Jogo de palavras…

Jogo de palavras…

Viramos o mundo do avesso, abrimos as jaulas, as gaiolas, partimos os aquários e devolvemos toda a animália à mãe natureza. Em contrapartida, fazemos das nossas casas o abrigo dos inocentes, o lago dos prazeres, o paraíso das incertezas, um rumo diferente na esperança de um novo universo, talvez o verdadeiro Planeta azul global.
Isolamento, isolamento, tanto isolamento que agonia os chips dos neurónios, que faíscam em input’s, output’s e donwload’s de desejos íntimos, onde as almas ardem pelas tochas da solidão, o coração suspira por amor e as hormonas sexuais tateiam esfomeadas as migalhas do sexo oposto invisível.
Criamos fantasias, excentricidades, uma bomba-relógio que nos leva a incúrias ilusões de sanidade, provocadas pelas saudades de sentirmos verdadeiramente abraçados.
Acorrentados nesta brutalidade das algemas impostas, libertamos a sensibilidade quântica, pelo juízo sem discernimento, na quase morta razão do ser ou não ser e suplicamos para sermos o vírus e invadirmos o corpo do outro, até ficarmos contaminados num inferno pecador.
Lúcifer estava ávido de consumir alguns infiéis devotos e num contágio de pensamentos utópicos iniciamos homilias que coram até os impuros. É nesta fusão alienada, que as sílabas transformam-se em fósforos, as palavras em rastilhos, as almas em dinamites, os corpos em pólvora e gladiámo-nos em reverberações escaldantes.
A cada emoção, envias vibrações, a cada provocação recebo excitações, tabus que se rasgam, morteiros arder que se lançam, máscaras que se destapam e derrubam o muro dos pudores.
Com as mentes hipnotizadas lançamos flechas impregnadas de mensagens que cruzam a lonjura, envoltas em labaredas que fazem corar a gaguez e enlaçamos o corpo virtual de ambos os lados.
Atacas de forma surpreendente, corada, sem timidez, trinco a língua, espumo fluidos babados de boca seca, na tua sedução nua. Devolvo preliminares de beijos perdidos nos símbolos da epiderme, dedilhadas formigantes e lambidelas que perpetuam abismos de tempos longínquos. Imolada na ebulição da lava, sabes como trucidar o cio e atiças ordens no cavalgar do íntimo pantanoso. Sufoco, respiro fundo, exulto o bicho vivo, firme, hirto, latejante e ataco despudoradamente. Tesões descontroladas, vícios rasgados, cumplicidades loucas sem mitigações, arranhões na pele, encharcam os casulos de ambos os lados. Os vulcões implodem, as explosões são galácticas, os tremores tórridos, masturbações se esganam nas mãos, orgasmos que se atropelam nos dedos, as paredes escorrem suores, as banheiras flutuam nas libidos e os sofás navegam nos jatos de sémen, delírios duma simbiose bárbara.
Talvez carências infetadas, talvez estapafúrdios desinfetados, talvez hipérboles virtuais, ou apenas um jogo de palavras…

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