressarei, com novos sinónimos próprios deste poeta boémio, na tentativa de despoletar magias originais, nos egos das estrelas brilhantes.
Mesmo sem avistar os voos das gaivotas, sei que elas também regressarão, portanto, um “até já”, que vou continuar a mergulhar nesta harmonia do silêncio.

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