Simbiose das almas...

Simbiose das almas...

As nossas almas são como duas gotas de H2O (água) que escorrem num vidro embaciado. Cada uma desce de lados opostos, mas nesta descida vertiginosa se encontram a meio e dão as mãos formando uma bolha de amizade.
Sou o sol, com o calor das palavras, a chama viva das emoções efervescentes, enquanto tu és a lua com uma luz intensa e com muito por explorar.
Nesta relação sem licenças, tento escutar o que as almas dizem entre si e sinto que entre nós há uma devoção silenciosa, uma entrega infindável, parecendo algo sobrenatural entre dois seres humanos. É a cumplicidade que nos une, que provoca um suor trépido nas mãos, uma respiração trémula, com os corações em alvoroço, como se antecipássemos o vaticínio da intimidade eterna.
Inalo o teu perfume, abraço o fogo ardente do teu corpo, o que me deixa absorto e a gritar espasmos da paixão. Tens um toque aveludado, como se fosses um véu de labaredas, pousado com delicadeza na minha epiderme e uma voz de murmúrios sigilosos difíceis de decifrar. Possuis o eflúvio doce que me envolve em cochichos secretos, enquanto no céu está tudo escrito pelas luzernas cintilantes em forma de corações. O olhar é brilhante, a fragilidade da candura feminina abrangente e que no nosso jeito simples de dar as mãos criou uma metamorfose carregada de alquímicos mistérios.
Fascinado pelos lábios, de tom carminado, aproximam-se dos meus com vagaroso suspense e sinto o corpo a levitar. Eles, os lábios, envolvem-se num beijo, uma explosão tântrica, uma prece anunciada, um presságio desejado. É o nosso primeiro beijo, um poema criado pela saliva das línguas entrelaçadas, um soltar de desejos fulminantes e que fumegam em cada dança com requinte.
Dedilhar o teu corpo é desvendar um manuscrito em braile, é a ânsia de descobrir-te na plenitude mais íntima e faço dele um abrigo que transmuta as minhas carências.
Pois, de mãos dadas…
Foi assim que começamos os suspiros como ventos tépidos, que anunciam tempestades, sabendo que o teu desejo é provocares o animal romântico à solta na tua pele.
Com as almas juntas, criamos um albor suave, uma luz vaporosa que rasgou a noite fria e que acendeu em nós um brilho plutónico.
Nesta intimidade que nos toca, os espíritos envolvem-se em versos de ternura, como se as almas estivessem a escrever manifestos literários e soltamos os suores cristalinos do ego, nesta simbiose das almas. 

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