Ilusões de desconfinamento…
06 de Fevereiro, 2021
Os dias têm sido repetitivos, farto de paixões reprimidas dentro destas quatro paredes e com uma vontade enorme de desobedecer às regras da moralidade.
Sinto-me um otário entesado, um etíope faminto e nas horas de maior solidão fico a ver imagens eróticas, são elas o trampolim para excitações, com as mãos a serem o afogador do ganso.
Mesmo em casa confinado, mantenho as rotinas diárias, tomo duches perfumados e visto-me a rigor como se fosse passear. Uma forma de criar visões de felicidade enquanto olho ao espelho.
A escuridão trespassa os vidros da janela da sala, com o ambiente aquecido pela lenha no recuperador, desaperto a camisa e de peito ao léu, deixo-me escorregar no sofá. A alma anda algemada, abraçada à irrequieta ansiedade que corrói o íntimo e fico a escutar apenas os silêncios a lamberem o vírus da morte.
O bater sossegado do coração é abalado por um tremor de terra ao som dos trompetes do paraíso. O candeeiro de pé, acende labaredas que arrepiam, a carpete congela, deixando os pés dormentes, enquanto ouço o bater dos tacões no soalho a soltarem palavrões. Fico com um nó na garganta, quando vejo a tua entrada de rompante, numa nudez que intimida tempestades de delírios.
O teu corpo não tem pontos nem vírgulas, ele é simplesmente feito de curvas.
- Saltei as cercas de arame farpado e aqui estou de pernas abertas, pronta a derreter ereções!
As tuas palavras, são gritos que invadem o fluxo sanguíneo dos poetas loucos e colocam o animal em sentinela dentro das calças.
Sem ter tempo para abrir a boca, a tua rapidez é felina, abres o zip para certificar o quanto ele está hirto pela excitação e flagelas devotadamente o prepúcio. Com a boca aberta às invasões das homilias sacanas, esfregas a verga pelo palato até tocar a úvula e engasgares.
Em posições macabras dos prazeres, iniciamos proezas, como se fossem uma desforra desejada.
As línguas entram num jogo de salivas conspurcadas, a tua uma estrada de fogo nos sacos genitais e a minha um cão perdido a salivar os mamilos eretos sem lei.
Vestidos pela inspiração do deboche sexual, os pecados tornam-se compulsivos, obscenos e os fétiches sem restrições nem regras.
Sentado no sofá, ajoelhada contra mim, ergues as minhas pernas e enquanto metes os dedos na minha boca, presenteias-me com um “beijo grego”. Empolgada em fazer-me descobrir novas sensações, a língua passa o testemunho aos dedos salivados e tornam-se amantes da minha próstata.
Fico possesso, cheio de tesão e como uma luta entre dois dinossauros num ringue, em ímpetos enlouquecidos, mergulho a boca nas contrações vaginais e chafurdo a língua à exploração de odores, num minucioso minete. Dou pequenas trincas nas vibrações do clitóris, brindas com um orgasmo sôfrego e preparo-me para queimar o pénis no inferno cheio de brasas quentes.
Colocada de joelhos no sofá, agarrada pelos cabelos, abres as nádegas à saliva no piscar do esfíncter e com o traseiro pornográfico a implorar invasões. O “cegonho” de forma estonteante penetra e desfila dentro dele como uma procissão de mil figurantes.
Os gritos selvagens irrompem de forma abrupta pelos tímpanos, acordo todo atarantado e suado.
Afinal foi tudo um sonho, mas eles são rascunhos dos nossos desejos e no chão existem manadas de cabelos emaranhados e uma poça de espermatozoides a festejar ilusões de desconfinamento.
Respeita os direitos de autor.
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