Introspeção do intelecto…
27 de Janeiro, 2025
A noite não foi de sonhos sobre histórias de amor, mas de pesadelos, com narrativas desconectadas, por meio de vozes grossas, expelidas por rostos com pinturas abstratas e sorrisos estranhos dos filhos perdidos.
Sei que me deitei fora de horas, sem as janelas da saudade abertas, nem amores de perdição e apenas bebi o licor da jovialidade para espairecer a cabeça.
Estranho acordar assim, parece que estou fechado numa cápsula mental, embalado pela murmuração dos estorninhos e a espreitar para a incubadora dos sentimentos.
Como sou um picuinhas persistente, gosto de perceber o sentido das coisas, pois sei que nada acontece por acaso, visto-me e tento aliviar a tensão das mentiras doentias das quimeras da noite.
De frente para o espelho, com os reflexos distorcidos da realidade, sem perceber se é por estar de estômago vazio e com o cérebro preenchido de ideias futuristas, perceciono dicotomias que me deixam apreensivo.
Este espelho não tem a capacidade de humanizar as pessoas, nem de expurgar os demónios e reflete nele um rosto (meu) primata, o que me deixa completamente atónito.
- Credo, sapo-jururu!
Será que estou a ter alguma entorse mental ou estarei com o relógio biológico avariado?
Sem mais, entro num diálogo de gritos selvagens com o espelho, desperto nele uma raiva ruidosa e mergulhamos em discussões de modernices absurdas.
Não tenho sangue de barata, pelo contrário, sou impulsivo e soletro da alma palavras seguidas, como se fossem folhas a cair em catadupa no outono até deixarem as árvores despidas. Claro que por muito que soletre, nunca ficarei com a alma desnuda, pois sou um homem de sentimentos refinados e infinitos.
O espelho não se faz de rogado e em esquemas perfecionistas, próprios das falsificações amadoras, em cólera debita falsidades arrepiantes e diz-me:
- Podes achar que sou apenas um espelho, não tenho alma, mas sei ler os sinais dos humanos, para onde caminha a humanidade e nem todas as mentiras são verdade! A mente que não pensa, acaba por formar idiotas e ficam eternamente colados à ignorância como lapas às rochas.
Bestificado, esfrego os olhos para confirmar se continuo acordado, se nada disto está a acontecer, ou se é apenas invenções da imaginação, fecho os olhos e fico a pensar.
Nesta discordância preocupante dos destinos dos seres humanos, por acaso, encontro os pensamentos racionais a serem puxados para uma vertiginosa escada rolante e que me levaram para esta introspeção do intelecto.
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