Revérberos de mim...
24 de Setembro, 2024
Tempo, uma simples palavra de apenas duas sílabas, mas que carrega um peso e uma pressão enorme diariamente. Não do tempo climático, embora esse também seja cada vez mais um sério problema, mas neste momento falo do tempo no sentido “horário”.
Diria, sem medo de arriscar que o tempo é o grande inimigo da humanidade nas civilizações modernas, até na arte de amar e ser amado.
Quem não sofre com o tempo?
Por isso gosto de fazer reflexões do passado, de fazer uma viagem de onde vim, por onde passei, onde piso e para onde caminharei nesta estrada do destino.
Detesto limitar os meus limites, pelo contrário adoro desafiar os próprios limites, pelo que umas vezes escrevo para viajar na fantasia e outras prefiro a leitura, é através dela que tenho a possibilidade de viver várias vidas na única que tenho.
Aproveito este cantinho da paz, da sala com espelhos infinitos para conhecer os medos mais sombrios e os desejos mais profundos.
Já não sou criança, mas ainda tenho sonhos cor-de-rosa e sinto que ainda sou um foguete dentro dum canhão preparado para amar. Sonho com o amor de todas as formas, não fosse um amantético convicto, que até na tua ausência sinto a tua presença.
Converso com os espelhos, como se eles fossem o diabo, sem medo das labaredas de fogo, até porque conferencio com eles por meio de palavras incendiárias. Nunca gostei de navegar na ambiguidade, nem mergulhar em águas turvas, sempre gostei de ser ousado e direto.
Nesta interlocução entre o íntimo e a minha imagem espelhada, sinto a gaguez da alma, com as memórias passadas, mas não quero andar com o passado ao colo, senão não conseguirei abrir as portas do futuro e isso cria-me desconfianças no intelecto.
Confesso que vivi loucuras, caí na boémia como um lorde no regabofe sem pensar no amanhã, desfilei desvarios nas noites loucas e suei como um boi de cobrição nos lençóis impregnados de sémen, até desfalecer pelo cansaço.
Mas quem não gosta de sem-vergonhices? Quem na solidão nunca se masturbou na intimidade? Que aventuras tem as virgens para contar?
Ainda hoje o perfume favorito é o que transpira cheiro a sexo.
Neste divagar descalço até ao pescoço, a vislumbrar o “eu” nos espelhos, dou asas ao pensamento fantasioso, para dessa forma explorar ao máximo a minha imaginação e quiçá recuperar tempos perdidos.
Já passaram anos e os espelhos vão ter de se esmerarem com perfecionismo, para percecionarem a minha índole, porque ainda só estão a conseguir decifrar uma infinitesimal parte dos revérberos de mim.
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