Pecados santos...

Pecados santos...

Foste, durante todo o ano,  um anjo neste Planeta Azul, uma deusa de brancura corporal própria do ártico e um azulado esbatido nas penas das asas.
Atiçada pelo pecado, despertas em 2021 sem beijos na alma. Almejas algo satânico e fazes fluir o destino aberto, para pagar com corpo desvarios no paraíso do sexo.
Decidida, acordas redemoinhos, que são o prelúdio para levar o ego ao laboratório dos desejos e numa fuga para a frente lavas a timidez na pia dos sacrilégios. Perfumada, tiras o véu das rezas, chegas fósforos ao livro sagrado, pegas nos pincéis mágicos com as cores da heresia e os dedos eufóricos, iniciam pinceladas de vícios descarados no corpo.
Sentada na cadeira do trono, lá fora o céu rasga-se de alto a baixo por um trovão e as asas angelicais transformam-se em asas de fogo. De forcado demoníaco na mão, gritas que estás pronta para esventrar homens famintos, enquanto as estrelas coram de vergonha com a tua celebração envenenada.
Sozinho, no leito vejo a janela a ser engolida pelas labaredas que vociferas e num ápice invades os aposentos, envolta numa bola em chamas com olhares sem lei. De forma perniciosa, como se o quarto fosse a caverna do urso desejado, atiras pólvora de malaguetas ao ar, fazendo estilhaçar a minha alma e ligas o interruptor das ereções de forma hipnótica até arrancar-me as raízes do pensamento.
Surpreendentemente, acendem-se as velas, as tochas começam a cantar, abalas o chão com danças de fogo e gritas que vens aberta para as promessas das penetrações masculinas.
Esfomeada, inicias uma festa rija, lambes-me os lábios com a língua de serpente, dás-me chapadas de beijos e entre rituais de gritaria, sinto a raspagem da língua na boca. Como um canibal pronto a comer abutres famintos, fazes uma garganta funda na verga, abres as pernas ao amor cego e és explorada numa explosão de penetrações pela faca na manteiga. Com o clitóris estimulado pelos ímpetos, os lábios vaginais lubrificam a vagina devassada, pela carne endiabrada.
Mutilados por tremores calorosos, retalhados pelas unhas cortantes, com os joelhos rasgados, soltas gemidos enlouquecidos, enquanto devoras as múltiplas ejaculações de esperma.
Endiabrados de tanto fornicar, derretemos a cama, dá-se o apogeu sexual e cobrimos a galáxia de orgasmos cósmicos. O quarto é engolido por um terramoto, as paredes racham, a porta arrebenta, o candeeiro fragmenta-se, os vidros da janela são pulverizados e no soalha abre-se uma enorme cratera em brasa.
Numa surdina triunfal, desapareces do nada, deixando para trás uma estrada de lava derretida por pecados santos.

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