Olhos que falam...
28 de Novembro, 2019
Quando pego nos lápis de pintura, nunca dou importância à cor da tua íris, pois ela é simplesmente uma característica poligênica. Adoro pintar como um viciado, perdendo-me no tempo até os bicos afiados desfazerem-se nas folhas brancas de tantos traços que faço do teu rosto e contornos do corpo.
Fico, noites sucessivas sem adormecer nesta devoção ao vento das estrelas, pois para mim, és uma deusa que encanta, és simplesmente uma sublime mulher.
Sempre que passo por ti, olho profundamente nos teus olhos, não são vazios, nem tentam fugir a mistérios, porque eles falam comigo.
A noite está fria, chove intensamente e mais uma vez cruzamos os nossos destinos na rua deserta, talvez sinais. Os teus olhos parecem água cristalina e ouço neles os ecos da voz a fazerem perguntas inocentes do que vejo neles.
Ofegante, chego a casa refém de paixões e desenho a carvão, autópsias da vida e memórias distantes que cada olhar teu transporta.
Impregnado pela entrega dos sentimentos mais profundos da minha alma, o lápis corre sem parar no desvendar de cada segredo e entrego-me ao teu imaginário profundo olhar com o espírito nobre, a fim de um dia, poderes sentir as legitimas palavras deste poeta.
Os teus olhos são uma bola de cristal, rebolam montanhas de sentimentos, mostram lucidez refletida das batalhas de guerreira triunfante e sem receios de nada.
Neles vejo a coragem dos impulsos cortantes do tamanho dos teus egos, mas também um pássaro ferido no bater das asas pelos aplausos do choro. O brilho deles são sombras de sagacidade refrescante para loucuras de excessos, carregam espelhos de ilusões das saudades arrependidas e transpiram corações a cores mesmo para os daltónicos.
Sinto o calor desse olhar penetrante, arrepiante até remexer borboletas no estômago, carente de desejos de abraços afáveis de confiança, na procura da palavra passe para o amor.
O teu sorriso é um singelo complemento que alimenta nos lábios músicas sábias e tens a ternura adormecida que devasta silêncios num mar revolto com enormes ondas da tua beleza perigosa.
Eles falam, numa espiral vertiginosa pelos corredores do paraíso em busca de sonhos, umas vezes perdidos no labirinto ou acorrentados pelo medo de amar.
Está escuro e continuo a desenhar as labaredas que eles proferem.
As pestanas são asas que me levam à terra do nunca, as sobrancelhas, meninos de coro que soltam gritos com poemas de embalar. A íris pode não tem cor, mas são lâmpadas que iluminam a minha vida, mesmo quando não sinto a identidade dos sonhos e ando perdido em desabafos nas lágrimas.
A tempestade lá fora não para e a luz apaga-se no contraste com os relâmpagos faiscantes. No escuro tateio na busca de mais um lápis e não encontro. Mas, não desisto em desvendar a linguagem dos teus olhos e continuo a vasculhar na ânsia, até que encontro algo.
Não é o lápis é a chave do teu coração…
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