Nas asas do pecado...
24 de Setembro, 2021
Todas fazem parte do arquivo real, são recordações vividas e guardo-as religiosamente na caixa dos prazeres. Olho uma por uma e em cada encontro sempre algo de novo. Criam nostalgia, dos tempos passados, da foliona juventude, das amantes fantasmas, que hoje ainda carrego tatuadas na pele as sensações e agitações.
As fotos são isso mesmo, passado. A maioria delas não duram para sempre, estão sempre sujeitas ao deperecimento, ao “delete”, sejam em papel, ou de forma virtual nos ficheiros do computador.
Por isso amo, as que guardo eternamente na memória, essas são as que marcam definitivamente a alma e mantêm entranhadas nas rugas da cútis.
Existem outras, as que são impressas a preto e branco, mas com uma panóplia infindável de cores, recriadas pela imaginação. Aquelas que admiramos e que nunca as vivemos presencialmente, mas sentimos um desejo profundo de as viver. É como cogitar pintar folhas em branco com os gemidos do pensamento.
É o caso da tua imagem corporal, que transpira explosões selvagens e desperta ânsias venturosas. Sempre que olho para ela, sinto que voas com os pés no ar, como se fosses uma borboleta.
Ontem deitei-me com essa foto a pernoitar na almofada e fiquei aconchegado a ti, como se estivesses presente e tentei absorver a tua grandiosidade como mulher.
És um azimute inominável, uma mistura de inocência, ousadia e tentação. Um vulcão com a lava trancada a cadeado numa caixa e que o detentor da chave não deixa a felicidade ser plena.
Não sei se estou a sonhar, mas o inaudito aconteceu!
A visão do teu corpo firme, o rabo esculpido durante a ira dos deuses, faz da minha ideação um acordo com o demónio.
Rompes no quarto, entras com a liberdade do sorriso rasgado, encarnada numa loba sem algemas, com uivos loucos a aclamar aventuras.
Exultas beleza, mas é o teu íntimo que reclama incessantemente por paixões intensas, por bravuras ousadas, que libertem definitivamente as mordaças do prazer e que sejam arrancadas pela raiz.
Confesso que as emoções são confusas, ainda não consigo atinar se a tua presença é real, ou é o retrato que trucida os rótulos das minhas carências. Nem tenho tempo de raciocinar, que os nossos corpos já estão fundidos em gestos que coram e pela janela fluem ao vento poesias de gemidos.
A cama como cenário, os beijos flamejam, os dedos deslizam molhados pela humidade do desejo, as bocas ardentes pelejam, os seios bajulados pela tramela, a vagina escorregadia e o membro absorvido pelo traseiro.
A foto implode num fogo inexplicável, o quarto transforma-se num palco de luxúrias, abrem-se as cortinas da jubilação e saímos enfeitiçados a voar nas asas do pecado.
Respeita os direitos de autor.
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