Prisioneiro do amor...

Prisioneiro do amor...

A noite está fria, com as nuvens a alternar no encobrimento do luar imenso, as árvores despidas da essência e no ar apenas se respira solidão. Agreste o cenário para este animal humano preso na jaula dos prazeres como um urso selvagem a escutar todos os ecos da alma e a escrever os sentimentos do coração no chão. É assim que estou, com os horários desregulados, formigueiros cerebrais, mas o tempo não para e o momento alimenta o espírito. Aqui aprisionado, pareço um cão atrás do próprio rabo, com pontadas no peito, torturas momentâneas e abraço os ferros frios da jaula como se fosse o teu corpo. Faço carreiras de abraços no coração hipnotizado por ti, numa organização caótica, que até mastigo as raízes das trevas e sinto nelas o sabor impregnado dos teus orgasmos.
Vejo ao longe os morcegos e os vampiros que me sugam o sangue todos as noites, mas acredito que eles irão guiar nos céus as cegonhas para chegares até mim.
Decidi amar-te perdidamente, seguir as pegadas dos dinossauros à tua procura e cai vítima nesta armadilha dos caçadores furtivos para outro animal.
Já passaram vários dias, desnutrido, com fome de gesticular os teus doces lábios, lambo o ferro ferrugento das grades, salivo cada silêncio como se fossem sabores dulcificados das nossas cumplicidades. Os lobos uivam, os sinos bem longínquos repicam, os cães latem e chego a tentar falar com eles, talvez desejos escondidos que espreitam timidamente a luz de voltar a ver-te. Falo, grito, berro com todas as vibrações do meu corpo por ti, como se fosse um jogo de dados com o baralho das nossas seduções, mas não me ouves, porque as cordas vocais já estão estouradas…
Cada noite que passa é mais fria que a anterior, mas não tenho medos descabidos porque sinto o calor do teu corpo dentro do meu, como se fossem injeções de testosterona nas ânsias das torturas de tesão.
Sou um animal, de uma entrega brutal, sobrenatural à arte de amar de corpo e alma que me alimento de terra suja em forma de cupidos e mesmo no desespero da situação o meu coração sai a bater asas do corpo até te encontrar. Leva com ele, palavras do mais íntimo, do mais profundo, tudo escrito num envelope dourado pelas minhas mãos feridas que suam sangue, com a caneta da saliva que transpira tranças de carência de beijos. A brisa sopra e ele voa bem longe, sempre a seguir o trilho da comunhão do amor envaidecido e por onde passa deixa cair sementes de mais e mais paixão…
Nunca perdi a esperança desta épica vitória, onde chegarias de forma triunfante, com as lágrimas da glória a escorrer pelo lindo rosto, com arrepios de comoção até ao âmago do osso mais ínfimo. Sabia e sentia que chegarias!
Soltas as amarras da fechadura que enclausurou o teu amado e abraças a nudez do meu corpo contra o teu justo e longo vestido branco, que na intensíssima osmose desta junção dos dois corpos que se amam, muda de cor. Fica todo coberto de vermelho, encharcado pelo enxaguar do sangue das extensas feridas que escorrem na minha pele como um rio.
Ainda hoje sinto ser prisioneiro, não da jaula com as grades gélidas, mas do teu corpo ardente, da tua alma vulcânica, a minha linda deusa Mulher, que sabes aprisionar dentro de mim o amor por ti…

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