Reflexos do eu…

Reflexos do eu…

Acordei feliz, altivo, com as memórias limpas, na energia para aproveitar este sol que entra pelo quarto. Despenteado, dou uma nova imagem no corte e o desfazer da barba grisalha e deixo a pele ser saciada pelo gel e a água quente do duche refrescante.
Camisinha branca desabotoada, fato com corte bem moderno, como se fosse um teenager pronto para engatar uma miúda no jardim.
Apenas ilusões, das ânsias obsessivas pelas rotinas perdidas, mas que as recordações reais clamam os pensamentos à razão, ao desértico planeta existente lá fora.
Não é fácil, logo hoje que sinto os trampolins todos frenéticos para aventuras, destemido, com a alma adormecida, em lume brando e acordada à força pelo despertador estrondoso da prudência. Pés descalços no soalho e o discernimento aberto, resta mentalizar para um dia destituído. Devolvo à liberdade os botões das casas da camisa, coloco umas algemas nos pulsos e de joelhos em frente ao espelho tiro uma fotografia genuína para o mundo sentir-me profundamente.
O meu interior é conhecido para quem o soube sempre sentir, poderá agora imaginar as infinitas formas do físico, sabendo eu que a alma é apaixonante, o corpo apenas um estado material sólido e vibrante.
Também observo-me nos reflexos, vejo sombras, mistérios que ainda desconheço de mim, talvez em futuras aventuras as consiga descodificar. O verdadeiro eu, esse viaja em cada película, um filme incomensurável emitido pelo espelho, é do quarto, um confidente até nas imoralidades fantasiosas e perversas. Ele, não ouve, não sente, não grava, mas embacia nas fusões ardentes entre a sensibilidade e o erotismo, quando estou a ser consumido nas lutas de amar e ser amado.
Talvez nesta foto cândida, fria, seja nítida ao universo oculto os secretismos boémios, as luxúrias eróticas, as incúrias insanas, deste homem cujo coração repousa no paraíso íntegro, enriquecido e alimentado pela límpida compaixão da amizade e do amor.
Na abstrata magia de pensamentos, na filosófica arte de sentir, depende da condição hipnótica da observante, da disposição psíquica, do método como deseja os anjos do céu, ou os pecados do inferno.
Sentimentos que faço voar na alocução frívola, apenas por um retrato e palavras, mas que podem ser talmúdicas em quem tem o dom de se reinventar nos sonhos, pelos reflexos do meu eu…

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