Refúgio do íntimo…

Refúgio do íntimo…

Num passado bem longínquo o corpo galopou batalhas campais nos lençóis impregnados de suores afrodisíacos. A alma, se existia era cega, sem luz, vivia na escuridão das trevas, não tinha o dom de saber sentir, pois nunca almejou beber na fonte da sensibilidade.
Os prazeres eram explosões dos diques de sémen e carregava às costas os zumbidos dos uivos e dos gemidos eufóricos das lobas.
Um dragão esfomeado, sem correntes, alimentado por espirais de alucinações, com avidez de pincelar as fêmeas com os odores da luxúria, até arder o palheiro imoral do diabo.
Vivia uma organização caótica, tudo eram portas de emergência e em cada esquina habitava uma nova boazona que fazia aquecer as pedras da calçada. A língua era heroína de guerra em cada cueca voadora, a pele um fogo flamejante e o pénis um cinto de terrorista carregado de explosivos pronto a implodir.
Um profeta vagabundo, com os bolsos furados pelas bombas relógio dos pecados da(s) deusa(s) Afrodite(s) e que em cada sonho molhado surgia um novo rabo apertado.
Desassossegos reais das torturas de tesão, das masturbações do ego iluminado pelos candelabros do inferno e carimbado pelos beijos das bocas suculentas.
Não tenho a varinha de condão para saber se tudo é verdade, nem nunca fui uma testemunha ocular, dizem ser coisa do passado e simplesmente, acredito.
Aliás, nem estou lá, pois vivo num paraíso encantado, um novo planeta harmonioso pintado de azul e entrei aqui distraído quando seguia um carreiro de formigas.
O caminho para aqui chegar, foi tumultuoso. Percorri o destino sobre umas simples tábuas velhas, partidas e suspensas no infinito e que fizeram ponte de passagem. Lá em baixo nem sei o que tinha, nunca olhei, era um vazio enorme que batia arrepios no estômago e segui sempre em frente sem olhar.
Em todo o percurso fui iluminado por estrelas, brilhavam num tom azulado intenso, parece que chamavam por mim, talvez quisessem falar comigo, cheguei a sentir arrepios de comoção por tudo o que abracei no silêncio.
Foi duro, agreste, com pesadelos nos horários desregulados, mas muito desejado.
Na imensidão encontrei uma cabana de madeira nórdica, despida de objetos, mas quentinha pela lareira acesa e aromatizada por velas com o perfume da existência divina. Um céu aberto, despojado de bens materiais, afinal eles também são inúteis, apenas precisava de sentir a alma.
Pois a alma?
Coisa que nunca soube que existia, mas hoje não sei viver sem ela.
É o pêndulo fiel das emoções e das extravagâncias desejadas pelo corpo, é o autodomínio da razão.
Fiz um pacto com ela: eu seria o corpo dela e ela seria a alma do meu corpo.
Uma cumplicidade saudável para a vida, uma química de amor eterno, uma ressurreição de mim mesmo, um refúgio do íntimo.      

 
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