Postal de namorados...
Meu amor, minha querida deusa, sabes que nunca foi homem de palavras, nunca tive jeito para soletrar poemas e muito menos para os escrever. Estás habituada a sentir nos atos, nos carinhos, nos preliminares a intensidade daquilo que sou para ti e do quanto te amo.
Hoje, tenho o corpo dormente, um vazio que sangra, é como se tivesse uma coroa de espinhos cravada na cabeça e sei que também sentes o mesmo desse lado, na tua solidão.
Bem diferente dos anos anteriores, onde não estaria a enviar um postal, mas a entregar-te, um enorme ramo de rosas vermelhas, durante o jantar romântico e perante os olhares surpresos de todos os presentes na sala do restaurante.
Como o mundo mudou, confinados, até para amar, um vazio de momentos perdidos, uma angústia enorme que se entranhou dentro do peito e que faz correr mil lágrimas pela tua ausência.
A falta dos teus beijos, são cicatrizes que martirizam todo o dia, é um amor que arde, mas não se toca e fico a falar sozinho para as tatuagens que cravaste em mim.
Eu sei, temos as conversas, as nossas masturbações virtuais, os pensamentos a estimular na intimidade distante, a toda a hora, mas tenho enorme vontade de ver o brilho nos olhos, os beijos, as carícias, os toques e os suores a encharcarem os lençóis pelas loucuras.
Ainda guardo a tua cueca com os odores dos últimos clímax’s a dois, é abraçado a ela que adormeço e parece que ouço os anjinhos a dizerem os palavrões das nossas horas de êxtase.
Custa adormecer, mesmo agarrado no imaginário ao vício que és, uma obsessão que enlouquece e deixo-me cair na ilusão de noites apaixonantes.
A tua nudez, o corpo que abraça, as mãos que agarram, o sorriso que ilumina, os lábios que incendeiam paixões e que deixa a respiração ofegante, é como se tivesse o teu coração a pular encostado a mim.
Sei que também sofres com este muro erguido pelo vírus invisível, que mata, mas a continuar assim acabaremos por morrer de amor pelo distanciamento.
Nós que somos oitenta, que amamos os lados obscenos, somos obrigados a ser oito, frios e absortos.
És como África, tens sempre algo mais que explorar e desbravar em cada loucura, agora és explorada apenas pelos brinquedos sexuais que ofereci e sinto ciúmes deles.
Posso ser o Criador, mas tu és o desejo, o combustível que faz correr o sangue desenfreado nas veias, a razão que alimenta este visionário na ânsia de viver uma vida de sonho contigo.
Minha paixão, sinto-te com os cinco sentidos, que até engulo a própria saliva, como se estivesse a degustar os teus líquidos do prazer.
As mensagens, as conversas remotas, não aquecem o corpo, falta o apalpar, o serpentear das línguas, os arrepios, os gemidos e o gladiar dos sexos.
Sinto falta dos orgasmos que conspurcam a epiderme e inundam o quarto com o fervor das suas fragrâncias.
Desculpa, não ter o dom das palavras e estas com lágrimas disfarçadas de silêncios, mas tenho simplesmente a bênção de amar de corpo e alma.
Sinto falta de ti, o mundo irá abrir-se de novo ao amor e um dia haveremos de ler os dois enlaçados, este postal de namorados.
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