Pensamos demais?

Pensamos demais?

Somos feitos de estímulos visuais, olfativos, táteis, gustativos e auditivos. Uns com eles mais sensíveis, mais apurados e refinados, outros diria desligados dos cinco sentidos pela falta de sensibilidade ou meramente por relaxe na forma de viver.
A vida é uma coleção de memórias, uma passadeira rolante onde deslizam vertiginosamente os pensamentos e como animais pensantes que somos, tornámo-nos nuns sonâmbulos vivos com a psicose das reflexões.
Não vivo para impressionar alguém, vivo para ser feliz e poder contribuir para a felicidade alheia, embora tenha dias que me sinto um príncipe corcunda, mesmo ouvindo vozes a chamar-me príncipe encantado. Talvez seja um poeta louco a escutar as princesas felizes e as palavras que escrevo são uma forma de proteger-me da completa loucura.
Quando sinto a alma despida e o ego remendado, penso demais. Deixo deslizar as meditações como se fossem sombras de delírios confusos e escuto os ”zun’s zun’s” na cabeça que sufocam. Felizmente bem longínquos, os tempos que andava comidinho do caco, na morte lenta, com o cérebro como um espelho retorcido e que embaciava por vezes as ideias.  
Tudo passado, fechado no cantinho da anamnese, até o som das recordações estão embaladas a vácuo, quem nem ouço os beijos dos esqueletos.
Penso nesta paz estranha, na coragem do prazer de mergulhar nos medos e sair a cantar sorrisos de confiança.
É como um choque elétrico de alta voltagem, que espicaçou os miolos, acendeu as luzes da euforia no encéfalo e derreteu o perfume embalsamado.
Pensamos demais, nesta viagem tão curta que chamamos, vida.
Ficamos atentos às horas e perguntámo-nos como funciona o relógio.
Usamos vestes estonteantes e queremos andar engomadinhos.
Podemos ter os bolsos sem cheta, mas com os sorrisos de felicidade no coração e sem a mona fundida.
Porque será que queremos tudo que não temos e esquecemos de viver tudo aquilo que temos?
Tem momentos que para conseguirmos por a lâmpada fundida a dar luz, basta deslizar a ficha da tomada e sentir a razão da nossa existência e interrogarmos a nossa inteligência: porque pensamos demais?

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