Rascunho de memórias...
21 de Outubro, 2020
Outubro, um mês a caminhar para o fim, com descida da temperatura, as nuvens mais densas e a chuva miudinha a darem um descolorido cinza aos nossos dias.
Período propício, para ficar mais tempo em casa, até porque a pandemia não passou e está a ramificar-se com mais intensidade entre os humanos.
Com alguma nostalgia, mas demitido de saudades, sento-me em frente da velha secretária encerada, onde na sua única gaveta guarda alguns objetos cobertos de bolores.
Retiro o velho caderno, não sendo um diário, é onde escrevo as coisas mais íntimas, com a caneta a tinta permanente. Dou corda ao despertador, impregnado pela cor amarelada, cansado do tempo, mas que dá as horas e minutos num tic-tac barulhento. Bufo o pó que cobre a pasta castanha de couro envelhecido, herdada dos antepassados. Tem anos sem fim e dentro resguardo poemas e prosas de paixões, escritos com os clamores da alma. Os lápis ainda têm os bicos afiados e fazem relembrar os rostos femininos, que na adolescência desenhava em pequenas folhas de papel.
Hoje na minha euforia realista, consigo rememorar tudo com pequenas mazelas no subconsciente, mas com uma liberdade sonhadora, consigo falar dos sofrimentos e dos medos arrepiantes que passei em tempos longínquos. Comunguei muitas dores psíquicas, com nervos solitários, que se tornaram vícios inconvenientes e que drogavam as adrenalinas da felicidade. Reincidia no perfecionismo mesquinho, que se tornava em incontroláveis transtornos e caía em reincidências patéticas.
Vivia constantemente com a espiritualidade assombrada, as rotinas diárias enterravam os sentimentos e dilaceravam a alma.
Coisas do passado, já interiorizei há alguns anos a reviravolta, quando despertei a força gigantesca que existia adormecida no íntimo. Mudei a agulha para momentos descontraídos, efusivos e levanto-me todos os dias com a bandeira do estoicismo erguida na vontade de viver.
Criei um mundo novo, um planeta azul, que é iluminado a cores por milhões de estrelas brilhantes, em que cada uma delas simboliza o admirável e divino ser inspirador, a Mulher.
Vivo ininterruptamente fascinado e apaixonado por ela.
É diva que estimula, que alimenta a astúcia das células para triunfos do equilíbrio emocional e que transforma cada travessia dos sinais dos pensamentos em coreografias de satisfação.
Deixei de ser o afogado em pânico agarrado à âncora de ferro e passei a conviver abraçado a ela em cada recanto do amor.
Com as cicatrizes fechadas e profundamente estável emocionalmente é desta forma que escrevo rascunhos de memórias.
Respeita os direitos de autor.
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