Santos e pecadores...

Santos e pecadores...

Já faz tarde neste final do dia e o transito é infernal.
Regresso a casa depois de mais uma semana fora do conforto dos teus abraços, dos teus beijos carnudos e da exuberância de teu corpo. Percorro na ânsia de chegar, mas o percurso é longo. Sintonizo numa estação de músicas românticas e imagino em cada sinal de luzes dos condutores as silhuetas do teu corpo escaldante.
Faço meditações, vivo sonhos passados e desejos futuros.
Rodo a chave da entrada e ouço a música incendiária com faíscas de erotismo.
Entro e sinto-me um lambedor de estradas nos gemidos de cio ecoados do nosso quarto.
Na porta o bilhete é misterioso:
“O silencio é uma confissão”.
Transformaste tudo para surpreender, nas paredes penduraste telas abstratas de anjos e demónios, no ar libertaste odores abrasadores a carnalidade, a iluminação sombria nos poucos pavios das velas acesos e no chão uma pocilga ardente de profanação.
Surges do nada, carregas a máscara ruidosa das asas dum anjo, as botas até ao joelho e a lingerie sedutora na cor intensa do vermelho do batom nos lábios.
Todos os teus gestos são ementas de posições que atacam e alimentam os machos mais insaciáveis.
Trazes olhares de fogo, arrebitas o rabo de forma empinada e lambes o varão de aço existente no quarto. O rastear é como se desejasses crucificar teu corpo, tudo de forma blasfémia.
Ávida de desejo, sinto que estás a vender a minha alma pura ao diabo, uma heresia exorcista na provocação de um tesao assanhado.
A música atiça histórias entesuadas, empurras meu corpo desamparado para o sofá e rastejas artisticamente pelo chão.
Sentado sou o lobo feroz assistir à matança do anjo, o lambedor de orgasmos numa velocidade atrevida da criatura sexual que representas.
Semeias masturbações e sonhos de sexualidade, acaricias teu corpo numa obra diabólica.
Palmilhas os seios, atiças palavrões, abres e fechas as pernas de forma escandalosa e soltas labaredas produzidas pelo fogo do clitóris. 
Desconcertante, com a visão turbada e com o membro ereto, sinto arrepios excomungados nas vertebras como se fosse um diabo retorcido.
Não páras, estás possessa e desenfreada como se não houvesse amanhã e continuas no teu momento febril com a máscara do deboche.
Suplicas pecados, tens a fome de luxurias e rebolas no colchão até o traçares com as unhas que rasgam.
Meu pénis é um gelo derretido que se transforma num forno em chamas.
Retiras das calças o divino e no desejo da perversão o abocanhas sem limites.
Os sabores nímios da genitália voam dos frascos abertos e arrebento como uma garrafa de champanhe. Nem dás tempo a escorrer a humidade, no momento em que transfiguras numa sugadora de semem.
Incansáveis nos momentos do pecado, tornas santo e sagrado a libertação do orgasmo da tua colmeia de melaço.

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