Momento lesbiano...

Momento lesbiano...

A tua sensibilidade feminina era diferenciada de todas as outras meninas, tinhas sempre algo a mais na tua forma dócil e amável em cada sorriso que reluzia do lindo rosto.
Eras apenas uma criança, que corria inocentemente na forma como irias crescer até à tua adolescência. Atingiste a idade da puberdade e o corpo iniciou processos que se foram desenvolvendo e influenciando a aura interior.
Não olhavas para os rapazes da mesma forma que as tuas amigas e também olhavas para elas de outra maneira, sentias dentro de ti que havia algo diferente.
Percebias em cada conversa bisbilhoteira nos momentos de recreio da escola, que as palpitações delas eram suspiros pelos sexos masculinos. Tímida nunca sentiste confiança para dizeres que os teus desejos eram segredos de ansiedades, mas por elas.
As noites dão-te mal dormir, insónias de desejos dos dedos femininos a passear na pele, dos beijos cremosos das bocas de batom delicadas e de cortejos obscenos das tuas colegas.
Pesadelos que mexem e remexem contigo, mas não tens a coragem nem a frontalidade de demonstrar a quem quer que seja, nem à tua razão que atormenta os pensamentos.
Hoje estás eufórica, afinal é o passeio de finalistas e logo a uma cidade que sempre desejaste sentir o pulsar, a cidade do amor, Paris.
A viagem decorre em gritos e folias de histeria, pelas felicidades nos rostos e outros pelos medos escondidos de nunca terem viajado de avião.
Sentes as vibrações, o calor de todas elas que te rodeiam, sentes a exultação sensual da beleza de cada uma, sentes a fluidez dos gestos como uma vontade de algo muito mais profundo e intenso. A viagem é curta, feita já no final da tarde, apenas tendes tempo para jantar e preparar o vosso quarto para a estadia de folia do fim semana.
As bebidas aquecem fortemente o jantar e de forma atropelada e algo desesperada, escolhes energicamente a tua parceira de quarto. Talvez tolhida pelo álcool, o desejo escondido por ela, que nem percebes as imensas perguntas inocentes que caíram entre elas.
No quarto aproveitas a nudez do duche para um jogo de sedução, para umas trocas de palavras e olhares que dão início a toques excitantes nos seios. Trocais pesquisas cândidas de forma corada, mas que se intensificam como se as epidermes fossem cordas musicais. Ela sente a tua beleza perigosa, acaricia os teus cabelos soltos molhados e com uma doce confiança abre o escadório a pecados mais íngremes.
A carne é sagrada, mas também é fraca quando traída pela atração, pela carência emocional e sexual e entrais numa obsessão diabólica, numa aventura de paixão erótica.
Os hinos do prazer soam no ar, as escritas salivares ortografam palavrões na pele com dedicações minuciosas às sensações de prazeres. Dois polvos entrelaçados, numa tensão efervescente, prosas de cânticos de uma deusa sobre o corpo de outra deusa, com feitiços nos beijos que aquecem e encantam. Pecados de outrora pelas visões negativas e retrógradas punidas com a morte, mas regalos da atualidade, neste engomar do corpo até fazer atritos nas zonas genitais. Entre os ofegantes gemidos mútuos, nos gestos dedilhados sentes o clitóris ardente pelos dedos invasores dela, neste momento único e arrebatador. Na posição de entrega igualitária, em batalhas clonadas, as línguas formigantes rastejam as vibrações das vaginas até atingirem tsunamis de orgasmos e espasmos nas pontas dos pés.
A adolescência delirante pincelou toda a noite com emoções e estados de ilusão da loucura da alma nunca vividos ou sentidos pelo momento lesbiano.

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