Hipnose da alma…
20 de Agosto, 2018
São tempos longínquos e de histórias passadas, mas quando te vejo recordo tudo como se fosse hoje.
As nossas meninices, as brincadeiras dos atrevimentos acanhados que nos coravam os rostos, mas sempre feitos na inocência limitada.
Lembro-me da tua sainha rodada, da blusa branca a condizer com os sapatinhos de verniz, essa era a roupinha que habitualmente levavas para a catequese.
De trancinhas no cabelo, de carinha angelical e com o olhar sempre espevitado pela beleza dos teus olhos.
Parece que vejo quando trocávamos aqueles pequenos beijos de dúvidas arriscadas, aqueles apalpares tímidos em teu corpo em contraponto com teus movimentos de generosidade de criança.
Os anos foram passando e tudo se tornou mais intenso, com confidencias de nossos corpos sem soluços, mais efusivos na forma como desavergonhada desafiavas os camarins da minha puberdade.
De menina doce e de limitações eufóricas, foste desenvolvendo o aspecto físico de uma mulher com atributos de beldade, mas que os sinais do tempo e as luzes da ribalta levaram-te para uma excursão de transtornos.
Nunca mais foste a mesma, a tua visão turvou nos delírios inconvenientes, no levedar de histerias sangrentas impostas pelos traficantes dos vícios da droga, que mudaram teu cunho pessoal num ápice. As lágrimas que derramei, as vezes sem fim que estendi minhas mãos para libertar teu corpo da paupérrima vida lamacenta, mas que tuas reincidências foram sempre mais fortes.
Sei o quanto fui incansável nas raivas sentidas, nas amarguras das tragédias, os suplícios das sombras negras que trespassavam meu coração sempre que cruzava nas tuas cicatrizes cada vez mais profundas.
Enterrei todos os sentimentos, fechei no baú as persistências das paixões e deitei no mar de lagrimas derramadas as angústias gélidas do meu coração.
Os anos passaram, nossos caminhos descruzaram sem paralelismos comuns, mas minha espiritualidade ficou até hoje ensombrada pelo criminoso castigo da culpa do insucesso em fazer-te vencer na libertação.
Foram duas décadas de transtornos sensoriais, de noites mal dormidas nos pensamentos divididos, o carregar do peso da cruz das dores da vida que mergulhaste, das personalidades loucas que deverias encarnar, das crueldades que impuseste a ti própria.
Parado na beira da estrada, sinto arrepios de medo e pavor em ver teu corpo escanzelado, tuas dolorosas feridas marcadas nas rugas do rosto no contraste dos olhos de prazeres masculinos.
Ao ponto que chegaste para alimentar tua fome das toxinas viciantes, deixares teu corpo de imperatriz ser comungado pelas crueldades nojentas pagas a troco monetário.
Cubro teu corpo com o manto do batismo e carrego ao colo teu corpo leve e descuidado até ao Planeta Azul.
Na sala da purificação, mergulho teu corpo inteiramente despojado de vestes, mas que desnudado demonstra todas as marcas perniciosas na pele e sinto o cortar do meu coração no pulsar dos destroços do teu íntimo.
Encarno no “divino” pela vontade descomunal em libertar-te das garras peçonhentas e em trazer de volta as memorias adormecidas das raízes do passado.
Na hipnose da alma, ficas purificada para o renascer das paixões, dos sonhos emocionais reacesos na pureza da sensibilidade do coração de Mulher.
Respeito os direitos autoriais
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