Gritos ao silêncio...

Gritos ao silêncio...

Sempre que mudamos de ano os portugueses costumam usar um adágio que é: Ano Novo, vida nova. Este dito é mais que um desejo, é uma frase que implica por si só um compromisso de mudança de vida ou, mudar algo específico da nossa vida, para o novo ano. No fundo, são votos que fazemos para nós próprios para uma renovação do nosso ego e dessa forma podermos abraçar novos ânimos e energias positivas.
Mas uma coisa são os nossos desejos e ambições e outra é a realidade que temos de enfrentar, que muitas das vezes vem carregada de adversidades e que nos obriga, num ápice, a entrar no olho do furacão.
Por momentos caí nesse turbilhão de emoções, fui aspirado para dias/semanas de tempestades no íntimo, tudo fruto das adversidades das doenças das pessoas que mais amamos e com a idade avançada são expectáveis que piorem drasticamente, mas nunca estamos emocionalmente preparados.
Até os poetas mais loucos, sofrem por dentro, choram muitas vezes sem soltar lágrimas, mas a alma lacrimeja sangue de tanta tristeza, frustração e impotência devido à infelicidade.
Por isso refugiei-me como um urso quando hiberna, no sentido de tentar contornar os pensamentos fantasmas que andam constantemente a espreitar em cada esquina do cérebro e que me deixam sem o discernimento necessário até para ouvir a minha própria voz.
Não gosto de escrever por escrever, tenho de sentir com a alma, com sentimento e quando o íntimo não está equilibrado na balança da razão, prefiro ficar introspetivo a ver o mar. É o que tenho feito, horas a fio na solidão, a observar o mar, a escutar e tentar decifrar os dialetos do barulho das ondas revoltas contra as rochas e a areia.
A tempestade não passou, apenas aligeirou, mas tenho a noção que poderá em breve ser muito pior, com dilúvios de mortificação que terei de enfrentar de peito aberto e com os raciocínios da aceitação minimamente preparados para as fatalidades.
Tenho de ser forte, espevitar no ego os lemas dos bravos guerreiros, como mais vale quebrar que torcer ou um dito que transporto desde a adolescência: contra a força não há resistência.
Por isso aqui estou paulatinamente de regresso à escrita, sentir o pulsar das estrelas brilhantes, o calor carinhoso das amizades, que mesmo sendo virtuais, muitas são de coração por inteiro.
Escrever é sair da caverna escura, poder ver a luz e tentar soletrar as palavras sem a gaguez das cefaleias de tensão que me têm massacrado o juízo sem piedade.
Vou continuar a beijar a vida, embora saiba que não conseguimos fugir ao destino e que não existe em vida, lugar no mundo onde possamos viver plenamente em paz, mas também tenho a certeza, que nestes momentos de contrariedade, podemos e devemos gritar ao silêncio.
 
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