Introspeção do intelecto…

Introspeção do intelecto…

A noite não foi de sonhos sobre histórias de amor, mas de pesadelos, com narrativas desconectadas, por meio de vozes grossas, expelidas por rostos com pinturas abstratas e sorrisos estranhos dos filhos perdidos.
Sei que me deitei fora de horas, sem as janelas da saudade abertas, nem amores de perdição e apenas bebi o licor da jovialidade para espairecer a cabeça.
Estranho acordar assim, parece que estou fechado numa cápsula mental, embalado pela murmuração dos estorninhos e a espreitar para a incubadora dos sentimentos.
Como sou um picuinhas persistente, gosto de perceber o sentido das coisas, pois sei que nada acontece por acaso, visto-me e tento aliviar a tensão das mentiras doentias das quimeras da noite.
De frente para o espelho, com os reflexos distorcidos da realidade, sem perceber se é por estar de estômago vazio e com o cérebro preenchido de ideias futuristas, perceciono dicotomias que me deixam apreensivo.
Este espelho não tem a capacidade de humanizar as pessoas, nem de expurgar os demónios e reflete nele um rosto (meu) primata, o que me deixa completamente atónito.
- Credo, sapo-jururu!
Será que estou a ter alguma entorse mental ou estarei com o relógio biológico avariado?
Sem mais, entro num diálogo de gritos selvagens com o espelho, desperto nele uma raiva ruidosa e mergulhamos em discussões de modernices absurdas.
Não tenho sangue de barata, pelo contrário, sou impulsivo e soletro da alma palavras seguidas, como se fossem folhas a cair em catadupa no outono até deixarem as árvores despidas. Claro que por muito que soletre, nunca ficarei com a alma desnuda, pois sou um homem de sentimentos refinados e infinitos.
O espelho não se faz de rogado e em esquemas perfecionistas, próprios das falsificações amadoras, em cólera debita falsidades arrepiantes e diz-me:
- Podes achar que sou apenas um espelho, não tenho alma, mas sei ler os sinais dos humanos, para onde caminha a humanidade e nem todas as mentiras são verdade! A mente que não pensa, acaba por formar idiotas e ficam eternamente colados à ignorância como lapas às rochas.
Bestificado, esfrego os olhos para confirmar se continuo acordado, se nada disto está a acontecer, ou se é apenas invenções da imaginação, fecho os olhos e fico a pensar.
Nesta discordância preocupante dos destinos dos seres humanos, por acaso, encontro os pensamentos racionais a serem puxados para uma vertiginosa escada rolante e que me levaram para esta introspeção do intelecto.
 
Respeita dos direitos de autor.
Livro de rascunhos...
23 de Abril, 2024
Baloiço do equilíbrio emocional...
19 de Agosto, 2018
Circo de emoções...
10 de Dezembro, 2018